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O Anjo Bom da Bahia

Autor: Frei Lourenço Maria Papin, OP
Santa Cruz do Rio Pardo/SP

Neste Domingo, 22 de maio, a Igreja no Brasil viverá um dia de intenso júbilo: a beatificação da brasileira Irmã Dulce, em solene cerimônia presidida pelo Cardeal Dom Geraldo Agnelo, Arcebispo emérito de Salvador, por delegação do Papa Bento XVI.

Ela nasceu em Salvador (BA) aos 26 de maio de 1914. Seu nome de Batismo: Maria. Seu nome de registro civil: Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Foram seus pais Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Sua mãe faleceu quando ela tinha 07 anos.

Desde cedo Maria Rita mostrava-se uma garota alegre e extrovertida. Consta que apreciava o futebol e seu time de coração era o Esporte Clube Ypiranga, formado por trabalhadores e pessoas socialmente excluídas.

Espelhando-se no seu pai, dentista que atendia gratuitamente os necessitados, a menina Maria Rita, com seus dozes anos, já visitava algumas áreas carentes de Salvador, em companhia da sua tia, irmã de sua mãe.

Visitando casebres da periferia de Salvador, começou a conhecer de perto a pobreza, o sofrimento dos doentes carentes, das crianças abandonadas e dos pais desempregados. Essa experiência despertou em Maria Rita um grande amor pelos pobres que se tornaram sua opção preferencial.

Aos 15 anos entrou para a Ordem Terceira Franciscana, cujo carisma é viver a pobreza evangélica.

Em fevereiro de 1933, aos 19 anos, apenas formada professora, entrou para Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristovão-SE. Como então era costume mudou seu nome para Irmã Dulce, em homenagem à sua falecida mãe.

Sua primeira missão como freira foi lecionar num colégio mantido pela Congregação em Salvador. Seu desejo, porém, era trabalhar com os pobres.

Já em 1935 dava assistência a uma comunidade muito pobre de Alagados do bairro de Itapagipe. Atendendo também a numeros operários desse bairro, criou um posto médico e foi pioneira ao fundar a União Operária São Francisco, primeira organização operária católica do Estado.

Juntamente com o franciscano frei Hildebrando Kruthaup fundou o Círculo Operário da Bahia, mantido com rendas de três cinemas que os dois construíram através de doações recebidas.

Freira de idéias avançadas, fundou o Colégio Santo Antonio para operários e filhos de operários.

Freira destemida, invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar os doentes que encontrava pelas ruas de Salvador. Houve reintegração de posse… mas Irmã Dulce não abandonou seus doentes, alojando-os onde encontrava abrigo.

Um fato até pitoresco dessa freira criativa: em 1949, com autorização de sua superiora transformou um galinheiro ao lado convento, num local onde abrigou 70 doentes. Como Irmã Dulce veio a construir o maior hospital da Bahia (Hospital Santo Antonio) os baianos diziam jocosamente que isso aconteceu a partir de um simples galinheiro! Em 1989 esse hospital tinha mais de 700 funcionários.

Alicerçada em sua fé na Divina Providência e movida pela sua ardente caridade, Irmã Dulce conseguiu formar uma impressionante rede de obras visando sobretudo a saúde dos doentes pobres ou abandonados.

Em 1988, o então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Silvia da Suécia, a indicou para o Prêmio Nobel da Paz. O bem aventurado João Paulo II por duas vezes se encontrou com a Irmã Dulce: na primeira, aos 07.07.1980, incentivando-a prosseguir no seu benemérito trabalho; na segunda aos 20.10.1991, para confortá-la em seu leito de enferma em um Convento.

Cinco meses após a visita do Papa, aos 13.03.1992, a Bahia chorou a morte de Irmã Dulce que carinhosamente era chamada de “o bom anjo da Bahia”.

Importante observar que, após a sua morte, suas obras sociais mais do que duplicacaram em núlceos que prestam assistência médica, social e educacional à população sobretudo carente.

Irmã Dulce viveu heroicamente a Caridade amando em plenitude a Deus e aos pobres e marginalizados. Foi uma mulher de oração e de vida eucarística como amorosa oblação a Deus e como serviço aos irmãos. Por tudo isso ela está sendo declarada bem-aventurada.

Deixo aqui minha prece: Bem-aventurada Irmã Dulce, junto de Deus seja o anjo bom não só da Bahia mas também de nosso imenso Brasil. Amém!

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Não queres aliviar meu Coração?

Valerie nunca se sentira mais feliz! Quando comungou, depois de tantos anos sem frequentar os Sacramentos, estava tão radiante como Jeanette, que recebia por primeira vez a Jesus Eucarístico em seu inocente coração.


Na pitoresca cidadezinha de Veynes, junto aos Alpes franceses, vivia uma família muito unida e religiosa: Pierre Blondet, o pai, Marie Anne, a mãe, e os dois pequerruchos, Jeanette e Louis. O casal era muito abastado e generoso, dando continuamente bons exemplos de caridade e auxílio aos mais necessitados.

Não era raro, por exemplo, ver os empregados do senhor Pierre levarem o pároco, na melhor carruagem do patrão, para atender camponeses enfermos ou moribundos. E a cada domingo, depois da Missa, Marie Anne atendia com carinho a todos os que vinham bater à sua porta pedindo um bocado de comida, remédio para seus males ou uma palavra de consolo.

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Nesse ano, todos esperavam os Blondet com impaciência

Porém, o pequeno Louis sofria de asma, e quando chegava o inverno, o frio daquelas regiões fazia-o sofrer bastante. Por isso, a família havia adquirido uma bela casa na pequena cidade de Saint-Remy de Provence, próxima a Marselha, onde o clima era bem mais ameno, e para lá se mudavam nessa época.

Chegada a primavera, os Blondet retornavam para Veynes e o casarão de Saint-Remy ficava sob os cuidados de Valerie, uma jovem governanta muito honesta e trabalhadeira, que mantinha com esmero a casa da nobre patroa.

Logo que o outono começava a manifestar sinais de seu término, muitos braços se ofereciam para ajudar Valerie na limpeza da casa, a fim de bem receber tão querida família. Faziam uma faxina geral, lavando cortinas e tapetes, limpando móveis e almofadas, tirando as teias de aranha acumuladas pelo tempo, deixando tudo limpo e perfumado. E não se esqueciam do jardim, onde ainda era possível encontrar algumas flores coloridas.

Naquele ano, todos esperavam os Blondet com impaciência, porque a pequena Jeanette ia fazer sua Primeira Comunhão na Matriz. Valerie, entretanto, não se sentia tão alegre… Apesar de muito honrada e competente, não era nada piedosa. Nunca ia à Missa aos domingos, não gostava de rezar, e nem se lembrava de quando se havia confessado pela última vez… Apenas pisava na igreja para acompanhar a patroa e, nessas ocasiões, ficava sempre no fundo e distraída. Afinal, chegaram os viajantes e as crianças logo correram para o jardim, para ver as flores e brincar com o cachorrinho Rex, que os esperava pulando de alegria, enquanto balançava agitadamente o rabinho. A senhora Marie Anne respirou comprazida o ar perfumado da habitação e logo se dirigiu aos seus aposentos e aos das crianças. Agradada com a ordem e limpeza, voltou-se para a governanta e disse-lhe:

– Valerie, estou realmente encantada com tudo o que fazes em minha ausência. Quero dar-te uma pequena retribuição por teu bom trabalho.

E entregou-lhe uma vistosa caixa, contendo um belo vestido bordado com as melhores linhas de seda. Uma verdadeira obra de arte!

– Madame, muito obrigada! Mas não mereço tanto… – replicou a governanta.

– É para acompanhar-nos, no próximo domingo, à Missa de Primeira Comunhão de Jeanette.

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“Minha filha, esta espada simboliza a dor
que sinto ao ver-te fechar a alma para as
graças que te concedo”

Valerie percebeu não ser possível ficar no fundo da igreja, dessa vez… Mas não importava, pensou ela, assim apareceria melhor diante de suas amigas, que iam morrer de inveja ao vê-la tão elegante…

Na véspera da cerimônia, Marie Anne avisou que sairiam mais cedo, porque o esposo e ela queriam confessar-se antes da Missa. Jeanette já o havia feito no dia anterior, e o pequeno Louis ainda não tinha idade para isso.

– Confessar-se? – pensou Valerie – Para que essa bobagem? Até parece que Deus fica ressentido com o que fazemos…

Contudo, não disse nada. E, na manhã do domingo, estava pronta bem cedinho, com seu belo vestido novo e um penteado todo especial, imaginando todos os olhares dirigindo-se para ela, quando entrasse na igreja…

Valerie não se enganara. Suas amigas, ao vê-la chegar, fitaram-na com admiração e começaram a cochichar sobre seu novo vestido! Não cabendo em si de vaidade, a governanta procurava aparentar indolência enquanto se dirigia lentamente para a sacristia com o casal Blondet.

Ali havia algumas pessoas esperando sua vez para receber o Sacramento da Reconciliação, e para não dar impressão de estar ela também querendo confessar-se, Valerie se afastou em direção a uma imagem do Imaculado Coração de Maria que havia no lado oposto, fingindo rezar.

Entretanto, seus olhos se fixaram no coração da Virgem, cercado de espinhos e atravessado por uma espada. Era curioso… Ela conhecia essa imagem desde sua infância, mas não se lembrava daquela adaga. Levantou então os olhos para a fisionomia de Nossa Senhora e, vendo nela uma incomum expressão de tristeza, ouviu uma voz a lhe dizer:

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Entre lágrimas, Valerie confessou
suas faltas ao bom pároco

– Minha filha, tu estranhas esta espada? Pois ela simboliza a dor que sinto ao ver-te fechar a alma para todas as graças que te concedo. Não queres aliviar meu Coração? Arrepende-te, confessa-te e faze o firme propósito de mudar de vida. Eu estarei a teu lado para ajudar-te!

Valerie não soube explicar o que se passou… Quando se deu conta, estava de joelhos, confessando, entre lágrimas, as suas faltas ao bom pároco, o qual lhe dizia:

– Vê, filha, passas todo o ano arranjando com esmero a casa da senhora Blondet, para deixá-la satisfeita quando chega. Agora, fizeste algo muito melhor: preparaste tua alma com todo cuidado para receber o Rei dos reis, que há tanto tempo espera para entrar em teu coração.

A governanta nunca se sentira mais feliz! Terminada a confissão, olhou para a imagem de Maria e viu-a risonha e luzidia, sem a espada que antes lhe feria o Coração. E quando comungou, depois de tantos anos sem frequentar os Sacramentos, sentia-se tão radiante como Jeanette, que recebia por primeira vez a Jesus Eucarístico em seu inocente coração.

Marie Anne havia acompanhado discretamente o acontecido na Sacristia e estava emocionada. Juntas, comemoraram a dupla festa. A boa governanta mudou completamente de vida e os habitantes de Saint-Remy, ao tomarem conhecimento da inesperada conversão, cresceram ainda mais em fervor e devoção a Maria Santíssima, pois Ela nunca desampara aos que são d’Ela, e chama a Si até mesmo aqueles que já A abandonaram.

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Autora:
Mariana Iecker Xavier Quimas de Oliveira

Fonte: Revista Arautos do Evangelho, Maio/2011, n. 113, p. 44-45

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Espírito do Santo Temor

Autora: Raphaela Nogueira Thomaz

No sacramento da confirmação, o Exmo. Bispo impõe suas sagradas mãos e invoca sobre os crismandos os sete dons do Espírito Santo: “ Deus de Bondade […] e enchei-os do espírito do temor de Deus”.

Entretanto, o temor se opõe à esperança – como ensinam os filósofos – e em Deus temos a suma esperança. Então, por que “temor de Deus”?
Em sua carta, São João nos diz: “Deus caritas est” (1Jo 4,16). Portanto, se Deus é amor não há por que temê-lo.

Contudo, aliada a essa suma Bondade que é Deus, encontramos também Sua infinita justiça, que odeia e castiga o pecado do homem. E, neste sentido, Ele pode e deve ser temido, enquanto tem a faculdade de infligir-nos um mal que mereçamos, em castigo de nossas culpas.

Há quatro classes de temor, muito distintas entre si:

  1. Temor mundano – é aquele que não vacila em ofender a Deus para evitar um mal temporal. Em tempos idos, quantos heróis da Fé, quantos mártires que, por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, não negaram sua Fé e entregaram sua própria vida! Hoje em dia, quantos há que, por horror ao ridículo e por medo das risadas, se entregam às mais deploráveis infâmias!
  2. Temor servil – é próprio do servo que obedece a um senhor apenas por medo do castigo que pode advir-lhe, se assim não proceder. Todavia, nesta classe de temor existem duas modalidades:
    1. A primeira é o medo do castigo como causa única, sem ter em conta a afronta contra Deus.
    2. A segunda é quando o medo do castigo acompanha a causa principal, que é o horror de ofender a Deus. Também chamada dor de atrição, é boa e honesta, mas é um temor simplesmente servil.
  3. Temor filial imperfeito – é o que evita o pecado porque nos separaria de Deus, a quem amamos. É próprio do filho que ama seu pai e não quer separar-se dele. É um temor bom e honesto, mas ainda não é o perfeito, posto que tenha em conta o castigo que lhe viria: a separação do Pai, por isso, do Céu. Assim, é um temor inicial.
  4. Temor filial perfeito – é o amor sumamente perfeito a Deus, o qual levou Santa Teresa D’Ávila a dizer com toda a verdade: “ Ainda que não houvesse céu, eu Te amaria, e ainda que não houvesse inferno, Te temeria”.

Agora, qual dessas classes estaria relacionada ao Dom de Temor de Deus? Evidentemente, o temor filial perfeito, pois se funda na caridade e reverência a Deus como Pai. Mas como o temor filial imperfeito não difere substancialmente do filial perfeito, também o imperfeito passa a fazer parte do dom de temor, ainda que só em suas manifestações incipientes ou imperfeitas. À medida que cresce a caridade, este temor inicial vai se purificando; vai perdendo sua modalidade servil, que ainda teme a pena, para fixar-se unicamente na culpa enquanto ofensa a Deus. O dom de Temor é, portanto, um dom importantíssimo, que inclina a nossa vontade ao respeito filial a Deus, afasta-nos do pecado, enquanto lhe desagrada, e nos faz esperar no poder de Seu auxílio, aperfeiçoando as virtudes da esperança e da temperança, ao fazer-nos considerar a grandeza de Deus.

Grandes santos existiram ao longo da História, os quais, espargindo seu perfume de virtude, inspiravam fortes oposições entre os bons e os maus. Sua integridade impunha respeito e, sobretudo temor que é um reflexo do temor que os homens devem ter a Deus

Fonte: Instituto Filosófico-Teológico Santa Escolastica

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Os dogmas marianos: luz para a Igreja

Verdades de Fé proclamadas pelo Magistério em sua missão de custodiar e expor a Revelação, os dogmas marianos constituem um autêntico sinal da divina vitalidade da Igreja.

Autora: Irmã Clarissa Ribeiro de Sena, EP

Após a Ascensão do Senhor aos Céus, coube aos Apóstolos, já transformados pelas graças de Pentecostes, a missão de instruir os homens na Boa Nova. Assim o fez Filipe, por exemplo, quando, impelido pelo Espírito, se aproximou do estrangeiro que lia um trecho de Isaías e lhe perguntou: “Tu compreendes o que estás lendo” ? Ao que este respondeu: “Como posso se não há quem mo explique?” (At 8, 31). Então Filipe, “principiando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus” (At 8, 35).

Com efeito, sendo a Palavra de Deus expressa com as limitações próprias à linguagem humana, e estando as nossas mentes sempre sujeitas a enganos, era inevitável surgirem dúvidas e dificuldades na compreensão do sagrado depósito da Fé, dando origem às mais variadas interpretações. Inclusive porque naSagrada Escritura, conforme escreve São Pedro a propósito das cartas paulinas, “há algumas partes difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para sua própria ruína” (II Pd 3, 16).

Jesus, portanto, quis instituir um Magistério vivo, confiado ao Papa e aos bispos, sucessores dos Apóstolos, a fim de que “permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos”1, possibilitando-lhe praticar a Fé autêntica sem erro.2

A este Magistério vivo, e somente a ele, cabe “o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição”; 3 e seu caráter infalível se verifica ao definir, por singular assistência do Espírito Santo, doutrinas em matéria de Fé e moral, seja através do Papa, pronunciando-se ex cathedra, ou do Colégio Episcopal “quando este exerce o supremo Magistério em união com o sucessor de Pedro”.4

É nesse contexto que se inserem as definições dogmáticas nas quais “o Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo”5 e propõe ao povo cristão uma verdade a ser aceita com adesão irrevogável de Fé. Longe de serem imposições arbitrárias, “os dogmas são luzes no caminho de nossa Fé que o iluminam e tornam seguro”.6

Magistério e fervor popular

Os sucessores dos Apóstolos não são apenas mestres, mas também pastores; seus ensinamentos visam, pois, intervir na ordem concreta dos fatos. Por isso, “insistem mais num ponto ou noutro, desenvolvem mais uma matéria, enriquecem de preferência outra, com novos ensinamentos e novas leis, tudo ao influxo do que lhe vai pedindo a solicitude pastoral à vista das diversas vicissitudes pelas quais vai passando o gênero humano ao longo da História”.7

Nesse sentido, ensina Santo Agostinho: “Referentes à Fé católica, há muitos pontos que, ao serem postos no tapete da discussão pela astuta inquietude dos hereges, para podermos fazer- lhes frente, devem ser considerados com mais cuidado, entendidos com mais clareza e pregados com mais insistência. E, assim, a questão suscitada pelo adversário oferece oportunidade para aprender”.8

Há, entretanto, um motor ainda mais dinâmico do que as heresias no desenvolvimento da Fé: é o amor do povo fiel que, inspirado pelo Espírito Santo, impulsiona os seus Pastores a tornarem explícitos certos aspectos da Revelação. Assim, as novas definições dogmáticas não nascem de frias considerações doutrinais, mas provêm das legítimas necessidades e apetências do povo de Deus.

As proclamações dos dogmas marianos são belos testemunhos dessa imbricação entre o Magistério vivo e o fervor dos fiéis, desde os primeiros séculos do Cristianismo. O surgimento das primeiras heresias e o surto de amor à verdade que se insurgiu contra elas vai dar uma oportunidade única ao desenvolvimento da Doutrina Cristã, fomentando a reflexão teológica e propiciando as intervenções do Magistério da Igreja, vigilante salvaguarda da Fé.

A história da definição da maternidade divina e da virgindade perpétua de Maria Santíssima como verdades de Fé são dois magníficos exemplos desta realidade.

Maternidade divina

Entre as inúmeras lições outorgadas aos homens pela História, há uma de capital importância: a forma mais eficaz de combater uma verdade nem sempre consiste em propagar o erro oposto, mas em exagerar algum de seus aspectos. Constata-se isso ao analisar o movimento pendular das heresias dos primeiros séculos, as quais, sob as aparências de zelo e pia defesa da ortodoxia, sucederam-se nos mais heterodoxos extremismos, igualmente distantes do equilíbrio da Fé. Foi o sucedido, por exemplo, com a heresia que ocasionou a definição do primeiro dogma mariano.

Grassava no século IV um terrível erro cristológico difundido por Apolinário, Bispo antiariano de Laodiceia, o qual, alegando a necessidade de salvaguardar a unidade de Cristo com Deus, terminou por amputar-Lhe a natureza de homem, negando a existência da alma humana no Verbo Encarnado.

Contra os apolinaristas – como ficaram conhecidos os seguidores do heresiarca -, levantou-se Nestório, Patriarca de Constantinopla, defendendo a integridade tanto da natureza humana como da divina, mas afirmando um erro oposto: ambas eram tão completas que formavam duas hipóstases independentes, duas pessoas unidas de maneira extrínseca e acidental. Assim, Cristo seria Deus e homem, não no sentido católico da união hipostática do Verbo com a humanidade, mas formando um composto de duas pessoas distintas, havendo entre elas apenas uma união moral.9 Essa doutrina comportava um importante corolário: Maria não era Mãe da pessoa divina, mas apenas da natureza humana de Cristo. Portanto, deveria ser chamada Khristotókos (Mãe de Cristo), e não Theotókos (Mãe de Deus).

Tal afirmação contundia tanto o ensinamento dos Padres, quanto a piedade dos fiéis, cuja indignação diante das proposições de Nestório não foi pequena.

Com efeito, claros precedentes da doutrina estabelecida pelo dogma aparecem desde os primeiros tempos da literatura cristã. Já nos escritos de Santo Inácio de Antioquia, que foi discípulo do Apóstolo João, encontramos expressões como estas: “De fato, o Nosso Deus Jesus Cristo, segundo a economia de Deus, foi levado no seio de Maria, da descendência de Davi e do Espírito Santo”10; “Constatei que sois perfeitos na Fé imutável. […] Estais plenamente convencidos de que Nosso Senhor é verdadeiramente da descendência de Davi segundo a carne, Filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus, nascido verdadeiramente da Virgem”.11

Em sentido análogo se pronuncia Santo Irineu, no segundo século, quando atribui à mesma Pessoa a geração eterna e a temporal, acentuando a unidade pessoal de Cristo, Verbo de Deus e Filho de Maria: “É, portanto, o Filho de Deus nosso Senhor, Verbo do Pai e, ao mesmo tempo, Filho do homem, que de Maria, nascida de criaturas humanas e Ela própria criatura humana, teve nascimento humano, tornando-Se Filho do homem”.12

A devoção dos fiéis pela “Sancta Dei Genitrix (Santa Mãe de Deus)” vem demonstrada, pelo menos desde o século III, pela prece Sub tuum præsidium, a mais antiga oração dirigida a Maria da qual se tem conhecimento, no qual Ela é assim invocada. 13 Segundo afirma Gabriel Roschini, “no século IV, mesmo antes do Concílio de Éfeso, a expressão Mãe de Deus se tornara tão comum entre os fiéis que dava nos nervos do Imperador Juliano, o Apóstata”.14

Empolgantes são as páginas deste capítulo da História da Igreja em que, tendo à frente o grande São Cirilo de Alexandria, o Concílio de Éfeso definiu no ano 431 a verdade destinada a brilhar para sempre no firmamento da teologia: “Se alguém não confessar que o Emanuel é Deus no sentido verdadeiro e que, portanto, a santa Virgem é deípara (pois gerou segundo a carne o Verbo que é Deus e veio a ser carne), seja anátema”.15

É digno de nota o entrelaçamento havido entre a fé popular e a reação doutrinária contra a heresia, como fator decisivo para a proclamação deste primeiro dogma mariano. A par das questões teológicas, faz-se presente em quase todas as obras que tratam sobre o Concílio de Éfeso, a constituição de uma como que “torcida” dos fiéis pela proclamação do dogma, manifestada, sobretudo, na narrativa do júbilo popular após o encerramento da sessão que consagrou a Theotókos: provida de tochas acesas, a multidão devota acompanhou os Padres conciliares até suas moradas, aclamando-os pelas ruas da cidade.

Estavam abertas, assim, as portas para as definições formais da Santa Igreja sobre as realidades teológicas que dizem respeito à Santíssima Virgem. A segunda delas, sobre a sua virgindade perpétua, viria duzentos anos mais tarde, novamente em defesa da verdade na luta contra a falsa doutrina.

Virgindade perpétua

A virgindade perpétua da Mãe de Deus é sintetizada nesta fórmula: Maria foi virgem antes do parto, no parto e depois do parto. Estes três elementos do dogma afirmam a concepção virginal de Jesus, pois Maria foi mãe por virtude divina, sem concurso humano; o nascimento milagroso de Jesus, “o qual não só não lesou a integridade de sua Mãe, mas também a consagrou”16; e a integridade de Maria Santíssima depois do nascimento de seu Divino Filho.

Já os livros do Antigo Testamento trazem imagens e profecias sobre a virgindade de Maria como comenta São Bernardo: “Que prefigurava em seu dia aquela sarça ardendo sem consumir-se? A Maria dando a luz sem dor alguma. E a vara de Aarão, que floresce misteriosamente, sem havê-la plantado? À Virgem, que concebeu sem concurso de varão. E será Isaías quem melhor nos formule o maior mistério deste prodigioso milagre. ‘Germinará uma vara do tronco de Jessé, e de sua raiz brotará uma flor’, assim deixa representada a Virgem na vara, e seu parto na flor”.17

E prototípica é a profecia de Isaías, recolhida por São Mateus: “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: ‘Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho que se chamará Emanuel’ (Is 7, 14), que significa: ‘Deus conosco'” (Mt 1, 22-23).

No Novo Testamento, a concepção virginal é atestada por São Lucas e São Mateus, ao afirmarem que Jesus foi gerado pelo Espírito Santo: “O Espírito Santo descerá sobre Ti, e a força do Altíssimo Te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de Ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 35); “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que n’Ela foi concebido vem do Espírito Santo” (Mt 1, 20).

Apesar desses indícios escriturísticos, a maternidade virginal de Maria foi alvo dos ataques de várias heresias nos primeiros séculos, como a corrente dos ebionitas, a qual negava a divindade de Jesus. Contudo, a concepção virginal era já considerada pela Igreja como indiscutível patrimônio doutrinário18, e foi posta a serviço da defesa da divindade do Redentor. É neste período que, com São Justino, a expressão “a Virgem” começa a se tornar característica para designar Maria Santíssima.19

No século IV, houve uma ampla explicitação deste dogma, como reação aos erros então propagados. Defenderam a virgindade perpétua de Maria grandes escritores como Santo Epifânio, São Jerônimo, Santo Ambrósio e Santo Agostinho. Belas são as páginas dedicadas pelo Bispo de Hipona ao louvor deste privilégio mariano, como nos mostra o seguinte trecho: “Maria permanece virgem ao conceber seu Filho, virgem como gestante, virgem ao dá-Lo à luz, virgem ao alimentá-Lo em seu seio, sempre virgem. Por que te admiras disso, ó homem? Uma vez que Deus Se dignou fazer-Se homem, convinha que nascesse desse modo”.20

Não tardou que ao aprofundamento teológico se acrescentasse o reconhecimento do Magistério. Coube ao Sínodo de Latrão de 649, convocado pelo Papa São Martinho I, a proclamação do dogma.

Após as grandes controvérsias cristológicas de seus primórdios, a Igreja esperaria doze séculos para uma nova definição dogmática solene sobre os atributos da Mãe de Deus. Desta vez, não será ela impelida pela necessidade de combater heresias, mas por outro possante fator de desenvolvimento dogmático: o sensus fidei.

O dogma da Imaculada Conceição: triunfo da piedade cristã

A definição do dogma da Imaculada Conceição é um exemplo paradigmático da Fé eclesial que, por especial assistência do Espírito Santo, cresce e se aprofunda na compreensão das verdades reveladas. Neste caso, o povo cristão, “que não sabe teologia, mas tem o ‘instinto da fé’, que provém do mesmo Espírito Santo e lhe faz pressentir a verdade, ainda que não saiba demonstrá-la”21, antecipou-se aos doutos e sábios crendo na Imaculada Conceição de Maria.

Estimulados pela fé instintiva dos fiéis, os teólogos buscaram fundamentá-la com argumentos plausíveis e harmonizá-la com o conjunto da Revelação. E foi neste ponto que a tese da Imaculada Conceição se viu incompreendida até por grandes e piedosos doutores, como São Bernardo, Santo Anselmo, São Boaventura, Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino, os quais não ousavam defender a proclamação deste dogma por não conseguirem conciliá-lo com a doutrina acerca da transmissão do pecado original e da redenção universal operada por Cristo.

Uma reação à altura em favor do dogma apareceria anos mais tarde, com o Beato João Duns Escoto, o qual “depois de bem fixar os verdadeiros termos da questão, estabeleceu com admirável clareza os sólidos fundamentos para desvanecer as dificuldades que os contrários opunham à singular prerrogativa mariana”.22 Tais fundamentos consistiram, sobretudo, na elaboração do conceito de redenção preventiva, argumento decisivo da doutrina sobre a Imaculada.

Argumentam os teólogos que há duas formas de libertar um cativo: pagando o preço de seu resgate para tirá-lo do cativeiro em que já está (situação análoga à redenção liberativa, na qual, pelos méritos de Cristo, somos limpos da culpa original herdada de nossos primeiros pais); ou pagando antecipadamente, impedindo a pessoa de cair em cativeiro (redenção preventiva). Esta última é uma verdadeira e própria redenção, mais autêntica e profunda que a primeira, e é a que se aplicou à Santíssima Virgem, preservada imune de qualquer mancha de pecado, desde o primeiro instante de sua concepção.23

O entusiasmo do bom povo de Deus do mundo inteiro – e especialmente da Espanha – fazia-se sentir até no Vaticano. Entretanto foi preciso esperar até 8 de dezembro de 1854 para a declaração do dogma. Então, como afirma Pio IX, “teria chegado o tempo oportuno para definir a Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus, que a Sagrada Escritura, a veneranda tradição, a constante percepção da Igreja, o singular consenso dos Bispos católicos e dos fiéis, os atos memoráveis e as constituições dos nossos predecessores ilustram e explicam admiravelmente”.24

A solene definição teve lugar na Basílica Vaticana com a presença de numerosas autoridades eclesiásticas e de uma multidão de devotos. Observou uma testemunha ocular desse memorável dia: “É hoje em Roma, como outrora em Éfeso: as celebrações de Maria são, em toda a parte, populares. Os romanos se aprestam a receber a definição da Imaculada Conceição, como os efésios acolheram a da Maternidade Divina de Maria: com cânticos de júbilo e manifestações do mais vivo entusiasmo”.25 Estava consagrada para sempre a fórmula encontrada pelos fiéis espanhóis, que tão grande papel tiveram na difusão desta verdade, para expressar seu amor pela Imaculada: “Ave Maria Puríssima, sem pecado concebida!”.

Maria assunta ao Céu

A proclamação dogma da Assunção, definido por Pio XII quase um século depois, é outro belo exemplo de maturação da Fé eclesial.

A devoção popular pela Assunção de Maria em corpo e alma aos Céus encontrou suas primeiras manifestações numa antiquíssima celebração litúrgica no Oriente. Prévias a essa celebração são as primeiras referências da Tradição sobre o destino final da Santíssima Virgem, que aparecem entre os séculos IV e V, destacando-se as asserções de Santo Efrém e Santo Epifânio. Os testemunhos dos Padres tornaram-se mais numerosos a partir do século seguinte, e de grande importância
são as homilias de Santo André de Creta e, sobretudo, de São João Damasceno que “entre todos se distingue como pregoeiro desta tradição”.26

Seguindo os Padres da Igreja, os teólogos escolásticos expuseram com grande clareza o significado da Assunção e sua profunda conexão com as demais verdades reveladas, muito contribuindo na progressiva divulgação deste privilégio da Mãe de Deus. Pode-se dizer que, em linhas gerais, a partir do século XV os teólogos já eram unânimes em afirmá-lo. A esses testemunhos litúrgicos, patrísticos e teológicos cabe acrescentar numerosas expressões da piedade popular, entre elas a dedicação de um dos mistérios do Rosário a essa verdade.

Tal consenso eclesial é apontado por Pio XII como argumento fundamental para a proclamação dogmática da Assunção, pois mostra “a doutrina concorde do Magistério ordinário da Igreja, e a Fé igualmente concorde do povo cristão – que aquele Magistério sustenta e dirige – e, por isso mesmo, manifesta, de modo certo e imune de erro, que tal privilégio é verdade revelada por Deus e contida no depósito divino que Jesus Cristo confiou a sua esposa para o guardar fielmente e infalivelmente o declarar”.27 Apoiada nesses pressupostos, a definição solene realizou-se em 1950.

O ambiente que emoldurou a declaração dogmática da Assunção foi, sem dúvida, impressionante, como puderam registrar as câmeras fotográficas da época. Numerosos Cardeais, Bispos, sacerdotes e religiosos, além da grande multidão de fiéis, acorreram à Praça de São Pedro, sem contar todos os que, espalhados pelo mundo, acompanharam a transmissão por rádio e televisão. Era o orbe católico unido em “um só coração e uma só alma” (At 4, 32), assistindo à solene proclamação da Fé que em uníssono professava.

Assim rezam as palavras definitórias: “Para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.28

Sinal de crescimento e fortalecimento

Nas poucas narrações da infância de Jesus registradas nos Evangelhos, figura uma admirável – mas, hélas, quão sucinta! – síntese dos primeiros anos do Verbo de Deus feito carne: “O Menino ia crescendo e Se fortificava: estava cheio de sabedoria,
e a graça de Deus repousava n’Ele” (Lc 2, 40). Tais palavras relativas a Cristo bem podem ser aplicadas a seu Corpo Místico, o qual cresce e se fortalece continuamente, animado pelo Espírito Santo que o vivifica.

Ora, ao término desta reflexão, é reconfortante observar o quanto as definições dogmáticas constituem uma das mais belas manifestações desse crescimento. Pois, como ensina o padre Garrigou-Lagrange, a solene declaração das verdades de Fé e sua penetração cada vez mais profunda no povo cristão apresentam como principal corolário o conduzir à compreensão – tanto quanto seja possível nesta Terra – d’Aquele que “nos ama além do que podemos conceber e desejar, até querer associar-nos à sua vida íntima, levar-nos pouco a pouco a vê-Lo como Ele Se vê, e amá-Lo como Ele Se ama”.29

Portanto, se a solene declaração de uma verdade de Fé tem por principal finalidade conduzir ao conhecimento de Deus e das realidades a Ele concernentes, a mais relevante implicação teológica dos dogmas marianos não poderia ser outra senão a de proporcionar, a partir da explicitação do conteúdo da Revelação, uma maior ciência acerca d’Aquela que Deus escolheu por Mãe e uniu a Si e a toda Igreja de forma singularíssima.

Assim o entendeu a Igreja que, a partir da exegese das Escrituras, da ausculta da Tradição, do labor teológico e da fidelidade à ação do Espírito Paráclito nas almas, descortinou amplos panoramas na compreensão da Santíssima Virgem e de seu Divino Filho.

Nos primeiros séculos, a tenra Igreja recém-nascida vê-se convulsionada por diversas heresias. Grande perigo? Sem dúvida. Mas também excelente oportunidade para a consolidação doutrinária, esforço que talvez não se tivesse efetuado se não fosse a necessidade apologética.

Bem o demonstram a solene declaração da Maternidade Divina e a virgindade perpétua, dogmas que alargaram os horizontes da Doutrina Católica, conferindo a Nossa Senhora um destaque único. Estavam lançados os fundamentos da Mariologia, abertas as portas para o florescimento das festividades em honra à Mãe de Deus e estabelecidas sólidas bases para a devoção mariana dos fiéis.

Passam-se os séculos, e a robustez doutrinária já alcançada permite que se verifique outra forma de desenvolvimento da piedade, desta vez a partir do senso sobrenatural da Fé. As verdades reveladas já definidas, seus corolários doutrinários e suas manifestações litúrgicas são base para a profícua ação do Espírito Santo, que inspira nos fiéis novos aprofundamentos. Estes serão colhidos pelo Magistério da Igreja e, quais novos rebentos inseridos no rol das verdades de Fé, são proclamados
os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção de Maria.

Organismo vivo e – ao contrário das leis naturais – em contínuo rejuvenescimento, a Igreja pode ainda ver florescer em seu regaço novos dogmas marianos, como, por exemplo, o da mediação universal e o da corredenção da Santíssima Virgem, se a isto a conduzir o cumprimento de sua missão. Sem jamais constituir entraves coercitivos e obsoletos, farão ressoar novamente o grande conselho cristocêntrico de Maria: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5), convidando-nos a uma adesão amorosa ao Magistério da Igreja, “coluna e sustentáculo da verdade” (I Tm 3, 15).

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Fontes de Pesquisas:


1 CONCÍLIO VATICANO II. Dei Verbum, n.7.

2 CIC, 890.

3 CONCÍLIO VATICANO II. Dei Verbum, n.10.

4 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.25.

5 CIC 88.

6 Idem, 89.

7 CORRÊA DE OLIVEIRA Plinio. A Igreja e a História. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano V. N.46 (Jan., 2002); p.20.

8 SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus, l.XVI, c.2, 1.

9 Cf. ALASTRUEY, Gregorio. Tratado de la Virgen Santísima. Madrid: BAC, 1956, p.76-77.

10 SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA. Carta aos efésios, 18,2.

11 Idem, Carta aos esmirniotas, 1,1.

12 SANTO IRINEU DE LIÃO. Contra as heresias, l.3, c.19, 3.

13 ROSCHINI, Gabriel. Instruções marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p.44.

14 Idem, ibidem.

15 Dz 252.

16 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.57.

17 SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. Laudibus Virginis Matris, II, 5.

18 Em sua Apologia, São Justino apresenta a concepção virginal de Maria como uma verdade fundamental da religião cristã (I, 33); de igual modo, Santo Irineu (Adv. Haer. 3,19ss) afirma que esta verdade é uma das contidas na “regra de Fé” que todos devem crer.

19 Cf. ALDAMA, José Antonio de. María en la patrística de los siglos I y II. Madrid: BAC, 1970, p.83.

20 SANTO AGOSTINHO. Sermão 186,1.

21 ROYO MARÍN, OP, Antonio. La Virgen María: teología y espiritualidad marianas. 2.ed. Madrid: BAC, 1997, p.75.

22 CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Pequeno ofício da Imaculada Conceição comentado. São Paulo: Artpress, 1997, p.496.

23 Cf. ROYO MARÍN, op. cit., p.75. 

24 PIO IX. Ineffabilis Deus, n.22.

25 CHANTREL, Joseph. Histoire populaire des papes, apud CLÁ DIAS, op. cit., p.501.

26 PIO XII. Munificentissimus Deus, n.21.

27 Idem, n.12.

28 Idem, n.44.

29 GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. El sentido común: la filosofía del ser y las fórmulas dogmáticas. Buenos Aires: Desclée de Brouwer, 1945, p.240.

Fonte do Artigo: (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2011, n. 113, p. 18 à 25)

Artigos

História de Irmã Dulce

Irmã Dulce, que ao nascer recebeu o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, era filha do dentista Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes.

Aos 13 anos, depois de visitar áreas carentes, acompanhada por uma tia, ela começou a manifestar o desejo de se dedicar à vida religiosa.

Com o consentimento da família e o apoio da irmã Dulcinha, foi transformando a casa da família num centro de atendimento a pessoas necessitadas.

Em 8 de fevereiro de 1933, logo após se formar professora, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 15 de agosto de 1934, aos 20 anos de idade, foi ordenada freira, recebendo o nome de Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe.

Sua primeira missão como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, na Cidade Baixa, em Salvador, região onde também dava assistência às comunidades pobres e onde viria a concentrar as principais atividades das Obras Sociais Irmã Dulce.

Em 1936, ela fundou a União Operária São Francisco. No ano seguinte, junto com Frei Hildebrando Kruthaup, abriu o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações. Em maio de 1939, irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, voltado para os operários e seus filhos.

No mesmo ano, por necessidade, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas. Mas foi expulsa do lugar e teve que peregrinar durante uma década, instalando os doentes em vários lugares, até transformar em albergue o galinheiro do Convento Santo Antônio, que mais tarde deu origem ao Hospital Santo Antônio, centro de um complexo médico, social e educacional que continua atendendo aos pobres.

Considerada um “Anjo bom” pelo povo baiano, recebeu também o apoio de pessoas de outros estados brasileiros e de personalidades internacionais. Mesmo com a saúde frágil, ela construiu e manteve uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país.

Em 1988, irmã Dulce foi indicada pelo então presidente José Sarney, com o apoio da rainha Silvia da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouviu do Papa João Paulo 2o, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.

Os dois voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Papa ao Brasil, quando João Paulo 2o fez questão de ir ao Convento Santo Antônio visitar Irmã Dulce, já bastante enferma. Cinco meses depois, no dia 13 de março de 1992, Irmã Dulce morreu, pouco antes de completar 78 anos. No ano 2000 foi distinguida pelo papa João Paulo 2o com o título de Serva de Deus. O processo de beatificação de irmã Dulce está tramitando na Congregação das Causas dos Santos do Vaticano.

“ENTREVISTA COM IRMÃ DULCE”

Aproximando-se o dia da beatificação de Irmã Dulce, a cada momento cresce mais a curiosidade em torno de sua vida e obra. O que ela pensava? Como era ela? Como agia? Preparamos com muito carinho essa entrevista inédita para que você pudesse saber quais eram as cogitações, os desejos e a religiosidade do “Anjo Bom do Brasil”. Leia!

Irmã Dulce, eu gostaria de fazer uma série de perguntas. São perguntas sobre temas diversos. Inicialmente desejava saber sobre a vida de uma pessoa consagrada a Deus. Vou começar por ai…

Como devemos considerar a Vida de uma pessoa Consagrada a Deus?

Irmã Dulce – Não existe estado mais sublime do que o da pessoa que consagra sua vida a Deus. Devemos ser evangelhos vivos, uma aliança no amor mútuo, uma íntima comunhão entre a alma consagrada e Deus. A sublimidade da nossa vida está na doação total de todo ser a Deus.

É certo que a Irmã se identifica com sua ordem religiosa. Como é ser religiosa em sua congregação?

Irmã Dulce – Uma religiosa deve ser ativa, empreendedora, dar bom exemplo, estar sempre trabalhando, executando os seus deveres, a sua missão. Em tudo o que nos fizermos deve nos mover o desejo de fazer o bem às pessoas, aproximá-las de Deus. Se temos um verdadeiro amor a Deus, devemos querer que todos os nossos irmãos também o amem.

A religiosa por si mesma deve ser um exemplo. Não somos anjos nem santos, porém devemos fazer o máximo para que a nossa vida seja um exemplo.

Como assim?… Exemplo de que?

Irmã Dulce – Devemos ser evangelhos vivos.

A vida religiosa é, antes de tudo, uma aliança de amor, em íntima comunhão entre a pessoa consagrada e Deus. É necessário estarmos de coração generosamente atento ao convite que Cristo faz, independentemente de qualquer condicionamento humano.

Independente de…

Irmã Dulce – “Só Deus basta”, “Tudo é nada”, Para mim, viver é Cristo”, “Por Ele considerei tudo como lixo”, são expressões que exprimem o elevado amor que atingiram os santos em relação a Deus. Procuremos, como os santos, nos esforçar para alcançarmos a verdadeira perfeição na vida religiosa.

Toda a nossa vida deve ser em função do amor de Deus. Amemos, amemos com um amor sem limites ao nosso amado Jesus. Amemos com um amor disposto a tudo sacrificar por ele, que se sacrificou por nós. Se o amarmos assim, com um amor sem reservas, seremos felizes aqui e na eternidade.

Seremos felizes!? Por que?

Irmã Dulce – Nas coisas mais simples, nos trabalhos mais humildes, estamos fazendo o que Deus quer de nós, e isto basta. O principal objetivo é o nosso ardente desejo de amar a Deus, de servi-Lo e buscar a salvação das pessoas. Após cinquenta anos de vida religiosa, asseguro por experiência própria: não há maior felicidade neste mundo do que a de servir a Deus na pessoa do nosso irmão carente e sofredor.

A nossa vida se transforma e passamos a viver a vida e os problemas do nosso próximo, esquecendo-nos totalmente de nós mesmos.

Na verdade, não existe nada mais sublime do que ser toda de Deus. Procuremos coragem com a graça extraordinária que Deus nos concedeu através da vocação religiosa, para cumprir os nossos deveres, sobretudo a oração, a caridade fraterna, a humildade, o saber perdoar uns aos outros. E façamos o máximo para sermos bons exemplos para o nosso próximo, para aqueles com quem vivemos.

Mas isto é difícil. É uma vida de muito sacrifício.

Irmã Dulce – A nossa vida é por certo uma vida de sacrifícios, porém este sacrifício é para Deus. Quantos no mundo se sacrificam pelo amor do mundo, atrás de uma vil recompensa, ou por ambição! O nosso sacrifício é meritório. Se pensarmos bem no valor da vida religiosa, na sublimidade de nossa vocação, seremos sempre muito felizes!

Não devemos ficar parados na rotina de cada dia. Muito ao contrário, cada dia deve ser para nós um novo incentivo para melhor servirmos a Deus na pessoa dos nossos irmãos, do nosso próximo. O nosso trabalho é exaustivo: problemas diversos, inúmeras dificuldades, incompreensões. Naturalmente é um trabalho bastante difícil e exige muito de nós.

Procuramos sempre ver nos doentes a imagem de Cristo Sofredor. As irmãs se esforçam ao máximo em dedicação e cuidados aos pobres enfermos. Suas vidas são sacrificadas em prol dos doentes.

Onde encontrar forças para levar essa vida?

Irmã Dulce – A graça de Deus e a Eucaristia nos dão forças para superar todos os obstáculos e vencer as lutas do dia a dia. É na comunhão que encontramos as forças necessárias para vencer todas as dificuldades.

O que a Irmã diz me recorda a oração. Como deve ser a vida de oração?

Irmã Dulce – (Devemos procurar) fazer da nossa vida, do nosso trabalho, uma oração contínua em união perfeita com Deus. Sempre mais a vida interior, a vida de oração. A oração é a força da nossa alma. Sem ela não poderemos manter-nos firmes… Peçamos, pois, a Deus que nos conceda a graça de vivermos sempre em oração.

Oração, oração…e oração. É o que a Irmã recomendaria a suas Irmãs?

Irmã Dulce – (Sim!) Recomendo mais uma vez a oração, o espírito de caridade e fraternidade: Que todas sejam uma só oração e uma só alma. Quero (…) que atendam ao pedido de Nossa Senhora, que recomenda e pede com insistência: oração. Todo tempo disponível que tiverem, aproveitem para rezar. Também durante o trabalho, fazendo da vida uma oração contínua.

Poderia dizer algo sobre a devoção a Nossa Senhora?

Irmã Dulce – Estamos no mês do rosário (outubro). É o mês de nossa Mãe do Céu. (Sobretudo nesse mês) deveríamos nos esforçar para rezarmos com fervor o santo rosário em honra de Maria Santíssima. Todas as graças que veem do céu acontecem por intermédio da nossa querida Mãe. Então a Ela, com mais fervor, deveremos pedir a graça da perseverança, a graça de permanecermos fiéis a Deus até a morte.

Se tivermos um amor verdadeiro de filhas para com a nossa Mãe Santíssima, todos os sofrimentos, todos os problemas, tudo se resolverá mais fácil para nós.

Como considerar a devoção eucarística?

Irmã Dulce – Hoje é um grande dia para todas nós! O dia em que Jesus não querendo se separar de nós, pobres e miseráveis criaturas, resolveu ficar toda a vida conosco pela santa Eucaristia. Nunca poderemos compreender este mistério de amor de Deus para com seus filhos: na hora da santa comunhão ele se faz um conosco. Pensemos bem na nossa responsabilidade de trazer Deus conosco.

Nós, portadores de Cristo, devemos dar testemunho às pessoas de vida dedicada a Deus na pessoa do pobre. Devemos levar uma vida edificante e santa, principalmente na comunidade, na vida fraterna, na família, na qual devemos olhar as virtudes de nossos irmãos e irmãs, e não os seus defeitos.

A Irmã poderia falar do convívio numa comunidade? São anos a fio de convivência… e com pessoas muito diferentes entre si.

Irmã Dulce – Viver em comunidade não é tão fácil. Temperamentos diversos, educação diferente, instrução, formação de família. Tudo isso torna difícil a vida em comum. Porém, quanto entramos na congregação, não escolhemos com quem vamos conviver. Entramos na congregação para servir a Deus, nos santificar e ajudar as pessoas.

Eis, então, que nos deparamos com irmãs de temperamento, gênio, educação, diferentes do nosso. Nada disso, no entanto, nos deveria causar surpresa ou sofrimento. Ao contrário, na vida em comum é que vamos nos exercitar em aceitar as pessoas como são. Assim como elas nos aceitam como somos, com todos os nossos defeitos e virtudes.

É muito importante na vida religiosa a vida em comum: é uma ocasião de nos aperfeiçoarmos.

Santificar, perdoar… Ser perdoado também?

Irmã Dulce – Devemos aprimorar cada vez mais a caridade fraterna na comunidade. Não é correto que entre as irmãs que tem o mesmo ideal haja coisas pequenas, faltas mínimas, coisas sem importância que perturbem a convivência. Devemos saber perdoar aos outros como queremos ser perdoados. Procuremos seguir o exemplo de nossa Mãe do Céu que perdoou e continua perdoando as nossas faltas.

Façamos o possível para imitar o exemplo de nossa Mãe, amando, servindo, perdoando, e sabendo de tudo o que Deus nos enviar para que se faça a vontade dele e não a nossa.

… mas pode acontecer de haver ofensas pessoais!

Irmã Dulce – O mais importante na nossa vida religiosa é a união, o amor para com os nossos irmãos. Procuremos viver em união, em espírito de caridade, perdoando uns aos outros as nossas pequenas faltas e defeitos. É necessário saber desculpar para viver em paz e em união.

Jesus nos pediu que perdoássemos setenta vezes sete, quer dizer, in-fi-ni-ta-men-te… Procuremos fazer isso, além de amar e servir.

Por que as irmãs são chamadas de…

Irmã Dulce – Um instante. Vou terminar meu pensamento…

“Vede como se amam!” Assim (eu penso que) se deveria dizer das irmas! Como elas se amam, com um amor espiritual, sem ressentimento uma das outras, sabendo perdoar quando ofendidas. Jamais se deve falar mal de outra irmã. É necessário evitar a todo custo tal procedimento, Procuremos imitar o silêncio de Maria Santíssima, nossa Mãe.

Viver em paz, em harmonia, na fraternidade, na vida em comum, (como já disse) não é fácil, pois cada um tem um temperamento. Se soubermos compreender e suportar os defeitos umas das outras, assim como suportam os nossos, teremos alcançado uma grande virtude.

Obrigado. Agora… Por que as irmãs são chamadas de Filhas de Maria Servas dos Pobres?

Irmã Dulce – Que lindo e significativo título! Filhas de Maria! Filhas desta nossa Mãe tão querida. Desta Mãe a quem devemos tudo na vida, na nossa vida espiritual! Servas dos pobres! Que belo título também… Somos servas dos pobres, daqueles a quem mais Jesus ama. A serva é para servir, …mas servir amando, vendo no pobre, no carente, a imagem de Jesus.

Se pensarmos sempre assim, por mais agressivos, grosseiros, sem nenhuma formação, por piores que eles sejam, crianças ou adultos, veremos neles a imagem de Deus, a quem tanto amamos.

Por força de sua missão, a Irmã tem um contato grande com as pessoas diversas e fica sabendo de muita coisa. Então, Juventude e desagregação familiar. O que a Irmã diz disso?

Irmã Dulce – A agitação do mundo de hoje e a desagregação da família levam muitos jovens ao desespero, ao vício, à revolta. Mas devemos estar também atentos aos outros jovens, ou seja, àqueles que têm a sabedoria suave e simples dos que começam a vida, dos que são capazes de (encontrar) conforto na dor e trazer a alegria em meio ao sofrimento. Eles podem ser o espelho perfeito para os que não conseguem ver, os que parecem sem rumo, perdidos nas suas inseguranças e incertezas.

É preciso ter paciência para com os jovens. Eles têm a inquietude natural da idade, a necessidade de desvendar os profundos segredos do mundo. A nós, que já passamos pela juventude, compete prestarmos atenção, orientando-os com sabedoria. Pois são eles que, na verdade, tem de encontrar e abrir as próprias portas.

Está bem. Agora, imagine, que uma jovem não vocacionada ouça o que a Irmã acaba de dizer e peça um conselho… O que diria a ela?

Irmã Dulce – (Eu diria a ela): “na vida, o que sempre nos conforta é a Fé. E eu gostaria que essa chama de Fé ficasse sempre acesa em seu coração.

Todos nós somos fracos, sem a graça de Deus. É imprescindível procurar o apoio na graça de Deus para não “cair”. Devemos seguir certos, sempre olhando para frente, vendo ao longe aquele que nos aguarda no final da estrada da vida, com a cruz nos ombros e a luz da glória que nos espera. Siga sempre o caminho certo, mesmo que andemos lado a lado com aqueles que procuram outros caminhos. Confio em você com a sua personalidade, com sua formação(…).

Não falte a missa, reze, faça a sua comunhão. É o que vai lhe sustentar pela vida afora.”

Mais uma pergunta: Que relação a Irmã faz entre corpo, mente, alma e a interioridade da pessoa?

Irmã Dulce – O corpo é um templo sagrado e a mente, um altar. Então, devemos cuidar deles com o maior zelo. Corpo e mente são o reflexo da nossa alma, a forma como nos apresentamos ao mundo e um cartão de visitas para o nosso encontro com Deus. Habitue-se a ouvir a voz de seu coração. É através dele que Deus fala conosco e nos dá a força de que necessitamos para seguirmos em frente, vencendo os obstáculos que surgem na nossa estrada.

A Irmã acabou de dizer “Encontro com Deus”, que o homem necessita encontrar-se com Deus. Onde encontrá-lo?

Irmã Dulce – Os olhos dos que verdadeiramente veem podem facilmente encontrar a Deus. Ele sempre está naquele irmão mais necessitado, que precisa de uma mão para ampará-lo no momento de dor e de sofrimento.

Amar a Jesus é estar sempre pronto a dizer sim. É saber calar, aceitando tudo. É saber perdoar as falhas dos irmãos, como Jesus nos perdoa, é dar-se a ele na pessoa da criança, do pobre, do carente.

No meio da feiura que o mundo de hoje oferece, onde podemos encontrar a beleza?

Irmã Dulce – A beleza está nas pessoas, nas plantas, nos bichos, em todas as coisas de Deus. É mais intensa ainda nos olhos de quem consegue ver, acima da simplicidade, a beleza com que ele criou cada pequeno detalhe da vida.

Confiança em Deus… A Irmã poderia dar um exemplo do que seria essa confiança, sobretudo em tempos de incerteza?

Irmã Dulce – “Na viagem que Deus nos reservou na terra, temos que estar preparado para as possíveis incertezas do tempo. Traga sempre um agasalho para se proteger nos dias cinzentos de frio e sempre tenha no rosto um sorriso pronto a se iluminar, porque o inverno não consegue resistir ao brilho da luz do sol.

Não desanime! Coragem! As coisas de Deus são muito difíceis, mas não devemos desanimar. Nisto está o nosso mérito: sofrer, lutar e confiar na Misericórdia Divina.”

“Aqui (nas Obras Sociais) nós vemos diariamente a mão de Deus. Assistimos à repetição do milagre dos pães e dos peixes. Por isso, mesmo com todas as dificuldades, conseguimos atender a todos os que nos procuram. É preciso que tenhamos fé e esperança em um futuro melhor. O essencial é confiar em Deus.

Considero tudo o que foi conseguido até hoje como um milagre de Deus.”

É fundamental preocupar-se com uma vida espiritual levada a sério. Mas, e os bens materiais? A Irmã preocupa-se com eles?

Irmã Dulce – A preocupação com os bens materiais é natural, faz parte da vida humana. Mas o importante, o que de fato valoriza a vida, são os gestos que rendem juros e correção na conta aberta em nome de cada um de nós no banco do céu.

Os benfeitores, a quem eu nunca conseguirei agradecer plenamente, não se sintam completamente seguros: haverá ainda outras ocasiões em que bateremos às portas dos seus corações generosos para pedir ajuda.

E o amor a Jesus?

Irmã Dulce – Jesus nos ama tanto e sofreu tanto por nós, que o muito que fizermos a ele torna-se pouco diante do seu imenso amor (dele) por toda a humanidade.

(Devemos) agradecer a Deus por tudo: todos os sofrimentos, todas as alegrias, todas as graças que ele nos concedeu. Se amamos realmente a Deus, todos os sacrifícios não são nada, em vista do que ele sofreu por nós.

Acabou ficando uma dúvida… Peço que a senhora esclareça: Tanto trabalho, tanta ação não atrapalha o chamado à santidade, o chamado à vida de perfeição?

Irmã Dulce – Os trabalhos, os sofrimentos, nada disso nos deve afastar do nosso ideal de alcançar a santidade, a perfeição. “Sede perfeitas como vosso Pai do Céu é perfeito” é o que nos aconselha o Divino Mestre. Na vida comum, no dia a dia, podemos, com a graça de Deus e com a nossa aquiescência à graça, obter a perfeição.

(…) Continuo bem contente, brincando, sempre muito feliz, graças ao bom Deus! (…) espero de minha Mãe do Céu e de Jesus todas as graças necessárias para me tornar uma santa.(…) É o que desejo de coração.

O que motiva a Irmã a dar tanta atenção aos pobres e doentes?

Irmã Dulce – Muita gente acha que não devemos dar aos pobres a mesma atenção que damos às outras pessoas. Para mim o pobre, o doente, aquele que sofre, o abandonado, (todos são) a imagem de Cristo. Sempre recomendo às irmãs, aos funcionários, que vejam no doente que bate à nossa porta o próprio Jesus e, assim, façam a ele o que faríamos se Jesus em pessoa viesse nos pedir ajuda ou socorro.

Se olharmos o pobre desta maneira, então, todo o aspecto exterior, o estar sujo, cheio de parasitas, com grandes chagas, não nos incomodará, pois na sua pessoa está presente Cristo sofredor.

Pode dizer algo sobre sua obra, o Hospital, por exemplo?

Irmã Dulce – O nosso hospital é como um navio navegando sobre a tempestade, mas que tem como comandante Deus. Por isso ele segue calmo, sereno; nada o perturba.

Aqui não se diz ao doente para voltar dentro de oito dias. Aqui o doente jamais é rejeitado. Sabemos que, se fecharmos a porta, ele morre. Se não tiver lugar, a gente aperta, coloca até embaixo das camas, mas dá um jeito. A gente vê no doente apenas uma pessoa de Deus.

Quando nenhum hospital quiser aceitar algum paciente, nós o faremos. Essa é a última porta, e por isso não posso fechá-la. Não recuso ninguém, porque o doente é a imagem de Deus.

Como a Irmã faria um apelo a favor de seus pobres e doentes?

Irmã Dulce – Ajudem-me! Deem-me a possibilidade de ajudar esses pobres irmãos a saírem dos barracos cobertos de papelão ou de latas velhas: famintos, desempregados, doentes; seus filhos, suas mulheres também tem fome. E eles estão morrendo e não sabemos se estarão vivos numa manhã, quando conseguirmos aquilo que é, sem dúvida alguma, um sacrossanto objetivo.

Nossos velhinhos viviam na sarjeta, no chão. Agora tem conforto, amor e todos os cuidados que qualquer pessoa deve receber.

Permita-me dizer que a Irmã não é imortal…

Irmã Dulce – (Não sou…)

Assim sendo, pergunto o que a Irmã teria a dizer a quem a substituísse em sua obra?

Irmã Dulce – Se quem vier me substituir tiver fé, verá que Deus não faltará e que sempre conseguirá a quantia necessária para as despesas. O nosso administrador, o secretário e nosso auxiliar são testemunhas do que estou escrevendo. Quantas vezes não tínhamos nada e chegava uma pessoa com um cheque que dava para pagar todos os compromissos!

Deus é nosso organizador, o cérebro que tudo pensa e executa. Tudo que vai com Deus e com fé vai bem. Não há progresso sem Deus, não há desenvolvimento sem Deus, porque Deus é fraternidade, Deus é amor, Deus é bondade, Deus é harmonia.

A Irmã…

Irmã Dulce – Um instante… Vou terminar.

(Eu ainda diria para aquelas que me substituirão.) Espero que vocês continuem firmes no ideal de servir a Deus na pessoa do pobre, da criança e do doente. Não há nada melhor neste mundo do que se dar inteiramente a Deus. Quanto mais nos damos a deus, com os nossos sacrifícios, renúncias, vivendo não a nossa vida, mas a daqueles que nos cercam, pessoas tão carentes, mais Deus se dá a todos nós.

Imitem Jesus e os santos que viveram somente para ele. A felicidade neste mundo consiste em servir a Deus com todo o amor, com toda a dedicação. As lutas, os problemas da vida, tornam-se fáceis quando procuramos viver só para ele.

À medida que os dias se passam, sinto-me cada vez mais feliz por Deus ter me dado tão santa vocação. Jesus é tão bom! E eu, pobre criatura, não sei com que retribuir. Penso que retribuir só com o pequeno amor do meu pequenino coração, por mais amor que ele contenha, ainda é pouco para um Deus tão grande.

Peço-lhes que se esforcem o mais possível em dedicar a Jesus pequenos atos de penitência, sacrifício, oferecendo-os para a conversão dos pecadores. Jesus sofreu tanto por nós! Tudo que oferecemos a ele é pouco diante do muito que fez para a nossa salvação. Procuremos viver em união, em espírito de caridade, perdoando uns aos outros, e também as nossas pequenas faltas e defeitos.

Nota do autor:

Aqui terminamos essa entrevista inédita. Inédita porque nunca havia sido publicada em forma de entrevista. Imaginária? Não. Todo o conteúdo da matéria aqui publicada é verdadeiro. Ele foi tirado de escritos cartas, boletins, pequenas publicações editadas nas obras sociais da Irmã Dulce.

Escolhemos esse formato de entrevista porque, sendo ele lícito, é também um modo possível e simples de divulgar entre todos uma alma que também foi simples e atraente.

É necessário saber perdoar, saber desculpar, para vivermos em paz e união. Numa comunidade, só pode haver paz, se soubermos aceitar e perdoar uns aos outros.

Cronologia da vida Irmã Dulce

1914

26 de maio – Nasce Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, à rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo, cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Filha do cirurgião dentista Dr. Augusto Lopes Pontes e D. Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes.

13 de dezembro – É batizada na igreja de Santo Antônio Além do Carmo.

1921

8 de junho – Morre D. Dulce, sua mãe, aos 26 anos de idade.

1922

Junto com seus irmãos Augusto e Dulce, faz a primeira comunhão, na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo.

1927

Manifesta pela 1ª vez o interesse pela vida religiosa. Por esta época já atendia doentes no portão de sua casa, na rua da Independência, 61 – bairro de Nazaré.

1929

Conhece no Convento de Nossa Senhora do Desterro, a Irmã Rosa Schüller que pela 1ª vez lhe falou sobre a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

14 de fevereiro – Foi matriculada na Escola Normal da Bahia, no 1º ano do curso de professora.

1932

20 de agosto – Recebe o sacramento da crisma, das mãos do Arcebispo D. Augusto Álvaro da Silva.

9 de dezembro – Forma-se em professora pela Escola Normal da Bahia (atual ICEIA).

1933

15 de janeiro – Faz a profissão de Terceira Franciscana, recebendo o nome de Irmã Lúcia.

9 de fevereiro – Ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão, Sergipe.

13 de agosto – Recebe o hábito das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Em homenagem à mãe, recebe o nome de Irmã Dulce.

1934

15 de agosto – Emite sua Santa Profissão de votos simples temporários de Noviciado.

Setembro – Vem para Salvador, trabalhar na abertura do Hospital Espanhol, em companhia das Irmãs Tabita e Capertana, exercendo as funções de enfermeira, sacristã, porteira e responsável pelo raio X.

1935

Inicia a assistência à comunidade carente, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe, além de começar a atender os operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico que teve em Dr. Bernadino Nogueira, seu 1º colaborador e diretor. Por esta época a imprensa começa a chamá-la de Anjo dos Alagados.

Fevereiro – Passa a ensinar no Curso Infantil e lecionar Geografia e História no Colégio Santa Bernardete, no Largo da Madragoa, pertencente à sua Congregação.

Junho – Começa a trabalhar com os operários da Península Itapagipana.

6 de dezembro – Inaugura uma biblioteca para os operários da Fábrica Penha, em Itapagipe.

1936

1 de novembro – Funda com os operários Ramiro S. Mendonça, Nicanor Santana e Jorge Machado, a União Operária São Francisco, 1ª organização operária católica da Bahia.

1937

A União Operária São Francisco se transforma no Círculo Operário da Bahia.

15 de maio – A Serva de Deus inicia seu 2º noviciado.

15 de agosto – Emite sua Santa Profissão de votos simples perpétuos.

1937 / 40 – Ajuda a fundar os cinemas Plataforma, São Caetano, cuja renda contribuía para a manutenção do COB.

1939

1 de maio – Inaugura o Colégio Santo Antônio, no bairro da Massaranduba, para operários e seus filhos, com 300 crianças no turno matutino e 300 adultos à noite.

Ocorre a invasão das cinco casas, na Ilha dos Ratos, que irá definir o futuro da ação social e religiosa da Serva de Deus.

1941

8 de janeiro – Conclui o curso de Oficial de Farmácia.

A Serva de Deus inicia a obra do quilo, para ajudar as famílias carentes junto ao Círculo Operário.

1946

Dá início à campanha para entronizar o Sagrado Coração de Jesus nas fábricas de Itapagipe.

1947

11 de junho – É instalado o Convento Santo Antônio, com as Irmãs Plácida e Hilária e, a Serva de Deus como a sua 1ª Superiora, junto ao Círculo Operário da Bahia.

15 de novembro – Recebe o título de Auxiliar de Serviço Social.

1948

28 de novembro – Inaugura o Cine Teatro Roma.

1949

Ocupa o galinheiro ao lado do convento inaugurado em 1947, após a autorização da sua Superiora, com os primeiros 70 doentes, dando origem a tradição propagada a décadas pelo povo baiano, de que a Serva de Deus construiu o maior hospital da Bahia, a partir de um simples galinheiro.

1950

Inicia o atendimento aos presos da cadeia conhecida como “Coréia”, devido as más condições de higiene local, no Dendezeiros.

1952

16 de abril – Cria o SAC – Serviço de Alimentação do Comerciário – almoço a preços populares ( 2 tostões), no prédio do Círculo Operário da Bahia.

1959

26 de maio – Funda a Associação Obras Sociais Irmã Dulce.

15 de agosto – Instala oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce.

1960

8 de fevereiro – Inaugura o Albergue Santo Antônio, com 150 leitos.

1976

25 de fevereiro – Falece seu pai, Dr. Augusto Lopes Pontes, que além de se constituir num baluarte ao lado de sua filha, na construção e consolidação das suas obras, foi um grande incentivador de outras obras sociais, destacando-se entre elas o “Abrigo Filhos do Povo”, situado no bairro da Liberdade.

1980

7 de julho – A Serva de Deus tem seu primeiro encontro com o Papa João Paulo II.

1981

9 de março – Cria a Fundação Irmã Dulce.

1983

Inaugura o novo Hospital Santo Antônio, com 400 leitos.

1984

Funda a Associação Filhas de Maria Servas dos Pobres, com o intuito de manter o carisma da sua Obra.

1988

O então Presidente da República José Sarney, indica a Serva de Deus para o Prêmio Nobel da Paz, com o apoio da Rainha Sílvia da Suécia.

1990

11 de novembro – A Serva de Deus é internada com problemas respiratórios.

1991

20 de outubro – Recebe no seu leito de enferma, a visita do Papa João Paulo II, pela última vez.

1992

13 de março – Numa sexta feira, morre às 16:45, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, sito a Av. Dendezeiros, depois de sofrer por 16 meses.

15 de março – As 20:00h, é sepultada no altar do Santo Cristo, na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, em Salvador, Bahia, Brasil.

Fontes:

*Coleção Cinco minutos com Deus e Irmã Dulce – Luzia Sena (org) São Paulo, Paulinas, 2011
*Arautos do Evangelho
*Uol Educação
*OSID – Obras Sociais Irmã Dulce


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Vaticano confirma Apostolado Mundial de Fátima

O Conselho Pontifício para os Leigos confirmou o Apostolado Mundial de Fátima (World Apostolate of Fatima – W.A.F.) como associação pública internacional de fiéis, com personalidade jurídica e Estatutos aprovados definitivamente, em decreto datado 07 de Outubro de 2010, Festa de Nossa Senhora do Rosário.

Em declarações à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, Nuno Prazeres, Diretor do Secretariado Internacional, salientou que “esta é uma excelente oportunidade para reforçarmos o nosso compromisso com a difusão da Mensagem de Fátima por todo o mundo, levando assim esta luz de esperança e paz ao coração dos homens.”

D. Josef Clemens, Secretário do Conselho Pontifício para os Leigos, em carta dirigida ao Presidente da associação, sublinhou que “a aprovação definitiva dos Estatutos marca um momento novo para o Apostolado Mundial de Fátima e é nossa esperança que isso traga o entusiasmo da nova evangelização às vossas atividades.” O decreto de aprovação destaca que “os membros do Apostolado Mundial de Fátima comprometem-se a serem testemunhas da Fé Católica nas suas famílias, no trabalho, nas paróquias e comunidades, participando assim na tarefa da “Nova Evangelização”“.

Nas palavras de Nuno Prazeres, “a associação tem efetivamente desenvolvido nos últimos anos uma série de iniciativas para melhor responder a este compromisso. Destacam-se a realização de congressos regionais na Europa, África, Ásia e América do Sul sobre a Nova Evangelização e a Mensagem de Fátima, a formação de grupos de oração e de reflexão, os programas de adoração eucarística para crianças, a coordenação do programa das visitas da Imagem Peregrina nas dioceses e paróquias e ainda a publicação de livros, revistas, vídeos e sítios na internet, para assim fazer chegar longe os apelos de Fátima e do Evangelho”.

“O Apostolado Mundial de Fátima está ativamente presente em mais de 60 países e conta com milhares de associados que se consagram ao Coração Imaculado de Maria e se comprometem a oferecer os sacrifícios diários de acordo com os seus deveres cristãos, a rezar o Terço todos os dias, a usar o escapulário de Nossa Senhora do Carmo e a praticar a devoção dos Cinco Primeiros Sábados do mês, tal como foi pedido por Nossa Senhora”, acrescenta Nuno Prazeres.

Cabe ao Secretariado Internacional, que tem a sua sede em Fátima, manter o elo de ligação com todas as estruturas da associação, estimulando-as para a vivência e para o testemunho autêntico da Mensagem de Fátima.

Desde Julho de 2009, o Secretariado Internacional do Apostolado Mundial de Fátima coordena a recitação do Rosário, uma vez por mês, na Capelinha das Aparições, no Santuário de Fátima. Este Rosário, às 18h30min, é oferecido pelas intenções dos membros da associação, de modo particular, pelo respeito da vida humana, desde a concepção à morte natural.

Confira o Site do Apostolado Mundial de Fátima: http://www.worldfatima.com/

 

Fonte: Publicação Fátima e Luz – Edição Maio/2011 – Santuário Nossa Senhora de Fátima/Portugal

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A Caminho do Triunfo – Parte 2

O Papa, Fátima e a Perseguição da Igreja

1.      Introdução

No dia 13 de Abril deste ano, memória de Santo Hermenegildo (Mártir da Eucaristia), publicamos um artigo chamado “A Caminha do Triunfo”, onde apresentamos uma série de profecias católicas referentes a um futuro Triunfo do Imaculado Coração da Santíssima Virgem, com comentários a respeito.

Este artigo é continuação daquele, e aqui queremos nos manifestar ao grande público, a respeito de um assunto pouco falado, até inédito em muitos meios e poucas vezes abordado de forma equilibrada.

O que nos motivou a isso foram por algumas afirmações iluminadoras do Santo Padre Bento XVI em sua recente viagem a Fátima, em Maio deste ano, a respeito de questões envolvendo o anunciado Triunfo da Santíssima Virgem, ao chamado “Terceiro Segredo de Fátima” e a perseguição da Igreja.

Já no início deste artigo, fazemos questão de deixar muito claro duas coisas:

  • Esclarecemos que existem “versões” do “Terceiro Segredo de Fátima” que circulam na internet, dizendo falsamente que “este é o texto do Terceiro Segredo de Fátima que a Igreja deu permissão de revelar”. Ora, esclarecemos que até a presente data de publicação deste artigo (13/10/2010), o texto que citamos no artigo é a ÚNICA versão do Terceiro Segredo de Fátima que temos oficialmente divulgada pelo Vaticano.
  • TODAS as citações de profecias contidas neste artigo são de aparições da Virgem OFICIALMENTE APROVADAS pela Santa Igreja, bem como profecias de SANTOS CANONIZADAS pela Igreja, como também BEATOS.

Pedimos que, antes de ser lido este artigo, seja lido o primeiro artigo desta série, citado acima (clique aqui para ler) tendo em vista que este é uma continuação daquele, além do fato de este poder parecer exageradamente pessimista ou sensacionalista, se for tomado fora do contexto apresentado pelo artigo anterior.

Pelo contrário, nosso contexto é otimista: é a expectativa do grande Triunfo do Imaculado Coração da Santíssima Virgem, que Ela prometeu em Fátima (1917):

“Por fim, o Meu Imaculado Coração Triunfará.”

E este acontecimento, também confirmado por outras aparições marianas oficialmente aprovadas pela Santa Igreja e por santos canonizados, talvez venha ser o maior acontecimento da história desde Nosso Senhor Jesus Cristo.

2. Papa: apressar o anunciado Triunfo

O Papa Bento XVI, em um dos grandes momentos do seu pontificado, esteve em Fátima em Maio deste ano, no 93º aniversário da primeira aparição da Santíssima Virgem lá.

Na homilia que fez no Santuário no 13 de Maio – ela pode ser lida na íntegra em http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2010/documents/hf_ben-xvi_hom_20100513_fatima_po.html -, entre outras coisas, ele falou:

“Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade.”

Comentário: o Santo Padre alude aqui a promessa da Santíssima Virgem em Fátima:

“Por fim, o Meu Imaculado Coração Triunfará.”

Aqui o Papa mostra duas coisas:

  1. Que ele não considera este Triunfo nenhuma “fantasia”
  2. Que ele acredita que este Triunfo ainda NÃO aconteceu (descartando, portanto, interpretações reducionistas do Triunfo, que referem-se a ele como tão somente a sobrevivência do saudoso Papa João Paulo II ao atentado que sofreu em 1981 e a queda do Muro de Berlim)

E mais: O Papa parece ligar isso, de alguma forma misteriosa, ao menos em sua expectativa, ao centenário das aparições de Fátima.

3. Papa: Fátima não está concluída

Na mesma homilia, o Papa falou:

“Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída.”

Isso parece ser iluminado pelo que o próprio Papa falou dois dias antes disso (11 de Maio), em entrevista feita no avião que o conduzia a Fátima.

O que Papa respondeu tento sido publicado no site “Corriere de Sara” e “Repubblica”, e nos é transmitido pelo jornalista católico Antonio Socci (Da Libero).

A pergunta que o Papa escolheu para responder, dentre as várias que foram lhe apresentadas, dizia, a respeito do chamado “Terceiro Segredo de Fátima”:

“Santidade, que  significado têm hoje para nós as aparições de Fátima? Quando o senhor apresentou o texto do Terceiro Segredo, na sala de imprensa vaticana, em Junho de 2000, foi-lhe perguntado se a mensagem podia ser estendida, além do atentado a João Paulo II, mas também aos outros sofrimentos dos Papas. É possível segundo o senhor, enquadrar também naquela visão os sofrimentos da Igreja de hoje pelos pecados dos abusos sexuais de menores?”

Resposta do Papa Bento XVI:

“Somente no curso da história podemos ver toda a profundidade,  digamos assim, de que estava revestida nessa visão, possível às pessoas concretas. Além dessa grande visão do sofrimento do Papa, que substancialmente podemos referir a João Paulo II, são indicadas realidades do futuro da Igreja que pouco a pouco se desenvolvem e se mostram. Isto é verdade que  além do momento indicado na visão, fala-se, se vê a necessidade de uma paixão da Igreja, que naturalmente se reflete na pessoa do Papa. Mas o Papa está na Igreja e, portanto, são sofrimentos da Igreja que se anunciam (…). Quanto às novidades que podemos hoje descobrir nessa mensagem, é também que não só de fora vem os ataques ao Papa e à Igreja, mas os sofrimentos da Igreja vem justamente do interior da Igreja, do pecado que existe na Igreja (…). Hoje nós o  vemos de modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem dos inimigos de fora, mas nasce do pecado na Igreja”.

Vamos analisar as palavras do Papa:

O Santo Padre diz que engana-se quem pensa que “a missão profética de Fátima esteja concluída” e que no 3o segredo são  “indicadas realidades do FUTURO da Igreja que pouco a pouco se desenvolvem e SE MOSTRAM“; diz que “se vê a necessidade de uma PAIXÃO DA IGREJA”; que “são sofrimentos da Igreja que se anunciam“; o Papa relaciona ainda a questão ao “pecado que existe na  Igreja” e que “a maior perseguição da Igreja NÃO vem dos inimigos de fora, mas nasce do pecado na Igreja”.

Ou seja, isso significa que a interpretação do visão do Terceiro Segredo, que pretende limitar TUDO a “coisas que já aconteceram” e que se referiam SOMENTE ao atentado que João Paulo II sofreu, é equivocada.

Na verdade, a interpretação do texto do Terceiro Segredo, sugerida pelo Vaticano em 2000, juntamente com a publicação do Terceiro Segredo, e que pode ser lida em http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000626_message-fatima_po.html, embora sugira que a visão do texto refira-se ao atentado que sofreu João Paulo II, NÃO parece limitar a interpretação a isso, como o próprio Papa deixou claro em suas recentes palavras que citamos acima.

Até porque é próprio do gênero profético, e isso desde o Antigo Testamento, permitir mais de uma hermenêutica possível para uma visão profética, sem que uma necessariamente descarte a outra.

É comum, ainda, na Tradição Cristã,  o cumprimento “cíclico” de uma profecia, em que um “primeiro cumprimento” é imagem de uma realidade futura (assim, por exemplo, as profecias referentes ao Anticristo que estão no Apocalipse de São João podem se referir tanto ao Império Romano, quanto aos “anticristos” de outras épocas e a Provação Final da Santa Igreja; ver Catecismo da Igreja Católica, n. 675-677).

4. Terceiro Segredo de Fátima, sua interpretação e realidade atual

Vamos retomar o texto do segredo, tornado oficialmente público em 2000. O relato é da Irmã Lúcia:

“Vimos ao lado de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, despedia  chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora  ao seu encontro: O anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos numa luz imensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêm as pessoas num espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns atrás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.”

Retomamos: existem “versões” do “Terceiro Segredo” que circulam na internet, dizendo falsamente que “a Igreja deu permissão de revelar o Terceiro Segredo de Fátima”. Ora, esclarecemos que até a presente data de publicação deste artigo (13/10/2010), este texto que citamos acima é a ÚNICA versão do Terceiro Segredo de Fátima que temos oficialmente divulgada pelo Vaticano.

Mas vamos ao comentário da visão, integrando com os dados que o Papa nos trouxe neste ano e que citamos acima:

Segundo o Papa, então, o segredo fala de coisas futuras que, como diz o Bento XVI, “pouco a pouco se desenvolvem e se mostram”, e o Papa liga aos “sofrimentos da Igreja” e a “perseguição da Igreja”.

O que pouco a pouco “se desenvolve e se mostra”, e que tem a ver com sofrimentos para a Santa Igreja? Ora, me parece claro é exatamente a realidade da perseguição, que temos visto estourar com uma força sem precedentes, principalmente a partir de deste ano, com toda esta questão da pedofilia (veja que o Papa fala em “pecado na Igreja”), e conhecidos teólogos que se dizem católicos (como os da Teologia da Libertação) patrulhando abertamente o próprio Papa e quem está em comunhão com ele (o Papa fala em “a maior perseguição da Igreja NÃO vem dos inimigos de fora”).

Não é difícil ver, ao menos nos acontecimentos deste ano, algo nesse sentido e no sentido da visão que “se  desenvolve e se mostra”: o Papa, “bispo vestido de branco”, “aos pés da grande cruz”, sendo atingido por “um grupo de  soldados que lhe atiraram vários tiros e setas”. Espiritualmente falando, creio é o que estamos vendo acontecer.

Vejamos, por exemplo, como esta questão da pedofilia tem sido usada para perseguir a Santa Igreja e que o próprio entrevistador mencionou na pergunta ao Papa, que fizemos acima.

Quem é grande a adversária do aborto? A Igreja.

E da libertinagem sexual? A Igreja.

Do comunismo? A Igreja.

E assim por diante…

Isso deixa claro que existem interesses revolucionários, sim, de patrulhar a Igreja.

Além disso, Antonio Gramsci, comunista italiano, escreveu que três elementos impediam que a Revolução Marxista triunfasse no ocidente: o pensamento grego, o direito romano e a moral judaico-cristã. Era preciso, portanto, destruir os três.

Este assunto é apresentado com detalhes e provado com fatos pelo Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, na sua palestra sobre o “Marxismo Cultural”, que pode ser escutada em http://padrepauloricardo.org/audio/marxismo-cultural/ .

Alguns pensadores católicos, como o próprio Pe. Paulo Ricardo e o filósofo Olavo de Carvalho, nos falam de uma técnica de engenharia social usada por este revolucionários, e facilmente verificada em nosso meio, que se chama “espiral do silêncio”.

Esta técnica parte do princípio que uma notícia, para fazer diferença para a a população, ela precisa ser repetida um certo número de vezes.

Então, por exemplo, acontece uma grande manifestação contra o aborto, e o que normalmente aparece na grande mídia? Uma notícia de meia-dúzia de linhas no canto da página. Aí aparece um escândalo de padre pedófilo, e o que a grande mídia normalmente faz? Se fica metralhando isso com uma frequência e de uma forma descaradamente mal-intencionada…e logo todos estão desconfiando de qualquer padre que apareça na sua frente e achando que a Santa Igreja é a grande criminosa da história da humanidade.

Vejamos a contradição:

Essa onda de pedofilia (que NÃO atinge apenas sacerdotes, mas atinge também pastores protestantes e gente de tudo quanto é classe social…) tem como causadora NÃO a Santa Igreja, mas exatamente o contrário: é a crise religiosa e moral que a nossa sociedade se afundou, a partir das idéias revolucionárias anticristãs ***propagadas pelos mesmos que combatem a Santa Igreja***.

Ora, qual é a grande Instituição que tem, com todas as suas forças, defendido a castidade (segundo o estado de vida de cada um, evidentemente, na continência ou na vivência do matrimônio segundo o Projeto de Deus) dos sacerdotes, dos celibatários, dos casais, dos jovens, de todos? A Igreja!

E quem tem disseminado libertinagem sexual, propagando pornografia, incentivando que se faça sexo de tudo quanto é jeito e distribuindo camisinha nas escolas para as crianças? ***São esses mesmos Revolucionários que querem difamar a Igreja!***

Um sacerdote pedófilo é um MAU SACERDOTE. Não é fiel a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Igreja e aos Projeto de Deus que ele se comprometeu a viver.

Agora, um revolucionário que vai nas escolas promover pornografia, promiscuidade e distribuir camisinha pra criança é UM BOM REVOLUCIONÁRIO, fiel à sua cartilha marxista e gramsciana.

Não aceitamos o rótulo que eles querem nos colocar!

5. Confirmação nas Aparições Marianas reconhecidas pela Santa Igreja…

  • Fátima (Portugal, 1917)

Também em Fátima, disse a Virgem:

“Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará.”

Embora isso seja dito na “Segunda Parte do Segredo” ou no chamado “Segundo Segredo” (e, portanto, divulgado há várias décadas atrás), NÃO parece pertencer completamente ao passado, pois:

  • o perigo anunciado (“nações inteiras aniquiladas”) nunca se cumpriu; nem mesmo na Segunda Guerra Mundial foram aniquiladas “nações inteiras”.
  • além disso, porque hoje vemos acontecendo, como nunca, a disseminação dos erros da Rússia pelo mundo inteiro (comunismo, marxismo cultural, ateísmo prático…), e inclusive no interior da Igreja, através da “Teologia da Libertação”.

Aliás, a própria Irmã Lúcia escreveu ao Papa João Paulo II, no dia 12 de Maio de 1982, a respeito do “Terceiro Segredo” ou “Terceira Parte do Segredo”:

«A terceira parte do “segredo” refere-se às palavras de Nossa Senhora: “Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas”».

Chamam atenção também duas visões que a Beata Jacinta, uma das videntes de Fátima, relatou, e que parecem dizer respeito ao nosso tempo (principalmente esta primeira, relativa ao Papa):

“Eu vi o Santo Padre numa casa muito grande, de joelhos diante de uma mesa, com as mão na cara a chorar. Fora de casa estava muita gente, e uns atiravam-lhe pedras, outros rogavam-lhe pragas, e diziam-lhe muitas palavras feias.”

A outra visão, Jacinta mostra em um diálogo com Lúcia (a outra vidente de Fátima); quem descreve é a própria Irmã Lúcia, em sua “3a Memória”:

“Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente, a chorar com fome, e não têm nada para comer?! E o Santo Padre numa igreja, diante do Imaculado Coração de Maria, a rezar?! E tanta gente a rezar com ele?! Passados alguns dias perguntou-me: Posso dizer que vi o Santo Padre e toda aquela gente? – Não. Não vês que isso faz parte do segredo?! Que por aí logo se descobria?! – Está bem; então não digo nada.”

Em entrevista ao Pe. Agostinho Fuentes, Postulador da Causa de Beatificação dos videntes de Fátima, Irmã Lúcia, em 1957, revela toda a gravidade dos tempos que vivemos, dizendo:

“A Santíssima Virgem me disse que o demônio está prestes a travar uma batalha decisiva contra Ela, e como em pouco tempo precisa ganhar o maior número possível de almas, tudo faz para conquistar as almas consagradas a Deus, pois desta maneira deixa desamparado o campo das almas e poderá apoderar-se delas mais facilmente.”

  • La Salette (França, 1846):

Em La Salette, aparição oficialmente reconhecida pela Santa Igreja, a Virgem falou palavras fortes.

Sobre a aparição de La Salette, o Papa João Paulo II afirmou:

“Neste lugar, Maria, a mãe sempre amorosa, mostrou sua dor pelo mal moral causado pela humanidade. Suas lágrimas nos ajudam a entender a gravidade do pecado e a rejeição a Deus, enquanto manifestam ao mesmo tempo a apaixonada fidelidade que Seu Filho mantém com relação a cada pessoa, embora Seu amor redentor esteja marcado com as feridas da traição e do abandono dos homens.”

Disse a Virgem em La Salette:

“O Vigário do meu Filho terá muito que sofrer, porque por um tempo a Igreja será entregue a grandes perseguições – será o tempo das trevas. A Igreja terá uma crise medonha. Esquecida a santa fé de Deus, cada indivíduo quererá governar-se por si mesmo e ser superior aos seus semelhantes. Serão abolidos os poderes civis e eclesiásticos, toda a ordem e justiça serão calcadas aos pés. Só se verão homicídios, ódios, inveja, mentira e discórdia, sem amor pela pátria e pela família. O Santo Padre sofrerá muito. Estarei com ele, até o fim, para receber o seu sacrifício. Os malvados atentarão muitas vezes contra a sua vida, sem poder pôr fim aos seus dias; nem ele, porém, nem o seu sucessor verão o triunfo da Igreja de Deus.”

As referências explícitas a dois papas, e talvez implicitamente a um terceiro (que veja o Triunfo da Igreja?) são misteriosas.

A Virgem continua:

“Várias grandes cidades serão abaladas e soterradas por terremotos. As pessoas acreditarão que tudo estará perdido. Não se verá mais do que homicídios, não se ouvirá senão os ruídos das armas e blasfêmias. Os justos sofrerão muito; as suas orações, a sua penitência e as suas lágrimas subirão ao Céu e todo o povo de Deus pedirá perdão e misericórdia, e implorará a minha ajuda e intercessão.”

  • Akita (Japão, 1973):

Também nas suas manifestações de Akita (Japão, 1973), também oficialmente aprovadas pela Santa Igreja, a Virgem falou sobre estes graves assuntos.

Em Akita, a Irmã Agnes Sasagawa (Instituto Servas da Eucaristia), confidente da Virgem, recebeu o estigma de Nosso Senhor na mão esquerda e uma imagem da Virgem verteu lágrimas de sangue 101 vezes.

Fato interessante: a imagem da Virgem é a de “Nossa Senhora de Todos os Povos” (aparição da Virgem na Holanda, cuja devoção foi oficialmente aprovada pelo Bispo Local, é que é descrita no primeira artigo desta série “A Caminho do Triunfo”).

O Arcebispo local, Dom Shojiro-Jean Ito, reconheceu oficialmente os fenômenos de Akita, escrevendo:

“Depois das indagações levadas a efeito até o dia de hoje, não se pode negar o caráter sobrenatural de uma série de acontecimentos inexplicáveis, relativos à imagem da Virgem que se encontra no Convento do Instituto das Servas da Eucaristia em Yuzawadai, no Convento de Soegawa, província de Akita, Diocese de Niigata. Tampouco se podem encontrar ali elementos contrários à fé católica ou aos bons costumes. Conseqüentemente, autorizo, em toda a extensão da Diocese da qual fui encarregado e me foi confiada, a veneração da Santa Mãe de Akita, esperando que a Santa Sé publique seu juízo definitivo sobre este assunto. Chamo a atenção, relembrando, que mesmo que a Santa Sé publique mais tarde um juízo favorável a propósito dos acontecimentos de Akita, trata-se apenas de uma revelação particular que não é um ponto doutrinal. Os cristãos são levados a crer apenas no conteúdo da Revelação Divina (encerrada com a morte do último Apóstolo) que comporta tudo o que é necessário à salvação. A Igreja, sempre, até agora, também teve em consideração as revelações particulares enquanto elas fortalecem a fé.” (22/04/1984)

Quatro anos, em 1988, mais tarde, o Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, na época Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, proferiu julgamento definitivo sobre os eventos e mensagens de Akita como “confiáveis e dignos de fé”.

Em Akita, a Virgem disse:

“Como já te disse, se os homens não se arrependerem e não melhorarem, o Pai infligirá um castigo terrível à humanidade inteira. Será um castigo mais severo que o dilúvio, tal como jamais houve antes. Cairá do Céu um fogo que aniquilará uma grande parte da humanidade. (…) Os sobreviventes se encontrarão em tal desolação que invejarão os mortos.  As únicas armas que nos restarão então serão o Rosário e o Sinal deixado pelo Meu Filho. Rezem cada dia as orações do Rosário. Com o Rosário, rezem pelo Papa, pelos Bispos e pelos sacerdotes. A ação do diabo se infiltrará mesmo na Igreja, de modo que serão vistos cardeais se oporem a cardeais, bispos a outros bispos. Os padres que me veneram serão desprezados e combatidos por seus confrades; as igrejas, os altares serão saqueados, a Igreja estará cheia daqueles que mantém compromissos espúrios e o demônio forçará muitos sacerdotes e consagrados a deixarem o serviço do Senhor. O demônio se encarniçará sobretudo contra as almas consagradas a Deus. A perspectiva da perda de numerosas almas é a causa da minha tristeza. Se os pecados crescerem em número e gravidade, para esses não haverá perdão. (…) Reze muito as orações do Rosário. Eu sozinha ainda sou capaz de salvar vocês das calamidades que se aproximam. Aqueles que colocarem sua confiança em Mim serão salvos.” (13/10/1973)

A mensagem é forte, porém, nada mais é do que a repetição e atualização do que Nosso Senhor nos diz no Evangelho:

“Se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo.“ (Lc 13,5)

Não nos esqueçamos, porém, de que a Virgem Santíssima promete proteção para os que confiarem na Sua poderosa intercessão, e nos garante em Fátima:

“Por fim, o Meu Imaculado Coração Triunfará”!

6… e nas profecias dos Santos

  • Dom Bosco (Itália, séc. 19):

Em termos de futuro, é impossível aqui não lembrar aqui de um sonho profético de Dom Bosco, que mostra o Papa saindo de Roma, e quando retorna (possivelmente 200 dias depois),  as “cidades”, “aldeias” e “campos” tinham a “população muito diminuída”, a “terra estava pisada como por um furacão, por um temporal e pelo granizo”, e “as pessoas iam umas para as outras dizendo com ânimo comovido” que “Há um Deus em Israel”.

Os elementos da visão parecem muito relacionados com a visão do Terceiro de Fátima.

Transcrevemos abaixo, na íntegra, esta visão do sonho de Dom Bosco, que parece vir complementar a visão do outro sonho dele (o sonho das “Duas Colunas” ), que publicamos primeiro artigo desta série.

Segue a visão de Dom Bosco:

“Era uma noite escura. Os homens não podiam mais discernir qual fosse o caminho para retornar a suas aldeias, quando apareceu no céu uma luz esplendorosíssima que esclarecia os passos dos viajantes como se fosse meio-dia.

Naquele momento, foi vista uma multidão de homens, de mulheres, de velhos, de crianças, de monges, freiras e Sacerdotes, tendo à frente o Pontífice, sair do Vaticano enfileirando-se em forma de procissão. Mas eis um furioso temporal escurecendo um tanto aquela luz. Parecia engajar-se uma batalha entre a luz e as trevas.

Chegou-se a uma pequena praça coberta de mortos e de feridos, dos quais vários pediam conforto em altas vozes. As fileiras da procissão se tornaram bastante ralas. Depois de ter caminhado por um espaço de duzentos levantar do sol, cada um percebeu que não estava mais em Roma. O espanto invadiu os ânimos de todos, e cada um se recolheu em torno do Pontífice para guardar a sua pessoa e assisti-lo em suas necessidades. Naquele momento, foram vistos dois anjos que portavam um estandarte e o foram apresentar ao Pontífice dizendo: ‘Recebe o vexilo d’Aquela que combate e dispersa os mais fortes exércitos da terra. Os teus inimigos desapareceram, os teus filhos, com lágrimas e com suspiros, invocam o teu retorno.’

Levantando, depois, o olhar para o estandarte, se via escrito nele, de um lado: ‘Regina sine labe originale concepta’; e do outro lado: ‘Auxillium Christianorum’. O Pontífice tomou o estandarte com alegria, mas tornando a olhar o pequeno número daqueles que haviam permanecido em torno de si, ficou aflitíssimo.

Os dois anjos acrescentaram: ‘Vai depressa consolar os teus filhos. Escreve a teus irmãos dispersos nas várias partes do mundo que é preciso uma reforma nos costumes e nos homens. Isto só se poderá obter repartindo aos povos o pão da Divina Palavra. Catequizai as crianças, pregai o desapego das coisas da terra.’ ‘Chegou o tempo’, concluíram os dois anjos, ‘que os pobres serão os evangelizadores dos povos. Os Levitas serão buscados entre a enxada, a pá e o martelo, a fim de que se cumpram as palavras de Davi: Deus levantou o pobre da terra para colocá-lo sobre o trono dos príncipes do teu povo.’

Ouvindo isto, o Pontífice se moveu e as filas da procissão começaram a engrossar-se. Quando, afinal, ele colocou o pé na cidade santa, ele começou a chorar por causa da desolação em que estavam os cidadãos, dos quais muitos não existiam mais. Reentrado, enfim, em São Pedro, ele entoou o Te Deum, que foi respondido por um coro de anjos, cantando: ‘Gloria in excelsis Deo, et pax in terris hominibus bonae voluntatis’.

Terminado o canto, cessou de fato toda escuridão e se manifestou um sol fulgidíssimo. As cidades, as aldeias, os campos tinham a população muito diminuída, a terra estava pisada como por um furacão, por um temporal e pelo granizo, e as pessoas iam umas para as outras dizendo com ânimo comovido: ‘Há um Deus em Israel’.

Do começo do exílio até o canto do Te Deum, o sol se levantou duzentas vezes. Todo o tempo que transcorreu para se cumprirem estas coisas corresponde a quatrocentos levantar de sol.”

  • Papa São Pio X (1835-1914):

Também o grande Papa São Pio X, conhecido como o “Papa do Santíssimo Sacramento”, descreveu:

“Tive uma visão assombrosa. Será comigo, ou com algum sucessor meu? Vi que o Papa deixará Roma e, para sair do Vaticano, terá que passar sobre os cadáveres de seus padres.”

E ainda:

“Ele se exilará disfarçando-se em algum lugar e após um curto isolamento, sofrerá uma morte cruel.”

  • Beata Anna Maria Taiji (Itália, séc.  19): 

Escreveu ela:

“A Religião será perseguida, e os religiosos massacrados. As Igrejas serão fechadas, porém por um breve período. O Santo Padre será obrigado a deixar Roma.”

  • Santa Brígida, Estigmatizada (Suécia, séc. 14): 

Escreveu ela:

“40 anos antes do ano 2000, o demônio será deixado solto, por um tempo. Quando tudo parecer perdido, Deus, mesmo de improviso, porá fim à maldade. (…) Os sacerdotes deixarão de usar hábito santo e se vestirão como pessoas comuns; as mulheres se vestirão como os homens e os homens como as mulheres.”

  • Beata Anna Catharina Ememrich, Estigmatizada (Alemanha, séc. 18):

Foi a mística que, com as suas visões a respeito da vida de Nosso Senhor, inspirou Mel Gibson no filme “A Paixão de Cristo”.

Fala a Beata, no seu famoso livro “Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus”:

“Ouvi dizer que Lúcifer, se não me engano, 50 ou 60 anos antes do ano 2.000 de Cristo, seria novamente solto por certo tempo. Muitas outras datas e números foram indicados, dos quais não me lembro mais. Deviam ser soltos ainda outros demônios antes desse tempo, para provação e castigo dos homens.”

  • São Luis Maria Monfort (França, séc. 18):

Escreveu São Luis, no seu marailhoso “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”:

“Maria deve ser, enfim, terrível para o demônio e seus sequezes como um exército em linha de batalha, principalmente nesses últimos tempos, pois o demônio, sabendo bem que pouco tempo lhe resta para perder as almas, redobra cada dia seus esforços e ataques. Suscitará, embreve, perseguições cruéis e terríveis emboscadas aos servidores fiéis e aos verdadeiros filhos de Maria, que mais trabalho lhe dão para vencer.”

7. Conclusão

As palavras do Papa João Paulo II, em Fulda, na Alemanha, falando aos jovens, em 1981, ecoam em nosso coração:

“Quantas vezes se realizou no sangue a renovação da Igreja?”

Tudo isso é impressionante, mas que isso seja motivo para nos entregarmos aquilo que nossa Mãe Santíssima pediu em Fátima:

  • a consagração ao Seu Coração Imaculado, como Ela pediu:

“Deus quer estabelecer no mundo a Devoção ao Meu Coração Imaculado.”

  • a oração diária do Santo Terço, como Ela pediu:

“Rezem o Terço todos os dias pela paz no mundo e para acabar com a guerra.”

  • a adoração da Presença Real e Substancial de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, como o Anjo de Portugal, precursor da Virgem nas aparições, ensinou a Lúcia, Francisco e Jacinta:

“Meu Deus, eu creio, adoro-vos, espero-vos e amo-vos; peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam”.

E vermos a mensagem de Fátima, acima de tudo, como uma mensagem de esperança, que nos leva a ver que, depois deste período de Grande Tribulação e Grande Provação, virá aquilo que ser humano algum jamais presenciou acontecer:

O Grande Triunfo do Imaculado Coração da Santíssima Virgem!

Ela quem prometeu:

“Por fim, o Meu Imaculado Coração Triunfará!”

Em La Salette, estes foram os apelos da Santíssima Virgem:

“Eu dirijo um urgente apelo à Terra: chamo os verdadeiros discípulos do Deus Vivo, que reina nos céus; chamo os verdadeiros imitadores de Cristo feito homem – o único e verdadeiro Salvador dos homens; chamo os meus filhos, os meus verdadeiros devotos, os que se deram a mim, para que eu os conduza ao meu Divino Filho – aqueles que eu levo, por assim dizer, nos meus braços; chamo os que viveram do meu espírito; chamo, enfim, os Apóstolos dos Últimos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo, que viveram no desprezo do mundo e de si próprios, na pobreza e na humildade, no desprezo e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento, e desconhecidos do mundo. Já é hora de saírem e virem iluminar a Terra. Ide e mostrai-vos como meus filhos queridos. Estou convosco e em vós, desde que a vossa fé seja a luz que vos ilumine nesses dias de infortúnio. Que o vosso zelo vos torne como que famintos da glória e da honra de Jesus Cristo. Combatei, filhos da luz, vós, pequeno número que ainda tendes vista….”

Autor: Apostolado Reino da Virgem Mãe de Deus


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MARIA: DISCÍPULA E MESTRA

A teologia católica professa: Maria não foi estigmatizada pela maldade humana, porque foi imaculada desde sua concepção. Por isso, seus devotos repetem com frequência: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. Foi a única exceção entre todas as criaturas humanas, em vista de sua prerrogativa de mãe de Deus. Por causa desse privilégio, toda a sua história é uma caminhada ascendente em direção ao que Jesus estabelecera como medida de crescimento para seus seguidores: “Sede perfeitos como o Pai celestial é perfeito”.

Nessa perspectiva, Maria absorveu as lições de Jesus, guardando tudo em seu coração, como está registrado em Lc 2,51. Sua grande sabedoria consistiu em escutar sempre o Filho e reconhecer nele o Mestre capaz de levá-la a descobrir a verdade, num percurso de fé e esperança, de coerência e humildade. Assim como é comum o bom discípulo tornar-se um mestre abalizado, Maria se revela uma mestra exemplar, principalmente porque aprendeu que toda sabedoria vem do Pai mediante os testemunhos do Filho. Nunca se sentiu dona da verdade e, quando aconselha os empregados das bodas de Caná, não lhes dá nenhuma ordem direta, mas pede que obedeçam à orientação de Jesus: “Façam tudo o que ele lhes disser”.

Num mundo de muita autossuficiência, envaidecido por seus êxitos, é possível que o processo de aprendizagem venha manchado pelas nódoas do orgulho e da vaidade: alunos não admitem suas limitações e os mestres expõem suas lições como donos da verdade. Que, a exemplo de Maria, cada cristão seja um discípulo simples e humilde para atender à sua vocação de evangelizador.

Dom Geraldo Majella Agnelo
Cardeal Arcebispo de Salvador

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Verbos Marianos

01 – Amar

Maria com amor de complacência pela sua beleza, com amor de reconhecimento pela sua bondade. – Ama-a com o coração, ama-a com as obras. – Ama-a como Jesus a amou, com ternura, ama-a com Jesus, com perseverança, ama-a por Jesus, para agradá-Io. Ama-a em lugar de Jesus. – Ama-a sacrificando-te por Ela, e esforçando-te por conquistar corações através do apostolado.

02 – Calar

CALAR como Maria e por amor de Maria. O silêncio é uma grande virtude, ou melhor, é um conjunto de virtudes.

Calar de si é humildade.

Calar os defeitos alheios é caridade.

Calar palavras inúteis é penitência.

Calar nas cruzes é heroismo.

03 – Consagrar-se

CONSAGRAR-SE a Maria sinceramente e não só com palavras – inteiramente, sem reservas nem de tempo, nem de lugar, nem de coisa alguma – irrevogavelmente, sem retomar ou lastimar a doação feita. Consagra-te a Ela para sempre: ama-a como ilha, serve-a como escrava de amor, honra-a como uma súdita.

04 – Consolar

CONSOLAR Maria. Todo louvor de um filho resume-se nestas palavras; é a consolação de sua mãe) Consolar Maria é para ti um dever, porque Maria sofreu por tua causa, por tua culpa, por teu amor. Não olvides as dores de tua Mãe, se quiseres que Ela console as tuas) Enxuga as lágrimas de Maria chorando os teus pecados, compadecendo-te das dores de Jesus, rezando pelos pecadores, sendo fiel à prática dos primeiros sábados e à reza cotidiana do terço.

05 – Dar-se

DAR-SE a Maria como Jesus. Dar-lhe o corpo com a pureza e com a resignação nas doenças e na morte; os sentidos com a temperança e a mortificação; a alma conservando-a livre do pecado mortal; a mente pensando freqüentemente nela; a vontade com a obediência; o coração com o amor; os bens temporais, renunciando generosamente às coisas supérfluas; os bens espirituais para que Ela os aplique na conversão dos pecadores e livre as almas do purgatório. Entreguemo-nos a Maria para que Maria se dê a nós.

06 – Deixar-se guiar

DEIXAR-SE GUIAR por Maria. Em toda parte por onde fores tem sempre na mente, no coração e nos lábios o nome de Maria. Seja como guia no teu caminho a oração: ó Jesus, ó Maria, permanecei sempre comigo para guiar-me em todo lugar, para defender-me em todo tempo.

07 – Deliciar-se

DELlCIAR-SE em Maria, ou seja: 1) saborear a doçura do seu Santíssimo Nome pronunciando-o com amor, escrevendo-o com freqüência, honrando-o com uma leve inclinação da cabeça; 2) soleniza, o quanto possível, as suas festas; 3) esparga no decorrer de tua vida as suas práticas, especialmente a Ave Maria; 4) lê os livros que falam de Maria e ouve os sermões em sua honra. Procura ter os gostos de Maria que são os mesmo de Jesus: não só aceita, mas também ama a pobreza, a humildade e a mortificação. Poucos são os que possuem este grandioso sinal de predestinação! És um dentre esses poucos?

08 – Dirigir-se

DIRIGIR-SE a Maria. Como Jesus ela te diz: Vem a mim! Ouve o seu doce convite. Quem é que te chama? É Maria, tua Mãe, que te espera de braços abertos. Quem quer que sejas, ainda que miserável, vai a Maria; qualquer seja o mal que tenhas feito: ainda que a tenhas esquecido, ainda que a tenhas contristado com o pecado, ainda assim o convite dirige-se especialmente a ti. Não deixes que Maria espere por ti, mas atira-te a seus pés. Ela te levantará, te aconselhará, te estreitará em seus braços: precisas dela. DIRIGIR-SE a Maria. Ouve a sua atraente promessa: Eu te confortarei. Se estás perturbado pela dúvida, Eu te iluminarei; se sentes o coração contaminado por alguma paixão, eu te purificarei; se a tua vontade é vacilante, eu te fortificarei; se estiveres enfermo, eu te curarei. Vem, confia em mim; toma o terço entre as tuas mãos e encontrarás em mim a paz que em vão procuraste nos caminhos do pecado.

09 – Estudar

ESTUDAR com Maria, pedindo-lhe a verdadeira ciência; estuda como Maria para agradar a Deus e tornar-te útil ao próximo; estuda Maria: depois do estudo de Deus e de Jesus Cristo, é o estudo de Maria o mais sublime, o mais agradável e o mais santificante.

10 – Falar

FALAR com Maria na oração. Fala de Maria nas conversas. Fala como Maria, isto é, raramente, humildemente, docemente. Fala com Maria para testemunhar-lhe o teu amor; confia-lhe as tuas penas – participa-lhe as tuas alegrias – confia-lhe os teus temores – comunica-lhe as tuas esperanças.

11 – Fazer

FAZER que todos amem a Maria. Amar a Maria é alegria para o coração, paz para a alma, esperança para a vida.

– Fazer com que Ela seja amada é alegria dulcíssima, paz segura e esperança firme.

– Amar é dar-se. Fazer amar é esquecer-se. É este o sinal mais evidente do amor.

– Jesus nos diz: fazei que todos amem Maria! Maria nos diz: Fazei que todos amem Jesus!

12 – Gozar

GOZAR com Maria e como Maria. Aceita as alegrias puras e sadias da vida, quais dons de Deus; suplica a Maria que te conforte no bem e excite em ti o amor e o reconhecimento. Alegra-te com Maria comprazendo-te pela sua grandeza, pela sua beleza e bondade. Alegra-te em sua companhia; alegra-te de ser por Ela amado com predileção. Que paraíso antecipado! São essas as alegrias que procuras?

13 – Honrar

HONRAR Maria –

1)      com a mente formando-te um conceito exato dela.

2)     com o coração cujas palpitações de amor constituem o louvor mais belo e agradável.

3)     com a língua falando a todos de Maria e cantando em toda a parte os seus louvores.

4)     com a pena escrevendo sobre Nossa Senhora e difundindo os escritos marianos.

Honra-a todos os dias e todas as horas ao menos com uma Ave Maria; honra-a todos os sábados, e em todas as suas festas. – Honra-­a em casa, na igreja e no trabalho.

14 – Imitar

IMITAR Maria. Imitar alguém quer dizer reproduzir em si o modelo, copiar o tom da voz, as maneiras, o modo de agir; ter os mesmos desejos da pessoa que queremos imitar, amar aquilo que ela ama, ter os seus mesmos gostos, os mesmos desejos, os mesmos pontos de vista, os mesmos amigos. E este o sinal mais certo do verdadeiro amor a Maria. São os traços da Mãe reproduzidos no filho. E tu os possuis?

15 – Invocar

INVOCAR Maria

a)      Porque Ela é bondosa e potente;

b)    Para mostrar-lhe teu afeto;

c)     Para pedir-lhe socorro. – Invoca-a quando vacilante, para que te sustente; quando cardo,’ para que te levante; quando duvidoso, para que te aconselhe; quando doente, para que te cure; quando culpado, para que te perdoe; quando abatido, para que te anime; quando assaltado, para que te conceda vitória.

-Invoca-a sempre e em todo lugar. Invoca-a durante a vida para que obtenhas a graça de invocá-la na hora da morte

16 – Obrar

OBRAR
1) por meio de Maria – opera movido e guiado por Ela, desconfiando das tuas próprias forças e confiando no seu auxílio;

2) com Maria – opera na sua presença – com seu auxílio – à sua imitação;

3) por Maria – opera pelo amor, pela honra, pelos interesses e pela glória de Maria.

17 – Olhar

OLHAR para Maria não só com os olhos corporais, mas sobretudo com os da mente. ­Contempla-a nas suas imagens, porém, contempla-a ainda mais naquela imagem que o teu amor por ela formou na tua alma. ­Olha-a frequentemente, atentamente, com fé, com ternura, para estudá-la, admirá-la, invocá-la, imitá-la e para sentires repouso e consolação. Olha-a nos perigos, nas tentações; olha-a na vida e na morte a fim de que possas contemplá-la eternamente no céu. Contemplar Maria é repouso na fadiga, alegria na tristeza; sentir-se amado por Maria é um paraíso antecipado

18 – Ouvir

OUVIR Maria: Vinde filhos, ouvi-me!

a) É a palavra de Mãe que consola e conforta: “Não temas, eu estarei contigo”(N. Senhora a S. Labouré).

b) E a palavra de Mestra que instrui, adverte, corrige, e também amorosamente castiga.

c) ‘É a palavra de Rainha que te chama à prática da lei de Deus: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

d) Maria te fala por meio da Igreja, dos Superiores, das inspirações, das aparições. Ouve Maria e Maria te ouvirá. Satisfaz seus desejos e Ela satisfará os teus.

19 – Pensar

PENSAR em Maria. O pensamento de Maria purifica, conforta, consola, encoraja, santifica. Pensa em Maria sempre e em toda parte para admirá-la, agradecê-la, manifestar-lhe o teu amor e invocar a sua proteção. Pensa em Maria e Maria pensará em ti.

20 – Recitar

RECITAR o Rosário. Este é um livro divino escrito com o sangue de Cristo e com as lágrimas de Maria. – É um programa de vida cristã feito de alegrias e de dores, que devemos partilhar com Maria, para merecermos a glória do céu. É uma arma de defesa, é um instrumento de conquista. ­Leva contigo o terço como penhor da proteção de Maria, recita-o todos os dias, como sinal de fidelidade e o terço transformar-se-á para ti numa chuva de graças, numa fonte de luz e de virtudes.

21- Recrar-se

RECREAR-SE com Maria. Aceita reconhecido, os divertimentos que te são proporcionados. Desfruta-os com discrição para que te tornes mais apto ao trabalho. Santifica-os com a oração e fá-los frutificar no teu Apostolado.

22- Refugiar-se

REFUGIAR-SE em Maria. O alpinista assaltado pela tormenta, o navegante na tempestade, o soldado nas incursões inimigas sabem o que seja um refúgio. Contra as tempestades das paixões e os assaltos do demônio, não há refúgio mais seguro que o seio de Maria. Quem nos perigos invoca Maria e, confiante, procura refúgio sob o seu manto, está seguro, e. ninguém o poderá abalar. Seja Maria o teu refúgio sempre e em toda parte, e serás salvo.

23 – Repousar

REPOUSAR espiritualmente sobre o coração de Maria, como o Menino Jesus o fez. Repousa à noite, sob seu olhar materno, após teres recitado as três Ave Marias e implorado sua benção. Repousa acariciado pelo seu sorriso, ligado pelo seu rosário.

24 – Rezar

REZAR com Maria. Une as tuas pobres orações às suas onipotentes e fervorosas súplicas. Reza com Maria, esforçando-te por imitá-la na fé, na humildade e na confiança. Implora Maria Santíssima que faça suas as tuas súplicas e as apresente a Jesus, que não sabe negar nada a sua Mãe.

25 – Saudar

SAUDAR Maria logo que acordares, ao toque das Ave Marias, entrando e saindo de casa ou da igreja.

– Saúda o seu nome, suas imagens, seus altares.

– Saúda-a com o Arcanjo S. Gabriel, com Santa Isabel e especialmente com Jesus.

“Quando rezas a Ave Maria, o céu se alegra, a terra sorri, Satanás foge, o mundo se aniquila, a tristeza desvanece, a alma se alegra e o coração fica enternecido.”

26 – Servir

SERVIR a Maria. O titulo de servo completa o de filho, o servir assegura a sinceridade do amor.

– Servir significa dar e não receber, sacrificar-se e não pretender ser o objeto dos sacrifícios de outrem. Sê como a Virgem Maria desejava ser: a escrava da Mãe de Deus.

– É preciso portanto amar e servir: servir amando e amar servindo.

Servir a Maria significa por ao seu serviço todo o teu ser: a tua alma e o teu corpo: a tua inteligência e a tua vontade, tuas mãos, teus pés, tua língua

– tudo o que tens; saúde, capacidades, engenho, tempo, bens materiais e bens espirituais

– tudo o que sabes: palavras, escritos

– tudo o que podes: conhecimentos, poder, influências, amizades.

27 – Sofrer

SOFRER com Maria, procurando nela alívio e conforto – sofre como Maria, em amoroso silêncio, por amor de Deus, para assemelhar-te a Jesus, para converter os pecadores – sofre por amor de Maria que sofreu antes de ti, mais que tu, por teu amor e por tua culpa.

28 – Temer

TEMER desgostar a Maria, desmerecer suas predileções; não ser fiel à graça, eis o temor filial dos santos. Maria estará contente comigo? Perdoar-me-á por tê-la feito chorar? A sua bondade te tranqüilize pelo passado, mas não deixes de amá-la sempre mais para o futuro. Quando se trata de Nossa Senhora, jamais digas: basta!

 29 – Trabalhar

TRABALHAR com Maria e por amor de Maria. Trabalha em sua presença, toma-a como teu Modelo, considera o teu trabalho como um preceito de Maria, e para obter melhor êxito, confia não na tua habilidade, mas no seu auxilio. Fazendo assim trabalharás melhor cansar-te-ás menos, terás merecimentos maiores.

30 – Viver

VIVER com Maria: desperta com Maria, reza com Maria, alimenta-te com Maria, caminha com Maria, alegra-te com Maria, chora com Maria, descansa com Maria. Com Maria recebe Jesus na comunhão, com Maria assiste à Missa, com Maria suporta o próximo, com Maria socorre os pobres, por amor a Maria perdoa a quem te ofendeu.

Eis um segredo de santidade e de felicidade.

Fonte: Movimento Rosário Perpétuo

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Ninguém como Maria

A treze de maio, na cova da Iria… Mês de maio, mês de Maria, a “Mulher bendita”.

“Bendita sois vós entre as mulheres”: não é assim que dizemos ao rezar a Ave-Maria? Gabriel saudou Maria com estas palavras: “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo.” (Lucas 1,28). Quem pode ser mais bendita do que essa mulher, se o próprio Deus a saúda assim?

Também Isabel, prima de Maria, chamou-a de “bendita”. Logo após a anunciação do anjo, Maria foi às pressas às montanhas de Judá para ajudar sua prima Isabel que estava para dar à luz um menino – João Batista – que seria o precursor de Jesus. Ao ver Maria, Isabel, iluminada pelo Espírito Santo, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!… Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido.” (Lucas 1,42.45).

Certo dia, Jesus estava cercado de pessoas e falava ao povo que pendia de seus lábios. E eis que uma mulher, encantada com a sabedoria de Jesus, disse: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram.” (Lucas 11,27). Ela queria dizer: “Jesus, tua Mãe é bendita, é abençoada por Deus”. Como respondeu Jesus? “Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lucas 11,28).

Terá Jesus depreciado sua Mãe? Não, pelo contrário. Jesus fez de Maria o maior elogio que podia fazer, porque não existiu ninguém no mundo tão atento à Palavra de Deus e que tão bem cumpriu a vontade do Pai como a Mãe de Jesus. Assim, Maria é duplamente bendita: por ser a Mãe de Jesus e por ser a mulher atenta à Palavra e sua servidora.

Maria é, na verdade, uma mulher bendita, a mais bendita. Qual mulher, como ela, foi preservada do pecado original em previsão dos merecimentos da paixão e morte de seu Filho na cruz? Qual mulher, como ela, foi cheia de Graça, acolheu em si o Espírito Santo, esteve mais próxima de Deus e de Jesus, foi mais atenta à Palavra de Deus, mais disponível ao serviço de seus irmãos e irmãs? Qual mulher, como ela, foi mais cheia de fé, esperança e caridade, sofreu ao pé da cruz de seu Filho por amor a todos nós, foi assunta em corpo e alma aos céus, está, no céu, mais próxima de Deus e pode interceder melhor por nós, seus filhos e filhas?

Não há mulher como Maria. Ela é realmente a Mulher bendita! Não esqueça, porém, que a bem-aventurança de Maria está na sua grande fé. Fé que a levou até o topo do Calvário, padecendo, em seu coração, a mesma paixão do seu Filho na cruz. De fato, a Senhora da Piedade é representada ao pé da cruz, com o Filho Jesus morto nos braços. A cruz fez parte da vida de Jesus e de Maria.

A sombra da cruz projetou-se sobre Maria e Jesus desde o momento em que ele foi concebido. Apenas se tornou Mãe, Maria sofreu por não saber como fazer compreender a José que estava grávida por obra do Espírito Santo e não de um homem. Prestes a dar à luz, enfrentou dura viagem até Belém para fazer o recenseamento determinado pelo imperador romano. Em Belém não encontrou acolhida na casa de ninguém, viu-se obrigada a refugiar-se numa gruta e ali, entre animais, dar à luz seu Filho e dever recliná-lo numa manjedoura.

Quando, com José, Maria se apresentou no Templo de Jerusalém para a purificação, Simeão anunciou um futuro sombrio para ela e seu Filho e acrescentou: “Uma espada traspassará tua alma!” (Lc 2,35). Em seguida, foi forçada a fugir para o Egito a fim de escapar de Herodes que queria matar-lhe o Filho. Viveu no exílio, em terra estranha, entre gente estranha, falando língua estranha. Mais tarde sofreu a dor de perder seu Filho no templo.

Um dia, Maria chorou ao ver Jesus deixar a casa paterna – e a ela, sua mãe – para dedicar-se ao anúncio do Evangelho. Durante o ministério de Jesus, Maria viu seu Filho incompreendido, perseguido, rejeitado, caluniado, por fim traído, preso, condenado iniquamente, coroado de espinhos, esbofeteado, cuspido, ridicularizado, carregado de uma cruz, nela pregado e morto. Até que, à sombra da cruz, pessoas amigas o puseram de novo em seus braços de Maria, como quando ele era criança.

A cruz de Maria, quantas cruzes! Para nós também, que ainda estamos a caminho do Pai, é impossível viver sem cruz. Não é preciso buscá-la, ela aparece por si, faz parte da vida. Lembre-se das palavras de São Paulo: “Completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo.” (Colossenses 1,24). Enquanto existir uma só pessoa no mundo, a cruz estarAá sempre a seu lado, e Cristo continuará crucificado nos que sofrem, que vão completando o que falta a seu sofrimento.

Na cruz esteve a salvação de Maria e está também a nossa salvação.

Por
Dom Hilário Moser, SDB
Bispo emérito da Diocese de Tubarão (SC). Doutor em Teologia Dogmática pela Pontificia