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Maria na Paixão, Morte e Ressurreição

Maria na Paixão, Morte e Ressurreição

A Virgem Maria como perfeita colaboradora

A Igreja, solícita à vontade do seu Senhor, repete as palavras, os gestos e utiliza os mesmos elementos de “pão e de vinho” que ele tomou em suas santas e veneráveis mãos para perpetuar sua presença no meio do seu “novo povo”1 . Em todos os tempos e lugares aonde o Cristianismo foi alcançado, a Liturgia ocupou o coração da missão e pregação dos Apóstolos e de todos os que têm fé nas palavras do Ressuscitado: “Eis que estarei convosco até a consumação dos séculos” (cf. Mt 28, 20). Por providência de Deus, aqui vamos encontrar a pessoa de Maria dentro do culto cristão, sendo lembrada como a primeira redimida, tendo o seu lugar dentro da “comunhão” perfeita de Deus na Igreja Gloriosa. Enquanto a Igreja Militante depois de interceder pela Igreja Padecente, se reacende a esperança em seu coração ao recordar os já glorificados: “Dai-nos participar da vida eterna, com a Virgem Maria, mãe de Deus, Com São José seu esposo, com os santos apóstolos e todos os que neste mundo vos serviram, a fim de vos louvarmos e glorificarmos por Jesus Cristo, vosso Filho”2. Encontramos Maria como perfeita colaboradora e propagadora do Plano Divino da Salvação de Deus, iniciado lá no Paraíso (Gn 3, 15) e consumado no episódio da Cruz (Jo 19, 28-30). Isto não exclui sua presença na Instituição da Igreja (Mt 16, 18), e também não é um empecilho para continuar a mensagem da vida que o Rei vitorioso entregou aos discípulos (Mt 28, 18-19).

O Papel da Virgem Maria

Tendo completado quase três anos do início da pregação de Jesus e a realização do primeiro sinal na festa de Caná lá na Galileia, os Evangelhos ficam em silêncio sobre a pessoa da Virgem Maria por dois motivos: o primeiro é o mais forte, os escritos da Boa-Nova foram registros de fé para falarem exclusivamente de Jesus (At 1, 1-3) e de suas ações salvadoras; já o silêncio sobre a atuação ou a peregrinação de Maria foi justamente para sabermos qual é o lugar e o papel exato dela na Revelação de Deus e na vida da Igreja nascente. Isto jamais diminui sua grandeza, muito pelo contrário, faz jus ao seu hino entoado na casa de Isabel, quando ela reconhece o lugar em que Deus a colocou, e por isto “todas as gerações lhe chamariam de bem-aventurada porque o Todo-Poderoso fez nela maravilhas” (cf. Lc 2, 48-49). Mesmo os evangelistas acenando para a presença física de Maria só uma vez em companhia dos outros parentes que vão ao encontro de Jesus na sua atividade missionária (Mt 12, 46-50), hoje sabemos que ela sempre foi um membro ativo no Apostolado de seu Filho.

A Virgem Maria envolvida pelo Mistério da Santíssima Trindade

Quando chegamos nos relatos da Paixão e Morte de Jesus, a Virgem Maria aparece com o seu amor de mãe, do mesmo modo em que ela esteve no nascimento de seu Menino. Chamada de a “Nova Eva” ao lado do “Novo Adão”, foi o instrumento primordial para a Encarnação, tendo também um papel primário na Crucifixão, Morte e Ressurreição, como também na descida do Espírito Santo no Pentecostes. Descobrimos assim que a Escritura faz a ligação da “Mãe de Jesus” (Jo 19, 25) com estes três momentos da mediação absoluta de Cristo.

Um dado material e biológico não podemos perder de vista: a carne e o sangue humanos de Maria foram necessários tanto para Encarnação, quanto para Morte de Cristo, tornando assim “cooperação” dela na ação redentora realizada pelo Filho de Deus.

Se olharmos com a ótica da teologia trinitária, é aqui que entenderemos a profecia de Simeão; “movido pelo Espírito Santo” foi ao Templo, tomou Jesus nos braços, fruto do ventre da esposa de José, e orou ao Pai Criador: “Agora Senhor já podes deixar…” (Lc 2, 29-32). O velho servo do Senhor decretou o que viu e nesta visão estava presente ativamente a Mãe, e, reclamando dela a consciência de sua cooperação, assim lhe disse: “Uma espada de dor lhe atravessaria a alma” (cf. Lc 2, 53). Encontramos a figura materna de Maria sendo preparada para o futuro! Não sabia ao certo o que Deus lhe reservara, mesmo assim não duvidou; aquilo que não podia entender, “guardava todas essas coisas em seu coração” (Lc 2, 48) com grande respeito. Resumindo, para entendermos a participação ativa de Nossa Senhora na Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, temos que voltar exatamente ao episódio da apresentação do menino no Templo.

Maria participa ativamente da regeneração do gênero humano

Não faz parte do “devocionismo histérico” afirmar que a Virgem Maria participou da redenção da humanidade no Plano da Salvação de Deus. Os primeiros cristãos já aceitavam como algo comum à fé ortodoxa da Igreja e não havia conflito nenhum entre a Revelação e a Tradição. Cremos ser necessário voltarmos ao século IV e lermos um pequeno fragmento dos escritos de São João Crisóstomo para entendermos melhor este assunto, vejamos:

Cristo venceu o diabo valendo-se dos mesmos meios com que este tinha vencido: e, tomando as mesmas armas que ele tinha usado, derrotou-o. Ouve como o fez. A virgem, o lenho e a morte foram os sinais de nossa derrota. A virgem era Eva, pois ainda não conhecera homem; o lenho era a árvore; a morte, o castigo de Adão. E eis que de novo a virgem, o lenho e a morte, que foram sinais da nossa derrota, se tornaram sinais de nossa vitória. Com efeito, em vez de Eva está Maria; em vez da árvore da ciência do bem e do mal, o lenho da cruz; em vez da morte de Adão, a morte de Cristo. Vês como o demônio foi vencido pelos mesmos meios com que vencera? Na árvore, ele fez Adão cair; na árvore, Cristo derrotou o demônio. A primeira árvore conduzia à região dos mortos; mas a segunda fez voltar até mesmo os que haviam descido para lá. O primeiro homem, já vencido e nu, se escondera entre as árvores; Cristo, porém, vitorioso, se mostra a todos, também nu, do alto de um lenho. A primeira morte condenou os que nasceram depois dela; mas esta morte ressuscitou até mesmo aqueles que nasceram antes dela. Quem contará os grandes feitos do Senhor? (Sl 105, 2). Por uma morte, nos tornamos imortais: são estes os magníficos prodígios da cruz. 3

Porque Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena?

Neste texto encontramos uma profunda teologia mariana inseparável da cristologia da Igreja.

Maria na Ressurreição de Jesus: silêncio ou falta de interesse dos evangelistas em relatarem?

Não encontramos nenhum relato nos Evangelhos que apresenta a participação de Maria como aquela que viu por primeiro o Ressuscitado. Alguns podem dizer: “Mas por que Jesus não apareceu primeiramente à sua mãe, em vez de aparecer a Maria Madalena?” Será que a mãe não era mais importante que os apóstolos? Quais respostas a teologia mariana deve dar para estas perguntas? Veremos!

Ao relatar João que o Ressuscitado aparece primeiramente a Maria Madalena4 , quis o evangelista dar veracidade ao fato da ressurreição. Qual o motivo? Primeiro porque o testemunho da mãe ou de alguém ligado à família de Jesus não teria a validade necessária para se dar crédito de fé ao evento; segundo, ele imputa à Maria Madalena a autoridade de testemunha ocular porque conforme os estudos exegéticos, Maria Madalena vem de uma região onde a compreensão teológica herdada por aquele povo, incutida pelos saduceus, não acreditava na ressureição dos mortos5 , por isto que João registra as palavras saídas da boca dela: “Eu vi o Senhor”! (Jo 20, 18). Quanto a crença de que o Ressuscitado tenha por primeiro ir visitar sua mãe para consolá-la, isto a Tradição do Cristianismo nascente teve sempre presente em seu coração. Vamos encontrar diversos relatos nas Fontes Litúrgicas do primeiro milênio da história da Igreja, partindo exatamente do Oriente, tendo como divulgadores deste magnífico evento diversos teólogos ou comentadores da fé, dentre eles, Santo Efrém (+373) e Gregório de Nissa (+392). Já na Igreja no Ocidente temos o grande Santo Ambrósio (+397) e Paulino de Nola (+431), e tantos outros. Estes relatos encontramos em textos homiléticos, poemas, pinturas e arte em geral.6

Maria meditava tudo no coração

Sendo assim, o evangelista João oferece um implícito retrato espiritual da Virgem Maria dentro dos tempos quaresmais e pascais, ao registrar as palavras de Jesus que diz: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23). Estas declarações são dirigidas aos discípulos, mas podem ser aplicadas em máximo grau justamente Àquela que é a primeira e perfeita seguidora de Jesus. Foi ela a primeira que observou plenamente a palavra do seu Filho, demonstrando assim seu grande amor, não somente como mãe, mas primeiramente como serva humilde e obediente. No coração, a Virgem Maria meditava e interpretava fielmente tudo aquilo que o seu Filho Jesus dizia e fazia. Deste modo, já antes, e, sobretudo, depois da Páscoa, a Mãe do Ressuscitado se tornou também a Mãe e o modelo da Igreja. Eis o motivo de o Papa Paulo VI, após o Concílio Vaticano II reafirmar com toda a Comunidade de Fé que “Maria é Mãe da Igreja”, por causa de sua participação ativa no Projeto de Salvação de Deus e não pelo mero afeto dos cristãos. Vejamos:

Remida de um modo mais sublime, em razão dos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a sublime missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo, e com este insigne dom da graça, ultrapassa á todas as demais criaturas do céu e da terra. Está, porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens necessitados de salvação; melhor, «é verdadeiramente Mãe dos membros (de Cristo)…, porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça». É, por esta razão, saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, dedicandolhe afeto de piedade filial. 7

Maria não se torna mãe da Igreja por afinidade dos cristãos, repito, mas por dom de Deus dado aos novos membros de Jesus Cristo por meio do Batismo. É aqui que entendemos com toda a sua força o testamento material e espiritual do Senhor no alto da Cruz: “Mulher, eis aí o teu filho, filho eis aí tua mãe! Daquela hora em diante, o discípulo a recebeu em sua família” (cf. Jo 19, 27- 28). Concluo dizendo: “A multifacetada missão de Maria, em relação ao povo de Deus, é, efetivamente, realidade sobrenatural, operante e fecunda no organismo da Igreja”8. Em nossa vida cristã devemos estar dispostos a seguir o exemplo de vida que nos mostrou o Senhor, mas também podemos seguir o exemplo que nos deixou Maria quando amou, bendisse a Deus, protegeu, cuidou, seguiu e obedeceu a Jesus Cristo nosso Messias na aceitação dos homens redimidos como seus filhos adotivos, desde o evento da Cruz

Imploro a Nossa Senhora da Conceição Aparecida a graça de ver sempre a Igreja no Brasil sempre impelida a ser uma Comunidade eucarística, missionária e conhecedora da mensagem de vida contida nas Escrituras.

 

Cônego José Wilson Fabrício da Silva, crl
Membro da Academia Marial de Aparecida

 

Fonte: Academia Marial 

Referencias:

1 Esta expressão “novo povo de Deus” foi amplamente explicada teologicamente pelo grande teólogo Joseph Ratzinger, seguindo o pensamento eclesiológico de Santo Agostinho, bispo de Hipona.

2 Fragmento da Oração Eucarística II do Ritual da Missa de Rito Latino.

3 LITURGIA DAS HORAS, Segundo o Rito Romano, Tomo III. São Paulo: Vozes, 2000, pp. 1535- 1537.

4 “Madalena” não era o seu sobrenome, como popularmente se acredita. No seu tempo de vida o conceito de “sobrenome” não existia entre o povo judeu. O nome Madalena na realidade é um adjetivo que a descreve como sendo natural de Magdala, cidade localizada na costa ocidental do Mar da Galileia.

5 Os Saduceus (em hebraico: צְ ודּקִ םי ĕdûqîm bn ê Sadôq, sadoquitas, em grego: Saddoukaios) é a designação da segunda escola filosófica dos judeus, ao lado dos fariseus. Também para esta seita ou partido é difícil determinar a origem. Sabemos que existiu nos últimos dois séculos do Segundo Templo, em completa discórdia com os fariseus, porém, conviviam em harmonia no tempo de Jesus.

6 Para aprofundar mais sobre este assunto, sugiro a leitura do livro: “Maria, a Senhora da Páscoa” de Dom Rafael Maria Francisco da Silva, osb – membro da Academia Marial, publicado em 2014, aqui no Brasil pela Martyria.

7 DOCUMENTOS DO CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. São Paulo: Paulus, 2001, p. 180 – (Clássicos de bolso).

8 PRINCIPAIS DOCUMENTOS DOS PAPAS SOBRE NOSSA SENHORA: do beato Pio IX a Francisco/ Edson Luiz Sampel (organizador). São Paulo: Fons Sapientiae, 2017, p. 172.


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