O percurso foi curto, mas o suficiente para ouvir a narrativa e o silêncio que se lhe seguiu. Alguém pode estranhar a expressão “ouvir o silêncio”; mas há silêncios que dizem muita coisa. E, como verão, o fato narrado se prestava ao silêncio pensativo.
Eram com toda certeza dois velhos amigos, pessoas simples de uma cidade do interior onde parece ter ocorrido o fato.
Pareceu-me útil dar a conhecer o fato aos leitores do Blog. Por isso tentarei lembrar-me bem dos detalhes.
Certo senhor, dono da única farmácia da cidade, chegava ao fim de um dia de trabalho árduo. Falo em dia, mas já era noite avançada quando ele apagou as luzes e estava a fechar a porta de aço. A meio caminho do gesto, uma vozinha de criança o interrompeu:
— Senhor, desculpe… mas é que mamãe está passando mal e pediram para eu vir aqui bem rápido pegar esse remédio.
E estendeu um papel, no qual, pelo nome do remédio, viu tratar-se de um caso grave.
Mas o bom homem tomou a coisa com amabilidade:
— Espere aqui, que vou lá dentro e lhe trago o remédio.
Entrou pela porta semi-abaixada e, sem acender a luz, foi ao balcão com o qual estava familiarizado a anos e, mesmo no escuro, retirou um frasco do remédio da prateleira.
Entregou-o à criança e esta saiu com o passo apressado.
No momento em que ia trancar os ferrolhos, lembrou-se de repente que precisava levar alguns papéis para casa. Voltou a abrir a pesada porta e desta vez não havia jeito senão acender a luz para localizar devidamente o que devia levar. Pegou-os e encaminhou-se em direção à porta.
Instintivamente, olhou para a prateleira de onde tirara o remédio. Empalideceu. Não queria acreditar no que viu: pegara o remédio errado. Pegara exatamente o que agravaria ainda mais o estado da enferma.
Só agravaria? Seus longos anos de experiência em farmácia faziam-no temer o pior… e ele seria o culpado.
Nesse momento fitou o pequeno nicho com uma bela imagenzinha de Nossa Senhora, cujo olhar bondoso o acalmou um pouco. Veio-lhe à mente como estava descuidado na sua vida religiosa.
Num instante —como num “flash” — ficaram patentes suas limitações, como as de qualquer ser humano: há circunstâncias na vida diante das quais somos impotentes, ou quase tanto. Se não contarmos com a ajuda divina, pouco ou nada poderemos.
Quase já não rezava, ia a Missa sem nenhuma piedade e quase só para acompanhar a esposa.
E agora encontrava-se numa dificuldade, da qual só uma intervenção divina poderia tirá-lo.
Da religião, apenas um hábito não deixara: trazer sempre consigo o terço que sua mãe lhe dera. Tomou-o, caiu de joelhos e pediu à Virgem que “desse um jeito”, pois não conhecia a criança, não sabia de quem seria filha, e… estava talvez levando a morte para a mãe.
Já rezara quase uma dezena, quando alguém tocou-lhe o ombro: era a menina a quem dera o remédio errado.
— Moço, eu sei que o senhor vai ficar zangado comigo, mas como fui muito depressa, tropecei e o vidro de remédio se espatifou no chão. O senhor não podia me dar outro?
A criança ficou um tanto surpresa em ver um largo sorriso iluminar o rosto do farmacêutico até então muito angustiado.
Levantou-se, pegou o remédio certo e deu à criança.
Saída esta, rezou o restante do terço numa imensa alegria e gratidão a Nossa Senhora, que “deu um jeito” no assunto…
Caro internauta, não é verdade que às vezes nos encontramos em situações assim, em que parece não haver saída? Lembremo-nos porém, que com a ajuda de Deus — que nunca falta — sempre há solução. Basta recorrer a Ele, especialmente por intercessão de Maria Santíssima, caminho escolhido por Ele para vir a nós. Pelo mesmo caminho podemos chegar a Ele e expor-lhe nossas necessidades. Como bom Pai, Ele nunca se negará atender.
FONTE: ARAUTOS DO EVANGELHO – MONTES CLAROS
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