Certa vez, naquele longínquo século XIII, um dominicano de uma inteligência luzidia, muito douto e devoto da Santíssima Virgem, estava passando por uma forte provação. Não conseguia entender como era possível a Mãe de Deus permanecer virgem, tendo dado à luz o Menino Jesus.
Esta dúvida era como um espinho em seus pensamentos, pois apesar de ser muito sábio, isto lhe permanecia oculto.
Um dia, tendo tomado conhecimento da existência de um Frei franciscano, o Bem-aventurado Egídio de Assis, o qual tinha fama de aliviar as consciências conturbadas, resolveu ir ao encontro deste religioso.
Quando chegara às portas do convento franciscano, não foi necessário chamar ninguém, pois Frei Egídio iluminado acerca da situação deste dominicano saiu-lhe ao encontro e disse-lhe: “Irmão pregador, a Santíssima Mãe de Deus, Maria, foi virgem antes de dar-nos Jesus” [1]. Enquanto dizia isto, Frei Egídio golpeou o chão com seu cajado e imediatamente brotou do solo um formoso lírio branco.
O dominicano surpreendido por este fato inesperado continuou ouvindo o Frei, que prosseguiu: “Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem ao dar-nos Jesus”. E com um novo golpe, outro lírio floresce instantaneamente.
Atônito, o dominicano presta atenção por mais uma vez: “Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem depois de dar-nos Jesus”. Ao terceiro golpe, surge um lírio mais esplêndido que os anteriores. Frei Egídio, sem dizer nenhuma outra palavra, retorna ao convento, tendo desfeito aquela longa provação de seu irmão religioso, o qual até o fim da vida conservou consigo os três lírios, símbolos inequívocos da virgindade de Nossa Senhora: antes, durante e depois do parto.
Esta bela história nos mostra a envolvente e cativante época dos milagres medievais, mas, sobretudo, destaca uma virtude cada vez mais esquecida nos tempos atuais, a virgindade.
Houve época em que o casamento entre pessoas virgens era uma questão de honra. Depois, isso se tornou uma responsabilidade apenas do gênero feminino. Mas hoje em dia, se fosse perguntado aos jovens sua opinião sobre o assunto, provavelmente muitos até ridicularizariam esta virtude tão sublime.
No entanto, ela deve ser preservada como um tesouro inestimável, o qual devemos guardar a todo custo, sob o peso de chorar sua perda. Por mais que certos ambientes possam zombar de sua prática e tê-la como praticada por pessoas retrógradas, podemos bem aplicar seu valor aos conhecidos versos de Casimiro de Abreu:
“Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!”.
Aqui podemos, inclusive, parafrasear Casimiro de Abreu, entendendo por infância aquela inocência de criança, de uma alma limpa e sem malícia, cujos anos, as más amizades, as ideias perniciosas, muitas vezes vêm deteriorar. Depois de perdida a inocência, o colorido que o mundo apresentava se torna mais opaco, quando não se apaga por completo.
Começa, então, uma longa caminhada em busca de uma felicidade que a pessoa já possuía na aurora da vida, mas que recusou diante de mentirosas promessas. Este é o momento de olhar para Nossa Senhora, intitulada Rainha das Virgens (Regina Virginum) em sua Ladainha e dizer a “Salve Rainha”.
Ela, como Mãe compassiva, olhará a miséria humana e pedirá ao seu Divino Filho para que restitua aquela virtude angélica, a fim de nos tornarmos verdadeiramente os “pequeninos”, aos quais pertence o “Reino dos Céus” (cf. Mt 19,13-15; Mc 10,13-16; Lc 18,15-17).
Thiago de Oliveira Geraldo
[1] Cf. Súrio, Vita del B. Edidio. Apud Pe. Gabriel Roschini. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p. 209.
Fonte: Gaudium Press (Arautos do Evangelho)
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