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Os últimos Sacramentos

São comovedoras as páginas em que a Irmã Lúcia recorda os últimos dias de seu primo nesta terra. Nas vésperas de morrer, Francisco lhe disse:

– Olha! Estou muito mal. Agora me falta pouco para ir para o Céu.

– Então não se esqueça lá de pedir muito pelos pecadores, pelo Santo Padre, por mim e pela Jacinta.

– Sim, vou pedir. Mas olha: é melhor pedir essas coisas à Jacinta, pois eu tenho medo de me esquecer delas quando vir Nosso Senhor! E, depois, quero antes consolá-Lo.

Dali a poucos dias, mandou chamar a prima às pressas, pois estava se sentindo pior, e queria lhe dizer algo de muito importante. Quando Lúcia chegou, pediu que a mãe e os irmãos saíssem do quarto, pois era segredo o que iam conversar. Ao ficarem sozinhos, disse-lhe:

– É que vou me confessar para comungar, e morrer depois. Queria que me dissesse se me viu fazer algum pecado, e que fosse perguntar à Jacinta se ela me viu fazer algum.

O bom pastorinho desejava lembrar-se de todas as faltas que cometera, para estar com a alma inteiramente purificada e disposta a receber a visita de Jesus Sacramentado. Lúcia lhe recordou algumas desobediências à mãe, e Jacinta, certas travessuras e um “tostão roubado ao pai, para comprar o realejo do José Marto da Casa Velha”…
Ao ouvir este recado da irmã, respondeu:

– Já confessei esses, mas vou voltar a confessá-los. Talvez seja por causa destes pecados que eu fiz que Nosso Senhor está tão triste! Mas eu, ainda que não morresse, nunca mais os tornaria a fazer. Agora eu estou arrependido. – E, elevando as mãos postas, repetiu a oração: – Ó meu Jesus! Perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.

No dia seguinte, depois de se confessar, recebeu a Sagrada Comunhão, que o inundou de alegria! Era o momento de maior felicidade na sua vida.

– Hoje sou mais feliz do que você – dizia ele a Jacinta – , porque tenho dentro do meu peito a Jesus escondido. Eu vou para o Céu, mas lá vou pedir muito a Nosso Senhor e a Nossa Senhora que as levem também para lá depressa.

Os três pastorinhos passaram juntos todo esse dia, no quarto de Francisco. Como este já não podia rezar, pediu às meninas que recitassem o Terço por ele. Depois, disse a Lúcia:

– Com certeza, no Céu vou ter muitas saudades de você! Quem dera que Nossa Senhora a levasse também para lá em breve!

– Não vai ter, não. Imagine! Ao pé de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, que são tão bons!

– Pois é! Talvez nem me lembrarei…

Quando se fez tarde, chegou o momento de Lú­cia se despedir do pequeno companheiro de tantas e tão extraordinárias horas.

– Francisco! Adeus. Se você for para o Céu esta noite, não se esqueça lá de mim, ouviu?!

– Não a esquecerei, não. Fique descansada.

E, agarrando a mão direita da prima, apertou-a com força por um bom tempo, olhando para ela com as lágrimas nos olhos. Lúcia, também com as lágrimas a lhe correrem pelas faces, perguntou:

– Quer mais alguma coisa?

– Não! – respondeu-lhe com voz sumida.

Como a cena estava se tornando por demais comovedora, a mãe de Francisco mandou Lúcia e Jacinta saírem do quarto. Na porta, a prima se voltou uma última vez, para se despedir do pastorinho:

– Então, adeus, Francisco! Até o Céu. Adeus até o Céu!…

Quando Lúcia e Jacinta saíram do quarto, ouviram os sinos da igreja paroquial tocarem. Olha-ram uma para a outra: alguém mais morrera com a gripe espanhola, e elas se perguntavam se Francisco não seria o próximo.

Por volta das seis horas da manhã seguinte, Fran¬cisco acordou de um profundo sono. Ao seu lado já se encontrava Dona Olímpia, sua mãe, sempre a velar sobre o filho querido. Este sentou-se na cama, apontou para a porta e disse com os olhos a brilhar:

– Olhe mãe! Olhe que bela luz!

– Que luz, filho?

– Lá, perto da porta. É tão bela!

Mas Dona Olímpia nada pôde ver. Ajudou-o a recostar-se na cama e saiu do quarto, no mesmo instante em que entrava a madrinha de Francisco. Ele a cumprimentou carinhosamente, estendendo-lhe os braços e dizendo:

– De todo o coração, desejo lhe pedir perdão pelos incômodos que lhe causei, madrinha!

Ela o acariciou e lhe concedeu gentilmente o que pedia. Sentou-se ao seu lado, aconselhando-o a ficar em silêncio.

– É o único modo de se tornar forte novamente – disse-lhe.

Mas, enquanto falava, alguma coisa na face de Francisco a atraía. Havia nela tanta paz, tanta serenidade, tanta luz…

Era o dia 4 de abril de 1919. Nossa Senhora cumprira o prometido: Francisco já estava no Céu.

(Livro Jacinta e Francisco Prediletos de Maria – Monsenhor João Clá)

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Graças obtidas por Jacinta

Era de fato um pequeno anjo nesta terra, para o qual se voltavam os necessitados, na esperança de que sua intercessão lhes alcançasse do Céu uma graça, um socorro, uma misericórdia.

 

 

Certo dia, passeava ela pelo caminho de Aljustrel quando veio ao seu encontro uma pobre mulher a qual, chorando, ajoelhou-se diante dela, pedindo-lhe que lhe obtivesse de Nossa Senhora a cura de uma terrível doença. A pastorinha, ao ver à sua frente uma mulher de joelhos, afligiu-se e pegou-lhe nas mãos trêmulas para a levantar. Mas, vendo que não era capaz, ajoelhou-se também e rezou com ela três Ave-Marias. Depois, pediu-lhe que se levantasse, que Nossa Senhora havia de curá-la. E não deixou de rezar todos os dias por ela, até que, passado algum tempo, a mulher tornou a aparecer para agradecer à Santíssima Virgem a sua cura.

Outra vez, veio procurá-la um soldado que chorava como uma criança. Tinha recebido ordem de partir para a guerra e, se fosse, deixaria a sua mulher doente, de cama, e três filhinhos. Ele pedia, ou a cura da mulher, ou a revogação da ordem. Jacinta convidou-o a rezar com ela o Terço. Depois disse-lhe:

– Não chore. Nossa Senhora é tão boa! Com certeza vai lhe dar a graça que pede!

Depois disso, não se esqueceu mais do seu soldado, rezando todos os dias uma Ave-Maria por ele. Passados alguns meses, o soldado aparece com sua esposa e seus três filhinhos, para agradecer as duas graças recebidas. Devido a uma febre que tivera na véspera de partir, se vira livre do serviço militar, e sua esposa “tinha sido curada por milagre de Nossa Senhora”…

Fato mais belo é a conversão de uma pecadora, tocada pelo exemplo de Fé e virtude dado pela pequena Jacinta. Essa pobre mulher se acostumara a insultar os três pastorinhos, sempre que os encontrava. Um dia, quis também agredi-los. Ao se afastarem dela, Jacinta disse a Lúcia:

– Temos que pedir a Nossa Senhora e oferecer-Lhe sacrifícios pela conversão desta mulher. Diz tantos pecados que, se não se confessar, vai para o Inferno.

Dali a alguns dias, brincavam e corriam em frente à porta da casa dessa mulher quando, de repente, Jacinta pára e pergunta à prima:

– Olha! É amanhã que vamos ver Nossa Senhora?

– É sim.

– Então não brinquemos mais. Façamos este sacrifício pela conversão dos pecadores.

E, sem pensar que pudesse estar sendo vista, levantou as mãozinhas e os olhos ao Céu, e fez o oferecimento.

Mal sabia ela que uma pessoa a observava, escondida atrás da porta: era a tal mulher. Esta, pouco depois, procurava a mãe de Lúcia, dizendo-lhe que a tinha impressionado tanto aquela ação de Jacinta, que não precisava de outra prova para crer na realidade das aparições. Dali em diante, não só deixou de insultar os pastorinhos, como lhes pedia continuamente que rogassem por ela a Nossa Senhora, para que lhe perdoasse os seus pecados.

Assim, ainda em vida, Jacinta ia alcançando o que tanto desejava, aquilo por que tanto ardia seu coração inocente, isto é, a conversão dos pecadores.

(Livro Jacinta e Francisco Prediletos de Maria – Monsenhor João Clá)

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E Nossa Senhora voltou!

Era 13 de agosto de 1917, dia marcado para mais uma aparição daquela “linda Senhora”. Os três pastorinhos, entretanto, suportaram heroicamente terrível provação.

Toda manhã, logo ao nascer do sol, Lúcia dos Santos e seus primos Francisco e Jacinta Marto saíam a pastorear as ovelhas na ensolarada Serra. Até que um dia… lhes apareceu uma “Senhora toda vestida de branco”, que alterou sua tranqüila rotina.

Embora, exteriormente, pouca coisa tenha mudado na vida dessas três crianças, interiormente suas almas sofreram profunda transformação: seus pensamentos refletiam o pedido urgente de Nossa Senhora por orações, penitência e conversão.

Sacrifícios pela salvação dos pecadores

Jacinta, que era a personificação da felicidade e da vitalidade, parava com freqüência no meio de um jogo e, com olhar sério, dizia: – São tantas pessoas caindo no inferno!!! São tantas pessoas no inferno!!! Sua prima mais velha procurava tranqüilizá-la: – Jacinta, não tenha medo, pois você vai para o Céu.

– Sim, sim, eu vou, mas gostaria que todas essas pessoas também fossem.

E Francisco, que se tornara muito contemplativo, assim manifestava o desejo profundo de seu coração: – Tenho pensado muito em Deus, que está tão triste por causa de tantos pecados! Se eu pudesse dar-Lhe alguma alegria! Lúcia, mais dotada de senso prático, fez uma proposta:

– Olhem para este velho pedaço de corda; é pesado e machuca. Talvez pudéssemos usá-lo em nossas cinturas como sacrifício! Sua tranqüila existência de crianças do campo passou a ser incomodada por interpelações da parte de incrédulos, e mesmo pessoas de Fé as importunavam com perguntas disparatadas sobre as aparições… Elas sentiam-se molestadas por esses interrogatórios, mas, após refletirem um pouco, perceberam que poderiam também oferecer esses difíceis encontros como sacrifício pelos pobres pecadores.

Com isso, ficou de certa forma resolvido o problema de seu desejo de fazer penitência.

13 de agosto: uma surpresa

Na casa de Francisco e Jacinta, os pequenos videntes se preparavam para fazer sua caminhada à Cova da Iria, onde Nossa Senhora havia aparecido nos três meses anteriores sobre a pequena azinheira.

De repente, notaram ali a presença não-desejada do Administrador da cidade de Ourém, Artur de Oliveira Santos, um corpulento e insolente latoeiro que havia negligenciado seus deveres religiosos para fazer carreira política e alinhava-se com a corrente anti-católica em Portugal.

Lúcia já o conhecia.

Poucos dias antes, ele a tinha intimado para um interrogatório em tom amedrontador.

Prometer-lhe-ia ela não retornar à Cova da Iria? Contar-lhe-ia o segredo que Nossa Senhora lhe revelara em 13 de julho? Obtendo para cada pergunta apenas um categórico “Não!”, ele a mandou embora, fazendo-lhe uma ameaça: “Se não me revelares o segredo, condeno-te à morte!” Agora estava ele ali de novo, já dentro da casa.

Marto, pai dos dois pequenos, estava trabalhando no campo e foi chamado às pressas. Ao chegar, deparou- se com o imprevisto visitante: – Ah, então, é o Senhor Administrador? – Sim, sou eu; também quero testemunhar esses milagres.
Em tom insinuante, acrescentou o latoeiro: – Vamos todos juntos… Levarei os pequeninos comigo na carroça. Ver para crer, como São Tomé! A propósito, onde estão as crianças? Estamos atrasados, é melhor chamá-las.

Elas recusaram o “amável” convite.

Mas o Administrador murmurou algo sobre passar antes pela casa do Pároco de Fátima, que também tinha algumas perguntas a fazer aos videntes.

Atônitos, estes se viram colocados na carroça que logo desapareceu levantando uma nuvem de poeira. Passaram primeiro na casa do Pároco e, ao retornarem à carroça, viram Artur chicotear afoito os cavalos, mas tomando um rumo inesperado.

– O senhor está indo para o lado errado! – gritou Lúcia.

Ele sabia exatamente para onde ia, e tomou a estrada de Ourém. Era um seqüestro! Lá chegando, reteve os três pastorinhos em sua própria residência.

Revelar o segredo, nunca!

Estes estavam angustiados, principalmente por se lembrarem de que naquela hora deveriam encontrar-se com Nossa Senhora na Cova da Iria.

Francisco foi o primeiro a recobrar-se.

“Talvez Nossa Senhora vá nos aparecer aqui” – disse esperançoso. Nada aconteceu. A hora do almoço passara.

Jacinta rompeu em lágrimas quando a última esperança de aparição de Nossa Senhora os abandonou.

– Nossos pais jamais nos verão novamente! Não saberão onde estamos – lamentou-se.

– Não chore, Jacinta.

Vamos oferecer isso a Jesus pelas almas dos pobres pecadores, tal como Nossa Senhora nos pediu – disse- lhe o irmão.

Elevando os olhos ao céu, ele fez seu oferecimento: “Meu Jesus, isto é por seu amor e pela conversão dos pecadores!” – E pelo Santo Padre também – soluçou Jacinta.

Passaram, assim, um dia de incertezas e sofrimento.

Na manhã seguinte o Administrador conduziu as crianças à prefeitura, e foi direto ao assunto.

Após longo interrogatório – onde elas reafirmaram que viram a bela Senhora e que Ela lhes havia revelado um segredo – ele passou a ameaçá-las… com prisão perpétua… tortura e morte! Mesmo assim, elas se recusaram a revelar o segredo.

Na prisão, com os criminosos

O Administrador comunicou-lhes então que o tratamento doce havia acabado, e, chamando os guardas, mandou levá-las à cadeia. Estas inocentes crianças, naturalmente, nunca tinham visto o interior de um cárcere.

E este realmente era terrível: frio, úmido e repleto de todo tipo de criminosos.

– Quero ver minha mãe! – queixou- se Jacinta, quando acabou de entrar.

Francisco a encorajou: – Então você não quer oferecer este sacrifício pela conversão dos pecadores, pelo Santo Padre e em reparação pelos pecados contra o Imaculado Coração de Maria? – Sim, eu quero, eu quero.

Um dos detentos deu-lhes um conselho: contem ao Administrador o segredo, já que ele quer tanto conhecê-lo! – Prefiro morrer! – respondeu Jacinta energicamente.

Os pastorinhos decidiram então aguardar pelo seu destino rezando o Terço. Jacinta tirou de seu pescoço uma medalha e pediu a um preso que a pendurasse em um prego na parede.

Alguns dos detentos, que possivelmente há muito já se haviam esquecido da religião, se juntaram vacilantes às orações dos pequeninos.

Francisco se aproximou de um deles e calmamente lhe disse que, se quisesse rezar, seria mais apropriado retirar seu gorro. O homem assim o fez, arremessando o gorro no chão. Francisco o apanhou e colocou sobre um banco, em cima do seu próprio gorro.

Com consciências tranqüilas e paz de alma, as crianças se esqueceram por algum tempo do perigo em que se encontravam. Um dos encarcerados tinha um pobre instrumento musical, e assim eles entoaram juntos alguns cânticos folclóricos, que soavam no mínimo incomuns, naquele inóspito lugar.

O caldeirão de azeite fervente

Esta cândida cena foi abruptamente interrompida pelo abrir de porta e a ordem seca de um policial: “Sigam-me!” Pouco depois elas se encontraram uma vez mais diante do Administrador.

Este as intimou de novo a lhe revelarem o segredo, e obteve como resposta apenas o silêncio. Pronunciou então terrível “sentença”: – Pois bem, eu tentei salvá-los, mas, já que vocês não querem obedecer ao governo, serão lançados vivos no caldeirão de azeite fervendo.

Toda a fisionomia e modos do brutal latoeiro-administrador eram os de um homem determinado a cumprir a ameaça. Podemos imaginar a conversa que se seguiu: – O óleo já está fervendo? – perguntou a um dos guardas.

– Sim, senhor Administrador, está.

– Pegue esta, então, e jogue-a no caldeirão.

Isto dizendo, apontou para Jacinta, que estava decididamente disposta ao martírio. Lúcia começou a rezar com fervor.

Francisco implorou a Nossa Senhora que desse a Jacinta coragem para morrer sem trair o segredo.

Nenhum deles tinha dúvida de estar em sua última hora de vida. Algum tempo depois retornou o policial, anunciando:

– Um já está completamente cozido.

O próximo a ir foi Francisco, deixando na sala somente Lúcia e o Administrador.

– Depois dele será você… É melhor contar-me o segredo.

– Prefiro morrer também.

– Que seja então.

Mais algum tempo de angústia e voltou o mesmo policial, tomou Lúcia pelo braço e a conduziu por um corredor até uma outra sala… onde Jacinta e Francisco se encontravam sãos e salvos. Nem precisamos dizer com que alegria e surpresa eles se entreolharam.

Sim, Nossa Senhora voltou!

Após reter os pastorinhos por três dias, fosse em sua residência, fosse na prefeitura ou na cadeia pública, o Administrador não teve remédio senão admitir a derrota e enviá-los de volta a Fátima. Era 15 de agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora.

Naquele mesmo dia 15, tendo ido Lúcia, com Francisco e um outro primo, apascentar as ovelhas, ela percebeu uma súbita mudança na atmosfera, o sinal que geralmente precedia as visões sobrenaturais. Lúcia mandou o outro primo ir rapidamente chamar Jacinta e, alguns minutos depois, fulgurou no céu um relâmpago, exatamente como acontecera antes das outras vindas de Nossa Senhora. Jacinta veio correndo ao encontro deles, esbaforida.

De repente estava de novo diante deles aquela carinhosa figura! Sim, Nossa Senhora tinha voltado…

(Elizabeth MacDonald – Revista Arautos do Evangelho, Ag/2005, n. 44, p. 38 a 40)

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A intercessão de Nossa Senhora na hora da morte

 

“Rogai por nós pecadores, agora… e na hora de nossa morte”. Qual a razão de tanta insistência em pedir que Maria nos assista no fim de nossa vida?

 

Na oração que tantas vezes dirigimos a Nossa Senhora há duas partes distintas, as quais convém analisar: uma diz respeito ao presente, a outra ao futuro. A primeira muda continuamente no que diz respeito ao tema do pedido; a segunda não varia, roga sempre a mesma graça.

Rogai por nós agora é o pedido da hora presente, cujo objeto será diferente conforme nossas necessidades.

Por vezes será a solicitação de uma graça protetora, outras vezes de consolo, às vezes de alívio e de cura de alguma enfermidade.

Mas, rogai por nós na hora de nossa morte diz respeito ao futuro, e é sempre o mesmo pedido que fizemos ontem, fazemos hoje, repetido 200 vezes no Rosário, e voltaremos a fazer amanhã, se Deus nos conceder um novo dia e se nele rezarmos a Saudação Angélica.

Então, por que a Santa Igreja, por meio da Ave Maria, oração quotidiana e familiar a todos os cristãos, até mesmo aos mais indiferentes, formulou este pedido: Rogai por nós na hora de nossa morte? Só pode ser por razões muito dignas de sua sabedoria; é porque na hora da morte a intercessão da Santíssima Virgem Maria nos é soberanamente necessária e em extremo eficaz.

 

Necessidade da assistência de Maria nos derradeiros momentos

Para compreender bem quão necessária é a assistência de Nossa Senhora em nossos derradeiros momentos, deve-se lembrar que a hora da morte é propriamente a hora decisiva e difícil entre todas. Nela será fixado nosso destino para toda a eternidade. Quando cai uma árvore, à direita ou à esquerda, lá onde cai, fica, bem diz o Eclesiastes (11, 3). Se cair para o lado certo, se morrermos na graça de Deus, seremos felizes para sempre; mas se cair do lado errado, se morrermos na inimizade de Deus, nosso lugar será junto aos réprobos. A hora da morte é a hora do combate supremo. Se triunfarmos do demônio, todas as nossas derrotas passadas serão reparadas, seremos vitoriosos para sempre, tomaremos lugar entre os eternos triunfadores e o Rei do Céu nos cingirá com a coroa da glória eterna.

Vejamos o bom ladrão. Sua vida estava manchada por vários crimes. Tinha sido um infame criminoso que tingiu suas mãos no sangue de irmãos; alguns instantes antes de morrer, se arrependeu, foi perdoado, seus crimes foram apagados e – qual piedoso ladrão do Céu, como é chamado -, por um instante de sincera penitência, foi compartilhar as alegrias do Paraíso com os patriarcas e os profetas que passaram a vida inteira na prática de boas obras.

 

Se, pelo contrário, no último momento, nosso inimigo, o demônio, triunfar sobre nós, nossas vitórias já adquiridas, por mais numerosas ou retumbantes que tenham sido, nos serão inúteis. Nossas boas obras, embora tivéssemos vivido como justos durante longos anos, estariam perdidas para sempre e se volatilizariam como simples nuvem dispersa pelo vento. Ficaríamos como navegadores que, após triunfarem sobre várias tempestades em alto mar, vêm soçobrar no próprio porto de chegada.

 

Uma trágica defecção de última hora

Lembremos-nos da história dos 40 mártires de Sebaste. Eram 40 soldados que, juntos, nas tropas do exército romano, travaram inúmeros combates nesta terra, além de ganharem combates no Céu, pela prática das virtudes cristãs, sob o estandarte de Jesus Cristo. Para defenderem a Religião, compareceram diante do tribunal de seus perseguidores, confessando valentemente sua fé, sem se deixarem intimidar por ameaças nem seduzir por promessas. Foram todos jogados no calabouço e condenados a morrer num lago gelado. Os anjos já os sobrevoavam, trazendo nas mãos as coroas destinadas a esses gloriosos atletas, quando um deles, vencido pelo frio, saiu do lago para um banho de água morna preparado com vistas à desistência de algum deles. Pouco depois ele morreu (devido à mudança brusca de temperatura), perdendo por um instante de fraqueza os frutos de uma longa vida passada no exercício das virtudes, os méritos reluzentes de sua confissão de fé e a glória de um martírio quase consumado, deixando seus companheiros imersos na incomparável dor de sua defecção.

A hora da morte é uma hora decisiva, mas é também uma hora difícil.

 

Angústias dos moribundos

Como são atrozes as angústias dos moribundos, que não tenham perdido completamente a fé, quando os remorsos da consciência, o temor do julgamento iminente e a incerteza quanto à salvação eterna se unem para enchê-los de perturbação e pavor! Os demônios redobram de raiva para agarrar essa presa que lhes escapa. Acorrem numerosos em torno da cama do doente para tentar um supremo esforço.

Pudesse ainda o moribundo reagir na plenitude de suas forças! Mas não pode! Nunca terá sido atacado com tanta violência e jamais esteve tão fraco para se defender. A deficiência do corpo provoca um desastroso contragolpe na alma. A imaginação fica de todo desordenada. É como se fosse um campo aberto que os animais selvagens – melhor seria dizer fantasmas dos mais lúgubres e dos mais espantosos – atravessam livremente em todas as direções. O espírito fica repleto de trevas, a vontade sem energia e cheia de languidez.

 

Necessidade imperiosa do auxílio de Deus na hora da morte

Como o socorro de Deus é necessário nessa hora! Quão indispensável é a graça divina para perseverar! Entretanto, a graça, sobretudo a graça da perseverança final, é um dom de Deus que não nos é dado merecer, mas podemos obter infalivelmente pelas nossas orações.

Ora, como por um privilégio todo especial de Deus, o qual quer assim honrar sua Mãe, a Santíssima Virgem é a Medianeira obrigatória por cujas mãos todos os favores do Céu devem passar, a Ela é que devemos pedir esta graça das graças.

Compreendamos então por que a Santa Igreja nos leva a pedir tantas vezes a assistência de Maria Santíssima para hora de nossa morte. Compreendamos também o motivo pelo qual ela nos incita a repetir todos os dias: Santa Maria, rogai por nós na hora de nossa morte.

 

Nessa hora, intercessão infalível de Maria Santíssima

A intercessão de Maria Santíssima nos é tão necessária quanto eficaz nessa suprema e solene circunstância. Como são felizes as almas assistidas por Maria nessa hora! Elas não podem perecer. Ainda que estejam cativas da tirania do demônio, esta boa Mãe romperá seus grilhões e lhes obterá os frutos benfazejos de uma sincera conversão, instando-as a fazerem verdadeira penitência. Lá estará Ela perto de seu leito de dores, como uma mãe à cabeceira do filho moribundo, dissipando suas angústias, acalmando suas dores, adoçando suas penas, proporcionando uma santa paciência e tomando sua defesa ante os ataques furiosos e múltiplos do espírito das trevas.

Quando chega a derradeira hora de algum devoto de Nossa Senhora, diz São Boaventura, esta boa Mãe lhe envia os espíritos angélicos que estão às suas ordens, juntamente com São Miguel, seu chefe. E Ela, que é o flagelo do inferno – como diz São João Damasceno – Ela que tem, por missão, o ódio à serpente infernal, lhe faz sentir, sobretudo quando algum de seus devotos vai abandonar este mundo, todo o seu vitorioso poder. Ela é para o demônio, nessa ocasião, terrível como um exército em ordem de batalha. Torna-se contra ele como essa torre da qual fala o Cântico dos Cânticos, onde mil escudos estão levantados com as armas dos mais valorosos.

Não, um servidor de Maria não pode perecer! – declara São Bernardo.

Não, aquele por quem Maria se dignou rezar não pode mais ter dúvida de sua salvação e de sua ida à glória do Céu! – diz Santo Agostinho.

Não, aquele pelo qual Maria rezou uma vez não perecerá! Não, quem recitou piedosamente todos os dias a Ave Maria não será abandonado na última hora! – exclama também Santo Anselmo.

Esta oração possui todas as qualidades capazes de torná-la infalivelmente vitoriosa.

Primeiro lugar, ela é santa em sua motivação. Com efeito, o que pedimos por ela? A perseverança final “na hora de nossa morte”.

Depois, ela é humilde. Por ela confessamos a Maria Santíssima nossa miséria, revestindo-nos de um título que nos convém tão bem: “pobres pecadores”.

Ela é também confiante, pois nos dirigimos à mais poderosa intercessora que possa haver, Àquela que é chamada de “Onipotência suplicante”, em vista de sua santidade proeminente e de sua dignidade incomparável de Mãe de Deus: “Santa Maria, Mãe de Deus”.

Esta oração é perseverante. Qual oração pode ser mais perseverante? Ainda que, por suposição, só rezássemos uma Ave Maria por dia, quantas vezes durante nossa vida teríamos pedido a Ela para interceder por nós na hora da morte? E como será então se rezarmos ao menos uma dezena do Rosário? Mais ainda se tomarmos o costume de rezar diariamente um terço inteiro? Será possível que Maria Santíssima, tão zelosa de nossa salvação, não nos ouça? Não! Isso é impossível! A isso se opõem as promessas, os juramentos de Jesus Cristo Nosso Senhor relativos à oração, assim como a bondade e a ternura de sua Mãe Santíssima.

Tomemos, pois, a resolução de rezar todos os dias de nossa vida, com uma nova fé, uma nova confiança e um novo cuidado, esta curta mas tão bela e eficaz oração da Ave Maria. Assim obteremos a cada dia aquelas graças particulares das quais precisamos e, sobretudo, a graça necessária no fim da vida, a maior delas, a mais importante de todas as graças, a graça da perseverança final.

 

Santo André Avelino

Segundo se narra, na hora da morte de Santo André Avelino, um grande servo de Maria, seu leito estava envolto por mais de dez mil demônios; durante sua agonia, ele teve de travar contra o inferno um combate tão terrível que deixou estupefatos todos os religiosos ali presentes. Viram seu rosto decompor-se e ficar lívido. Ele tremia em todos os seus membros, rangia os dentes, lágrimas abundantes corriam-lhe pela face, testemunhando a violência do assalto ao qual estava sujeito. O espetáculo arrancou lágrimas de todos os assistentes. Cada qual redobrava as orações e tremia por si, ao ver um santo morrer dessa maneira. Uma única coisa consolava os religiosos: o moribundo muitas vezes voltava o rosto para uma imagem da Virgem, indicando assim pedir seu socorro e lembrando- lhes ter dito várias vezes durante a vida que Maria Santíssima seria seu refúgio na hora da morte.

Afinal, aprouve a Deus pôr um término a esse combate, outorgando ao santo a mais gloriosa vitória. As agitações cessaram, o rosto do moribundo retomou sua serenidade primeira; viram- no permanecer tranqüilo, mantendo o olhar em direção à imagem, inclinar-se em sinal de reconhecimento e, em seguida, expirar docemente nos braços da Santíssima Virgem, que ele tanto invocara em vida e que vinha fazê-lo sentir sua todo-poderosa proteção naquele supremo momento.

Imitemos a devoção de Santo André Avelino e, como ele, em nossa última hora seremos assistidos e socorridos pela misericordiosíssima Rainha dos Céus.

 

(Tradução, com adaptações, de “L’Ami du Clergé” nº 39, de 23/9/1880)

Santuários Marianos

Nossa Senhora da Luz

Estimulando a fé na Europa, acudindo cativos na África ou pacificando índios ferozes na América, a invocação de Nossa Senhora da Luz é rica tanto em graças quanto em história.

Postado à entrada do grandioso Templo de Jerusalém, o velho Simeão aguardou durante toda a sua vida o momento no qual poderia ver com seus próprios olhos o Messias tão esperado. Sua fé por fim foi premiada, e no feliz dia em que pôde ter em seus braços o Divino Menino Jesus, voltou a face aos céus e proclamou agradecido: “Os meus olhos viram a vossa salvação (…) luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo Israel” (Lc 2, 30-32).

O venerável ancião falava com toda a propriedade. O Messias possuía em Si essa sobrenatural e magnífica Luz cujos raios haveriam de penetrar os confins de toda a terra, conquistando as nações, expulsando os demônios, e por fim abrindo aos homens as portas dos Céus.

E que se poderia dizer da Mulher escolhida por Deus para trazer ao mundo tal Luz? Séculos antes, Ela havia sido

anunciada pelo grande profeta Isaías: “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, cujo significado é: Deus conosco” (Is 7,14; Mt 4,16).

Sendo a portadora desta Luz de valor infinito, com muita razão os homens, nos séculos vindouros, A venerariam sob a bela invocação de Nossa Senhora da Luz. E foi sobretudo no Portugal do século XV que essa devoção floresceu e dali se difundiu para além-mar.

A protetora de um pobre cativo

Pedro Martins, simples agricultor da pequena vila portuguesa de Carnide, levava uma existência tranqüila com sua esposa. Mas eram turbulentos os tempos em que viviam. As crônicas não relatam exatamente como, mas ele teve o infortúnio de cair prisioneiro dos mouros da África.

Do ambiente de afeto de sua família, caiu na desgraçada condição de escravo, sujeito a um regime sem compaixão de trabalhos pesados, sob clima atroz e, sobretudo, privado por completo do conforto da religião cristã. Passavam-se os anos, e nenhuma esperança humana restava ao infeliz cativo. Vendo-se de tal modo desamparado pelos homens, Pedro Martins se voltou então, com mais intensidade do que nunca, para Deus.

Numa noite, isolado em sua cela, resolveu rezar com mais fervor e fé. Após horas de oração, vencido pelo sono, adormeceu. Então apareceu-lhe em sonho uma Senhora cheia de luz, a qual lhe prometeu voltar mais vezes para consolá-lo e, após sua última visita, fazê-lo voltar para Carnide. Acrescentou que, lá chegando, ele deveria procurar algo que pertencia a Ela e fora escondido perto de uma fonte. Deulhe também a incumbência de ali edificar uma capela, cuja localização exata Ela lhe indicaria por meio de uma luz.

Trinta noites consecutivas passou ele consolado pela própria Mãe de Deus! As dores sofridas durante o dia se desvaneciam pela luz e a suavidade das horas passadas aos pés de Maria. No entanto, ele continuava cativo. Ao despertar da trigésima noite, oh surpresa! De modo milagroso e inesperado, estava ele de volta em sua boa aldeia. Tomado de emoção, encontrouse com os seus entes amados, os quais muito se admiravam por vê-lo salvo.

Mas ele não se esqueceu do pedido da Virgem, e logo se pôs a procurar aquilo que, segundo a indicação d’Ela, tinha sido escondido “perto de uma fonte”. Na verdade, num local chamado Fonte do Machado, há tempos uma luz misteriosa andava aparecendo, e de toda parte vinha gente curiosa para ver tal fenômeno. Decidiu então Pedro ir à noite, acompanhado de um primo, para ali fazer a busca. Realmente, ao chegar à fonte avistaram uma luz a se mover diante deles. Seguiram-na até um matagal, e ela parou sobre umas pedras. Eles não pensaram duas vezes. Retiraram as pedras e com encanto se depararam com uma lindíssima imagem de Nossa Senhora. A notícia dessa milagrosa descoberta correu por todo o país, e naquele mesmo ano – 1463 – deu-se início à construção de uma capela, conforme fora ordenado pela Santíssima Virgem. Anos mais tarde, ela seria substituída por uma magnífica igreja.

Uma devoção floresce pelo mundo

Atravessando os mares, a devoção a Nossa Senhora da Luz estendeu-se pelo mundo inteiro, frutificando em graças prodigiosas, de modo especial nos lugares colonizados pelos portugueses. São muitos os milagres a Ela atribuídos, e não seria demasiado aqui citar mais um.

Por volta de 1650, existia num povoado de colonos do sul do Brasil uma capela dedicada à Senhora da Luz, localizada perto de um rio chamado Atuba. Seus habitantes andavam muito perplexos, pois todas as manhãs a imagem da Virgem aparecia com a face voltada para uma região de muitos pinheiros – curytiba, em idioma tupi – onde viviam os ferozes índios tingui. Resolveram então desbravar aquela área, e para lá se dirigiram, dispostos a enfrentar um eventual ataque dos indígenas.

Ao aproximarem- se, qual não foi sua surpresa quando Tindiquera, o cacique da tribo, adiantou-se sorrindo e os acolheu calorosamente. Era, sem dúvida, uma milagrosa ação pacificadora da Virgem. Tornando-se amigo dos colonos, o chefe índio não só lhes cedeu o terreno que pretendiam, mas indicoulhes o melhor lugar, fincando sua lança no solo; os colonos ali a deixaram, em sinal de respeito e amizade. Ao chegar a primavera, a lança do amistoso cacique floriu. Não eram necessários mais sinais. Ali mesmo, sob o amparo da protetora imagem, fundaram uma nova vila cujo nome, como era comum nessa época, mesclava palavras portuguesas e indígenas: Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curytiba.

Nesse mesmo local ergue-se hoje uma imponente catedral neo-gótica, testemunho da ação ao mesmo tempo pacificadora e luminosa da Mãe de Deus.

A admirável invocação de Nossa Senhora da Luz é um contínuo convite a todos nós para cada vez mais amarmos e seguirmos o seu Divino Filho, o qual de Si mesmo afirmou: “Eu sou a luz do mundo; aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12).

(Revista Arautos do Evangelho, Set/2007, n. 69, p. 24-25)

Autor: Murilo Zampieri


Santuários Marianos

A maravilhosa história da Mãe do Bom Conselho

Envolta numa luminosa nuvem, a imagem da Mãe do Bom Conselho translada-se da Albânia para a cidade de Genazzano (Itália), dando início a um ininterrupto desfilar de milagres e graças.

 

 

Nas longínquas terras da Albânia, para além do Mar Adriático, encontra-se a pequenina cidade de Scútari. Edificada em um

Hoje, festa de Nossa Senhora do Bom Conselho, a TV Arautos traz a você esta belíssima história cheia de milagres e conversões. O afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho  encontra-se na cidade de Genazzano, na Itália. Com ele um constante milagre acontece desde o século XV: está suspenso  no ar sem fixação nenhuma, afastado da parede cerca de três centímetros. Compartilhe esta história com sua família e amigos.

a colina escarpada e tendo a seus pés os rios Drina e Bojana, ela continha em seus domínios, já no século XIII, um precioso tesouro : a bela imagem de “Santa Maria de Scútari”. O Santuário que a abrigava se transformara no centro de peregrinação mais concorrido do país, e era para os albaneses um importante ponto de referência em matéria de graças e conforto espiritual.

Trata-se de uma pintura sobre fina camada de reboco, medindo 31 cm de largura por 42,5 cm de altura. Esse sagrado afresco está envolto numa penumbra de mistério e milagre: ignora-se quando e por quem foi pintado.

 

Intimidade e união de alma

Detenhamo-nos um pouco na contemplação desta maravilhosa pintura.

Ela representa a Santíssima Virgem com inefável afeto materno, amparando em seus braços o Menino Jesus, ambos encimados por um singelo arco-íris. As cores são suaves, e finos os traços dos admiráveis semblantes.

O Menino Jesus transmite a candura de uma criança e a sabedoria de quem analisa toda a obra da criação e é o Senhor do passado, do presente e do futuro. Com indizível carinho, o Divino Infante pressiona levemente sua face contra a de sua Mãe. Há entre eles uma atraente intimidade, e a união de almas bem se vê refletida na troca de olhares. Nossa Senhora, em altíssimo ato de adoração, parece estar procurando adivinhar o que se passa no interior do Filho. Ao mesmo tempo, Ela considera o fiel aflito ajoelhado a seus pés, e de algum modo o faz partícipe do celestial convívio que contemplamos neste quadro. Não será preciso dizer, basta o devoto necessitado acercar-se d’Ela para sentir operar-se em sua alma uma ação balsâmica.

 

Scanderbeg, varão Providencial

Em meados do século XIV, a Albânia passava por grandes aflições. Após ser disputada durante séculos pelos povos vizinhos, ela estava então sendo invadida pelo poderoso império turco.

Não dispondo de estrutura militar capaz de resistir ao poderoso adversário, o povo aflito rezava, confiando no auxílio dos céus. O efeito dessas orações não se fez esperar: nessa emergência, surgiu um varão de Deus, de nobre linhagem e devotíssimo de Nossa Senhora, decidido a lutar pela Padroeira e pela liberdade de seu país. Seu nome é Jorge Castriota, chamado em albanês de Scanderbeg.

À custa de imensos esforços bélicos, conseguiu ele manter a unidade e a Fé de seu povo. As crônicas da época exaltam as façanhas realizadas por ele e pelos valorosos albaneses que, estimulados por seu ardor, lutavam a seu lado.

Nos intervalos dos combates, eles ajoelhavam-se suplicantes aos pés de “Santa Maria de Scútari”, de onde saíam fortalecidos e obtinham portentosas e decisivas vitórias contra o inimigo da Fé. Aí já reluzia uma característica d’Aquela que futuramente seria conhecida em todo o mundo como a Mãe do Bom Conselho: fortalecer todos quantos, combatendo o bom combate, d’Ela se aproximam buscando alento e coragem.

Entretanto… após 23 anos de lutas, Scanderbeg é levado desta vida. A falta daquele piedoso líder era irreparável.

Todos pressentiam estar próxima a derrota. O povo encontrava-se na trágica alternativa de abandonar a pátria ou sujeitar-se à escravidão aos turcos.

 

Envolta em luminosa nuvem

Nessa perplexitante situação, a Virgem do afresco aparece em sonhos a dois dos valentes soldados de Scanderbeg, chamados Georgis e De Sclavis, ordenando-lhes que A seguissem em uma longa viagem. Ela lhes inspirava uma grande confiança, e estar ajoelhados a seus pés era para eles motivo de grande consolação.

Certa manhã, lá estando ambos em fervorosa oração, vêem o maior milagre de suas vidas.

O maravilhoso afresco se desprende da parede e, conduzido por anjos, envolto em alva e luminosa nuvem, suavemente vai se retirando do recinto. Bem podemos imaginar a reação dos bons homens! Atônitos, acompanham Nossa Senhora que avança pelos céus de Scútari. Quando se dão conta, estão às margens do Mar Adriático. Haviam percorrido trinta quilômetros sem sentir cansaço! Sempre envolta na alva nuvem, a milagrosa imagem avança mar adentro.

Perplexos, Georgis e De Sclavis não querem deixá-la por nada. Verificam, então, estupefatos e eufóricos, que sob seus pés as águas se transformam em sólidos diamantes, voltando ao estado líquido após sua passagem. Que milagre! Tal como São Pedro sobre o lago de Genezaré, estes dois homens caminham sobre o Mar Adriático, guiados pela própria “Estrela do Mar”.

Sem saber dizer durante quanto tempo andaram, nem quantos quilômetros deixaram para trás, os bons devotos vêem novas praias. Estavam na Península Itálica! E por sinal… onde está a Santa Maria de Scútari? Olham para um lado… olham para outro. Escutam falar outro idioma, sentem um ambiente tão diferente da sua Albânia…

Mas já não vêem a Senhora da luminosa nuvem. Desaparecera… Que provação! Começam então, uma busca infatigável. Onde estará Ela?

 

Petruccia, uma mulher de Fé

Nessa mesma época, na pequena cidade de Genazzano, não longe de Roma, vivia uma piedosa viúva chamada Petruccia de Nocera, já octogenária.

Senhora de muita retidão e sólida vida interior, digna terciária da ordem agostiniana, sua herança lhe bastava apenas para viver modicamente.

Era Petruccia muito devota da Mãe do Bom Conselho, venerada numa velha igreja de Genazzano. Esta piedosa senhora recebeu do Espírito Santo a seguinte revelação: “Maria Santíssima, em sua imagem de Scútari, deseja sair da Albânia”. Muito surpresa com essa comunicação sobrenatural, Petruccia assombrou-se mais ainda ao receber da própria  Santíssima Virgem expressa ordem de edificar o templo que deveria acolher o seu afresco, bem como a promessa de ser socorrida em tempo oportuno.

Começou, então, Petruccia, a reconstrução da pequena igreja. Empregou todos os seus recursos… os quais acabaram quando as paredes tinham apenas um metro de altura. E ela tornou-se alvo das zombarias e sarcasmos dos céticos habitantes da pequena cidade, que chamavam-na de louca, visionária, imprudente e antiquada. Passou confiante por esta provação, tal como Noé, de quem todos mofavam enquanto ele construía a arca.

 

“Um milagre! Um milagre!”

Era o dia 25 de abril de 1467, festa de São Marcos, padroeiro de Genazzano.

Às duas horas da tarde, Petruccia se dirige à igreja, passando pela movimentada feira na qual os vendedores ofereciam desde tecidos trazidos de Gênova e Veneza até um elixir da eterna juventude ou um “poderosíssimo” licor contra qualquer tipo de febre.

Em meio a este burburinho, o povo ouve uma melodia de rara beleza, vinda do céu. Faz-se silêncio e todos notam que aquela música provinha de uma nuvenzinha branca, tão luminosa que ofuscava os raios do próprio sol. Ela desce gradativamente e se dirige para a parede inacabada de uma capela lateral. A multidão acorre estupefata, enche o pequeno recinto e vê a nuvem desfazer-se.

Ali estava – suspenso no ar, sem nenhum suporte visível o sagrado afresco, a Senhora do Bom Conselho! “Um milagre! Um milagre!” – gritam todos. Que alegria para Petruccia, quanto consolo para Georgis e De Sclavis quando lá puderam chegar!… Estava confirmado o superior desígnio da construção iniciada. Teve início, assim, em Genazzano um longo e ininterrupto desfilar de milagres e graças que Nossa Senhora ali dispensa.

O Papa Paulo II, tão logo soube do que havia sucedido, enviou dois prelados de confiança para averiguar o que se passara.

Estes constataram a veracidade do que se dizia e testemunharam, diariamente, inúmeras curas, conversões, e prodígios realizados pela Mãe do Bom Conselho. Nos primeiros 110 dias após a chegada de Nossa Senhora, registraram-se 161 milagres.

 

Conselho, correção, orientação: grandes favores

Entre seus grandes devotos destacam- se os papas São Pio V, Leão XIII – que incluiu a invocação Mãe do Bom Conselho na Ladainha Lauretana – São Pio X, Paulo VI e João Paulo II; e numerosos santos como São Paulo da Cruz, São João  Bosco, Santo Afonso de Ligório, Beato Orione. No próprio Santuário de Genazzano, pode-se venerar o corpo incorrupto do Beato Steffano Bellesini, um de seus párocos, grande propagador da devoção à Mãe do Bom Conselho.

Os maiores milagres, Ela os opera na alma de cada um, aconselhando, corrigindo, orientando.

Quem puder venerar o milagroso quadro da Mãe do Bom Conselho em Genazzano, comprovará pessoalmente o rio de graças que emana daquela celestial fisionomia e compreenderá por que quem lá esteve uma vez, sonha em retornar um dia àquele sublime convívio.

O afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano

Na igreja da Madonna del Buon Consiglio, na pequena e bela cidade de Genazzano, encontra-se um afresco de mais de sete séculos de existência. Até hoje se desconhece e onde e por quem foi pintado. Terá sido seu autor um anjo? Será originário do Paraíso? São perguntas ousadas. Compreende-se que elas surjam, quando se conhece a história dos efeitos produzidos por essa piedosíssima imagem, ao longo dos tempos.

O afresco causa a impressão de ter sido pintado há poucos dias, mesmo se observado de perto. Porém, está há 535 anos junto à parede de uma capela lateral da igreja. Mais ainda: segundo atestam os documentos, tem-se mantido suspenso no ar durante todo esse tempo! Foi ele transladado de Scútari, Albânia, a Genazzano por ação angélica.

Assim descreve esses sobrenaturais acontecimentos um dos maiores entendidos na matéria:

“Trazida por mãos angélicas, encontrou-se (a imagem) suspensa ali na rústica parede da nova igreja, e com três novos singularíssimos prodígios então acontecidos. (…) A celeste pintura estava sustentada por virtude divina a um dedo da parece, suspensa sem nala fixar-se; e este é um milagre tanto mais estupendo se considerarmos que a referida imagem está pintada com cores vivas em fina camada de reboco, com a qual se destacou por si mesma da igreja de Scútari, na Albânia; como ainda pelo fato, comprovado mediante experiência e observações feitas, de que, ao tocar-se na Santa Imagem, esta cede” (Frei Angelo Maria De Orgio, Istoriche de Maria Santissima del Buon Consiglio, nela Chiesa de’Padri Agostoniani di Genazzano, 1748, Roma, p. 20)

No séc. XIX, renomado estudioso desse celestial fenômeno observou:

“Todas essas maravilhas (da Santa Imagem) se resumem, enfim, no prodígio contínuo que consiste em encontrarmos hoje esta imagem no mesmo lugar e do mesmo modo como ela aí foi deixada pela nuvem no dia de sua aparição, na presença de todo um povo que teve então a felicidade de vê-la pela primeira vez. Ela pousou a uma pequena altura do chão, a uma distância de aproximadamente um dedo da parede nova e rústica da capela de São Brás, e ali ficou, suspensa sem nenhum suporte” (Raffaele Buonanno, Memorie Storiche della Immagine de Maria, SS. Del Buon Consiglio Che si venera in Genezzano, Tipografia dell’Immacolata, Napoles, 20 ed., 1880, p. 44).

Na festa do batismo de Santo Agostinho e de São Marcos, padroeiro de Genazzano, em 25 de abril de 1467, por volta das quatro horas da tarde, uma celestial melodia começa a se fazer ouvir pelos mais variados recantos da cidade. Um grande número de pessoas, reunidas na praça do mercado, se põem a indagar maravilhadas de onde vem os sublimes e arrebatadores acordes. Eis que uma divina surpresa se passa ante os olhos de todos: em meio a raios de luz, uma pequena nuvem branca desce até uma parede da já mencionada igreja, cujos sinos começam a bimbalhar fortemente e por si só. Prodígio ainda maior: em uníssono, a totalidade dos sinos da cidade tocam com energia.

Ao desfazerem-se lentamente os raios de luz e a nuvem, o belíssimo afresco que até hoje ali se encontra pôde ser contemplado pelo povo, e desde esse dia não cessou de derramar copiosas graças sensíveis, fazendo jus à preciosa invocação de Mãe do Bom Conselho.

A notícia de tão extraordinário acontecimento se espalhou por toda a Itália, como um corisco. Dois dias mais tarde, inicia-se uma verdadeira avalanche de milagres: um possesso se livra dos demônios, uma paralítico caminha com naturalidade, uma cega recupera as vistas, um jovem empregado recém-falecido ressuscita…. Nos cento e dez primeiros dias, Maria do Bom Conselho distribui cento e sessenta e um milagres aos seus fiéis devotos. Peregrinos de todo o país se movem para receber os benefícios da Mãe de Deus.

Diante do santo afresco, uma constante se verifica: a nenhum dos pedidos que lhe são dirigidos deixa Ela de atender de alguma forma. Nas dúvidas, nas perplexidades ou mesmo nas provações, depois de um certo tempo de oração – maior ou menor, dependendo de cada caso – Maria Santíssima faz sentir no fundo da alma em dificuldade seu sapiencial e maternal conselho, acompanhado de mudanças de fisionomia e de coloração da pintura. É indescritível esse especialíssimo fenômeno.



 

 

Fonte: Revista Arautos do Evangelho, Abril/2002, n. 4, p. 24-25 e Abril/2004, n. 28, p. 16 a 18)

Autora: Carmela Werner Ferreira

 


Santuários Marianos

Nossa Senhora de Loreto

Loreto é o Santuário mariano mais famoso da Itália. Segunda a tradição, lá se encontra a casa onde a Sagrada Familia teria vivido em Nazaré.

Antes que Nazaré fosse tomada pelos muçulmanos, os anjos teriam levado a casa para Dalmácia, na noite de 9 para 19 de maio de 1291, e, em 07 de setembro de 1295, teria sido transportada para Loreto, onde se encontra atualmente. Mas segundo pesquisas mais recentes, a casa de Nossa Senhora de Loreto teria sido trazida pelos cruzados sob o comando de um senhor chamado De Angelis. Daí a crença de que teria sido trazida para a Itália pelos anjos. A casa da Virgem Maria de Loreto se encontra dentro de um Santuário maior e é visitada, anualmente, por milhões de pessoas. Muitos santos passaram por lá, até Santa Terezinha do Menino Jesus. Segundo ela, o passar por lá foi um ocasião de graças especiais, porque pôde pisar e tocar os lugares onde, segundo a tradição, viveram Jesus, Maria e José.

É de notar-se que à casa de Nossa Senhora de Loreto lhe faltam os fundamentos. Parece, sim, que realmente teria sido transportada para lá de outro lugar. O certo é que o povo acredita que aquela casa é a mesma onde em Nazaré viveu a Sagrada Família e vai lá para rezar, com muito fevor. A Igreja oficialmente se porta como se realmente esta tenha sido a casa da Sagrada Familia. Pelo menos, nunca falou que não fosse.

Artigos

Maria, Mãe de Deus

Autor: Diác. Ignacio Montojo Magro, EP (Revista Arautos do Evangelho – Março/2011)

 

A heresia nestoriana e o dogma da Maternidade Divina

 

I – Gênese de uma heresia

“Que ninguém chame Maria de Mãe de Deus: Ela é uma mulher, e é impossível que Deus tenha nascido de uma filha de Adão!”.1 Mal caiu esta afirmação da boca do presbítero Anastásio, um frêmito de surpresa e indignação percorreu a Catedral de Constantinopla. Até então, jamais ocorrera ali que alguém pusesse em dúvida essa verdade na qual tinha crido a Igreja desde havia muito,2 e naquele momento o pregador negava com tamanha empáfia. Filiais e aflitos olhares crivaram então o semblante do Patriarca que, sentado em sua cátedra, devia ser o guardião da Fé. Ele, entretanto, não apenas permanecia em silêncio, mas ainda aquiescia com um enfático movimento de cabeça apoiando a insólita afirmação. O povo, escandalizado, começou a abandonar a catedral.

 

A origem de um Patriarca controvertido

Capital oriental do Império Romano, em Constantinopla mesclavam-se tumultuosamente a controvérsia teológica e as intrigas palacianas, acentuadas pelas características do temperamento oriental. Assim, logo que vagou a Sé Patriarcal em fins do ano 427, as facções representadas na cortepassaram a promover seus respectivos candidatos ao cobiçado posto. Teodósio II, porém, decidiu não prestar ouvidos a nenhum dos partidos e, a fim de evitar discórdias, optou por escolher um estrangeiro. Sua eleição recaiu sobre um monge de Antioquia, excelente orador, dotado de sonora voz e com fama de santidade. Alguns o tinham como um segundo Crisóstomo. Seu nome era Nestório. Infelizmente, a reputação do candidato não correspondia à realidade.

Embora aparentando piedade, zelo e retidão de costumes, o padre Nestório era sedento de adulações e lisonjas. Ocupar tão importante cátedra afagava seus ambiciosos anseios e, por isso, nada mais receber o convite, partiu para a Nova Roma, acompanhado de Anastásio, seu confidente.

No caminho, deteve-se algum tempo com o Bispo de Mopsuéstia, Teodoro, que havia enveredado por sendas tortuosas na especulação teológica, aventando teses cristológicas por demais temerárias.3 E o pensamento heterodoxo de Nestório em matéria de cristologia se originou ou se agravou no convívio com esse prelado. A alegria dos constantinopolitanos pela chegada do novo Patriarca transformou-se logo em temor e desconfiança, pois quem prometia ser um zeloso pastor não tardou em manifestar orgulho e falta de integridade. E o sermão acima referido foi o estopim da nova heresia que o recém-eleito Patriarca disseminaria pelo Oriente cristão.

 

Graves repercussões da nova doutrina

Afirmava Nestório que Maria é mãe apenas da natureza humana de Cristo e por isso deve ser chamada simplesmente Mãe de Cristo (Christotókos). Falar em Mãe de Deus seria, segundo suas palavras, “justificar a loucura dos pagãos, que dão mães a seus deuses”.4 Maria teria dado à luz o homem Jesus no qual o Verbo, o Filho de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, habitara como num templo. Ou seja, em Jesus Cristo haveria duas pessoas, uma divina e outra humana, e não uma só Pessoa divina, com duas naturezas distintas, a divina e a humana, como nos ensina a Doutrina Católica.

Desse enunciado deduzia-se uma série de proposições contrárias à Fé. Em primeiro lugar, as dores da Paixão teriam sido sofridas apenas pela humanidade de Cristo e, portanto, não poderiam satisfazer Deus Pai com méritos infinitos. Assim sendo, não haveria propósito em falar de Redenção, pois “nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de oferecer-se em sacrifício por todos”.5

De outro lado, a expressão “o Verbo Se fez carne” perderia seu sentido, pois, por muito que se afirmasse haver em Cristo a união de duas pessoas, a divina e a humana, não se poderiam atribuir as ações da suposta pessoa humana de Cristo à sua pessoa divina. E várias passagens do Evangelho se tornariam problemáticas, entre as quais a seguinte: “para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te — disse ele ao paralítico —, toma a tua maca e volta para tua casa” (Mt 9,6). Pois, se fosse apenas uma pessoa humana, o Filho do Homem jamais teria esse poder. Também não se compreenderia a resposta de Jesus ao apelo de Filipe

– “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta” –, quando lhe disse: “Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai… Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim?” (Jo 14, 8-10).

 

Semeia-se a discórdia no Oriente católico

De pouco adiantaram a Nestório as caridosas advertências de seus concidadãos e até dos seus irmãos no episcopado, para dissuadi-lo do erro. Pelo contrário, o pertinaz Patriarca condenou publicamente os opositores de suas ideias e fê-los prender e maltratar, acusando-os de promover a desordem pública.

Enquanto isso, uma recopilação escrita das pregações de Nestório espalhava-se pelas demais Igrejas do Oriente, semeando a divisão no povo fiel.

II – O Concílio de Éfeso

A nova heresia não tardou em chegar à Igreja de Alexandria, governada desde o ano 412 pelo Patriarca São Cirilo. Decidido como sempre, ele não demorou em pôr-se a campo para cortar-lhe o caminho. Ao mesmo tempo em que expedia cartas a Bispos, presbíteros e monges reiterando a doutrina sobre a Encarnação do Verbo e a Maternidade Divina, cuidou prudentemente de não alardear os erros e o nome do heresiarca, pois, “movido de intensa caridade”, persistia em “não admitir que alguém pudesse dizer amar mais Nestório do que ele”.6

No fim do ano 429, escreveu-lhe mansamente pela primeira vez, advertindo-o dos rumores que corriam na região acerca de suas doutrinas e pedindo explicações. Não tendo obtido por resposta senão um ácido convite

à moderação cristã, São Cirilo expôs-lhe numa segunda missiva, com luminosa e sobrenatural clarividência, o pensamento universal da Igreja. Nestório, porém, não cedeu, replicando com nova carta contendo o elenco das suas ideias.

Roma entra na disputa

Em vista da inutilidade dos recursos ao seu alcance, só restava a São Cirilo recorrer a Roma e assim o fez, enviando ao Papa São Celestino I um documentado relato da controvérsia com o Patriarca de Constantinopla, no qual figuravam textos das pregações de Nestório, acompanhadas por uma síntese dos seus erros, assim como um florilégio de textos patrísticos em sustento da verdadeira doutrina e cópias das cartas por ele enviadas ao herege.

Nestório, por sua vez, já havia informado o Papa São Celestino I sobre a situação, embora em termos estudadamente ambíguos, com o objetivo de conquistar o seu favor.

Reconhecendo o perigo, São Celestino convocou, no mês de agosto de 430, um sínodo em Roma para tratar deste relevante assunto. Os escritos de Nestório foram cuidadosamente examinados, confrontados com uma longa série de textos dos Padres da Igreja.7 Ante a evidência de heresia, a nova doutrina foi condenada categoricamente.

De próprio punho, o Papa escreveu a Nestório ratificando os ensinamentos cristológicos de São Cirilo e advertindo-o de que incorreria em excomunhão caso não se retratasse por escrito dos seus erros no prazo de dez dias. Também aos principais Bispos do Oriente, ao clero e ao povo de Constantinopla foram enviadas cartas a fim de que, dizia o texto, “fosse conhecida nossa sentença sobre Nestório, ou seja, a divina sentença de Cristo sobre ele”.8

Designado para executá-la em nome do Sumo Pontífice, São Cirilo convocou um sínodo em Alexandria e, em nome dessa assembleia, escreveu nova carta ao heresiarca, expondo de forma assaz detalhada a verdade católica sobre a Encarnação, e enumerando doze erros que Nestório deveria abjurar por escrito, caso quisesse manter-se no redil da Igreja. Era o terceiro e último apelo que lhe fazia à conversão.

Ele, entretanto, valendo-se de sua influência na corte de Constantinopla, tentou obter apoio do Imperador, o qual, para dirimir as contendas e dúvidas, e atendendo a diversos apelos, pensou em convocar um concílio cumênico. O Papa concordou com a decisão imperial e enviou seus legados, dando-lhes instruções muito precisas sobre a postura a ser tomada ante os Padres Conciliares: recomendou-lhes defenderem a primazia da Sé Apostólica, exerceremo papel de juízes impolutose estarem sempre unidos ao zeloso patriarca de Alexandria.

A Fé da Igreja nesse atributo essencial de Maria Santíssima estava em jogo na assembleia, e, como sublinha o historiador jesuíta padre Bernardino Llorca, “a situação era, na realidade, sumamente delicada. O Papa já havia

exarado a sentença contra a doutrina de Nestório, de modo que o concílio não podia senão proclamar essa declaração pontifícia. Qualquer outra conduta podia ocasionar um cisma”

 

O Concílio de Éfeso

Pouco antes de 7 de junho de 431, festa de Pentecostes, começaram a chegar a Éfeso os representantes das várias Igrejas particulares. Entretanto, o atraso dos legados do Papa e de alguns Bispos, motivado pela longa e dificultosa viagem, adiava o início das sessões, concorrendo para diminuir o ânimo de alguns Padres conciliares e causar certa insegurança nos demais.

Enquanto isso, Nestório se afanava em atrair para a sua doutrina os incautos e desavisados, referindo-se despectivamente a São Cirilo como “o egípcio”. Decidiu então o Patriarca de Alexandria abrir sem mais tardança o concílio, valendo-se da autoridade conferida pelo Papa, antes mesmo da chegada dos padres romanos e sem dar ouvidos às enfáticas queixas da facção contrária.

 

A primeira sessão conciliar

Iniciou-se no dia 22 de junho com a proclamação do símbolo de fé niceno-constantinopolitano. Nestório, embora tivesse sido convocado a estar presente, enviou mensagem dizendo que não compareceria enquanto não chegassem todos os Bispos. O Concílio, porém, prosseguiu seus trabalhos com a leitura das doutrinas contidas nas cartas trocadas entre São Cirilo e o heresiarca. À leitura da defesa do Patriarca alexandrino, estrugiram prolongados e calorosos aplausos, sendo sua missiva declarada ortodoxa e conforme o símbolo de Niceia, enquanto a de Nestório foi reprovada como ímpia e contrária à Fé Católica. Completaram-se os trabalhos e os estudos conciliares, lendo-se a sentença exarada pelo Papa no Sínodo de Roma e uma longa série de textos patrísticos alicerçando a posição católica Infrutíferos foram os esforços para reconduzir Nestório à casa paterna.

A todos os enviados do Concílio que procuraram dissuadi-lo do erro, expulsou-os grosseiramente de sua presença. Em vão. Sobre ele recaiu o anátema: “Nosso Senhor Jesus Cristo, por ele blasfemado, estabeleceu, pela boca deste santíssimo Sínodo, que o mesmo Nestório está excluído da dignidade episcopal e de todo e qualquer colégio sacerdotal”.10

 

Júbilo na cidade abençoada pelos passos de Maria

Os fiéis de Éfeso — cidade na qual, segundo a tradição, Maria Santíssima havia residido — exultaram ao ser anunciada a sentença definitiva reafirmando a doutrina da maternidade divina. Todos acorreram à Igreja de Santa Maria aos brados de “Theotókos!”, a fim de festejar a decisão, como narra Pio XI em sua encíclica comemorativa do 15º centenário do mencionado Concílio: “O povo de Éfeso estava tomado de tanta devoção e ardia de tanto amor pela Virgem Mãe de Deus que, tão logo ouviu a sentença pronunciada pelos Padres do Concílio, aclamou-os com alegre efusão de ânimo e, provendo-se de tochas acesas, em multidão compacta os acompanhou até suas habitações. E certamente, a própria grande Mãe de Deus, sorrindo suavemente do Céu ante tão maravilhoso espetáculo, retribuiu com coração materno e com seu benigníssimo auxílio os seus filhos de Éfeso e todos os fiéis do mundo católico, perturbados pelas insídias da heresia nestoriana”.11

 

Revolta e confusão

Porém, numa missiva dirigida ao Imperador, assinada por mais seis outros Bispos, Nestório levantou objeções à sua condenação. Junto com João — Patriarca de Antioquia, que não chegara a tempo de participar do Concílio — reuniu-se em conciliábulo com a minoria dos Bispos contrários à decisão de São Cirilo de iniciar os trabalhos sem esperar pelos retardatários. Declararam depostos de suas sedes episcopais São Cirilo e Memnon, Bispo de Éfeso, e exigiram de todos os outros Bispos que se retratassem no tocante aos doze anátemas. No entanto, essa reduzida assembleia não tentou reabilitar Nestório, pois João de Antioquia, embora seu amigo, o considerava culpado de heresia.12

O Imperador Teodósio II, confuso ante as notícias contraditórias que lhe enviavam de Éfeso, emitiu um edito proibindo os prelados de regressarem a suas cidades antes de ser feita uma investigação sobre todo o sucedido. A ordem imperial regozijou o partido dos hereges, os quais se julgaram sob o amparo da autoridade temporal e, em consequência, autorizados a tomar toda sorte de medidas arbitrárias. Essas iam desde a tentativa de sagrar um novo Bispo de Éfeso até o uso de violência física contra o povo miúdo, indignado com o rumo que tomavam as coisas, e mesmo contra alguns Padres Conciliares. Entretanto, tais manifestações de prepotência e de injustiça não iriam durar.

 

A decisão final

Os legados pontifícios chegaram finalmente a Éfeso, e o Concílio, sob a presidência de São Cirilo, representando o Sumo Pontífice, iniciou sua segunda sessão em 10 de julho. Os enviados papais traziam uma carta de São Celestino, datada do mês de maio, pedindo à magna assembleia que promulgasse a sentença proferida pelo Sínodo romano contra o Patriarca de Constantinopla. Vendo claramente expressa a vontade de Deus na decisão pontifícia, todos  os Bispos presentes exclamaram:  “Este é o justo julgamento! A Celestino, novo Paulo, a Cirilo, novo Paulo, a Celestino, guardião da Fé, a Celestino, concorde com o Sínodo, a Celestino todo o Concílio agradece: um só Celestino, um só Cirilo, uma só Fé do Sínodo, uma só Fé no mundo inteiro!”.13

As atas da primeira sessão, depois de examinadas e confirmadas, foram lidas em público. Segundo os belos termos de Rohrbacher, nessa segunda reunião respirou-se “todo o perfume da santa antiguidade: o espírito e fé, de piedade, de santa polidez; o espírito de união com o Sucessor de Pedro; o espírito de amor e de submissão filial para com sua autoridade, em suma, o espírito da Igreja Católica”.14

Nas sessões subsequentes tratou-se dos casos de João de Antioquia e de outros dissidentes, os quais foram convocados por três vezes e, em vista de sua recusa a comparecer, foram excomungados. Aprovaram-se também seis cânones nos quais não apenas se renovava a condenação de Nestório, mas também de alguns pelagianos. Encerrado o Concílio em 31 de julho, ficava definida para sempre a doutrina católica sobre a Santa Mãe de Deus.

 

III – Maria é mãe da Pessoa de Cristo

Até aqui acompanhamos os dramáticos lances e o glorioso desfecho dessa histórica polêmica. Cabe-nos perguntarmos agora como explicar essa verdade que nossa Fé afirma e o senso católico proclama em nossos corações: a maternidade divina de Maria Santíssima.

Por que quis Deus ter uma mãe humana? Para abordar adequadamente esta questão, comecemos por lembrar um importante aspecto do plano divino para a Redenção: Nosso Senhor Jesus Cristo, embora pudesse ter escolhido outro meio para Se encarnar, “julgou melhor assumir o homem da própria linhagem que fora vencida para, por meio dele, vencer o inimigo do gênero humano”.15

Assim, da mesma forma que uma mulher, pela sua desobediência, havia cooperado para a ruína do gênero humano, a obediência de uma Virgem cooperaria de forma decisiva para a Redenção. Ora, quando uma mulher concebe um filho e o dá à luz, ela é mãe da pessoa que nasceu, e não apenas do seu corpo. Porque estando alma e corpo substancialmente unidos, ela gera o ser humano completo, ainda que a alma tenha sido criada por Deus.

Maria era, portanto, Mãe da Pessoa de Cristo. E na pessoa divina de Cristo estavam unidas a natureza humana e a natureza divina, desde o primeiro momento do seu ser. Por isso, conclui o Papa Pio XI, “se a Pessoa de Jesus Cristo é única, e esta é divina, sem dúvida alguma Maria deve ser chamada não somente Mãe de Cristo homem, mas Mãe de Deus, Theotókos”.16 A Virgem Maria não engendrou uma pessoa humana à qual, depois, Se uniria o Verbo, como dizia Nestório, mas, pelo contrário, foi o Verbo que “Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).

A grandeza e profundidade desse atributo de Nossa Senhora foram recentemente postos em realce pelo Papa Bento XVI, ao afirmar: “Theotókos é um título audaz. Uma mulher é Mãe de Deus. Poder-se-ia dizer: como é possível? Deus é eterno, é o Criador. Nós somos criaturas, vivemos no tem po: como poderia uma pessoa humana ser Mãe de Deus, do Eterno, dado que todos nós vivemos no tempo, todos nós somos criaturas?”.

E, discorrendo belamente sobre o Mistério da Encarnação, o Santo Padre responde: “Deus não permaneceu em si mesmo: saiu dele próprio, uniu-se de tal modo, de forma tão radical com este homem, Jesus, que este homem Jesus é Deus, e se falamos dele, podemos sempre falar de Deus. Não nasceu apenas um homem que tinha a ver com Deus, mas nele nasceu Deus na Terra. […] Naquele momento, Deus queria nascer de uma mulher e ser sempre Ele mesmo: nisto consiste o grande acontecimento”.17

Coube ao grande São Cirilo — cuja festa se comemora neste mês de março — “invicto assertor e sapientíssimo doutor da maternidade divina da Virgem Maria, da união hipostática em Cristo, e do primado do romano pontífice”,18 defender a verdadeira doutrina nos tempos da Igreja primeva. Peçamos, pois, sua intercessão para compreendermos amorosamente o dom infinito obtido por Maria pelo seu “fiat” em resposta ao pedido do Pai Eterno (Lc 1, 38) e roguemos a Ela que nos obtenha a inestimável graça de adorarmos seu Divino Filho por  toda a eternidade.

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Novamente está chegando a Quaresma

Autor: Frei Lourenço M. Papin, OP

 

 

No dia 09 de março, a Igreja celebrará a Quarta-feira de cinzas, portal da Quaresma, essa longa preparação para a Solenidade maior e o coração de toda Liturgia que é a Páscoa da Ressurreição.

Este ano a Páscoa ocorrerá adiantada, no dia 24 de abril. Vem-me a mente a nonna Genovefa que dizia: “Quest’anno la Pasqua è alta” (Este ano a Pascoa é alta, ou seja, mais tarde).

Qual o simbolismo das cinzas? Numa perspectiva bíblica, as cinzas significam penitência e conversão. Ao colocar a cinzas sobre as cabeças dos fiéis, o celebrante pronuncia estas palavras de Cristo: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 14b) ou então as severas palavras do livro dos Genesis: “Lembra-te que és pó e ao pó hás de tornar” (Gn 3,19).

As cinzas significam também a pequenez, a fragilidade e a transitoriedade de nossa vida terrena, sem desdenhar, é claro, a grandeza e a dignidade de sermos filhos e filhas queridos de Deus, moradas vivas de Deus, destinados à ressurreição e à imortalidade de nossos corpos.

Vem-me a mente também a nonna Regina que, voltando da Missa da Quarta-feira de Cinzas, trazia consigo um pouquinho de cinzas e reunia os netinhos que, ajoelhados, ouviam suas exortações e de suas mãos recebiam a cinza em suas cabeças. Alias, essa lembrança de criança inspirou-me a “Cerimonia Doméstica das Cinzas”, para tantas pessoas que não puderam participar da celebração litúrgica desse dia.

Assim, com esse toque litúrgico realista, a Igreja vai iniciar a Quaresma.

Nos primeiros séculos da Igreja, Quaresma era a etapa final da preparação dos adultos para o Batismo. Sabemos que, após uma séria e prolongada preparação (ou catecumenato), os batizandos eram admitidos, no inicio da Quaresma, ao Batismo que iriam receber na noite da Vigília Pascal. Consta que no tempo das perseguições do Império Romano, as pessoas antes do Batismo se comprometiam a derramar seu sangue se fossem identificadas como cristã pelas autoridades romanas.

No decorrer dos séculos, essa práxis pastoral-litúrgica foi se modificando. A Quaresma, todavia, ainda se caracteriza pela sua tônica batismal que culmina com a noite da Vigília Pascal que é uma celebração eminentemente batismal.

A Quaresma, portanto, torna-se um convite para repensarmos, revivermos e reavivarmos nosso Batismo, nossa vocação primeira, pelo qual nascemos para uma vida nova, nos tornamos filhos queridos de Deus, “participantes da natureza divina”, templos vivos de Deus, com Cristo herdeiros da Vida Eterna.

Podemos chamar a Quaresma de “Kairós”, palavra grega usada por São Paulo na sua segunda carta aos coríntios (2 Cor 6,2) e que significa tempo favorável, tempo propício da graça de Deus.

No sentir da Igreja, Quaresma é tempo favorável sobretudo de conversão em todas as dimensões do pensar e do agir do cristão.

Conversão, mais insistente apelo da Quaresma, é um ensinamento que perpassa toda a Bíblia, particularmente a preparação de Cristo.

Na terminologia da língua hebraica, conversão tem o sentido de mudar de rumo, deixando um caminho errado para tomar o certo. Na língua grega, conversão significa mudar de mentalidade, passando da errada para a certa. Duas concepções de conversão que se integram e que são igualmente sinal de bom senso e sabedoria.

À luz da Palavra de Deus e dos ensinamentos da Tradição Cristã, a Quaresma é um convite para trilharmos os caminhos de Deus e imbuirmo-nos da sua mentalidade.

Como ato e como processo, a conversão é condição indispensável para o amadurecimento humano e cristão e para a mudança moral e espiritual da pessoa, atingindo a família e a sociedade.

Numa visão de fé, conversão é, sobretudo ação de Deus em nós, pressupondo sempre, porém, a livre cooperação da pessoa. O sábio Santo Agostinho (séc. IV) afirmava que ninguém sai de seu pecado por si mesmo, ou seja, ninguém se converte somente por seus próprios méritos e iniciativa.

A conversão, é verdade, comporte sempre renuncias e sacrifícios, mas é portadora daquela alegria e paz que o mundo não pode dar.

Novamente está chegando a Quaresma e o Senhor estará passando no meio de nós. Que nos seja concedida a graça de acolhê-lo alegremente pela nossa conversão.

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Nossa Senhora da Anunciação (25 de março)

 

Nossa Senhora da Anunciação

Este título origina-se na Anunciação do Anjo Gabriel à Virgem Maria. Este momento marca o início de nossa Redenção com o “sim” de Maria. O enfoque central do culto a Nossa Senhora da Anunciação supera a devoção à Santíssima Virgem e nos remete a Cristo, a Deus que se fez Homem. No momento em que Maria disse: ”Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), teve início uma nova história para toda a humanidade. Este foi o marco que dividiu a humanidade em antes e depois.

Maria, com sua atitude agiu como nossa co-redentora, e tornou-se a mais humilde e gloriosa de todas as criaturas de Deus.

Oração

Todas as gerações vos proclamem bem-aventurada, ó Maria!
Crestes na mensagem divina e em vós
se cumpriram grandes coisas,
como vos fora anunciado.

Maria, eu vos louvo!
Crestes na Encarnação do Filho de Deus
no vosso seio virginal
e vos tornastes Mãe de Deus.

Raiou, então, o dia mais feliz da história da humanidade
e Jesus veio habitar entre nós.

A fé é dom de Deus e fonte de todo bem,
por isso, ó Mãe, alcançai-nos a graça de uma fé viva,
forte e atuante, que nos santifica cada dia mais.

Que possamos comunicar com a vossa vida
a mensagem de Jesus
que é o Caminho, a Verdade e a Vida da humanidade.

Amém!

 

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