Dia 2 de fevereiro, festa da Apresentação de Jesus ao templo. Como previa a lei judaica, todo primogênito do sexo masculino depois de 40 dias devia ser apresentado ao templo como forma de consagração ao Senhor e purificação da mãe. Maria e José cumprem a lei, inclusive com a oferta mínima exigida aos pobres: um casal de rolas ou dois pombinhos.
A festa de Nossa Senhora dos Navegantes, também conhecida como “festa das luzes” em ressonância a manifestação do velho Simeão que vendo o menino Jesus sendo apresentado, exclamou: “Agora, Senhor, podes deixar teu servo ir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparastes diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”.
Por isso nesse dia são abençoadas as velas que o povo carrega em procissão num clima alegre e festivo, lembrando esse momento da vida de Jesus e essa manifestação da sua vocação para a vida do mundo, como muito bem expressa a oração de benção das velas: “Deus, fonte e origem de toda luz que iluminais as nações, nos vos pedimos humildemente: santificai estas velas com vossa benção e atendei as preces do vosso povo aqui reunido. Fazei que, levando-as nas mãos em vossa honra e seguindo o caminho da virtude, cheguemos a luz que não se apaga”.
Percebemos como a alusão luz é constante. Essa devoção surge desde o tempo das Cruzadas e das grandes viagens marítimas e fluviais, onde os cristãos sentiam-se impelidos a confiar-se a proteção de Nossa Senhora diante das dificuldades e desafios da navegação. Pelo mesmo motivo é também invocada como nossa Senhor da Boa Viagem. As imagens são um pouco diferentes, mas o sentido é o mesmo: necessidade de proteção.
Lembremos um pouco essa história à luz do mistério de Cristo e da participação de Maria. Diz Paulo: “Em Cristo, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele, no amor” (Ef 1, 4).
Na criação do mundo (Cf. Gn 1-3), a humanidade e todo o universo foram pensados como comunhão plena entre Deus e toda a sua obra. Fomos feitos para a felicidade. No final de sua obra, Deus é visto pelo autor sagrado como alguém que se sente contente com o que foi realizado, especialmente quando acabou de criar o homem: “E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom…” (Gn 1, 31). Mesmo que depois diga que Deus meio que se arrependeu de ter criado o homem, Deus fez bem todas as coisas.
Após o pecado de nossos primeiros pais, Deus fez a promessa: – “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15). Esta promessa se realizou no plano eterno de salvação, quando o Verbo de Deus se fez carne no ventre da Virgem Maria, escolhida dentre todas as mulheres e preservada de toda mancha do pecado: “Alegra-te, cheia de graça! – O Senhor está contigo” (Lc 1,28).
Ser preservada da mancha do pecado original não isentou a Virgem Maria de todas as realidades humanas, vividas de forma excepcional. Eis que a vemos solícita na caridade, indo à casa de Isabel para servir. Dando a luz ao seu filho primogênito fora de casa, num lugar insalubre porque não havia lugar para eles (pobres) na hospedaria em Belém.
Recebido o aviso de fugir para o Egito para salvar o filho da perseguição de Herodes, o faz sem titubear. Em Nazaré, durante os anos da vida oculta de Jesus, Maria é a mulher da escuta, guardando todos os acontecimentos e meditando-os em seu coração. O cântico de Simeão e a fala de Ana devem ter martelado muitas vezes sua mente e seu coração.
Em Caná, é mulher solicitude. Na vida pública de Jesus, buscou viver a Palavra de Deus e se apaixonou pela sua vontade e não faz outra coisa senão agradar a Deus. Aos pés da Cruz, quando uma espada de dor traspassou sua alma com anunciado por Simeão, a Imaculada acolhe resignada.
Só depois de percorridas todas as etapas anteriores, a Imaculada estará em oração, com os discípulos de seu Filho, aguardando a vinda do Espírito Santo, cuja luz iluminou a história da humanidade e a força do ressuscitado capacita os Apóstolos a ir ao mundo inteiro para anunciar a todos os homens o mistério da salvação em Cristo Jesus.
A partir de Pentecostes as coisas ficaram mais claras para Maria que certamente passou a compreender sua missão de Mãe da Igreja, intercessora nossa que navegamos pelo mar da vida, onde muitas são as investidas, as ondas que ameaçam submergir nosso barco, os ventos que ameaçam rasgar nossas velas e que mesmo assim acabam por nos empurrar para águas mais profundas.
Mesmo entre dificuldades, tempestades e lutas com Maria e Jesus no barco chegaremos ao porto seguro da salvação prevista e preanunciada por Simeão e Ana a todos aqueles que esperavam a libertação de Jerusalém.
Nossa Senhora dos Navegantes, rogai por nós que recorremos a vós!
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório
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