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Nossa Mãe nos ensina a estar totalmente abertos ao querer divino, inclusive quando é misterioso. Por isso, é mestra de fé.

Ícone perfeito da fé

Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei[2]. Na atitude de fé da Santíssima Virgem, concentrou-se toda a esperança do Antigo Testamento na chegada do Salvador: “em Maria (…) tem cumprimento a longa história de fé do Antigo Testamento, com a narração de tantas mulheres fiéis a começar por Sara; mulheres que eram, juntamente com os Patriarcas, o lugar onde a promessa de Deus se cumpria e a vida nova desabrochava”[3]. Como Abraão – “nosso pai na fé”[4] –, que deixou a sua terra confiando na promessa de Deus, Maria abandona-se com total confiança na palavra que o Anjo lhe anuncia, convertendo-se assim em modelo e mãe dos crentes. A Virgem, “ícone perfeito da fé”[5], acreditou que nada é impossível para Deus e tornou possível que o Verbo habitasse entre os homens.

Nossa Mãe é modelo de fé. “Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lc 1, 38). Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1, 46-55). Com alegria e trepidação, deu à luz o seu Filho unigênito, mantendo intacta a sua virgindade (cf. Lc 2, 6-7). Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egito a fim de O salvar da perseguição de Herodes (cf. Mt 2, 13-15). Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19, 25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. At 1, 14; 2, 1-4)”[6].

A Virgem Santíssima viveu a fé numa existência plenamente humana, de uma mulher comum. Durante a sua vida terrena, Maria não foi poupada nem à experiência da dor, nem ao cansaço do trabalho, nem ao claro-escuro da fé. Aquela mulher do povo que um dia prorrompeu em louvores a Jesus, exclamando: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram, o Senhor responde: Antes bem-aventurados os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática. Era o elogio de sua Mãe, do seu fiat, do faça-sesincero, rendido, posto em prática até às últimas consequências, e que não se manifestou em ações aparatosas, mas no sacrifício escondido e silencioso de cada dia[7].

A Santíssima Virgem “vive totalmente da e na relação com o Senhor; põe-se em atitude de escuta, atenta a captar os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida numa história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o tecido da sua existência”[8].

Mestra de fé

Pela fé, Maria penetrou no Mistério de Deus Uno e Trino como não o foi dado a nenhuma criatura, e, como “mãe da nossa fé”[9], nos fez participantes desse conhecimento. Nunca aprofundaremos bastante neste mistério inefável; nunca poderemos agradecer suficientemente à nossa Mãe a familiaridade com a Trindade Beatíssima que Ela nos deu[10] .

A Virgem é mestra de fé. Toda a exibição da fé na existência tem seu protótipo em Santa Maria: o compromisso com Deus e o conformar as circunstâncias da vida ordinária à luz da fé, também nos momentos de escuridão. Nossa Mãe nos ensina a estar totalmente abertos à vontade divina “ainda que seja misteriosa, embora muitas vezes não corresponda à própria vontade e seja uma espada que trespassa a alma, como profeticamente o velho Simeão dirá a Maria no momento em que Jesus é apresentado no Templo (cfr. Lc 2, 35)”[11]. Sua plena confiança no Deus fiel e em suas promessas não diminui, embora as palavras do Senhor sejam difíceis ou, aparentemente, impossíveis de acolher.

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Por isso, se a nossa fé for débil, recorramos a Maria[12]. Na escuridão da Cruz, a fé e a docilidade da Virgem dão um fruto inesperado. Em João, Cristo confia à sua Mãe todos os homens e especialmente os seus discípulos: os que haviam de crer n’Ele[13]. A sua maternidade se estende a todo o Corpo Místico do Senhor. Jesus nos dá como mãe a sua Mãe, nos coloca sob seu cuidado, nos oferece a sua intercessão. Por esse motivo, a Igreja convida, constantemente, os fiéis a dirigir-se com particular devoção a Maria.

A nossa fragilidade não é obstáculo para a graça. Deus conta com ela, e por isso nos deu uma mãe. “ Nesta luta que os discípulos devem enfrentar – todos nós, todos os discípulos de Jesus devemos enfrentar esta luta –, Maria não os deixa sozinhos; a Mãe de Cristo e da Igreja está sempre conosco. Sempre caminha conosco, está conosco (…), Maria nos acompanha, luta conosco, sustenta os cristãos no combate contra as forças do mal”[14].

A Virgem é a melhor mestra da escola da fé, pois sempre se manteve em uma atitude de confiança, de abertura, de visão sobrenatural, diante de tudo que acontecia ao seu redor.Assim ela nos é apresentada no Evangelho: Maria conservava todas estas coisas dentro de si, ponderando-as no seu coração. Procuremos nós imitá-la, conversando com o Senhor, num diálogo enamorado, de tudo o que se passa conosco, até dos acontecimentos mais triviais. Não esqueçamos que temos de pesá-los, avaliá-los, vê-los com olhos de fé, para descobrir a Vontade de Deus[15]. Seu caminho de fé, mesmo que de modo diferente, é parecido com o de cada um de nós: há momentos de luz, porém também momentos de uma certa obscuridade em relação à Vontade divina: quando encontraram Jesus no Templo, Maria e José, não compreenderam o que ele lhes dissera[16]. Se, como a Virgem, acolhemos o dom da fé e pomos no Senhor toda nossa confiança, viveremos cada situação cum gaudio et pace – com o gozo e a paz dos filhos de Deus.

Imitar a fé de Maria

“Assim, em Maria, o caminho de fé do Antigo Testamento foi assumido no seguimento de Jesus e deixa-se transformar por Ele, entrando no olhar próprio do Filho de Deus encarnado”[17]. Na Anunciação, a resposta da Virgem resume sua fé como compromisso, como entrega, como vocação: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra[18]. Como Santa Maria, os cristãos devemos viver voltados para Deus, pronunciando esse fiat mihi secundum verbum tuum (…) faça-se em mim segundo a tua palavra do qual depende a fidelidade à vocação pessoal, única e intransferível em cada caso, e que nos fará cooperadores da obra de salvação realizada por Deus em nós e no mundo inteiro[19].

Mas, como responder sempre com uma fé tão firme como Maria, sem perder a confiança em Deus? Imitando-a, tratando de que em nossa vida esteja presente esta sua atitude básica diante da proximidade de Deus: não experimenta medo ou desconfiança, mas que “entra em diálogo íntimo com a Palavra de Deus que lhe foi anunciada, não a considera superficialmente, mas detém-se, deixa-a penetrar na sua mente e no seu coração para compreender aquilo que o Senhor deseja dela, o sentido do anúncio”[20]. Como a Virgem, procuremos reunir em nosso coração todos os acontecimentos que nos sucedem, reconhecendo que tudo provém da Vontade de Deus. Maria olha com profundidade, reflete, pondera, e assim entende os diferentes acontecimentos diante da compreensão que só a fé pode dar. Quem dera fosse essa – com a ajuda de nossa Mãe – nossa resposta.

Imitar a Maria, deixar que nos leve pela mão, contemplar sua vida nos conduz também a suscitar naqueles que temos ao nosso redor – familiares e amigos – essa maior abertura à luz da fé: com o exemplo de uma vida coerente, com conversas pessoais, de amizade e confidência, com a necessária doutrina, para facilitar-lhes o encontro pessoal com Cristo por meio dos sacramentos e das práticas de piedade, no trabalho e no descanso. Se nos identificarmos com Maria, se imitarmos as suas virtudes, poderemos conseguir que Cristo nasça, pela graça, na alma de muitos que se identificarão com Ele pela ação do Espírito Santo. Se imitarmos Maria, participaremos de algum modo da sua maternidade espiritual. Em silêncio, como Nossa Senhora; sem que se note, quase sem palavras, com o testemunho íntegro e coerente de uma conduta cristã, com a generosidade de repetir sem cessar um fiat – faça-se – que se renova como algo de íntimo entre nós e Deus[21].

***

Olhando para Maria, peçamos-lhe que nos ajude a viver de fé e reconhecer Jesus presente em nossas vidas: fé em que nada é comparável com o Amor de Deus que nos foi dado; fé em que não há impossíveis para quem trabalha por Cristo e com Ele na sua Igreja; fé em que todos os homens podem converter-se a Deus; fé em que pese às próprias misérias e derrotas, pode refazer-nos totalmente com sua ajuda e a dos outros; fé nos meios de santidade que Deus colocou em sua Obra, no valor sobrenatural do trabalho e das coisas pequenas; fé em que podemos reconduzir este mundo a Deus se nos deixarmos levar pela sua mão. Em resumo, fé em que Deus coloca cada um nas melhores circunstâncias – de saúde ou doença, situação pessoal, profissional, etc. – para chegarmos a ser santos, se correspondermos com a nossa luta diária.

Jesus Cristo estabelece esta condição: que vivamos da fé, porque depois seremos capazes de remover montanhas. E há tantas coisas a remover… no mundo e, primeiro, no nosso coração! Tantos obstáculos à graça! Portanto, fé! Fé com obras, fé com sacrifício, fé com humildade, porque a fé nos converte em criaturas onipotentes: E tudo o que na oração pedirdes com fé, alcançá-lo-eis (Mt 21, 22)[22]. Impulsionados pela força da fé, dizemos a Jesus: Senhor, eu creio! Mas ajuda-me, para que creia mais e melhor! E dirigimos igualmente esta súplica a Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, Mestra de fé: Bem-aventurada tu que creste, porque se cumprirão as coisas que te foram ditas da parte do Senhor (Lc 1, 45)[23]. “Ajudai, ó Mãe, a nossa fé!”[24].

F. Suárez – J. Yániz (julho 2013)

 

 

FONTE: Opus Dei


[1] Hb 1, 1-2.

[2] Gal 4, 4.

[3] Francisco, Carta enc. Lumen fidei, 29-VI-2013, n. 58.

[4] Missal Romano, Oração eucarística I.

[5] Francisco, Carta enc. Lumen fidei, 29-VI-2013, n. 58.

[6] Bento XVI, Motu proprio Porta fidei, 11-X-2011, n. 13.

[7] São Josemaria, É Cristo que passa 172

[8] Bento XVI, Audiência geral, 19-XII-2012.

[9] Francisco, Carta enc. Lumen fidei, 29-VI-2013, n. 60.

[10] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 276.

[11] Bento XVI, Audiência geral, 19-XII-2012.

[12] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 285.

[13] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 288.

[14] Francisco, Homilia, 15-VIII-2013.

[15] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 285

[16] Lc 2, 50.

[17] Francisco, Carta enc. Lumen fidei, 29-VI-2013, n. 58.

[18] Lc 1, 38.

[19] Entrevistas com Mons. Escrivá, 112

[20] Bento XVI, Audiência geral, 19-XII-2012.

[21] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 281.

[22] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 203.

[23] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 204.

[24] Francisco, Carta enc. Lumen fidei, 29-VI-2013, n. 60.


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