Saiba se fazemos a consagração a Virgem Maria com dúvidas, quando não nos sentimos preparados ou passamos por dificuldades.
Quando aproxima-se o tempo de fazer a nossa consagração total a Santíssima Virgem Maria, especialmente durante os trinta dias de preparação, pode surgir a dúvida: devo ou não consagrar toda a minha vida a Mãe de Deus? Além da dúvida, durante o caminho de preparação, podem acontecer situações concretas, como brigas, discussões, traições, quedas e tantas outras situações, que nos colocam num dilema: fazemos ou não a consagração? Tudo isso pode acontecer pois, quando nos preparamos para fazer a escravidão de amor, entramos numa grande batalha espiritual1: a nossa carne não quer entregar-se inteiramente para Jesus e Maria; o mundo, com suas seduções, quer nos afastar deste caminho de santidade; Satanás não quer que nos consagremos àquela que esmagará a sua cabeça2. Nesse tempo, Deus permite que passemos por tentações e provações por diverso motivos: para ver a nossa luta contra o mal, o pecado e o Demônio; para que conheçamos o nosso “fundo mau”3; para que reconheçamos a necessidade da consagração a Jesus e a Maria4 para a nossa santificação5; para que nos fortaleçamos espiritualmente, preparando-nos para viver a consagração; e tantos outros motivos que não nos são revelados para que não atrapalhemos o nosso processo de santificação. Conscientes desta batalha espiritual, voltemos à pergunta inicial e reflitamos sobre três dúvidas muito comuns neste tempo de preparação.
A primeira dúvida da qual gostaríamos de falar é aquela que surge a partir de uma constatação: não estamos preparados para fazer a consagração! É bastante comum esta dúvida, pois queremos estar prontos para nos entregar inteiramente a Jesus e a Maria. Nós queremos ser santos para nos consagrar. A consequência é que, olhando para a nossa vida, nos sentimos indignos da consagração. Geralmente, nossa tendência é adiar a nossa consagração, na esperança que um dia estaremos preparados. Pensar assim é um grande engano, pois a consagração é um ponto de partida e não um ponto de chegada. Não é necessário ser santo para fazer a consagração. Pois, a consagração não é para os santos, mas para aqueles que buscam um caminho fácil, curto, perfeito e seguro para chegar à união com Deus, a santidade6. Se esperarmos ser santos para nos consagrar, já não será mais necessário fazer a consagração, pois já atingimos o seu objetivo final. Se não nos sentimos preparados, pois não somos santos, é sinal de que precisamos e devemos nos consagrar a Nossa Senhora.
Uma segunda dúvida pode surgir se nos dias de preparação caímos em algum pecado ou estamos passando por alguma tribulação. Também são muito comuns situações assim pois, como dissemos acima, estamos numa batalha espiritual. Por isso, precisamos de armas espirituais: orações, jejuns, penitências e sacrifícios. Dentre essas, a principal arma espiritual neste tempo de preparação é a oração do Santo Rosário, ou pelos menos o Terço, diário. Mesmo usando estas armas, podemos cair em tentação e cometer um pecado grave. Neste caso, não devemos desistir, pois a consagração é um auxílio na nossa luta contra o pecado. Continuemos a nossa preparação para a consagração e, o mais rápido possível, confessemos o pecado cometido. Podem acontecer ainda tribulações, dificuldades, sofrimentos, como a perda de um emprego, uma discussão ou o término de um relacionamento. Diante dessas situações, podemos ser tentados a desistir ou adiar a nossa consagração para tempos mais tranquilos em nossas vidas. Não devemos ceder à essas tentações, pois não sabemos se teremos outra oportunidade para fazer a consagração. Mesmo em meio a tribulações, dificuldades e sofrimentos, continuemos a nossa preparação, pois a consagração é justamente um auxílio a mais para os tempos difíceis7, para o caminho da cruz, pelo qual o Senhor nos chama a segui-Lo8.
A terceira dúvida, talvez a mais comum de todas, aparece quando falhamos em nossas orações de preparação. Ficamos sem saber o que fazer, se desistimos, se continuamos ou não a fazer as orações. Algumas pessoas pensam logo em desistir, pois pensam que a consagração não será válida se falharmos algum dia. Outras querem desistir porque tem o desejo de fazer tudo perfeitamente e ficam decepcionadas quando se deparam com as próprias dificuldades e limitações. Outras ainda ficam sem saber o que fazer diante de uma falha, impossibilidade ou esquecimento das orações. É verdade que devemos nos aplicar o máximo para viver bem o tempo de preparação, no qual as orações são importantes, mas o mais importante é preparar o nosso interior9. Por isso, quando falhamos é uma ótima oportunidade para reconhecer o nosso nada, a nossa miséria e imperfeição, e que precisamos de Jesus e de Maria para chegarmos à perfeição, à santidade. Se falhamos em nossa preparação, não devemos desistir, mas continuar as orações, nos esforçando para não falhar mais e entregando, desde já, tudo nas mãos da Virgem Maria.
Portanto, durante o tempo de preparação, particularmente nos trinta dias de oração, podem acontecer inúmeras situações para desistirmos da consagração a Virgem Maria. Podemos cair em pecados ou ainda acontecer situações que nos levem a desanimar e desistir da consagração. Podemos falhar em nossas orações preparatórias ou simplesmente não nos sentir preparados para a entrega total. Porém, nenhuma dessas situações deve nos levar a desistir de nos entregar a Jesus Cristo e a Virgem Maria. Ao contrário, quanto maiores forem os motivos para desistir, mais devemos perseverar no caminho da escravidão de amor. Pois, estamos numa batalha espiritual e o Demônio, sabendo como esta consagração é eficaz, fará todo o possível para desistirmos10. Se a batalha é grande, esta é um sinal de que certamente precisaremos dela para vencer a nossa carne, o Diabo e o mundo, para alcançar a salvação11. Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós!
AUTOR: Natalino Ueda (Missionário Canção Nova)
FONTE: CANÇÃO NOVA
Referências do autor:
1 Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 114.
2 Cf. Gn 3, 15.
3 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit.,79.
4 Cf. idem, 14-15.
5 Cf. idem, 22-36.
6 Cf. idem, 152.
7 Cf. idem, 114.
8 Cf. Lc 9, 23; cf. Mt 16, 24.
9 Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 106.
10 Cf. idem, 114.
11 Cf. idem, 40.
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