As correntes como sinal da consagração de amor a Jesus Cristo e a Nossa Senhora.
A popularização da consagração, ou escravidão de amor, a Jesus Cristo e a Nossa Senhora tem causado curiosidade, dúvida e, às vezes, espanto, especialmente pelo uso das “correntes” ou “cadeias”, por parte de numerosos consagrados. Algumas dessas cadeias passam até despercebidas, pois são discretas, simples, sem brilho. Mas, outras chamam a atenção, pois são de ferro, mais grossas. Algumas lembram realmente escravidão e isso, pode causar reações não muito positivas. Tendo em vista que muitas pessoas tem uma visão errada, ou desconhecem o verdadeiro significado, da consagração e do uso das cadeiazinhas, nos colocamos à disposição para responder algumas perguntas. Neste artigo, para tirar dúvidas sobre a consagração, especialmente a respeito do uso das correntes, respondemos algumas perguntas, enviadas por Deniele Simões, do Jornal Santuário de Aparecida:
1) Muitos jovens estão usando correntes como sinal de consagração a Maria. Muitos desses jovens se denominam “escravos” de Nossa Senhora. O que é preciso para ser escravo de Nossa Senhora?
Em primeiro lugar, precisamos esclarecer o que é ser escravo da Virgem Maria. Pois, temos uma visão negativa da escravidão e isso pode prejudicar a compreensão do que é a consagração. Ser consagrado ou escravo de Jesus em Maria significa pertencer ao Filho de Deus e a sua Mãe Santíssima, sem reservas. Pertencemos a Cristo e a sua Mãe como verdadeiras propriedades e nisso a consagração se assemelha à escravidão, pois os escravos também pertenciam aos seus senhores. Entretanto, a relação entre senhor e escravo não é a mesma na consagração, pois esta é uma escravidão de amor. Na escravidão que havia em nosso país, o senhor comprava o escravo por dinheiro e tornava-se seu dono, para lucrar com ele ou usar para o trabalho. No caso de nós cristãos, Jesus Cristo não nos comprou com dinheiro, mas com seu próprio sangue1. Na Cruz, o Senhor deu Sua vida livremente, por puro amor, por cada um de nós, por isso pertencemos a Ele2. Em resposta, na consagração, nos entregamos livremente como escravos, para amar e servir Aquele que nos amou, que veio ao mundo para servir e dar a vida em resgate de muitos3.
Depois dessa breve explicação sobre a consagração, passamos para a resposta à questão colocada acima. Para ser escravo de Jesus em Maria, em primeiro lugar, é preciso estar em dia com suas obrigações de fiel católico: ser batizado na Igreja Católica; para quem tem idade, ter recebido o Sacramento do Crisma; para quem é casado, ter recebido o Sacramento do Matrimônio. Além disso, é necessário cumprir os cinco mandamentos da Igreja, ou pelo menos ter a intenção de cumprir estes mandamentos a partir da consagração.
Em segundo lugar, é preciso ler o livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Depois de ler o Livro, o passo seguinte é marcar a data da consagração, de preferência um dia mariano. Com a data marcada, começa-se a preparação para a consagração 30 dias antes (a preparação pode ser de 33 dias, dependendo do esquema de preparação usado). A preparação deve seguir as orientações do próprio Tratado4, no qual é indicado como fazer a preparação e quais as orações que devem ser rezadas. Existem também de livros de exercícios espirituais próprios para a preparação para a consagração, que podem ser adquiridos na Editora Santuário, na Arca de Maria e em outras livrarias católicas.
Perto do dia da consagração, recomendamos fazer uma boa Confissão, “com a intenção de se darem a Jesus Cristo na qualidade de escravos de amor, pelas mãos de Maria”5. No dia marcado, de preferência na celebração da Santa Missa (depois da comunhão ou após a Santa Missa, ou ainda em outro momento indicado pelo Padre), com a fórmula previamente escrita, de próprio punho ou impressa, faz-se o ato de consagração. Depois, assina-se a folha com a fórmula da consagração, juntamente com uma testemunha, se for possível. As pessoas que desejarem, podem pedir para o Padre abençoar a corrente, ou outro objeto de devoção, como o escapulário, a medalha, o anel, a pulseira, o crucifixo, o terço, que será o sinal da consagração a Jesus Cristo e a Santíssima Virgem6.
2) Qual o significado do uso das correntes ou cadeias?
A corrente, ou cadeia, é um sacramental (desde que seja abençoada), é um sinal visível de uma realidade invisível, que é a consagração, a total entrega de amor a Jesus Cristo, pelas mãos da Virgem Maria. Estas correntes também simbolizam o rompimento com a escravidão do pecado7, e a escravidão de amor a Jesus Cristo8, que solenemente prometemos em nosso Santo Batismo. Nós renovamos esta promessa na consagração9, que também é chamada de perfeita renovação das promessas batismais10.
3) Há pessoas que usam cadeias nos dedos, pulsos, tornozelos, pescoço e cintura. Qual a diferença de colocar a cadeia em cada uma dessas partes do corpo?
Quanto a parte do corpo onde usamos as cadeias, cada pessoa é livre para escolher. O próprio São Luís Maria dá algumas exemplos de onde usar as correntes e o significado que pode ser dado: “nos pés, como sinal da sua servidão, […] ao pescoço, como penitência pelos colares de pérolas que tinham trazido no mundo. […] nos braços, para se lembrarem, nos seus trabalhos manuais, de que eram escravos de Jesus Cristo”11. Algumas pessoas dão outros sentidos além desses, o que é incentivado pelo Santo, mas o essencial é que a corrente é um sinal sacramental da consagração de amor a Jesus Cristo pelas mãos da sua Mãe Santíssima.
4) Existem vários tipos de correntes, desde as mais discretas até as mais grossas, que chamam muito a atenção das pessoas. Há pessoas que optam pelas correntes mais chamativas. Qual a diferença entre usar correntes mais discretas e essas mais chamativas?
A princípio, não existe muita diferença entre usar uma corrente mais discreta ou outra mais chamativa. Pois, os dois tipos são sacramentais e símbolos da consagração. A diferença se reduz praticamente à estética, ainda que a cadeia possa também ter um significado pessoal, como vimos acima. Algumas pessoas podem até ficar chocadas pela grossura das cadeias. Além disso, as correntes de ferro podem escurecer e, num tempo em que as pessoas se preocupam muito com a aparência, pode passar uma impressão errada. Este choque visual pode causar perplexidade em algumas pessoas mas, ao mesmo tempo, pode atrair outras para fazer a consagração, pelo desejo de uma entrega radical a Deus.
Não sou contra nem a favor do uso de correntes mais finas ou mais grossas, pois o que vai dizer qual é melhor é a atitude interior de quem as usa. Dependendo dessa atitude, para uma pessoa pode ser melhor usar a cadeia mais fina e para outra pode ser preferível usar a mais grossa. Certa pessoa pode usar uma corrente grossa por vaidade, para chamar a atenção ou para lembrar a todo momento que rompeu com o pecado, que se fez escravo de Maria, ou ainda para lembrar-se da radicalidade com que quer viver a sua consagração. Outra pessoa pode usar uma corrente mais fina por vaidade, por achar mais elegante, bonita, ou por ser humilde, discreta, semelhante a Virgem Maria. O mais importante é o interior, a intenção que trazemos em nosso coração, a nossa entrega amorosa, total e livre, como pobres, simples e humildes escravos de Jesus Cristo e da Virgem Maria.
5) As correntes ou cadeias passam a impressão de servidão, entrega total e sacrifício. A vontade de Maria é a que as pessoas se sacrifiquem por ela a ponto de serem acorrentadas, ou servir a ela está mais relacionado à pureza de coração da pessoa que se consagra?
Eu penso que as duas coisas andam juntas, pois a pureza de coração nos leva ao amor, ao sacrifício, à renúncia de nós mesmos. Não pode ser puro de coração quem não ama verdadeiramente, quem não está disposto a se sacrificar pelo outro. Quem são as pessoas que sabemos com certeza que nos amaram? São aquelas pessoas que de alguma forma se sacrificaram por nós; que perderam noites de sono por nossa causa; que não nos abandonaram nos momentos difíceis ou quando as traímos; que não revidaram quando as maltratamos; que sacrificaram a própria vida para que fizéssemos uma faculdade ou para que tivéssemos uma vida melhor. Pode-se dizer que essas pessoas são puras de coração porque se sacrificaram sem querer uma retribuição e não foram obrigadas a se sacrificar pelo próximo, porque amavam. Da mesma forma, essas cadeias não são obrigatórias para os consagrados a Virgem Maria. Nós consagrados, fazemos sacrifícios, nos entregamos sem reservas e usamos as correntes livremente, por puro amor a Mãe de Deus e ao seu Filho Jesus Cristo.
Em nosso tempo, no qual a busca pelo prazer e pelo bem estar estão em alta, as correntes podem realmente passar uma impressão negativa. Mas, na verdade estas expressam o nosso amor incondicional e nossa adesão total à proposta do Senhor Jesus a cada um de nós cristãos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me”12. As correntes simbolizam esta renúncia de nós mesmos, este abraçar a Cruz de Cristo e o seguimento amoroso do Senhor, ainda que em meio às incompreensões e perseguições.
A Virgem Maria apareceu em Fátima aos três pastorezinhos e pediu a eles orações, jejuns, penitências e sacrifícios13. Na época das aparições, Lúcia tinha 10, Francisco 9 e Jacinta apenas 7 anos de idade. A princípio, podemos julgar como crueldade pedir a três crianças jejuns, penitências e sacrifícios. Mas, estes assumiram livre e amorosamente esses propósitos, porque sabiam que estavam se unindo à Cruz de Cristo e que estavam colaborando pela salvação das almas, pois estas realidades lhes foram reveladas por Nossa Senhora. Num tempo no qual as pessoas não acreditam mais no Inferno, tudo isso pode parecer escândalo para alguns, loucura para outros, mas para nós é Sabedoria de Deus14.
No Tratado, São Luís Maria pede que ouçamos um conselho divino a respeito das correntes: “’Ouve, meu filho, e recebe um conselho de sabedoria, e não rejeites o meu conselho’15. […] ‘Meu querido irmão, quebremos as cadeias do pecado e dos pecadores, do mundo e dos mundanos, do demônio e dos seus sequazes, e ‘lancemos para longe de nós o seu jugo funesto’16. […] ‘Ponhamos os pés nos Seus gloriosos ferros, e o pescoço nos Seus grilhões’17. ‘Curvando os ombros, levemos a Sabedoria [que é Jesus Cristo] sem aborrecermos as Suas cadeias’18”19. O Santo valoriza muito o uso das correntes e não deixa de “louvar aqueles e aquelas que se sujeitaram voluntariamente à gloriosa escravidão de Jesus Cristo, e se gloriam, com São Paulo, de estar em cadeias por amor de Jesus Cristo20. Estas cadeias são mil vezes mais preciosas, embora de ferro e sem brilho algum, que todos os colares de ouro dos imperadores”21.
As correntes: sinal e símbolo da consagração de amor a Jesus em Maria
Assim, depois de conhecer um pouco melhor a consagração a Jesus Cristo e a Virgem Maria, percebemos que ela está em perfeita sintonia com a Palavra de Deus e com o Magistério da Igreja Católica. Além disso, a tradição católica atesta que a escravidão de amor é um auxílio extraordinário para o seguimento de Cristo, para o cumprimento de nossas promessas do Batismo, para o cumprimento de nossas obrigações com a Igreja. “Antes do Batismo pertencíamos ao diabo como seus escravos. Ao receber este Sacramento, tornamo-nos verdadeiros escravos de Jesus Cristo. Doravante já não devemos viver, trabalhar e morrer senão para este Homem-Deus22, glorificando-O em nosso corpo23 e fazendo-O reinar em nossa alma. Somos, pois sua conquista, seu povo de aquisição e sua herança”24. As cadeias, ou correntes, são um sinal visível dessa pertença total a Deus, que renovamos na consagração a Jesus por Maria. Não tenhamos medo da “escravidão” e das “correntes”, pois a consagração nos une a Jesus Cristo e a Virgem Maria com cadeias de amor25.
Fonte: Canção Nova Formação
Autor:
Natalino Ueda é brasileiro, católico, formado em Filosofia e Teologia. Na consagração a Virgem Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, explicado no seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”, descobriu o caminho fácil, rápido, perfeito e seguro para chegar a Jesus Cristo. Desde então, ensina e escreve sobre esta devoção, o caminho “a Jesus por Maria”, que é hoje o seu maior apostolado.
Referencias:
1 Cf. Col 1, 20.
2 Cf. Rm 14, 8.
3 Cf. Mc 10, 45.
4 Cf. TVD 227-230.
5 TVD 231.
6 TVD 116.
7 Cf. Rm 6, 20.
8 Cf. Rm 6, 22.
9 Cf. TVD 162.
10 Cf. TVD 120, 162.
11 TVD 242.
12 Lc 9, 23.
13 PADRE PAULO RICARDO. O pedido esquecido de Nossa Senhora.
14 Cf. 1 Cor 1, 23-24.
15 Eclo 6, 24.
16 Sl 2, 3.
17 Eclo 6, 25.
18 Eclo 6, 26.
19 TVD 240.
20 Ef 3, 1.
21 TVD 236.
22 Rm 7, 4.
23 Rm 12, 1.
24 TVD 68.
25 Cf. Os 11, 4.
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