
A Visitação de Nossa Senhora
“Quando o Amor Corre para Servir”
O Deus que Vem pelos Passos de uma Mãe
Na delicadeza dos passos de Maria, apressada em caridade, resplandece o movimento do próprio Deus que se adianta para salvar. A Visitação de Nossa Senhora à sua prima Isabel é uma das cenas mais ternas e, ao mesmo tempo, teologicamente mais ricas do Evangelho. Trata-se da primeira missão apostólica de Maria, que leva no ventre o Verbo Encarnado. Ao visitar Isabel, Maria se torna imagem da Igreja em saída, mãe missionária que leva Cristo com alegria, presteza e silêncio.
“A Mãe de Deus é também a Mãe do Evangelho vivo, que é Jesus, e desde o primeiro instante da Encarnação, Ela é portadora de Cristo ao mundo” – Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 288
A Pressa da Caridade
O Evangelho de Lucas narra que, após receber a Anunciação do Anjo, Maria “se levantou e foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá” (Lc 1,39). A distância entre Nazaré e a casa de Isabel, em Ain Karim, é de aproximadamente 150 km. Maria, jovem e recém-grávida, se desloca em terreno árduo não por imposição, mas por impulso de amor. O termo “apressadamente” (gr. meta spoudēs) indica zelo, empenho e ardor espiritual.
Ao chegar, Maria saúda Isabel, e algo extraordinário acontece: o menino João Batista estremece no ventre, e Isabel fica cheia do Espírito Santo. Ela proclama: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor venha a mim?” (Lc 1,42-43).
Aspectos teológicos fundamentais:
- Maria é reconhecida como Mãe do Senhor (Mētēr tou Kyriou mou), atestando a divindade do Menino.
- O Espírito Santo age poderosamente em todos os presentes, prefigurando Pentecostes.
- João Batista, ainda no ventre, é santificado pela presença de Jesus.
- A fé de Maria é louvada por Isabel: “Feliz aquela que acreditou” (Lc 1,45), destacando que a grandeza de Maria não está apenas na maternidade biológica, mas na fé e na obediência.
“O Evangelho começa com um gesto de amor e de pressa. Esta é a marca da ação divina: discreta, eficaz e compassiva.” – Dom Fulton Sheen
Escola de Caridade: A Mãe que Serve
A Visitação é um dos exemplos mais luminosos da caridade cristã. Maria não se fecha em si mesma após o anúncio do Anjo. Mesmo consciente da grandeza do que vive, ela é capaz de enxergar a necessidade da outra.
Três virtudes exemplares:
- Empatia ativa: Maria percebe a condição delicada de Isabel (idosa e grávida).
- Disponibilidade interior: Não há sinal de orgulho ou vaidade; ela se faz serva.
- Perseverança no servir: Maria permanece com Isabel por cerca de três meses, provavelmente ajudando no parto de João.
“Maria levou Jesus no coração e no ventre; e cada cristão, ao receber Jesus na Eucaristia, deve imitá-la com igual prontidão de serviço.” – São Josemaría Escrivá
Este serviço silencioso, oculto, é a manifestação da verdadeira grandeza. O caminho mariano é sempre um caminho de kenose, de esvaziamento amoroso.
O Magnificat: A Revolução do Espírito
O cântico do Magnificat (Lc 1,46-55) é uma das orações mais sublimes da Sagrada Escritura. Inspirado nos Salmos e no Cântico de Ana (1Sm 2), expressa a espiritualidade dos “anawim” (os pobres do Senhor).
Análise do texto:
- Versos 46-48: Maria exalta a Deus por sua obra em sua vida.
- Versos 49-50: Louva o poder de Deus e sua misericórdia eterna.
- Versos 51-53: Revela a justiça divina, que exalta os humildes.
- Versos 54-55: Confirma a fidelidade de Deus à sua Aliança.
“Este cântico é a arma dos pobres, a bandeira dos humildes, o grito dos santos. Com ele, Maria nos mostra o coração do Reino.” – Santo Irineu de Lyon
Na Liturgia das Horas, a Igreja reza o Magnificat todas as tardes, recordando que o Reino de Deus está vindo ao mundo pelos humildes.
A Visitação na Tradição da Igreja
A espiritualidade mariana desenvolveu amplamente o sentido da Visitação como uma visita de Deus através da Mãe.
Santos e Doutores:
- São Beda, o Venerável: “Maria prefigura a Igreja que, fecunda do Verbo, se move pelos caminhos da história para levar salvação.”
- Santo Agostinho: “Isabel escuta a voz de Maria e sente o movimento do Menino. Voz da Mãe e movimento do Filho.”
- São Luis Maria Grignion de Montfort: “Maria é o atalho mais rápido para se chegar a Jesus. Como levou-o a Isabel, leva também a nós.”
Papas:
- Papa Francisco: “Com Maria, a Igreja aprende que evangelizar é, acima de tudo, servir, alegrar, visitar.”
- Papa Bento XVI: “Maria é grande porque serve. Ela é modelo da Igreja missionária, que leva o amor sem barulho.”
A Visitação no Hoje da Igreja
A Visitação é permanente. Através de suas aparições (como em Guadalupe, Lourdes, Fátima e Medjugorje), Maria continua visitando o seu povo, levando Jesus com ternura.
Ela visita através:
- Das procissões e romarias;
- Das imagens peregrinas;
- Das santas missas marianas;
- Da presença discreta nas casas e corações que a acolhem.
“Quando Maria chega, o Espírito Santo age. Ela visita com ternura e desperta o que está morto.” – Santa Faustina Kowalska
Como viver a Visitação?
- Rezando diariamente o Magnificat.
- Fazendo uma visita caridosa a quem está doente, solitário ou abandonado.
- Levar uma palavra de esperança aos desesperançados.
- Ser sinal da presença de Jesus, como Maria foi.
Quando Maria Visita, o Mundo Muda
A Visitação de Maria à sua prima Isabel não foi um evento isolado. Foi o início da ação missionária da Mãe de Deus no mundo. Foi o prenúncio de Pentecostes. Foi o modelo da Igreja em saída.
Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de cristãos que vivam a espiritualidade da Visitação. Que se levantem, se apressam e levem Cristo aos outros com alegria, serviço e ternura.
Oremos: “Maria, visita-me hoje! Entra no meu lar, toca minha alma, leva Jesus aos recantos escuros do meu coração. Ensina-me a sair de mim, a caminhar com pressa de amar. Que eu seja tua extensão, teu sorriso, tua presença no mundo. Amém.”
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