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No dia 8 de setembro, celebra-se a festa da Natividade da SS. Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, que é a primeira das Doze grandes festas do ano litúrgico bizantino. Para as festas com data fixa, o ano litúrgico começa no dia 1º de setembro; tempos atrás, essa data registrava também o início do ano civil no Oriente. Esse costume tem sua origem numa tradição hebraica que fixava o início do novo ano ao Tishri, período que corresponde ao nosso setembro-outubro. Portanto a primeira grande festa litúrgica é mariana, como também a última do ano, a do 15 de agosto, como a confirmar o grande amor que tem para com a Mãe de Deus o Oriente que a viu nascer e crescer em perfeita conformidade ao plano de Deus. Também os cristãos do Ocidente celebram o nascimento de Maria Santíssima na mesma data, porém com menor solenidade. Essa festa mariana teve sua origem em Jerusalém na metade do século V, onde permanecia viva a tradição da dedicação da igreja construída no lugar onde surgia a casa dos santos Joaquim e Ana.

No século VI a festa foi introduzida em Constantinopla e mais tarde em Roma.

A Igreja bizantina já no dia anterior (7 de setembro) celebra a pré-festa e nas orações mais repetidas (tropário e kontákion) vislumbram-se já os temas que serão desenvolvidos nas celebrações de 8 de setembro. Eis o texto das duas orações:

Da raiz de Jessé e da estirpe de Davi
para nós hoje foi gerada Maria, a celeste menina.
Por isso, a criação se alegra e se renova,
céus e terra juntas tripudiam.
Povos todos, louvai-a. 
Joaquim exulta e Ana se alegra exclamando:
A estéril dá à luz a Mãe de Deus, 
nutriz da nossa vida.

Tropário (4º tom)

Hoje, a Virgem e Mãe de Deus,
intransponível câmara nupcial do Esposo celeste,
é gerada pela estéril, 
em conformidade com a vontade divina,
para ser o coche do Verbo de Deus.
Para isso, de fato, foi destinada 
aquela que é a porta santa
e a mãe da verdadeira vida.”

Kondakion (3º tom)

Juntamente com a riqueza de imagens, típica da oração oriental, nota-se logo que a liturgia do Oriente bizantino acolhe dados transmitidos pelo Proto-evangelho de São Tiago, baseado provavelmente em textos apócrifos anteriores: o nome dos justos e piedosos pais, a tristeza deles por não ter filhos, os prodigiosos anúncios do céu acerca do inesperado nascimento de uma filha, cujo destino é excepcional.

No ofício das Vésperas, com o qual começa a festa do dia 8 de setembro, assim vem exaltado o evento:

Hoje o Deus que se assenta em tronos espirituais
preparou para si um trono santo sobre a terra;
Aquele que em sua sabedoria estabeleceu os céus,
no seu amor cria um céu vivente.

Eis o dia do Senhor, alegrai-vos, ó povos!
Com efeito a câmara nupcial deu à luz,
e o livro do Verbo da vida saiu de um ventre.
A porta do Oriente nasceu
e aguarda a entrada do grão-sacerdote,
única a introduzir no universo o único Cristo,
para a salvação das nossas almas.

Hoje se descerram as portas estéreis
e nasce a Pura virginal e divina;
hoje a graça começa a dar o seu fruto
mostrando ao universo a Mãe de Deus,
para a qual a terra é unida aos céus.

É abolida a esterilidade da nossa natureza,
pois uma mulher estéril tornou-se mãe daquela
que permanecerá virgem após o nascimento do seu Criador. 
Dela o Deus por natureza 
apossou-se do que lhe era estranho e encarnado, 
opera a salvação dos transviados pela carne.

É fácil perceber que o nascimento da pequena Maria é interpretado como o início do plano da redenção. Daí a importância e o tom festivo que caracteriza esta festa. No ícone da Natividade de Maria, exposto no meio da igreja para ser venerado pelos fiéis, vê-se Ana estendida no leito, algumas servas cuidam dela e Joaquim observa a cena ou, em outros ícones, está junto de Ana feliz pelo nascimento da menina. Mais embaixo está a cena do primeiro banho da menina onde se vêem evidentes, ao lado da cabeça, as iniciais gregas que indicam ser ela a ‘Mãe de Deus’. Maria, desde o seu nascimento, é considerada tão íntima e indissoluvelmente unida ao Cristo na obra de redenção que alguns hinos litúrgicos a exaltam com expressões que para alguns poderiam parecer exageradas. Vejamos:

… É ela o soerguimento de Adão e a libertação do pecado; 
graças a ela fomos divinizados e libertos da morte; 
aclamemos, pois, com Gabriel: 
Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo 
e, por teu intermédio, nos concede grande misericórdia.

O tropário conclusivo (4º tom), que será repetido muitas vezes, até mesmo nos quatro dias que se seguem à festa, assim reza:

O teu nascimento, ó Mãe de Deus,
anuncia a alegria ao mundo inteiro;
pois de ti nasceu o Sol da justiça, Cristo nosso Deus,
o qual, abolindo a maldição, nos deu a bênção
e, destruindo a morte, nos presenteou com a vida eterna.

Nas Vésperas das festas marianas mais importantes, entre as quais está a de 8 de setembro, fazem-se três leituras bíblicas a saber: Gn. 28:10-17, que trata da escada celeste vista por Jacó; Ez 43:27-44:4 em que o Senhor indica ao profeta a «porta fechada» através da qual passará somente Deus; e Pr. 9:1-11, descrevendo a Sabedoria que constrói sua casa e convida a «comer o pão e beber o vinho.»

O Oficio matutino (que entre os eslavos se une às Vésperas para constituir uma grande vigília muito solene) aprofunda os temas já apresentados e os reforça, pois no Oriente a repetição tem grande importância, mais que a concatenação lógica, à qual estamos acostumados no Ocidente. E novas imagens procuram exprimir o inexprimível. Do Cânon respigamos (Odes 3o, 6 º e 7o) as seguintes composições:

Ó Imaculada, 
te tornaste áureo turíbulo do fogo divino, 
perfuma a podridão do meu coração,
o única sempre Virgem!

Em ti nós possuímos, ó Mãe de Deus, um porto,
um baluarte inexpugnável, uma proteção segura…

A sarça incombusta na montanha
e a fornalha refrescante na Caldéia
claramente te prefiguram, Esposa de Deus…

Trata-se de textos litúrgicos muito antigos, pois no século IX os ofícios bizantinos eram já quase todos formados do jeito que se conservaram até hoje. O Ikos, cantado após a Ode sexta, remonta ao século VI, sendo seu autor São Romanós, o Melode. Concluiremos apresentando o texto do kondakion, também este repetido, como o tropário, mais vezes até o dia 12 de setembro.

Joaquim e Ana foram libertos do opróbrio da esterilidade, 
e Adão e Eva, da corrupção da morte,
pela tua santa Natividade, ó Pura.
Teu povo, salvo da escravidão do pecado,
a celebra exclamando:
a estéril dá à luz a Mãe de Deus que alimenta nossa vida.

Kondákion (4º tom)


FONTE:

«O ANO LITÚRGICO BIZANTINO», Madre Maria Donadeo

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