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Como se sabe, a bela capital espanhola é antiquíssima. Roma ainda nem fora fundada e Madri já se orgulhava de sua antiguidade. Foi ela uma das primeiras vilas da Península Ibérica a se cristianizar. Reza a tradição, São Tiago aí pregou o evangelho, construindo um pequeno templo, com a ajuda de seus discípulos, dedicado à Maria Santíssima, onde teria deixado uma imagem de Nossa Senhora esculpida em madeira. A perseguição romana levou a igreja local a possuir muitos mártires. Os invasores godos, contudo, após vencerem os romanos, abraçaram a fé cristã e uma outra igreja foi construída no lugar da primitiva capela de São Tiago.

O conde D. Julíán, cujo nome permanece execrado nos anais da história espanhola como traidor, facilitou a entrada dos árabes do norte da África na península.

Transcorria o ano 714 e os invasores se aproximavam da capital. O povo cristão, desesperado, reuniu-se em torno da Virgem para suplicarem auxílio. Entretanto, a vila não dispunha de recursos suficientes para resistir. Surge, então, um problema: o que se faria com a tão venerada imagem para preservá-la da destruição? Decidiram esconde-la num vão da muralha da cidade. Confiantes de que poderiam resgatá-la mais tarde, assim fizeram.

Os vitoriosos, certos de que permaneceriam para sempre na vila, transformaram a capela em mesquita. Trezentos e sessenta e nove anos depois, D. Afonso VI, rei de Castela, auxiliado pelo célebre D. Rodrigo Díaz de Bivar, EI Cid Campeador, derrotou os mouros em Toledo, tornando viável a reconquista de Madri, o que aconteceu pouco depois.
Dessa forma, em 1083, a antiga igreja foi reconsagrada e novamente dedicada à Virgem. Os habitantes ainda se recordavam, meio vagamente, de que uma imagem da Virgem ficara escondida na muralha por ocasião da conquista da vila. O próprio Rei se dispôs a achá-la. Por um pregão, ordenou que toda a população, por meio de jejuns, orações e penitências, suplicassem à Nossa Senhora que se dignasse mostrar o lugar onde tora guardada a sua escultura. No dia 9 de novembro de 1083, nono dia, os citadinos em massa dirigiram-se em procissão até a igreja. Em meio à nobreza, eclesiásticos e cavaleiros, destacava-se El Cid, herói nacional, vencedor de sete reis mouros.

Após a celebração da missa, o cortejo começou a percorrer a vila, com piedosa investigação. Mas ninguém encontrou nada. O desânimo tomou conta de todos.

Mas a tristeza não duraria muito tempo. Durante essa mesma noite, a muralha partiu-se, deixando aparecer em um nicho a milagrosa imagem, tão bem conservada como se tivesse sido ali depositada na noite anterior. E ainda puderam ser acesas as velas que ali tinham sido colocadas há quase quatro séculos. Foi feita uma nova procissão, ainda mais solene, que conduziu a Virgem ao seu antigo altar.

D. Alfonso VI quis que ela passasse a se chamar Santa Maria la Real de la Almudena, por haver permanecido tantos séculos escondida em um local da muralha perto do almudin (mercado ou armazém) que os mouros ali haviam instalado. A Santíssima Virgem foi ainda proclamada Padroeira de Madri.

Pouco depois da morte de Alfonso VI, Madri foi mais uma vez atacada pelos mouros, comandados por Alí-Aben-Jucet. Mais uma vez a cidade eslava despreparada para a defesa. Ali Jucet determinou manter o cerco à cidade, até que a fome obrigasse o povo a se render. Os sitiados recorreram á Virgem, que os atendeu. Uma peste terrível assolou o campo inimigo. Os que não foram atingidos pela peste foram obrigados a fugir desesperados.

Novo assalto ocorreu vinte anos depois. Os sarracenos usaram a mesma tática: sitiaram a cidade esperando a sua rendição por causa da fome. Quando já não havia o que comer, uns meninos que brincavam junto à igreja, abriram um pequeno buraco num de seus pilares. Por ele começou a escorrer um pó branco que se verificou ser farinha de trigo de excelente qualidade. Derrubaram então uma parte da parede lateral da igreja, onde o pilar se encostava e descobriu-se aí um silo desconhecido. O trigo era tão abundante que os espanhóis jogaram parte dele sobre os mouros, exibindo fartura, para que perdessem a esperança de vencê-los pela fome.
Os mouros, uma vez mais, bateram em retirada.

A esta imagem recorreu Santo Isidro, o Lavrador, quando seu filho caiu em um poço. Assim que suplicou à Virgem, as águas do poço começaram a subir suavemente até que o pai pôde resgatar seu filho são e salvo.

A milagrosa imagem é esculpida em madeira odorífica, que lembra os cedros do Líbano. A pintura é tão consistente que mesmo os desgastes naturais do tempo não conseguiram deteriorá-la. Uma particularidade surpreende, comprovada historicamente: é impossível conseguir-se fazer uma cópia idêntica ao original. Muitos artistas tentaram reproduzi-la, mas confessaram seu fracasso.

No dia 29 de agosto de 1640, instituiu-se na igreja de Santa Maria a “Esclavitud de la Virgen de la Almudena”, constituindo-se seu primeiro escravo o próprio Rei, D Felipe IV, no que foi seguido por seus sucessores. Nossa Senhora da Almudena é uma das nove imagens objeto de devoção das Rainhas da Espanha. Estas, quando estão para dar a luz, costumam visitar tais imagens quando suplicam a Maria Santíssima a graça de um bom parto.

Nossa Senhora da Almudena, rogai por nós!


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