Não faz muito tempo, atendendo o convite de um amigo fui à sua casa. Apesar dele não ter muitas posses, chamou-me atenção a boa ordem que reinava na casa, o bem cuidado do jardim, mas, sobretudo, o ambiente de bem-querença e a serenidade reinante naquele lar.
Enquanto tratávamos do assunto que ali me levara
observei o empenho de sua jovem esposa, auxiliando a filha mais velha — que devia ter seus 11 ou 12 anos — nas tarefas escolares. Com muito tato, procurava mais fazer a menina encontrar as soluções do que dar a resposta já pronta, o que lhe seria até mais fácil.
Um segundo filho, de seus 7 ou 8 anos, entretinha-se em modelar um pequeno castelo, que possivelmente vira em algum conto de fadas.
Em certo momento, com passinhos ainda incertos, entra o caçula de pouco mais de 2 anos:
— Mãe, o boneco não quer entrar na caixa…
A mãe, tendo já encaminhado as respostas da filha, sentou-se no sofá ao lado do pequeno e com paciência foi mostrando-lhe:
— Primero você dobra aqui, depois ali… — e assim o foi ajudando a resolver o que para o pequeno parecia um drama. Dir-se-ia que via a dificuldade de dentro dos olhos da criança. Pouco antes ela se “moldava” à visualização da filha, quase adolescente. Agora “entrava” na cabecinha do caçula e desfazia o para ele parecia um “drama”.
Não pude deixar de fazer uma analogia com a maneira de Nossa Senhora tratar a cada um de nós: Ela nos compreende de modo mais perfeito do que esta mãe compreendia o seu filhinho. E podem esses filhos estarem, um onde você está, outro na Patagônia, outro no Alasca ou na selva africana. Nossa Senhora a todos atende. E como se só aquele filho existisse.
Atende com uma bondade que, como diz São Luiz Grignion de Montfort, se juntássemos o amor de todas as mães que houve, há e haverá em todo o mundo, não dá o amor dEla por cada um de nós. Portanto, por mim ou por você que lê estas linhas.
Por esta razão fui atrás de uma anotação que fizera a tempos em uma conversa com o Mons. João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho. Lia ele um texto que bem expressa essa disposição de Nossa Senhora por cada um de nós. (1)
Para bem entender, é preciso imaginar Nossa Senhora se dirigindo a nós.
Aquilo que Eu quero dar porque sou boa, aquilo que desejo conceder porque sou Mãe, aquilo que posso dar porque sou Rainha, isso, meu filho, Eu dou!
Eu não te digo uma palavra, mas faço algo muito melhor que falar a teus ouvidos… Eu te comunico uma graça que murmura no fundo de tua alma.
Sentes essa paz que transborda de Meu coração, que te envolve, te penetra e te cumula? Essa paz que nenhuma alegria terrena pode trazer, e que te faz sentir uma tranquilidade interior, na qual ressoa minha voz, inaudível a teus sentidos: Tudo está resolvido! E aquilo que não estiver, resolver-se- á.
Confia em Mim, Eu acertarei tudo. As aparências podem não ser essas. Mas… Aceita esse sorriso, percebe esse sussurro, contempla essa bondade…E não duvides jamais!
Essas palavras ganharam ainda mais significado quando as reli no último dia 20, em que a Igreja comemora Nossa Senhora do Milagre (2), e cuja expressão fisionômica abre este post.
Parece dar a impressão da mãe que devolve a paz a quem dEla se aproxima intranquilo por algum mal. E mais especialmente se o mal está em quem se aproxima: um erro cometido, um mal hábito a corrigir, uma dificuldade por que passa, apreensões sobre o futuro pessoal ou da família ou… do mundo.
Contemple a fisionomia dessa imagem de Nossa Senhora. Ela não parece estar a dizer as palavras que transcrevi acima?
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(1) Mons. João Clá lia o trecho de uma palestra sobre a devoção a Nossa Senhora, dada pelo Prof. Plinio Corrêa de Olveira.
(2) Este quadro de Nossa Senhora do Milagre, em italiano Madonna del Miracolo, fica em Roma, na igreja de Sant’Andrea dele Fratte.
FONTE: ARAUTOS DO EVANGELHO
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