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Artigos Intercessões Nossa Senhora

Nossa Senhora da Confiança

ConfiNSRACONFIAN?A RAE 14B.jpgança! Confiança! Eu venci o mundo!(Jo 16, 33).

Quando a palavra confiança era pronunciada por Nosso Senhor Jesus Cristo, operava nos corações uma profunda e maravilhosa transformação, diz um sábio escritor. A aridez das suas almas era umedecida por um orvalho celestial, as trevas de seus espíritos se transformavam em luz, a angústia era substituída por uma calma serenidade.

O mesmo convite que Nosso Senhor fazia outrora aos seus ouvintes, repete hoje a nós. Confiança! Como essa virtude é necessária nos dias de hoje! Como estão equivocadas as almas que, sentindo suas deficiências e misérias, mal ousam aproximar-se do Divino Salvador, com receio de que um Deus tão puro, tão excelso não se inclinaria para elas, não perdoaria suas faltas! Deus é Misericórdia, e desde que desejemos sinceramente converter-nos, Ele tem pena de nossa miséria, e de nós se aproxima para salvar-nos, para nos colocar junto ao seu Sagrado Coração.

Mais ainda: quis nos dar um meio de experimentarmos a bondade do modo mais eloqüente possível em termos humanos, que é o carinho materno. Do alto da Cruz, no momento mesmo de entregar sua alma ao Pai, deu-nos sua própria Mãe para ser também nossa Mãe. .Mulher, eis aí o teu filho. (…) Filho, eis aí a tua Mãe!. (Jo 19, 26- 27). Como explica a Igreja desde seus primeiros séculos, em São João estava representada toda a humanidade.

Esse dom inenarrável de sermos, também, filhos da Mãe do Céu, nos facilita igualmente a prática da virtude da confiança Essas reflexões nos trazem à lembrança uma belíssima pintura de Nossa Senhora da Confiança a Madonna della Fiducia. venerada na Cidade Eterna, na capela do Pontifício Seminário Romano, vizinho à famosa Basílica de São João de Latrão.

A devoção a Nossa Senhora da Confiança surgiu na Itália há quase três séculos, vinculada à venerável Irmã Clara Isabella Fornari, monja clarissa falecida em 1744, e com processo de beatificação em andamento. Abadessa do mosteiro da cidade de Todi, a Irmã Clara foi privilegiada por Deus com graças místicas, entre as quais a de receber em seus membros os estigmas da Paixão.

Nutrindo uma devoção muito particular à Mãe de Deus, portava sempre consigo um milagroso quadro que A representa com o Menino Jesus nos braços. A essa pintura se atribuíam graças e curas muito numerosas, e já no século XVIII começaram a circular pela Itália cópias dela, dando origem à devoção à Santíssima Virgem sob o título de Mãe da Confiança.

Uma das cópias acabou por se tornar mais célebre que a original. Foi ela levada para o Seminário Maior de Roma o principal do mundo, por ser o seminário do Papa, de onde se tornou padroeira. Todos os anos é venerada pelo próprio Pontífice, que vai visitá-la na festa da Madonna della Fiducia, em 24 de fevereiro.

Desde cedo, Nossa Senhora mostrou aos seminaristas que, se recorressem a Ela sob a invocação de Nossa Senhora da Confiança, podiam contar com seu auxílio nas piores situações.

Nesse sentido, entre os fatos prodigiosos mais insignes contam-se as duas vezes (1837 e 1867) em que uma epidemia de cólera atingiu a Cidade Eterna, mas o Seminário Romano foi milagrosamente poupado pela poderosa intercessão de sua Padroeira. Além disso, na Primeira Guerra Mundial, cerca de cem seminaristas foram enviados à frente de batalha, e colocaram-se sob a especial proteção da Madonna della Fiducia. Todos retornaram vivos, o que atribuíram à proteção da Santíssima Virgem. Em agradecimento, entronizaram o venerável quadro numa nova capela de mármore e prata.

Quando o famoso quadro do Seminário Romano ali chegou, vinha acompanhado de um antigo pergaminho, que ainda se conserva, o qual traz consoladoras palavras da Irmã Clara Isabel: A divina Senhora dignou-Se conceder- me que toda alma que com confiança se apresentar ante este quadro, experimentará uma verdadeira contrição dos seus pecados, com verdadeira dor e arrependimento, e obterá de seu diviníssimo Filho o perdão geral de todos os pecados. Ademais, essa minha divina Senhora, com amor de verdadeira Mãe, se comprouve em assegurar-me que a toda alma que contemplar esta sua imagem, concederá uma particular ternura e devoção para com Ela..

A devoção à Madonna della Fiducia. mostra-se particularmente benéfica quando se reza a jaculatória minha Mãe, minha confiança!

Muitos são aqueles que se fortalecem na confiança, ou a recuperam, apenas por contemplar essa bela pintura, sentindo-se inundados pelo olhar maternal, sereno, carinhoso, encorajador da Rainha do Céu.

E o divino Menino, também fitando o fiel, aponta decididamente o dedo indicador para a Santíssima Virgem, como a dizer:

Coloque-se sob a proteção d.Ela, recorra a Ela, seja inteiramente d’Ela, e você conseguirá chegar até Mim.

(Revista Arautos do Evangelho, Fev/2003, n. 14, p. 36 e 37)

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Realengo – Matança dos inocentes

Autor: Frei Lourenço Maria Papin, OP

Estamos todos estarrecidos diante da espantosa tragédia ocorrida numa escola municipal no bairro de Realengo no oeste da cidade do Rio de Janeiro. Um tresloucado jovem de 24 anos, munido com armas de fogo nas mãos, entra nessa escola atingindo mortalmente des meninas e dois meninos e ferindo muitos outros alunos e alunas. E maior teria sido a tragédia se um policial, chamado por uma criança, não interrompesse a trajetória assassina desse jovem.

Impressionante as imagens de dor que todos vimos, sobretudo pela televisão. Mães aflitas chorando em busca de seus filhos mortos ou feridos, médicos e enfermeiros em lágrimas, socorrendo as crianças vitimas do atentado, tanta gente solidária, às vezes querendo e não sabendo como ajudar.

Comovido, lembrei-me logo do episódio bíblico da matança dos inocentes em Belém de Judá, narrado realisticamente por São Mateus.

O rei Herodes, de mentalidade doentia, de crueldade impiedosa até contra sua própria família, ambicioso pelo poder, tinha ouvido dos magos que em Belém nascera o Rei dos Judeus. Ambicioso pelo poder e temendo perdê-lo, ordenou o massacre de todas as crianças de Belém, menores de dois anos.

O Evangelista Mateus reflete sobre o doloroso episódio citando o profeta Jeremias: “Escuta-se um voz em Ramá: prantos e soluços copiosos. É Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada por que eles já não existem” (cf. Mt 2, 16-18).

Parafraseando o tocando texto bíblico, julgo poder dizer: “ouve-se uma voz de dor em Realengo, no Rio, prantos e soluços copiosos, que se estendem por todo Brasil. É a mãe pátria que chora seus filhos e não se conforma com o que aconteceu.” O que levou esse jovem a praticar tão repugannte ação? Os psicologos, psiquiatras e sociologos, ainda que reticentes, procuram  apresentar as mais diversas explicações. Entre essas explicações, está a do presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Dr. Antônio Geraldo da Silva, que atribui ao jovem um “transtorno de personalidade”: nesse caso a pessoa sabe bem o que está fazendo e prepara tudo com antecedência. O fenômino do “transtorno de personalidade” pode conter seja traços paranóicos que buscam vinganças contra pessoas reais ou imaginárias, como também sintomas de depressão.

Estranha é a carta-testamento encontrada com o jovem: uma aparente  moral rígida em defesa da virgindade, que mais parece indicar “transtorno de personalidade”.

O infausto acontecimento de Realengo vem trazer a tona o grave problema no Brasil que é o indevido porte de armas de fogo. Há poucos anos, o Congresso ao invés de aprovar um projeto de lei radical pela suspensão da venda de armas, optou por uma lei mais branda – o “Estatuto pela desarmamento” – que apenas contém normas mais exigentes sobre o porte de armas.

Houve também um plebiscito em vista do fim da venda de armas que, porém, não vingou. Temos também nossa culpa!

Infelizmente há um grande comércio clandestino de armas que facilita o porte e uso indevido das mesmas. Particulamente assusta-nos a todos pensar no porte de arma dos traficantes.

O bom senso  nos conclama ao desarmamento, ao adeus às armas. As armas devem ser estigmatizadas como um símbolo da morte e ser afastadas do cotidiano dos cidadãos. O jovem de Realengo certamente teve facilidade para conseguir suas armas mortais.

A vida é sagrada. “Não matarás”, reza o quinto mandamento da lei de Deus. Estamos preocupados com o grande numero de vitima de armas de fogo, sobretudo entre os jovens. As estatísticas a respeito são assustadoras.

O derramamento de sangue inocente em Realengo levante-se como mais forte clamor, para que as autoridades e toda a sociedade despertem e se empenhem de verdade em defender e promover a vida. A vida é dom de Deus. A vida é sagrada.

 

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Necessitamos nos santificar por Maria

Alma, imagem viva de Deus e resgatada pelo Sangue precioso de Jesus Cristo, a vontade de Deus a teu respeito é que te tornes santa como Ele nesta vida, e gloriosa como Ele na outra.

A aquisição da santidade de Deus é tua vocação assegurada; e é para lá que todos os teus pensamentos, palavras e ações, teus sofrimentos e todos os movimentos de tua vida devem tender; ou [do contrário] tu resistes a Deus, não fazendo aquilo para o que Ele te criou e te conserva agora.

Ó! Que obra admirável! A poeira transformada em luz, a imundície em pureza, o pecado em santidade, a criatura em Criador e o homem em Deus! Ó obra admirável! Eu o repito, mas obra difícil em si mesma e impossível à natureza por si só; unicamente Deus, por uma graça, uma graça abundante e extraordinária, é Quem pode levá-la a cabo; e a criação de todo o universo não é maior obra-prima do que esta.

Alma, como farás? Que meios tu escolherás para subir onde Deus te chama? Os meios de salvação e de santidade são conhecidos de todos, estão assinalados no Evangelho, explicados pelos mestres da vida espiritual, são praticados pelos santos e necessários a todos os que querem salvar-se e chegar à perfeição; tais são: a humildade de coração, a oração contínua, a mortificação universal, o abandono à divina Providência, a conformidade com a vontade de Deus.

Para praticar todos esses meios de salvação e de santidade, a graça e o socorro de Deus são absolutamente necessários, e esta graça é dada a todos, maior ou menor; não resta dúvida. Eu digo: maior ou menor; pois Deus, ainda que sendo infinitamente bom, não dá Sua graça igualmente forte para todos, embora Ele a dê suficiente para todos. A alma fiel a uma grande graça faz uma grande ação, e com uma fraca graça faz uma pequena ação. O valor e a excelência da graça dada por Deus e correspondida pela alma fazem o valor e a excelência de nossas ações. Esses princípios são incontestáveis.

Tudo se reduz, portanto, a encontrar um meio fácil para obter de Deus a graça necessária para tornar-se santo; e é isto que eu quero ensinar. E, eu digo que para encontrar a graça de Deus, é necessário encontrar Maria.

Porque Maria nos é necessária

1º – Foi só Maria quem encontrou graça diante de Deus, para Si, e para cada homem em particular. Os patriarcas e os profetas, todos os santos da Antiga Lei não puderam encontrar esta graça.

2º – Foi Ela que deu o ser e a vida ao Autor de toda graça, e, por causa disso, Ela é chamada a Mãe da graça, Mater Gratiae.

3º – Deus Pai, de Quem todo dom perfeito e toda graça desce como de sua fonte essencial, dando-Lhe Seu Filho, deu-Lhe todas as Suas graças; de sorte que, como diz São Bernardo, a vontade de Deus Lhe foi dada nEle e com Ele.

4º – Deus A escolheu para ser a tesoureira, a ecônoma e a dispensadora de todas as Suas graças; de modo que todas Suas graças e todos Seus dons passam por Suas mãos; e, conforme o poder que Ela recebeu dEle, segundo São Bernardino, Ela dá a quem Ela quer, como Ela quer, quando Ela quer e tanto quanto Ela quer, as graças do Pai Eterno, as virtudes de Jesus Cristo e os dons do Espírito Santo.

5º – Assim como, na ordem natural, é preciso que uma criança tenha um pai e uma mãe, do mesmo modo, na ordem da graça, é necessário que um verdadeiro filho da Igreja tenha Deus por pai e Maria por mãe; e, se ele se gloria de ter Deus por pai, não tendo o carinho de um verdadeiro filho por Maria, é um farsante que não tem senão o demônio por pai.

6º – Uma vez que Maria formou o Chefe dos predestinados, que é Jesus Cristo, cabe a Ela também formar os membros deste Chefe, que são os verdadeiros cristãos: pois uma mãe não forma o chefe sem os membros, nem os membros sem o chefe. Quem deseje, portanto, ser membro de Jesus Cristo, pleno de graça e de verdade, deve ser formado em Maria por meio da graça de Jesus Cristo, que reside nEla em plenitude, para ser comunicada em plenitude aos verdadeiros membros de Jesus Cristo e a Seus verdadeiros filhos.

7º – O Espírito Santo tendo desposado Maria, e tendo produzido nEla, e por Ela, e dEla, Jesus Cristo, esta obra-prima, o Verbo Encarnado, como Ele nunca A repudiou, Ele continua a produzir todos os dias nEla e por Ela, de uma maneira misteriosa, mas verdadeira, os predestinados.

8º – Maria recebeu de Deus uma dominação particular sobre as almas para as nutrir e fazer crescer em Deus. Santo Agostinho diz mesmo que, neste mundo, os predestinados estão todos contidos no seio de Maria, e que eles não vêm à luz senão quando esta boa Mãe os faz nascer para a vida eterna. Em conseqüência, como a criança tira todo seu alimento de sua mãe, que o dá proporcionado à sua fraqueza, da mesma forma os predestinados tiram toda sua nutrição espiritual e toda sua força de Maria.

9º – Foi a Maria que Deus Pai disse: In Jacob inhabita: Minha Filha, habita em Jacó, quer dizer, nos Meus predestinados figurados por Jacó. Foi a Maria que Deus Filho disse: In Israel haereditare: Minha querida Mãe, tende Vossa herança em Israel, ou seja, nos predestinados. Enfim, foi a Maria que o Espírito Santo disse: In electis meis mitte radices: Lançai, minha fiel Esposa, raízes nos Meus eleitos. Qualquer um que seja, portanto, eleito e predestinado tem a Santíssima Virgem habitando em sua casa, quer dizer, em sua alma, e ele A deixa introduzir nela as raízes de uma profunda humildade, de uma ardente caridade e de todas as virtudes.

10º – Maria é chamada por Santo Agostinho, e é, com efeito, o molde vivo de Deus, forma Dei, quer dizer, somente nEla Deus feito homem foi formado ao natural, sem que Lhe falte nenhum traço da Divindade, e é também nEla somente que o homem pode ser formado em Deus ao natural, tanto quanto a natureza humana é capaz, pela graça de Jesus Cristo.

 

Um escultor pode fazer uma figura ou um retrato ao natural de duas maneiras: 1º – servindo-se de sua indústria, de sua força, de sua ciência e da qualidade de seus instrumentos para fazer essa figura em uma matéria dura e informe; 2º – ele pode colocá-la num molde. A primeira maneira é demorada, difícil, e sujeita a vários acidentes: não é preciso, freqüentemente, mais que um golpe mal dado de cinzel ou de martelo para estragar toda uma obra. A segunda é pronta, fácil e doce, quase sem sofrimento e sem custo, desde que o molde seja perfeito e que ele represente ao natural; desde que a matéria de que ele se sirva seja bem maleável, não resistindo nunca à sua mão.

Maria é o grande molde de Deus, feito pelo Espírito Santo, para formar ao natural um Homem-Deus pela união hipostática, e para formar um homem-Deus pela graça. Não falta a este molde nenhum traço da divindade; qualquer um que seja jogado nele e se deixa manejar, nele recebe todos os traços de Jesus Cristo, verdadeiro Deus, de uma maneira doce e proporcionada à fraqueza humana, sem muita luta e trabalho; de uma maneira segura, sem medo de ilusão, pois o demônio nunca teve e não terá jamais entrada junto a Maria, santa e imaculada, sem sombra da menor mancha de pecado.

Ó! Cara alma, que diferença há entre uma alma formada em Jesus Cristo pelas vias ordinárias daqueles que, como os escultores, se fiam em sua experiência e se apóiam em sua capacidade, e uma alma bem maleável, bem desfeita, bem derretida, e que, sem nenhum apoio em si mesma, se lança em Maria e nEla se deixa manusear pela operação do Espírito Santo! Quanto há de máculas, quanto há de defeitos, quanto há de trevas, quanto há de ilusões, quanto há de natural, quanto há de humano na primeira alma; e como a segunda é pura, divina e parecida com Jesus Cristo!

Absolutamente não há, nem nunca haverá jamais, criatura onde Deus seja maior, fora dEle mesmo e em Si mesmo, que na divina Maria, sem exceção nem dos bem-aventurados, nem dos Querubins, nem dos mais altos Serafins, no Paraíso mesmo. Maria é o paraíso de Deus e Seu mundo inefável, onde o Filho de Deus entrou para lá operar maravilhas, para o guardar e comprazer-Se lá. Ele fez um mundo para o homem viandante, que é este [em que estamos]; Ele fez um mundo para o homem bem-aventurado, que é o Paraíso; mas Ele fez um outro para Si, ao qual deu o nome de Maria; mundo desconhecido a quase todos os mortais, e incompreensível a todos os Anjos e bem-aventurados, lá no Céu, que, na admiração de ver Deus tão elevado e tão distanciado deles todos, tão separado e tão recluso em Seu mundo, a divina Maria, bradam dia e noite: Santo, Santo, Santo.

Feliz e mil vezes feliz a alma, cá embaixo, à qual o Espírito Santo revela o segredo de Maria, para o conhecer; e à qual Ele abre e permite penetrar esse jardim fechado, essa fonte selada para nela abeberar-se das águas vivas da graça! Esta alma não encontrará senão Deus somente, sem criatura, nesta amável criatura; mas Deus, ao mesmo tempo infinitamente santo e elevado, infinitamente condescendente e proporcionado à sua fraqueza. Uma vez que Deus está em todo lugar, pode-se encontrá-Lo em todo lugar, até nos infernos; mas não há lugar onde a criatura possa encontrá-Lo mais perto de si e mais proporcionada à sua fraqueza que em Maria, pois foi para este efeito que Ele desceu a Ela. Por toda parte Ele é o Pão dos fortes e dos Anjos; mas em Maria, Ele é o Pão dos filhos.

Que ninguém imagine, portanto, junto com alguns falsos iluminados, que Maria, sendo criatura, seja um impedimento à união como o Criador; não é mais Maria que vive, é Jesus Cristo só, é Deus só que vive nEla. Sua transformação em Deus ultrapassa mais a de São Paulo e dos outros santos, de que o Céu ultrapassa a Terra em elevação. Maria não foi feita senão para Deus, e tal seria que Ela faça parar uma alma nEla mesma. Pelo contrário, Ela a lança em Deus e a une a Ele com tanto maior perfeição, quanto maior a união da alma com Ela. Maria é o eco admirável de Deus, que não responde senão: Deus, quando alguém grita: Maria, que não glorifica senão a Deus, quando, com Santa Isabel, alguém Lhe chama bem-aventurada. Se os falsos iluminados, que foram miseravelmente enganados pelo demônio até na oração, houvessem sabido encontrar Maria, e por Maria, Jesus, e por Jesus, Deus, eles não teriam tido tão terríveis quedas. Quando se tem uma vez encontrado Maria, e por Maria, Jesus, e por Jesus, Deus Pai, tem-se encontrado todo bem, dizem as almas santas: Inventa, etc. Quem diz a “todo” não faz exceção de nada: toda graça e toda amizade junto a Deus; toda sinceridade contra os inimigos de Deus; toda verdade contra a mentira; toda facilidade e toda vitória contra as dificuldades da salvação; toda doçura e toda alegria nas amarguras da vida.

Isso não quer dizer que quem encontrou Maria, por meio de uma verdadeira devoção, seja isento de cruzes e de sofrimentos, tal seria; ele é mais assaltado do que qualquer outro, porque Maria, sendo a Mãe dos viventes, dá a todos os Seus filhos pedaços da Árvore da vida, que é a Cruz de Jesus; mas talhando-lhes umas boas cruzes, Ela lhes dá a graça de carregá-las pacientemente e mesmo alegremente; de sorte que as cruzes que Ela dá aos que Lhe pertencem são mais uns doces, ou umas cruzes confeitadas, que cruzes amargas; ou, se eles sentem por um tempo a amargura do cálice que é preciso beber necessariamente para ser amigo de Deus, a consolação e a alegria, que esta boa Mãe faz suceder à tristeza, os anima infinitamente a levar cruzes ainda mais pesadas e amargas.

Conclusão

A dificuldade está, portanto, em saber encontrar verdadeiramente a divina Maria, para encontrar toda graça abundante. Deus, sendo Senhor absoluto, pode comunicar por Ele mesmo o que Ele não comunica ordinariamente senão por Maria; não se pode negar, sem temeridade, que Ele o faça mesmo algumas vezes; entretanto, segundo a ordem que a divina Sabedoria estabeleceu, Ele não se comunica ordinariamente aos homens senão por Maria na ordem da graça, como diz São Tomás. É necessário, para subir e se unir a Ele, servir-se do mesmo meio de que Ele Se serviu para descer a nós, para se fazer homem e para nos comunicar Suas graças; e este meio é uma verdadeira devoção à Santa Virgem.

 

Autor: São Luís Maria G. de Montfort – O Segredo de Maria

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Necessidade de meditar o Rosário

1 – Meditar é a mesma coisa que pensar com o afeto da vontade na verdade e no bem que encerram os Mistérios do Rosário. Aqui meditar é a mesma coisa que contemplar, embora o significado destas duas palavras, em si, seja um pouco diferente. Meditar exige que nós nos esforcemos por pensar e conhecer qualquer coisa discorrendo ou refletindo sobre ela. Porém, contemplar é pensar e conhecer por intuição ou simples olhar da – nossa inteligência mas sem discorrer ou refletir.

2 – Com efeito, a verdade e o bem são-nos necessários, pois são o objeto da nossa inteligência e da nossa vontade, cuja tendência é possuí-los e gozá-los. De nada aproveitam, se não os conhecemos, se não pensamos ou meditamos neles. Todos os cristãos recebem no dia do seu Batismo a luz e o dom da fé. Mas quantos infelizmente, sem deixarem de crer, vivem como se não tivessem a fé que para eles é morta. Acreditam nas verdades religiosas, mas não as vivem, não as põem em prática, não fazem delas caminho para a vida eterna. De pouco vale acreditar nessas verdades que a fé nos apresenta envolvidas em véus sem a meditação dessas verdades.

O Rosário, é, em primeiro lugar, oração vocal e deve ser, acima de tudo, oração de meditação que nos leva a penetrar os Mistérios que a fé nos propõe para crer.

3 – A meditação não pode rasgar, por si, os véus em que a fé nos apresenta as verdades da nossa religião. O homem, pela fé, está em presença dos grandes Mistérios divinos que jorram da fonte infinita da verdade, do bem e da vida, que é Deus. Essa fonte é, portanto, a Divindade-Deus uno na Trindade de Pessoas que se aproximam de nós por Jesus Cristo, Filho de Deus feito Homem. Como Jesus dizia, a vida eterna consiste em conhecê-Lo a Ele e, por meio dEle, conhecer a Deus Pai. Enquanto estamos no mundo, de passagem para a eternidade, não podemos ter a visão da glória do Céu, onde a nossa alma verá satisfeita todas as suas aspirações de Luz, de Bem, de Vida e Felicidade.

As insondáveis riquezas de Deus estão encerradas em Jesus, Deus Humanado, cuja vida neste mundo, sem deixar de ser divina, foi humana como a nossa, mas toda cheia de Deus. O Rosário, que é oração de meditação, leva-nos a copiar e a viver essa vida de Jesus, tornando a nossa divina como a dEle. O Rosário contém, através dos seus 20 Mistérios, o Livro da Vida que é Jesus Cristo. Com razão S. Luis Grignon de Montfort, grande apóstolo do Rosário, escreveu que o Rosário «divide a vida de Jesus e a de Maria em 20 Mistérios, que nos representam as suas virtudes e ações como em 20 quadros, cujos traços devem servir-nos de regra e exemplo para a orientação da nossa vida. São 20 archotes a guiar-nos neste mundo, 20 focos brilhantes para nos conhecermos a nós mesmos e para atear o fogo do seu amor em nossos corações, 20 fogueiras para nos consumirem completa­mente em suas chamas. (Cf. O Segredo admirável, 3ª dezena)

4 – Os frutos desta vivência são todos os que são próprios do Rosário, como veremos noutra ocasião. Porque a meditação, como já se disse, é a parte mais importante na sua recitação. Porque as vidas de Jesus e de Maria estão ‘intimamente associadas, ao meditar os seus Mistérios, aparece-nos neles a graça de Jesus, que nos é dada por Maria. A fé e o amor que abrasam a alma nessa meditação são eficazes para determinarem a influência divinizadora de Jesus e de Maria e levam-nos a um maior conhecimento e amor divinos: acrescentam em nós essa vida divina.

Quem medita bem o Rosário, recebe como diz S. Tomás, o efeito principal da meditação, isto é, a graça da devoção que é a vontade e o afeto com que servimos a Deus, como resultado natural da consideração da verdade e do bem divinos que se encerram nos Mistérios do Rosário.

 

(Livro – Manual do Rosário – Ed. do Secretariado Nacional do Rosário – Fátima – Portugal. P. 520 e 521)

 

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Fátima: Santuário evoca a primeira aparição do Anjo

Local da aparição do anjo

Porque neste ano pastoral de 2010-2011 se pretende de forma especial fazer memória das aparições do Anjo em Fátima, em 1916, o Santuário de Fátima está a organizar, para o dia 31 de Março, a evocação da primeira aparição deste mensageiro de Deus, que veio preparar os corações dos três pequenos videntes para as aparições de Nossa Senhora, no ano seguinte.

Tendo como base as memórias da Irmã Lúcia, verifica-se que não é conhecida a data exacta desta aparição do Anjo da Paz, assim como a data das seguintes aparições.

Apenas é conhecido que a primeira aparição aconteceu na Primavera, a segunda no Verão e a terceira no Outono.

Assim, este ano, nos primeiros dias de Primavera, a data escolhida para a evocação da primeira aparição foi o último dia de Março.

O programa, um convite à participação de todos, inicia com a concentração na Capelinha das Aparições, às 21:30, seguindo-se uma caminhada até à Loca do Cabeço, lugar da aparição, com a recitação do rosário pelo caminho. O programa termina com a evocação da aparição, no respectivo local.

 

HISTORIA DAS APARIÇÕES DO ANJO DA PAZ AOS TRÊS PASTORINHOS:

Em 1916, um anjo apareceu três vezes aos pastorzinhos. A finalidade destas visitas traduziu-se na preparação dos videntes de Fátima para acontecimentos de maior importância, como viriam a ser as Aparições de Nossa Senhora, um ano depois. Os fenômenos que viriam a acontecer, não eram de todo fáceis de compreender, daí a importância daquele mensageiro em conduzir as três crianças no sentido de melhor compreenderem e difundirem uma mensagem que todos a pudessem entender e interpretar com o significado que se pretendia transmitir.

 

Primeira Aparição

A primeira aparição do Anjo teve lugar na Loca do Cabeço, um local dos arredores de Aljustrel. Era um dia chuvoso naquela primavera de 1916. Na Loca do Cabeço havia umas pequenas grutas, que ainda hoje se podem visitar, onde os pastorzinhos se abrigavam. Ao acalmar-se a tempestade os pastorzinhos saíram da gruta e foi quando se levantou um vento forte. A pouca distância dos pastorzinhos, no meio do olival, depararam-se com uma figura que tinha “A forma de um jovem de 14-15 anos, mais branco que a neve e transparente como o cristal atravessado pelos raios do sol, e muito belo”, segundo palavras de Lúcia. Aproximou-se deles e disse “Não tenhais medo. Eu sou o Anjo da Paz. Rezai comigo”. Ajoelhou-se e inclinando o rosto até ao chão pediu para rezarem três vezes “Meu Deus, eu acredito, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão pelos que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam”. Depois levantou-se e disse “Orai assim. Os corações de Jesus e de Maria estão atentos à voz das vossas suplicas”. Dito isto o Anjo mais branco que a neve deixou as três crianças.

Durante o resto do dia as crianças sentiram-se tão bem, que nem eram capazes de comentar o sucedido entre eles. O Francisco rezou de acordo com aquilo que ouviu dizer às suas companheiras, na medida em que via o Anjo, mas não o ouvia.

 

Segunda Aparição

A Segunda aparição teve lugar cerca de dois meses mais tarde. O local escolhido desta vez não foi a Loca do Cabeço, mas o poço situado atrás da casa dos pais da Lúcia. Era hora de sesta e tudo estava calmo, apenas as crianças brincavam nas traseiras da casa quando de súbito se deparam novamente com a imagem do Anjo que disse: “O que fazem? Rezai, Rezai muito. Os corações de Jesus e de Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios”. A Lúcia perguntou ao Anjo como se deveriam comportar. “De tudo o que puderdes, oferecei um sacrifício ao Senhor em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de suplica pela conversão dos pecadores”.

Os pastorzinhos ficaram com estas palavras retidas. Começaram então a fazer sacrifícios e a rezar a oração que o Anjo lhes ensinou.

 

Terceira Aparição

No Outono do mesmo ano encontravam-se os pastorzinhos a rezar a oração que o Anjo lhes ensinara, no local onde acontecera à primeira aparição, na Loca do Cabeço quando de súbito o Anjo lhes aparece novamente. Esta aparição teve a particularidade de o Anjo se apresentar com um Cálice na mão esquerda e uma Hóstia na mão direita sobre o Cálice e da qual caiam pingas de sangue. O Anjo ajoelhou-se ao lado dos pastorzinhos, deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, enquanto lhes pedia para rezarem três vezes a seguinte oração: ” Santíssima Trindade Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Sacratíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.

O Anjo levantou-se, tomou com ele o Cálice e a Hóstia que tinham ficado suspensos, deu a Hóstia à Lúcia e o conteúdo do Cálice ao Francisco e à Jacinta dizendo: “Tomai e Bebei o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o Vosso Deus”.

O Anjo ajoelhou-se de novo, rezando três vezes a mesma oração com os pastorzinhos, para depois os deixar com a sua missão já cumprida.

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João Paulo II e Nossa Senhora

Sou todo Vosso, Mãe e Senhora!

Há certos acontecimentos da vida de João Paulo II que são dignos de memória, mais ainda que outros. São aquelas atitudes do Servo de Deus que ainda rendem bons frutos essa Terra e terão desdobramentos eternamente, no Céu.  Falar sobre isso nunca será demais: a justiça e a gratidão exigem que esses gestos sejam sempre lembrados.

Beatificação: fatos dignos de memória

João Paulo II, será beatificado no dia primeiro de maio de 2011, em Roma. Até lá, sua vida será esquadrinhada palmo a palmo, será narrada em todo mundo, para todos.

Sobre o “Papa que veio de longe” – timoneiro da “Barca de Pedro” por quase 27 anos – veremos desfilar comentários sobre sua atuação como sacerdote, bispo, arcebispo e cardeal na Polônia ainda comunista. Saberemos como foram seus estudos, sua prisão pelos nazistas, sua política diplomática e suas visitas apostólicas a 129 países.

Conheceremos sua atuação durante o concílio. Poderemos avaliar detalhes e consequências do atentado que sofreu em 1981, bem como de sua doença. Serão lembrados seus sofrimentos e também as alegrias, tristezas e esperanças de seus 84 anos de vida. E é bom que seja assim mesmo: João Paulo II viveu de modo assinalado a História da Igreja e da humanidade. Até que se esgote tudo que se tem a dizer sobre ele, passará um bom tempo.

No entanto, haverá ainda outras atitudes de Karol Wojtyla, outros acontecimentos também dignos de memória. Eles também são história e devem ser lembrados. São fatos praticados pelo Servo de Deus que ainda continuam a render bons frutos nessa Terra e terão desdobramentos no Céu, eternamente.

Falar sobre isso nunca será demais e a justiça e gratidão exigem que eles sejam sempre lembrados.

Devoto de Maria

Dentro dessa perspectiva estariam, por exemplo, as expressões de devoção a Nossa Senhora, a catequese e todo o apostolado Marial exercido pelo Papa João Paulo II.

Porém, seria um desafio quase invencível enumerar —mesmo sinteticamente— todos seus pensamentos, todas suas atitudes e desejos a propósito da Virgem Maria. Nessa contingência, sem a pretensão de esgotá-los, relembremos fatos e manifestações que evocam a devoção de João Paulo II a Maria Santíssima, seus desdobramentos e consequências.

“Totus tuus”

Poucas horas depois de ter sido eleito Papa (17 de outubro de 1978), dirigindo-se ao mundo todo, afim de enunciar as grandes linhas de seu pontificado, ele afirmou: “Nesta hora, […] não podemos deixar de voltar, com filial devoção, o nosso olhar para a Virgem Maria […], repetindo as palavras “totus tuus” (todo teu), que […] gravamos em nosso coração e em nossas armas, no dia da ordenação episcopal”.

O que dizer de um homem que, ao atingir a situação mais elevada e augusta dessa Terra, proclama ser “todo de Nossa Senhora”? A resposta é simples e sem exageros: João Paulo II mostrava, assim, ser um homem predestinado. Pois, quem tem devoção a Nossa Senhora traz em sua alma a marca da predestinação.

Consagração a Jesus Cristo pelas Mãos de Maria

Durante seu longo pontificado, nas mais diversas situações, ele tinha seus olhos voltados constantemente para Nossa Senhora.

Aproveitou-se de ocasiões solenes ou intimas, visitas a grandes santuários ou a pequenas igrejas e capelas, fóruns internacionais ou encontros privados para, sempre, renovar sua “consagração a Cristo pelas mãos de Maria” (RMa 48).

Ele escolheu este meio para mostrar ao mundo seu amor à Virgem Maria e seu desejo de viver fielmente esse compromisso de fidelidade a sua devoção mariana. E assim ele agiu até o fim de sua vida.

De onde ele auriu e encontrou fundamentos para essa entranhada devoção a Nossa Senhora?

Sem dúvida alguma, na Tradição Católica e nos exemplos de vida de inúmeros santos. Contudo, a mariologia de João Paulo II foi beneficamente influenciada, sobretudo, por S. Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716) que afirmava: “Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é, incontestavelmente, aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo.

Ora, sendo Maria, entre todas as criaturas, a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que, de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo” (Tratado, 120 – in RVM 15).

História de uma devoção

Na verdade, a relação de Karol Wojtyla com Nossa Senhora começou quando ele era menino. Sua mãe terrena morreu quando ele tinha sete anos e o pequeno órfão logo habituou-se a rezar diariamente junto a uma imagem de Nossa Senhora de sua paróquia. Karol desabafava suas alegrias, tristezas e esperanças diante da Mãe Celestial, tal como faria com a sua mãe e, talvez, até com mais confiança. De Nossa Senhora sua alma de criança recebia compreensões e afagos que só a melhor das mães sabe dar.

Tendo nascido e vivido na Polônia onde a maioria de seus compatriotas veneram a Virgem de Czestochowa, padroeira de sua abençoada e mariana terra, esta relação cresceu ao longo da sua existência acompanhando-o em sua formação e durante a vida de sacerdote.

Quando foi eleito bispo, tomou como lema a descrição de um estado de vida que já havia assumido antes e vivia: Totus Tuus. Todo Teu! Uma de suas frases poderia resumir a razão de ele dizer “Totus Tuus” a Maria: “Importa reconhecer que, antes de que qualquer outro, o próprio Deus, o Pai eterno, confiou-se à Virgem de Nazaré, dando-lhe o próprio Filho no mistério da Encarnação” (RMa 39).

“Rosario: minha oração predileta!”

“O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e profundidade”.

Estas palavras de João Paulo II, ditas em 20 de outubro de 1978, uma semana depois de ter sido eleito Papa, ajudam a mostrar atitudes de uma espiritualidade que ele vivia e que tomou mais corpo durante seu pontificado. Nesse período, ele aprofundou e amadureceu sua devoção a Nossa Senhora e disso dava sempre mostras: rezava constantemente o rosário.

Era frequente vê-lo rezar o terço devotamente nos momentos de pausa, em seus traslados no papamóvel, nos encontros mais longos com jovens, enquanto eles executavam músicas para ele, e nas horas de recolhimento diante do Santíssimo Sacramento ou de uma imagem de Nossa Senhora.

Suas inúmeras e importantes atividades nunca foram empecilho que justificassem deixar de rezar o terço. Tornou-se conhecido o fato de que nas audiências que concedia ou nas visitas que fazia, o presente que mais oferecia era sempre um rosário, mesmo que a pessoa não fosse católica ou nem tivesse Fé alguma. Ele chegou mesmo a afirmar que “nunca como no Rosário o caminho de Cristo e o de Maria aparecem unidos tão profundamente. Maria só vive em Cristo e em função de Cristo.”

Contemplar com Maria o rosto de Cristo

Não causa espanto que João Paulo II tenha desejado dedicar ao Santo Rosário o ano que antecedeu o Jubileu de Prata de seu pontificado. Essa foi uma atitude querida por ele para incentivar “a contemplação do rosto de Cristo na companhia e na escola de sua Mãe Santíssima. Com efeito, recitar o Rosário nada mais é [que] contemplar com Maria o rosto de Cristo” (RVM – 3). Assim, depois de 25 anos na direção da Igreja, o já então ancião Karol Wojtyla confirmava, uma vez mais, o “Totus Tuus” da sua vida.

“Meditar com o Rosário significa entregar os nossos cuidados aos corações misericordiosos de Cristo e da sua Mãe. À distância de vinte e cinco anos, ao reconsiderar as provações que não faltaram nem mesmo no exercício do ministério petrino, desejo insistir, como para convidar calorosamente a todos, a fim de que experimentem pessoalmente isto mesmo: verdadeiramente o Rosário «marca o ritmo da vida humana» para harmonizá-la com o ritmo da vida divina, na gozosa comunhão da Santíssima Trindade, destino e aspiração da nossa existência”.

Ano do Rosário, ano para o rosário

João Paulo II escreveu na Carta Apostólica “Rosarium Virignis Mariae”: “na esteira da reflexão oferecida na Carta apostólica “Novo millennio ineunte” na qual convidei o Povo de Deus, após a experiência jubilar, a “partir de Cristo” senti a necessidade de desenvolver uma reflexão sobre o Rosário, uma espécie de coroação mariana da referida Carta apostólica, para exortar à contemplação do rosto de Cristo na companhia e na escola de sua Mãe Santíssima. Com efeito, recitar o Rosário nada mais é senão [que] contemplar com Maria o rosto de Cristo. Para dar maior relevo a este convite, […] desejo que esta oração seja especialmente proposta e valorizada nas várias comunidades cristãs durante o ano. Proclamo, portanto,o período que vai de Outubro deste ano até Outubro de 2003 Ano do Rosário.

Constante Apostolado através de Maria…

O Papa João Paulo II sempre quis deixar patente diante de todos sua devoção a Nossa Senhora. Essa devoção era uma forma de ele caminhar na santificação, sem dúvida, mas os efeitos dela tinham como corolário fazer apostolado, atrair mais almas para Cristo. Ele sabia que os exemplos influenciam, entusiasmam e arrastam.

João Paulo II encontrou no exercício dessa devoção um modo de, ao mesmo tempo, mostrar seu apreço pela Virgem Maria e praticar uma catequese mariana, alcançando assim um número maior de almas que pudessem abrir seus corações para Jesus Cristo.

Todos sabiam que, depois de Papa, —como já fazia na Polônia— nunca deixou de praticar a popular devoção dos primeiros sábados, conforme o pedido de Nossa Senhora aos pastorezinhos de Fátima.

Ele quis também demonstrar sua devoção a Nossa Senhora quando atribuiu à intercessão de Maria o fato de ter sobrevivido ao atentado que sofreu na Praça de São Pedro, em 13 de maio de 1981, uma data especialmente associada às aparições da Virgem em Fátima.

…nas audiências públicas

Ele utilizou-se das sempre muito concorridas audiências públicas das quartas-feiras para difundir as glórias de Maria e propagar a devoção a Ela. Entre os anos de 1995 e 1997, em 58 delas, o Sumo Pontífice teve Nossa Senhora como assunto constante dessas audiências.

Com uma didática simples e direta, capaz de atingir qualquer nível de cultura, ele proporcionou aos que tomaram conhecimento dessas homilias uma incursão através de diversos e variados temas que constituem a mariologia.

Numa delas, João Paulo II tratou da “Devoção mariana e o culto das imagens”. Foi, então, uma ocasião para Ele afirmar:

“Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher…(Gl 4,4). O culto mariano funda-se sobre a admirável decisão divina de ligar para sempre, como recorda o apóstolo Paulo, a identidade humana do filho de Deus a uma mulher, Maria de Nazaré.

O mistério da maternidade divina e da cooperação de Maria na obra redentora suscita nos crentes de todos os tempos uma atitude de louvor, quer para com o Salvador quer [para com] Aquela que O gerou no tempo, cooperando assim na redenção.

Um ulterior motivo de reconhecido amor pela Bem-aventurada Virgem é oferecido pela sua maternidade universal. Ao escolhê-la como Mãe da humanidade inteira, o Pai celeste quis revelar a dimensão, por assim dizer materna, da Sua ternura divina e da Sua solicitude pelos homens de todas as épocas” (A Virgem Maria – 58 Catequeses do Papa sobre Nossa Senhora. – Aquino, Felipe Rinaldo Queiroz de (org.). – 6ª. ed. – Lorena: Cléofas, 2006, p. 171).

Em outra dessas audiências das quartas feiras, João Paulo II tratou sobre “A oração de Maria”. O Papa assim concluía sua reflexão:

“Tendo recebido de Cristo a salvação e a graça, a Virgem é chamada a desempenhar um papel relevante na redenção da humanidade. Com a devoção mariana os cristãos reconhecem o valor da presença de Maria no caminho rumo à salvação, recorrendo a Ela para obter todo o gênero de graças. Eles sabem sobretudo que podem contar com a sua intercessão materna, para receber do Senhor [tudo] quanto é necessário ao desenvolvimento da vida divina e à obtenção da salvação eterna.

Como atestam os numerosos títulos atribuídos à Virgem e as peregrinações ininterruptas aos santuários marianos, a confiança dos fiéis na Mãe de Jesus impele-os a invocá-la nas necessidades quotidianas. Eles estão certos de que o seu coração materno não pode permanecer insensível às misérias materiais e espirituais de seus filhos” (idem – p. 181).

…em qualquer ocasião oportuna

As homilias de João Paulo II sobre a Bem-aventurada Virgem Maria e seu papel e lugar no mistério de Cristo e da Igreja chegam às centenas, não se limitando apenas às alocuções das quartas feiras. Ele dedicou também, em diversas outras ocasiões, um número enorme de orações e consagrações à Santíssima Virgem.

Às vezes, de passagem, em um discurso, uma audiência, ou outra oportunidade qualquer, relevante ou não, nascidas de seu coração, vinham à tona orações, lembranças ou algumas palavras sobre Nossa Senhora e a necessidade de se ter devoção a Ela. Eram sempre palavras acessíveis, porém, elevadas e com fundamento teológico profundo.

 

Os mistérios de Luz

Se quisermos completar um pouco mais o perfil mariano da alma de João Paulo II, seria bom lembrarmos que ele escreveu a encíclica “Redemptoris Mater” e também a carta apostólica “Rosarium Virginis Mariae”.

Estes escritos trazem um conjunto de pensamentos, meditações e afirmações de um Papa que já havia caminhado bastante na estrada de Maria. Eles trazem reflexões de um coração que se apaixonou pela Santa Mãe de Deus, a Virgem Maria.

Como corolário dessas meditações sobre o Rosário, o Papa acrescentou a ele um conjunto novo de cinco mistérios. Eles formam a quarta parte do Rosário e receberam a denominação de “Mistérios Luminosos” ou “Mistérios da Luz”.

“Quando recita o Rosário, a comunidade cristã está em sintonia com a memória e com o olhar de Maria.” (RVM) Os cinco mistérios acrescentados ao Santo Rosário colocarão o fiel em um tempo maior de contato com Nossa Senhora. E isso é fundamental para o católico, pois, “percorrer com Maria as cenas do Rosário é como ir à ‘escola’ de Maria para ler a Cristo, para penetrar em seus segredos, para entender sua mensagem.”

João Paulo II e Fátima

Provavelmente, a devoção do Papa João Paulo II a Nossa Senhora de Fátima veio de sua época de infância e juventude, pois, na Polônia, desde cedo, a história e a mensagem da Senhora da Cova da Iria foram bastante difundidas.

Os Bispos poloneses participantes do Concílio Vaticano II estavam entre os que mais se entusiasmaram quando s tratou da realização da consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, segundo o pedido de Nossa Senhora, em Fátima. Entre estes bispos estava o ainda jovem Dom Wojtyla que participou ativamente da defesa e divulgação dessa Consagração.

Assim ele resumiu seu pensamento sobre esta temática: “Consagrar o mundo ao Coração Imaculado de Maria significa aproximar-nos, mediante a intercessão da Mãe, da própria Fonte da Vida, nascida no Gólgota. Este Manancial escorre ininterruptamente, dele brotando a redenção e a graça.” (Homilia do Papa João Paulo II,Fátima, 13 de maio de 1982- in Revista Arautos do Evangelho, Fev/2011, n. 110)

O então Dom Karol Wojtyla participou das quatro sessões do II Concílio do Vaticano. Estava presente quando o Papa Paulo VI anunciou o envio da rosa de ouro ao Santuário de Fátima (21 de Novembro de 1964) e o convite do Cardeal Cerejeira, na última sessão do Concílio, a todos os bispos do mundo, para irem ao Santuário no cinquentenário das aparições (1967).

Ao sobrevoar o território de Portugal —25 de janeiro de 1979— João Paulo II lembrava-se de Fátima em sua mensagem ao presidente: “com cordiais saudações, vai o nosso pensamento para o dileto povo português, auspiciando-lhe e implorando a Maria Santíssima, tão cultuada especialmente em Fátima, a contínua assistência e favores de Deus” (OR, 11 Mar. 1979, p. 2).

Proteção de Fátima: o Papa não morreu

Em 13 de Maio de 1981 completavam 64 anos da primeira aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria. Era também comemorado o cinquentenário da consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria e o Episcopado Português tinha resolvido que nesse dia seria renovada essa consagração. Para a ocasião, João Paulo II havia enviado um telegrama afirmando considerar-se presente à cerimônia.

O Cardeal D. Antônio Ribeiro leu o texto da consagração e a prece pelas intenções do Papa. Leu também uma mensagem onde agradecia o telegrama do Papa e, em nome de todos, pedia a Nossa Senhora “as melhores graças e bênçãos de Deus” para o Papa (cfr. “Voz da Fátima”, 13 Jun. 1981; OR, 9 Mai. 1982, p. 7, cols. 3-4).

Justamente na tarde deste mesmo dia chegou a notícia do atentado contra o Papa. Desde então, no Santuário de Fátima as autoridades eclesiásticas e os peregrinos se uniram em oração pelo Papa.

“Não podíamos deixar morrer o Santo Padre. Pela proteção de Nossa Senhora, Consoladora dos Aflitos, Saúde dos Enfermos, Mãe da Santa Esperança, o Papa não morreu”, dizia o Bispo de Leiria, um ano depois. (OR, 9 Mai. 1982, p. 9, col. 1-2).

No ritmo da “Senhora da Mensagem”

Podemos afirmar que, desde esse dia, o pontificado do Papa João Paulo II decorreu ao ritmo da “Senhora da Mensagem”, como ele costumava dizer. Alguns momentos são significativos e mostram essa sintonia com a mensagem de Fátima:

– 13 de Maio de 1982 – primeira peregrinação do Papa ao Santuário de Fátima;

– a consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, na Praça de S. Pedro, na presença da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, da Capelinha das Aparições, a 25 de Março de 1984;

– a segunda peregrinação, no décimo aniversário do atentado, a 13 de Maio de 1991;

– a terceira peregrinação com a beatificação dos pastorezinhos Francisco e Jacinta, em Fátima, e o anúncio da terceira parte do segredo de 1917, a 13 de Maio do ano jubilar de 2000, e a sua revelação completa, a 20 de Junho do mesmo ano.

– Finalmente, a nova ida da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, à Praça de S. Pedro, no dia 8 de Outubro de 2000, quando o Papa João Paulo II consagrou a Nossa Senhora o novo milênio, na presença dos bispos do mundo inteiro.

Em alocuções e outros documentos oficiais de seu pontificado, João Paulo II refere-se a Nossa Senhora de Fátima em 110 ocasiões diferentes.

O Papa João Paulo II teve uma última atenção para com Fátima: enviou uma mensagem para a Irmã Lúcia que, a 13 de fevereiro de 2005 ainda a pode ler poucas horas antes de falecer. Menos de dois meses depois, 2 de abril, quando morreu João Paulo II, na Praça de S. Pedro ouvia-se constantemente o “Ave de Fátima”. Cantando, o povo associava definitivamente João Paulo II a Nossa Senhora de Fátima.

 

Fonte: Arautos do Evangelho

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Diante de dois sinais dos tempos

Autor: Frei Lourenço M. Papin, OP

 

João XXIII, eleito papa em 1958, começou a usar amiúde a expressão “sinal dos tempos”, uma maneira de entendermos os planos e desígnios de Deus, à luz da fé, através dos acontecimentos da vida, da história e da própria natureza.

Trata-se de uma linguagem de inspiração bíblica. Um exemplo marcante: Moisés entendeu que Deus o chamava a libertar Israel da escravidão faraônica, através do clamor de seu povo sofrido e oprimido.

Vejo como um sinal dos tempos, no aqui e agora, o movimento ecológico que se globalizou na defesa da natureza, independente de culturas e confissões religiosas. O Espírito do Senhor sopra onde quer!

A Igreja no Brasil, procurando interpretar esse sinal dos tempos, lançou a Campanha da Fraternidade 2011, tendo como tema: “A Fraternidade e a vida no planeta” e como lema as palavras de Paulo aos Romanos: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8, 22).

Essa Campanha é um brado da Igreja, lembrando que Deus tudo criou para o bem do homem e da mulher, sua obra-prima. É o grande ensinamento do livro do Gênesis narrando a obra da criação.

A natureza toda está, sim, a serviço do homem, mas é seu dever respeitá-la e dela cuidar. A natureza ou o meio ambiente é a casa comum de toda humanidade.

Um dos subsídios para difusão popular da CF é o seu cartaz que você já deve ter visto. Ele é muito chamativo, quase apocalíptico. Ao fundo aparece uma fábrica com sua densa fumaça que polui e degrada o ambiente. Em seguida vê-se um rio com sua água suja e escurecida, lembrando a natureza devastada, influenciando o aparecimento de enchentes e o aumento do nível do mar.

Em contraste a esse quadro desolador, vê-se na parte inferior do cartaz, uma mureta, onde apesar das devastações, ainda existe vida: um pequeno broto e um cipreste (hera), com suas raízes incrustadas, criando um micro ecossistema, insistindo em viver. O que se relaciona com o lema: “A criação geme em dores de parto”.

Não obstante os “sofrimentos e gritos de dor da natureza”, a vida rompe barreiras, mostrando que existe a esperança representada por uma borboleta que, mesmo com sua breve e humilde vida, cumpre seu importante papel no ciclo natural do planeta.

Outro subsídio também popular é o hino próprio dessa Campanha, cantado em todas as comunidades do Brasil. Bonita sua música, rica de conteúdo sua letra.

“A terra é mãe, é criatura viva; / também, respira, se alimenta e sofre, / É de respeito que ela mais precisa! / Sem teu cuidado, ela agoniza e morre.

Olha as florestas, pulmão verde e forte! / Sente esse ar que te entreguei tão puro? Agora, gases disseminam morte; / O aquecimento queima o teu futuro.

Contempla os rios que agonizam tristes. / Não te incomoda poluir assim?! / Vê, tanta espécie não existe. / Por mais cuidado implora esse jardim.

A humanidade anseia nova terra (2Pd 3, 13). / De dores geme toda a criação (Rm 8, 22). Transforma em Páscoa as dores dessa espera, / Quero essa Terra em plena gestação!”

São algumas das estrofes intercaladas com este refrão de forte apelo: “Nossa mãe Terra, Senhor, / Geme de dor noite e dia. / Será de parto essa dor? / Ou simplesmente agonia?! / Vai depender só de nós”!

Há partos de dor que trazem a vida, há partos de agonia que trazem a morte!

Vejo também, como doloroso sinal dos tempos, a catástrofe dos devastadores terremotos e tsunami no Japão.

Antes de tudo seria anticristão afirmar que se trata de castigo de Deus que é Pai de infinita bondade. Todavia, numa perspectiva de fé bíblica, vejo nessa catástrofe da natureza, como uma lição de advertência divina para todos nós a qualquer nacionalidade que pertençamos que humildemente devemos exclamar: Como somos todos pequenos e frágeis, mesmo com as maravilhosas conquistas da tecnologia.

Com imensa dor lamentamos e choramos os milhares de nossos irmãos japoneses mortos ou desaparecidos. Consternados continuamos vendo, sobretudo pela televisão, multidões desoladas, sem teto, padecendo fome, sede e frio, ameaçadas por irradiações nucleares, enfim, um primeiro mundo com imagens de terceiro mundo.

Mitigando tanto sofrimento, constatamos, todavia, o despertar de fraternidade e solidariedade concreta de tanta gente e de numerosas nações cujos governantes estão preocupados em colaborar na solução dos problemas humanos e materiais advindos dessa catástrofe.

Constatamos também a serenidade, tranqüilidade e solidariedade dos japoneses entre si.

Essa fraternidade e solidariedade de dimensão globalizada que crescem cada dia apresentam-se como mais um componente desse sinal dos tempos, forte e alto falante para toda humanidade.

Nossa prece ao Deus Criador pela vida no planeta. Nossa prece ao Cristo, “sol nascente que nos veio visitar” (Lc 1, 78) por esse povo sofrido da terra do sol nascente.

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Anunciação do Senhor

Numa pequena casa da cidade de Nazaré, ocorreu o acontecimento mais importante da História da humanidade: a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade no seio puríssimo de Maria. A Santa Igreja comemora esse transcendental acontecimento a 25 de março, precisamente nove meses antes do Natal.

O evangelista São Lucas narra o fato com simples palavras.

O valor da graça

Inclinando-se respeitosamente diante da Santíssima Virgem, o Arcanjo São Gabriel disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28).

Consideremos as palavras: Cheia de graça. A menor das graças vale mais que todo o universo material. Pois a graça é a participação da vida divina. Se tivéssemos que escolher entre a menor das graças e todos os tesouros do mundo, deveríamos, sem a menor hesitação, preferir a graça.

Ora, desde o primeiro instante da concepção, que foi imaculada, a graça divina inundara a alma de Maria e essa graça não cessaria de crescer em proporções que desafiam os cálculos de nossas débeis inteligências. Por isso, São Gabriel A chamou: Cheia de graça.

Humildade da Virgem

Maria Santíssima compreendia perfeitamente a imensidade de Deus e o nada da criatura. Devido à sua prodigiosa humildade, Ela se espantou ao ouvir aqueles louvores.

Vendo a mais perfeita das criaturas ter sentimentos tão despretensiosos, o embaixador celeste acrescentou: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus; eis que conceberás e darás à luz um Filho, a Quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será o Filho do Altíssimo. Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e reinará eternamente e o seu reino não terá fim” (Lc 1, 30,33).

Espírito profundamente lógico de Nossa Senhora

Logo após o primeiro elogio feito por São Gabriel, a Santíssima Virgem “meditava que saudação seria esta” (Lc 1, 29).

E quando o anjo anunciou-lhe que Ela seria Mãe de Deus, a Virgem indagou: “Como se fará isso, pois Eu não conheço varão?“. E ele respondeu-lhe: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá. E, por isso mesmo, o Santo que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 35-37).

União Hipostática

Compreendendo ser essa a santíssima vontade de Deus, a Virgem disse ao Anjo: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra” (Lc 1, 38).

“Ó poderosa, ó eficaz, ó augustíssima palavra! — exclama São Tomás de Vilanova (1488-1555). Com um Fiat (faça-se) criou Deus a luz, o céu, a terra, mas com este Fiat de Maria um Deus se tornou homem como nós”.

Então operou-se a maior de todas as maravilhas. Pela ação do Espírito Divino começou a formar-se no seio da Virgem puríssima o corpo do Menino Jesus. O mesmo Espírito Santo uniu a esse corpo uma alma humana e juntou corpo e alma à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Essas três partes de uma mesma operação foram simultâneas, e esse sublime mistério é denominado pela Teologia de União Hipostática. Na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo — verdadeiro Deus e verdadeiro Homem — se unem as naturezas divina e humana.

Maria, Mãe de Deus

A Virgem é Mãe de Deus porque gerou alguém que é Deus. Não é, porém, Mãe da Divindade ou da natureza divina; é Mãe duma Pessoa Divina enquanto produziu, no tempo, a natureza humana dessa Pessoa.

Ora, Maria é mãe no sentido próprio. Pois o sujeito gerado é Deus ou uma Pessoa Divina, e não uma pessoa humana que depois foi feita Deus. O filho da Virgem é Deus no momento da concepção. No mesmo instante em que foi homem, foi Deus e homem, porque a natureza humana de Jesus estava destinada a subsistir, unida à natureza divina, na Segunda Pessoa divina.

Esses pontos são doutrina de fé, explicitamente definida e de primeira importância no dogma da Encarnação, pois compreende:

1. A declaração da natureza humana de Cristo, sem a qual não haveria a maternidade de Maria.

2. A declaração da natureza divina de Cristo; do contrário, o filho de Maria não poderia chamar-se Deus.

3. A declaração da união hipostática das duas naturezas na mesma pessoa, a divina; só assim pode ser um mesmo, o filho de Deus-Pai e o filho de Maria.

4. A declaração desta união desde o instante da concepção de Cristo; do contrário, a mãe de Cristo-Homem não se poderia chamar e ser Mãe de Deus.

Maria é chamada verdadeiramente Mater Dei, em latim, ou Theotokos, em grego, conforme definiu solenemente o Concílio de Éfeso, no ano de 431.

Veja outro artigo sobre a Anunciação, clique aqui.

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Fontes de referência:

Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria Santíssima, Vozes, 1964.

– Cônego Raymond Thomas de Saint-Laurent, La Vierge Marie, Aubanel Frères – Avignon, 1927.

Frei J. Armindo Carvalho, O.P., Maria no plano de Deus, Cadernos Culturais, 1, Braga, 1958.

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A inexplicável escada Milagrosa de São José

A inexplicável distração de um arquiteto do século XIX criou um problema “insolúvel”, do qual resultou uma admirável obra de arte que encanta as almas abertas para o maravilhoso e até hoje deixa perplexos os mais competentes especialistas.

Na prodigiosa escada cujas fotos o leitor pode apreciar nesta página, tudo é harmônico e deslumbrante. Ocupando um mínimo de espaço, ela eleva-se elegantemente em caracol, fazendo duas voltas de 360 graus.

Sua história, tão surpreendente quanto encantadora, justifica por inteiro o nome que lhe foi dado pela devoção popular: Escada Milagrosa.

Em 1853, as “Irmãs de Loreto” fundaram na cidade de Santa Fé, Estados Unidos, a Escola de Nossa Senhora da Luz (Loreto), para educação de meninas. O estabelecimento prosperou e, anos depois, as freiras decidiram construir uma capela dedicada à sua Padroeira. E optaram pelo estilo gótico, à imitação da famosa Sainte Chapelle, de Paris.

Somente quando estava concluída a obra, em 1878, as boas religiosas deram-se conta de um monumental descuido do arquiteto: não havia escada de acesso ao coro, situado a cerca de dez metros de altura!… E a construção de uma escada comum, não apenas deformaria o estilo, mas reduziria de modo inaceitável o espaço útil do pequeno templo.

Como resolver o problema? Foram consultados arquitetos, carpinteiros e outros profissionais. Todos afirmaram categoricamente que a única “solução” era usar uma escada portátil.

Mas as freiras queriam uma igreja bela, digna da Rainha de todas as belezas. E se a técnica humana era incapaz de resolver o problema, “para Deus nada é impossível”, como nos ensina o Divino Mestre.

Cheias de fé, iniciaram uma novena a São José. Afinal de contas – argumentavam elas – ele é um carpinteiro inigualável e deve empenhar-se para que uma igreja dedicada à sua Esposa santíssima seja em tudo perfeita como Ela!

Justamente no último dia da novena, apresentou-se um carpinteiro à procura de trabalho. Chegou montado num jumento, trazendo na mão sua caixa de ferramentas. Foi logo contratado para executar a obra considerada impossível. Trabalhou com diligência e discrição durante cerca de seis meses.

Certo dia as freiras verificaram, deslumbradas, que estava construída uma esplêndida escada em forma de caracol. Para resolver um mero problema funcional, o discreto e eficiente artífice havia adornado a pequena capela com uma autêntica jóia de madeira.

Onde estava ele? Ninguém sabia. Havia desaparecido sem se despedir de pessoa alguma. Não recebeu pagamento nem sequer um simples agradecimento pelo serviço prestado. Procuraram-no inutilmente, inclusive por meio de um anúncio publicado no jornal da cidade.

Por outro lado, um exame meticuloso da escada causava em todos enorme admiração. Sua magnífica estrutura, a elegância com que ela se eleva, além de vários detalhes da construção, deixam perplexos os especialistas até o dia de hoje. Por exemplo, ela faz duas voltas completas de 360 graus sem nenhum apoio colateral e é toda feita de encaixes, sem utilização de um único prego. Algumas de suas peças são de um tipo de madeira inexistente na região.

Em vista das circunstâncias em que foi feita a novena a São José, a inexplicável perfeição da obra, sob o ponto de vista humano, e o misterioso desaparecimento do artista, as freiras não tiveram dúvida em tirar a conclusão: o próprio esposo castíssimo da Virgem Maria viera realizar, em homenagem a Ela, aquilo que a técnica humana considerava impossível.

E lá está até hoje, maravilhando todas as almas capazes de ver e amar a beleza, a Escada Milagrosa da capela de Nossa Senhora de Loreto, na cidade norte-americana de Santa Fé.

Fonte: Arautos do Evangelho

 

 

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Comunhão reparadora nos Primeiros Sábados

Em Fátima, na terceira aparição de Nossa Senhora a 13 de Julho de 1917, foi mostrado aos três pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta, o inferno. Depois desta visão, Nossa Senhora disse-lhes:

“Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no Mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz… Virei pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos Primeiros Sábados… Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao Mundo algum tempo de paz…”

Nossa Senhora no dia 10 de Dezembro de 1925, em Pontevedra, apareceu à Irmã Lúcia com o Menino Jesus. Maria poisou a sua mão sobre os ombros de Lúcia e mostrou-lhe o Seu Imaculado Coração cercado de espinhos, e disse-lhe:

“Tem pena do Coração de sua SS. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam sem haver quem faça um acto de reparação para os tirar” Em seguida, a SS. Virgem disse:

” Minha Filha, olha para o Meu coração cercado de espinhos que os homens ingratos me cravam a todo o momento com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante cinco meses, no Primeiro Sábado
– se confessarem
– receberem a Sagrada Comunhão
– rezarem o Terço
– e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravarem,
Eu prometo assistir-lhes na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas”.

A IMPORTÂNCIA DESTA DEVOÇÃO
Esta devoção significa a união íntima do Coração Imaculado de Maria com o Sagrado Coração do Seu Filho. O coração de Maria, “aberto pelas palavras, “Mulher, toma o teu filho” (Jo 19:26) está unido espiritualmente com o coração do seu Filho, aberto pela espada do soldado”, ensinou o Papa João Paulo II na sua homilia em Fátima, no dia 13 de Maio de 1982.

Através desta devoção, o próprio Jesus deseja a reparação das ofensas que cravam o doloroso coração de Sua Mãe, símbolo maternal do amor misericordioso e desejo que Ela tem por salvar toda a humanidade n’Ele. Se praticar esta devoção, Maria promete-lhe assistir com as graças necessárias para a salvação, no momento supremo da morte.