Um acontecimento sobrenatural, todo ele envolto de eloquente significado foi sem dúvida a série de aparições de Nossa Senhora em Fátima, no início do séc. XX . Transcorrido quase um século, o que pensar da mensagem da Mãe de Deus? Diz respeito ao passado, simplesmente, ou conserva ainda poder de projeção no futuro? Por outras palavras, o ciclo dos acontecimentos relacionados com Fátima encerrou-se ou ainda devemos esperar mais algo?
Fátima foi um acontecimento que marcou indubitavelmente a história da humanidade. Segundo Sua Santidade João Paulo II, tratou-se de uma extraordinária mensagem que, a partir de Fátima, começou a ressoar pelo mundo todo, desde o dia 13 de Maio de 1917, e que se prolongou durante cinco meses, até ao dia 13 de Outubro do mesmo ano. E foi uma mensagem que a Igreja aceitou, “sobretudo, porque esta mensagem contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho.” (João Paulo II. Homilia. 13 de maio de 1982). O Sumo Pontífice ressaltou aqui de modo eminente a importância desse apelo marial a ponto de o comparar ao Evangelho.
Dar importância à mensagem de Fátima foi uma constante nos últimos Pontífices Romanos. É impossível não ver uma especial relação dos sucessores de São Pedro com Nossa Senhora de Fátima.
Quando ainda não eram frequentes as viagens apostólicas, o Papa Paulo VI sentiu-se chamado a ir em peregrinação àquele ‘Santuário bendito’, na ocasião em que se celebrava o cinquentenário das aparições de Fátima e se comemorava o vigésimo quinto aniversário da consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria pelo Papa Pio XII, para atender ao pedido feito pela Mãe de Deus.
Assim, naquele memorável 13 de maio de 1967, Paulo VI ao dirigir-se à multidão de peregrinos de Fátima manifestava seus sentimentos filiais para com a Mãe da Igreja: “Tão grande é o Nosso desejo de honrar a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Cristo e, por isso, Mãe de Deus e Mãe nossa, tão grande é a Nossa confiança na sua benevolência para com a Santa Igreja e para com a Nossa missão apostólica, tão grande é a Nossa necessidade da sua intercessão junto de Cristo, seu divino Filho
O que levava o Augusto peregrino a ajoelhar-se devotamente diante da alva imagem da Senhora de Fátima? Pedi, que viemos, peregrino humilde e confiante a este santuário bendito.” (Paulo VI, Homilia. 13 de maio de 1967) a pela Igreja, “pela sua paz interior”, para que não houvesse “aquiescência às formas negativas da mentalidade profana e dos costumes mundanos” (Paulo VI, idem).
O Papa via que o secularismo ganhava terreno no mundo e, por isso, rezava ” a fim de que o culto de Deus hoje e sempre conserve sua prioridade no mundo, e a sua lei dê forma à consciência e aos costumes do homem moderno (idem).
Além da paz na Igreja, Paulo VI pediu também a paz entre os homens à Virgem de Fátima, a Rainha da Paz, pois, “o mundo não é feliz nem está tranquilo. A primeira causa desta sua inquietação é a dificuldade que encontra em estabelecer a concórdia, em conseguir a paz” (Paulo VI, ibidem).
Ao concluir suas palavras Paulo Vi considerava o quadro do mundo e de seus destinos, que ele via “imenso e dramático”. E acrescentava: “É o quadro que Nossa Senhora abre aos olhos, o quadro que contemplamos com os olhos aterrorizados, mas sempre confiantes; o quadro do qual Nos aproximaremos sempre – assim o prometemos – seguindo a admoestação que a própria Nossa Senhora nos deu: a da oração e da penitência.”(idem)
O Papa João Paulo II não possuía diferentes cogitações das de Paulo VI e ao santuário Mariano dirigiu-se três vezes durante seu pontificado. E nessas ocasiões, deu-nos importantes ensinamentos, corroborando a importância da mensagem de Fátima. Em 13 de maio do ano de 1982, exatamente um ano depois do atentado à vida do Papa, que se dera, na Praça de São Pedro, ressaltou que “a mensagem de Fátima, no seu núcleo fundamental, é o chamamento à conversão e à penitência, como no Evangelho. Este chamamento foi feito nos inícios do século vinte e, portanto, foi dirigido, de um modo particular a este mesmo século. A Senhora da mensagem parecia ler, com uma perspicácia especial, os “sinais dos tempos”, os sinais do nosso tempo.(…) O apelo à penitência é um apelo maternal; e, ao mesmo tempo, é enérgico e feito com decisão. A caridade que “se congratula com a verdade”(1Cor 13, 6) sabe ser clara e firme. O chamamento à penitência, como sempre anda unido ao chamamento à oração. Em conformidade com a tradição de muitos séculos, a Senhora da mensagem de Fátima indica o terço – o rosário – que bem se pode definir “a oração de Maria”: a oração na qual Ela se sente particularmente unida conosco. Ela própria reza conosco. Com esta oração do terço se abrangem os problemas da Igreja, da Sé de Pedro, os problemas do mundo inteiro. Além disto, recordam-se os pecadores, para que se convertam e se salvem, e as almas do Purgatório. (João Paulo II. Op. Cit. 1982)
E de fato, temos visto o insondável amor materno d’Ela para com seus filhos. A Santíssima Virgem manifesta seu carinho especial a todos aqueles que atendem seus pedidos. E a prova do valor dessa devoção é a transformação dos pastorezinhos. Ela operou eficazmente a santificação de Jacinta, Francisco e Lúcia os três videntes privilegiados aos quais Nossa Senhora apareceu. Prometia Ela aos dos três pastorezinhos a Paz a todos aqueles que rezassem o terço. Ela não quer outra coisa senão o nosso bem, a nossa santificação e salvar toda a humanidade.
A mensagem de Nossa Senhora foi chancelada por um dos maiores e mais retumbantes milagres da história: O Sol, nada mais nada menos “dançou” no céu, diante de 70 mil pessoas, aproximadamente. De fato, um milagre de caráter veterotestamentário, deu-se em pleno século XX, há menos de cem anos, na última das seis aparições de Nossa Senhora. O fato é incontestável. E como é impossível negá-lo muitos tentam ignorá-lo, ou lançar a confusão e a dúvida nas almas. Mas é inútil, Fátima continua a incomodar a consciência do homem contemporâneo, com seus maternos apelos: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido” (Memórias da Irmã Lúcia, sexta aparição). O milagre do Sol é a irrupção do sobrenatural num mundo materialista, adorador da técnica e do dinheiro e que voltou as costas a Deus.
Transcorridos quase 100 anos das aparições, o Papa Francisco, neste início de pontificado, também ele se volta para Fátima e implora a proteção da Senhora do Rosário, e na peregrinação de 13 de maio, a seu pedido, o Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, consagrou o pontificado de Sua Santidade Francisco a Nossa Senhora de Fátima. Confirma-se uma vez mais a íntima ligação da Mensagem de Fátima com o Santo Padre. Assim, ganham novo colorido as palavras do Papa Bento XVI, na sua peregrinação ao Santuário, em 2010: “Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída” (Bento XVI, Homilia, 13 de maio de 2010).
Ao que se queria referir o Santo Padre com estas palavras? Ao fato incontestável de que a Mensagem de Fátima não perde atualidade com o transcurso do tempo? Antes, pelo contrário, ela torna-se cada vez mais atual, face aos problemas do mundo de hoje, deste séc. XXI que avança velozmente, parecendo querer ultrapassar os ritmos serenos do calendário… Quereria o Papa fazer menção a algum aspecto ainda não conhecido ou manifestado da Mensagem de Fátima? Há um pormenor das revelações de Nossa Senhora pouco comentado, sobre o qual paira uma incógnita. A Senhora do Rosário prometeu voltar uma sétima vez à Cova da Iria. Na primeira aparição disse Ela a Lúcia: “Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei aqui uma sétima vez” (Memórias da Irmã Lúcia, primeira aparição).
Inútil especular ou levantar hipóteses sobre uma manifestação marial que ainda não houve ou sobre a qual não há dados publicados. Só se pode concluir, muito simplesmente, que as aparições de Fátima não estão concluídas… Motivo de esperança que as palavras de Bento XVI, em Fátima, deixam entrever: “Possam os sete anos que nos separam do centenário das aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade” (Bento XVI, Homilia, 13 de maio de 2010).
José Antônio Dominguez – Gaudium Press
Fonte: Gaudium Press – 14/05/2013
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