Conta-nos o evangelho de São Lucas (Le 1, 28-38) a Anunciação do anjo Gabriel a Maria, e quando Maria respondeu aceitando a sua missão – “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Naquele momento o Verbo Divino se encarnou e uma nova era se abriu para a humanidade.
Maria celebrava todos os anos o aniversário do grande dia em que o Verbo, encarnando-se em seu seio, a elevara à dignidade de Mãe de Deus. Testemunhas de seus sentimentos, os apóstolos se uniram a Ela e estabeleceram a festa da Anunciação nas diversas regiões onde foram propagar a fé cristã. A Igreja, seguindo o exemplo dos discípulos de Cristo, desde o início estabeleceu a festividade da Encarnação a 25 de março. Santo Atanásio, patriarca de Alexandria, em 328 dizia: – “É uma das maiores festas do Senhor e a primeira na ordem dos mistérios, por isso devemos celebrá-la com grande devoção.
Em Portugal seu culto era bastante divulgado, existindo diversas igrejas dedicadas à Senhora da Encarnação, como as de Lisboa e Coimbra. Entre as milagrosas imagens desta invocação, veneradas pelo povo, destaca-se a de Leira. Dizem que ela foi encontrada num olival perto daquela cidade e recebeu o título de Encarnação porque “em sua atitude estava mostrando a grande humildade com que Maria ouvia a anunciação do Arcanjo” e também porque apareceu num monte que antigamente era denominado “do Anjo”. por haver ali uma ermida dedicada a São Gabriel.
No Brasil, o culto da Senhora da Encarnação surgiu nos primeiros tempos do período colonial, quando estava em seu apogeu na Europa, cedendo lugar depois a outras invocações. Frei Agostinho de Santa Maria refere-se, no século XVIII, a dois santuários na Bahia, uma na Ilha de ltaparica e outro numa aldeia próxima a Ilhéus. Em ambos havia primeiramente uma pintura representando a Anunciação, mas, devido às inúmeras graças alcançadas, foram erguidas igrejas de pedra e cal, com imagens de Nossa Senhora da Encarnação no altar-mor, executadas em madeira policromada. Um dos poucos templos deste orago existentes hoje em dia é o de Guricema, na zona da Mata, em Minas Gerais.
Em meados do século XVII, a Congregação do Oratório, fundada em Portugal, estabeleceu-se em Pernambuco com a finalidade de socorrer doentes e abandonados, não só no Recife e Olinda, mas também nos matos e sertões, fundando aldeias e batizando gentios, que atraíam à fé católica pelo seu zelo apostólico. Os dinâmicos padres reformaram então uma ermida já existente em Santo Amaro d’Água Fria, que lhes fora doada pelo Vigário Geral, em torno dela construíram um mosteiro dedicado a Nossa Senhora da Encarnação. Sua igreja, como a maioria dos primitivos templos brasileiros, possuía um amplo alpendre que servia para abrigar os devotos que chegavam em horas impróprias àquela casa de devoção. No seu interior, possuía a princípio um retábulo dourado provavelmente sobre a Anunciação da Virgem, que devido aos estragos do templo foi retirado e substituído por pinturas. Sobre o altar-mor da capela azulejada de azul e branco foi colocada bonita efígie da Padroeira.
A Congregação do Oratório teve rápido desenvolvimento em nosso país c em pouco tempo o convento tomou-se pequeno para abrigar os religiosos. No início do século XVIII foi construído um convento maior, e sua matriz dedicada a Nossa Senhora Madre de Deus, porém sua festa continuou a ser celebrada na data da Anunciação. Devido à sistemática perseguição política a congregação extinguiu-se em 1830, após ter prestado inestimáveis serviços à religião e à cultura em Portugal e no Brasil, pois seus religiosos mantinham também cursos de gramática Latina, Teologia e Filosofia, além de escolas de primeiras letras, abertas a todos.
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