Autor: Frei Lourenço M. Papin, OP
Com efusão de alegria, a Liturgia da Igreja celebra, no Domingo de Páscoa, a ressurreição de Cristo.
É bonito e singelo o texto do Evangelho desse dia. Narra-nos João que, bem de madrugada, Maria Madalena foi visitar o túmulo de Jesus. Vendo o túmulo vazio, saiu correndo para comunicar a Simão Pedro e João que o Senhor não estava lá. Às pressas, os dois apóstolos se dirigiram ao túmulo. “E os dois corriam juntos”. João, sendo mais novo, chegou primeiro. Viu o túmulo vazio e as faixas de linho (nas quais fora envolto Jesus) que estavam no chão. Não se atreveu a entrar, respeitando a autoridade de Pedro. Certamente ofegante, chega Pedro que foi logo entrando no túmulo. Além das faixas viu também o pano que cobrira a cabeça de Jesus enrolado num lugar à parte. Delicadamente enrolado por Jesus. João, então, também entrou. “Ele viu e acreditou”. João e Simão Pedro viram e acreditaram na ressurreição do Senhor (Cf. Jo 20, 1-9).
Domingo de Páscoa nos coloca diante do mistério da Ressurreição de Cristo, verdade proeminente e fundamental de nossa fé.
A pena de morte da cruz que o Império Romano infligia a uma pessoa, equivalia ao seu banimento e total aniquilamento social. Numa perspectiva humana, a vida e a obra de Cristo se caracterizariam como um grande fracasso. De fato, num primeiro momento, os apóstolos e todos os seus seguidores, ou debandaram desconcertados ou ficaram confusos e atônitos. Somente a Ressurreição física e gloriosa do Cristo pode explicar o ressurgir imediato de sua missão e obra.
O apóstolo Paulo, declara com humildade e franqueza histórica: “Cristo ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas (Pedro) e depois aos doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive. Em último lugar apareceu também a mim, como a um abortivo” (1 Cor 15, 1-8). O mesmo apóstolo chega a exclamar: “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé”! (1 Cor 15, 13) Paulo prioriza a aparição do Ressuscitado a Cefas e aos apóstolos, por serem pedras fundamentais da Igreja. Sabemos, todavia, que Maria Madalena e as santas mulheres que vieram ao sepulcro para terminar de embalsamar o corpo de Jesus, foram as primeiras que depararam com o túmulo vazio, as primeiras que se encontraram com o Ressuscitado e as primeiras que anunciaram a Ressurreição aos próprios apóstolos (Cf. Jo 20, 1-18; Mt 29, 9-10; Mc 16, 9-11).
A fé na Ressurreição da primeira comunidade cristã se alicerça, pois, no testemunho de mulheres e homens concretos e confiáveis que eram conhecidos de todos. A Ressurreição torna-se a prova cabal da divindade de Jesus. “O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento”. (Catecismo da Igreja Católica, nº 639). Interessante notar como a primeira comunidade cristã não foi tomada por nenhuma exaltação ou euforia mística ou fanática diante do anúncio da Ressurreição. Aliás, a verdadeira fé é sempre serena e equilibrada.
Com a Ressurreição de Cristo iniciou-se a construção de uma era nova para a humanidade. Sua Ressurreição é a vitória da vida sobre a morte, é semente de esperança plantada no coração da história. É anúncio e realização de vida nova no amor, na graça, na justiça, na liberdade e na verdade. É exigência de vida digna em sua dimensão religiosa, moral, ética, física e psíquica. É anúncio e garantia da ressurreição dos mortos como dignificação máxima do corpo humano e do humanismo cristão. É a sua presença viva e atuante no meio de nós.
A Ressurreição de Cristo é força que nos impele na transformação do velho mundo, num mundo novo onde a última palavra não seja da morte mas sim da vida sempre ressurgindo e vencendo a morte.
“E os dois corriam juntos”… Que a Páscoa seja nossa corrida ao alegre encontro com o Senhor ressuscitado são os votos que cordialmente apresento ao prezado amigo leitor.
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