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Em seu eterno e sábio conselho, a Santíssima Trindade elegeu a criatura que seria, para todo o sempre, a Mãe admirável do Verbo Encarnado. Em que consistiu essa predestinação?

945842_545779272140569_549173143_nA predestinação com que a Santíssima Virgem foi eleita é especial, única entre todas, não somente pelo grau, mas pelo gênero. Se Maria é, na verdade, a primeira criatura predestinada como a mais perfeita imagem de seu Filho é, além disso e a outro título, a única predestinada em qualidade de Mãe sua”.1

Para demonstrar a afirmação de que desde toda a eternidade Deus predestinou a Santíssima Virgem Maria para ser a Mãe do Verbo Encarnado, o insigne dominicano padre Royo Marín evoca a pura voz da infalibilidade pontifícia: 

“Na Bula Ineffabilis Deus, com a que Pio IX definiu o dogma da Imaculada Conceição, leem-se expressamente estas palavras: ‘Elegeu e assinalou (Deus), desde o princípio e antes dos tempos, para seu Unigênito Filho uma Mãe, na qual Ele Se encarnaria, e da qual, depois, na ditosa plenitude dos tempos, nasceria; e em tal grau A amou acima de todas as criaturas, que somente n’Ela Se comprouve com singularíssima benevolência’.

Nada sucede, nem pode suceder no tempo que não tenha sido previsto ou predestinado por Deus desde toda a eternidade. Logo, se a Virgem Maria é, de fato, a Mãe do Verbo Encarnado, claro está que foi predestinada para isso desde toda a eternidade. É uma verdade tão límpida e evidente que não necessita demonstração alguma”.2

A eleição de Maria foi singularíssima e distinta da dos outros predestinados

“Se, [pois], o decreto divino relativo a Cristo, Filho de Deus e Mediador, foi idêntico com o relativo à Virgem Santíssima, Mãe de Deus e Medianeira, segue-se logicamente que a predestinação de Maria foi singularíssima e, por isso, gloriosíssima, distinta da dos outros predestinados, seja quanto ao termo, seja quanto à sua extensão.

Quanto ao termo

Foi distinta, antes de tudo, quanto ao termo, pois que, enquanto a predestinação de todas as outras criaturas racionais (Anjos e homens) se refere, como a seu termo, à visão beatífica, que deve ser alcançada mediante a graça, a predestinação de Maria, ao contrário, se refere, como a seu termo, à maternidade do Homem-Deus Mediador; maternidade que, pertencendo à ordem hipostática, é incomparavelmente superior à graça e à glória. Por conseguinte, Maria foi predestinada àquele grau altíssimo, excepcionalíssimo de graça e de glória, que era proporcionado e conveniente a tão alta dignidade”.3

Quanto à extensão

“A predestinação de Maria não compreende apenas a maternidade divina e, em virtude desta, toda a abundância de graças e prerrogativas sobrenaturais, desde sua Conceição Imaculada até o seu glorioso triunfo nos Céus, mas também a própria existência e os dotes naturais de corpo e de alma que A adornaram.

Nos demais predestinados, alguns efeitos, como a graça e a glória, derivam da predestinação; outros, ao invés,pertencem à ordem da providência natural, como a existência do eleito e seus dotes naturais, que a predestinação pressupõe e ordena a seu fim.

A índole da predestinação de Maria é belamente descrita pelo Cônego Campana: ‘Assim como em Jesus, tudo em Maria é efeito da providência relativa à ordem sobrenatural. É claro que em Maria, não só a divina maternidade, não só os dons extraordinários da graça, mas a existência, a alma, o corpo, as faculdades, as mínimas coisas, enfim, dependem da predestinação: se Maria não devesse ser Mãe de Deus, não teria existido. […] Em Maria a maternidade divina penetra, por
assim dizer, todo o seu ser, e o transporta à ordem sobrenatural, não apenas no sentido de que o dirige para esta ordem, mas que o constitui um efeito próprio desta ordem. […] Como não ver em tudo isso uma vertiginosa elevação de Maria acima de toda outra criatura? Quem não compreende que Maria, na hierarquia da criação, ocupa um lugar singularíssimo, imediatamente abaixo de Jesus?'”.4

A predestinação de Maria à graça e à glória

“A predestinação de Maria à maternidade divina encerra, como consequência moralmente necessária, sua predestinação à graça e à glória. A razão é porque a maternidade divina tem uma relação tão íntima e estreita com Deus que exige ou postula moralmente uma participação na mesma natureza divina, que é precisamente a definição da graça santificante. Não se concebe, moralmente falando, a Mãe de Deus privada da graça. E como a graça é completamente gratuita – por isso se chama graça -, a Virgem não pôde merecê-la antes de possuí-la: logo, foi predestinada eternamente a possuí-la, e certamente já no primeiro instante de seu ser.

Isto quanto à graça. O mesmo raciocínio deve-se utilizar em relação à glória. Pode-se conceber, porventura que a Mãe de
Deus se condenasse eternamente? Pois a esta disparatadíssima conclusão haveria de se chegar, se negássemos que foi predestinada eternamente por Deus, não só à graça, mas também à glória.

Por conseguinte, ambas predestinações – à graça e à glória – se depreendem clarissimamente, como moralmente necessárias, do fato colossal de sua predestinação à divina maternidade.

Cumpre ainda dizer que o grau de graça e de glória a que foi eternamente predestinada a Santíssima Virgem Maria é tão
grande e sublime, que excede muito o de todos os Anjos e Bem-aventurados juntos, sendo superado unicamente pela graça e a glória de seu Divino Filho Jesus”.5

Fonte: Arautos do Evangelho

Excertos de: CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. 2.ed . São Paulo: Associação Católica Nossa Senhora de Fátima, 2010, v.II, p.12-17. (Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2014, n. 145, p. 36-37)


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