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Em certa manhã do ano de 1607, ou, segundo outros de 1608, em Cuba, dois irmãos indígenas, João e Rodrigo de Joyos, e o crioulo João Moreno, que tinha seus 10 anos, foram enviados pelo administrador das estâncias de Varajagua às costas de Nipe, para de lá trazerem certa quantidade de sal, o qual era recolhido nas salinas naturais que se encontram em toda a costa norte da ilha, e especialmente na baia de Nipe.

Chegados à costa, encontrara, o mar agitadíssimo por causa do forte vento que soprava, acompanhando de copiosa chuva.

Vendo que lhes era impossível executar a tarefa de que tinham sido encarregados, refugiaram-se os rapazes numa choça, na qual permaneceram três dias, depois dos quais, serenando o tempo, puderam embarcar em débil canoa e dirigir-se às salinas da costa.

Pelas 5 horas da manhã, ao desfazer-se as brumas da aurora, divisaram um vulto que, flutuando, vinha na direção deles. Pensaram em princípio que fosse uma ave aquática que voava ao seu encontro, mas pouco depois tiveram uma inesperada e agradável surpresa: reparando bem no vultozinho que se aproximava, viram que era uma imagem de Nossa Senhora, que vinha sobre uma tábua, na qual se lia a seguinte inscrição: “Eu sou a Virgem da Caridade”.

A imagem, de 15 polegadas de altura., tinha o rosto redondo, de cor clara e sustentava no braço esquerdo o Divino Menino, que tinha numa das mãos a esfera símbolo do mundo, tendo a outra levantada em atitude de dar à bênção.

A imagem inspirava respeito e veneração.

Recolheram os felizes tripulantes aquela preciosa jóia, qual inestimável dom do céu, e notaram, admirados, que nem a orla do vestido da Senhora se tinha molhado!

Transportados de gozo, recolheram depressa a quantidade de sal que deviam levar e, regressando à choça, trataram de combinar como haveriam de conduzir a imagem à estância de Varajagua.

Não tardaram a pôr-se a caminho, e, assim que os trabalhadores da estância souberam da visita que iam receber, prepararam um modesto altar e foram ao seu encontro, radiantes de alegria. O maioral da estância despachou logo um mensageiro para dar conta do ocorrido ao administrador real das minas da vila de Cobre, vila muito abundante em minas do metal de que tirou seu nome.

Ordenou o administrador que se erigisse logo uma ermida, enviando uma lâmpada de cobre para que ardesse constantemente uma luz diante da imagem.

Em poucos dias foi construída a ermida, tendo sido encarregado de cuidar da lâmpada Diogo de Joyos, irmão dos afortunados descobridores da imagem

Não satisfeita contudo, a piedade do administrador, enviou uma comissão de homens competentes, presidida pelo cura da vila, para que se informasse minuciosamente sobre o encontro da imagem., e depois a conduzisse em procissão para o povoado ou vila de Cobre.

Os encarregados da Comissão, depois de se terem prostrado aos pés da imagem e entoado vários cantos em seu louvor, receberam das testemunhas informações detalhadas acerca da aparição. Em seguida preparando uma espécie de liteira, que ornamentaram do melhor modo possível, nela colocaram a imagem, carregando-a eles mesmos, rodeados dos vizinhos da estância, a certa distância do povoado vieram-lhes ao encontro os habitantes em massa, com a milícia e o administrador, que levava a bandeira real; postos na presença da imagem, caíram de joelhos, e o administrador, baixando a bandeira diante da Maria, representada naquela imagem., reconheceu-a como Rainha da ilha.

Romperam então a música e as salvas da artilharia, e, entre vivas e aplausos, a imagem foi conduzida à vila e colocada no altar-mor da igreja paroquial .

A origem da santa imagem, ainda que envolta em treva, podemos descobri-la com segurança moral.

Em 1703, por não comportar mais a primitiva ermida os romeiros que vinham de toda a ilha e de outras regiões imploraram a bondade de Nossa Senhora da Caridade, foi construído o atual santuário no lugar indicado milagrosamente pela própria Mãe de Deus, num outeiro que dista 430 passas da vila de Cobre.

A festa principal do santuário celebra-se anualmente em 8 de setembro, com grande concurso de fiéis.

A esse santuário (de Cobre) acorrem fiéis de Cuba e das Antilhas.

Os pobres e os enfermos vão em busca de alívio, e são inúmeros os prodígios alcançados graças a Nossa Senhora da Caridade, muitos dos quais acham-se consignados em folhetos impressos.


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