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Premiado, longa-metragem “Lourdes” estreia na cidade de Porto, em Portugal

Porto (Sexta-feira, 27-05-2011, Gaudium Press) Estreou nesta quinta-feira, 26, no Teatro do Campo Alegre, na cidade do Porto, em Portugal, o filme “Lourdes”, que narra a história de uma mulher enferma e sua peregrinação até o famoso santuário católico francês em busca de um milagre: a cura de sua moléstia. A película será exibida até o dia 1º de junho, com sessões durante todos os dias, às 18h30 e as 22h.

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Película é uma realização conjunta entre França, Áustria e Alemanha

Produzido em 2009, numa realização conjunta entre França, Áustria e Alemanha, o longa-metragem de 96 minutos de duração foi dirigido pela austríaca Jessica Hausner e já recebeu diversos prêmios e distinções. A atriz principal do filme, Sylvie Testud, foi laureada por sua atuação pela Academia Europeia de Cinema, e Jessica Hausner por sua realização pelo festival austríaco Vienalle.

Além disso, a película recebeu uma distinção da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica e da Associação Católica Mundial para a Comunicação (Signis).

Em texto publicado no site da Agência Ecclesia, a crítica portuguesa de cinema, Margarida Ataíde, define o filme como “curioso e nada linear”, que “opta por uma abordagem não explicitamente confessional”. Segundo a crítica, a protagonista do filme embarca numa excursão ao santuário mariano que se transforma em uma “peregrinação interior”.

O filme “Lourdes” já está em exibição na capital portuguesa, Lisboa.

Com informações da Agência Ecclesia.

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Coração Imaculado de Maria

Estudo teológico da devoção ao Coração Imaculado de Maria

A expressão “cor immaculatum” é moderna. Ela se tornou de uso corrente depois da definição do dogma da Imaculada Conceição. Depois das aparições da Virgem em Fátima e da publicação dos escritos de irmã Lúcia, a expressão “coração imaculado” se impôs no uso eclesial e litúrgico. Ela atingiu a máxima difusão nos anos de 1942 e 1952, por causa da influência exercida pelos acontecimentos de Fátima, que determinaram a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria e uma quantidade de outras consagrações por parte de instituições eclesiais e às vezes civis. O movimento de piedade para com o Coração Imaculado de Maria alcançou o seu ápice em 1944 com a extensão da festa a toda a Igreja latina. Esses anos eram também anos de intenso florescimento da piedade mariana: nela se inseriu, com vigor jamais conhecido antes, a devoção ao Coração de Maria.

01- Breve história da devoção

Na Sagrada Escritura

A devoção ao coração de Maria tem o privilégio singular de poder contar com dois textos-chave neotestamentários, que estão na base de toda a tradição bíblica do Antigo Testamento, relacionados com os tempos messiânicos. São eles: “Maria, por sua vez, conservava todas essas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19). “Sua mãe conservava todas essas coisas no seu coração” (Lc 2,51)

Há um terceiro texto: “E também a ti uma espada transpassará a alma” (Lc 2,35).

Maria é colocada no centro da reflexão cristã sobre os mistérios da infância de Jesus. Isso é muito importante para a espiritualidade cordimariana, já que o coração de Maria, segundo as fontes evangélicas, aparece como o berço de toda a meditação cristã sobre os mistérios de Cristo. E isso confere à devoção ao Coração de Maria um fundamento escriturístico de valor incomparável.

O texto da apresentação no templo – é igualmente de grande interesse mariológico, pois nele aparece com indiscutível profundidade a associação interior de Maria com toda a obra salvífica de seu Filho.

Tudo o que se realiza no corpo sofredor do Filho realizar-se na alma e no coração da mãe.

Na Patrística

A patrística, tanto grega quando latina, desenvolveu por meio de esplêndidas reflexões o conteúdo dos textos lucanos. Gregório Taumaturgo já expressa a idéia de que o Coração de Maria foi como que o vaso e o receptáculo de todos os mistérios. Simeão Matafrastes dá testemunho de longa tradição oriental que faz do Coração de Maria o próprio lugar da paixão de Jesus: “O teu lado foi transpassado, mas no mesmo instante o foi também o meu coração”.

O tema da “concepção no coração” está presente na reflexão mariológica de toda a Idade Média e das épocas seguintes até o Concílio Vaticano II, que no entanto, o atribui à maternidade espiritual de Maria.

Hugo de São Vítor põe bem em evidência o tema segundo o qual o Verbo desceu ao seio de Maria justamente porque fora concebido primeiro no seu coração.

São João Eudes

Na história da devoção é preciso dar lugar especial a este santo “evangelista, apóstolo e doutor” da devoção aos sagrados corações de Jesus e Maria. Com São João Eudes temos: congregações religiosas dedicadas ao culto do Coração de Maria e do Coração de Jesus, as primeiras festas litúrgicas, com ofício e missa próprios, as primeiras obras sistemáticas de histórias, teologia e piedade; as primeiras confrarias, as primeiras aprovações da Igreja, tanto episcopais quanto pontifícias; as primeiras oposições sérias; a primeira grande difusão da devoção aos sagrados corações entre o povo cristão.

Que pretendia dizer São João Eudes com a expressão “Coração de Maria”? Em um de seus textos significativos nos dizem tudo. “O seu coração é a fonte e o princípio de todas as grandezas, excelências e prerrogativas com que se adorna, de todas as qualidades eminentes que a elevam acima de todas as criaturas, como o ser filha primogênita do eterno Pai, mãe do Filho, esposa do Espírito Santo e templo da Santíssima Trindade. Quer dizer também que esse santíssimo coração é a fonte de todas as graças que acompanham essas qualidades… e quer dizer ainda que esse mesmo coração é a fonte de todas as virtudes que praticou… E porque foram a humildade, a pureza, o amor e a caridade do coração que a tornaram digna de ser a mãe de Deus e como conseqüência, de possuir todos os dotes e todas as prerrogativas que devem acompanhar essa altíssima dignidade”.

As aparições de Fátima

Hoje, em uma história da devoção ao Coração de Maria, não podemos deixar de fazer menção à mensagem cordimariana que, como nova primavera, as aparições de Fátima nos legaram e devido seu revigoramento, obitveram reconhecimento eclesial.

O anjo de Fátima, já na primeira e na segunda aparições, afirma: “Os Sagrados Corações de Jesus e de Maria têm o vosso respeito projetos de misericórdia”. E, na terceira aparição, une a reparação ao Coração de Jesus à reparação ao Coração de Maria. A Virgem, na segunda aparição (junho de 1917), declara que Lúcia é apóstola da devoção ao seu Coração com estas palavras: “Jesus quer servir-se de ti para me fazeres conhecer e amar. Ele quer estabelecer ao mundo a devoção ao meu Coração Imaculado. Prometo a salvação a quem a praticar, essa almas serão amadas por Deus como flores colocadas por mim para adornar o seu trono”.

No entanto, é sobretudo na aparição de junho de 1917 que a mensagem sobre o Coração de Maria se enriquece com uma série de elementos de grande importância: a visão do inferno, o futuro da Rússia soviética, os sofrimentos do mundo, da Igreja e do papa, o triunfo final do Coração de Maria. Nessa aparição a Virgem promete voltar novamente para pedir a comunhão reparadora nos primeiros sábados e a consagração da Rússia. A mensagem cordimariana em Fátima não só assumiu dimensão mundial e eclesial, mas ainda foi posteriormente aprofundada e interiorizada. Quando, nos anos de 1942 e seguintes, se difundem as duas primeiras parte do chamado “segredo de Fátima”, Fátima se transforma em fenônemo carismático eclesial de primeira ordem; a partir deste momento começa como que uma nova era na história da Devoção ao Coração de Maria.

02- Liturgia

A festa litúrgica do Coração de Maria passou por muitas vicissitudes. De acordo com a história, houve primeiramente uma devoção privada ininterrupta, que não chegou a formas públicas oficiais.

Efetivamente, a primeira festa litúrgica do Coração de Maria, foi celebrada a 8 de fevereiro de 1648, na diocese de Autun.

Apesar disso, a festa não possuia nem missa nem ofício próprios. Estes foram finalmente concedidos por Pio IX em 21 de julho de 1855. O texto era inspirado no anterior de São João Eudes.

Bem cedo uma nova iniciativa se delineia no horizonte: a consagração do mundo ao Coração de Maria. Já em 1864 alguns bispos pedem ao papa tal consagração, aduzindo como justificativa e motivo a realeza de Maria.  A primeira nação que, com o beneplácito da Santa Sé, se consagrou ao Coração de Maria foi a Itália, por ocasião do Congresso Mariano de Turim, em 1897. O pedido decisivo partiu de Fátima e do episcopado português. Inesperadamente, a 31 de outubro de 1942, Pio XII, na sua mensagem radiofônica em português, consagrava o mundo ao Coração de Maria. Acontece, porém, que o que fora pedido nas revelações não era a consagração do mundo, mas, sim, a da Rússia, que devia ser feita pelo papa junto com todos os bispos do mundo. Essa consagração, realizou-se, de modo implícito mas claro, por João Paulo II a 25 de março de 1984. O Papa Paulo VI, a 21 de novembro de1964, ao encerrar a terceira sessão do Concílio Vaticano II, renovava, na presença dos padres conciliares, a consagração ao Coração de Maria feita por Pio XII. Mais recentemente, João Paulo II, no fim de sua primeira encíclica, “Redemptor Hominis” (4 de março de 1979), escreveu um significativo texto sobre o Coração de Maria. Ao tratar do mistério da redenção chega a dizer: “este mistério formou-se, podemos dizer, no coração da Virgem de Nazaré, quando pronunciou o seu “fiat”. A partir de tal momento, este coração virginal e ao mesmo tempo materno, sob a ação particular do Espírito Santo, acompanha sempre a obra do seu Filho e se dirige a todos os que Cristo abraçou e abraça continuamente no seu inesgotável amor. E por isso este coração deve ser também maternalmente inesgotável. A característica deste amor materno, que a mãe de Deus incute no mistério da redenção e na vida da Igreja, encontra sua expressão na sua singular proximidade do homem e de todas as suas vicissitudes. Nisso consiste o mistério da mãe”.

03 – Práticas e espiritualidade

Na história da piedade mariana a devoção ao Coração de Maria suscitou algumas características práticas de piedade, e, sobretudo, uma espiritualidade tanto de caráter ascético de forte purificação, quanto de elevação mística muito acentuada. O costume de dedicar o sábado à Virgem, que remonta à época de Alcuíno, tornou-se hoje a prática do “primeiro sábado do mês” consagrado ao Coração de Maria, talvez por analogia com a prática das “primeiras sexta-feiras” dedicadas ao Coração de Jesus. A prática dos primeiros sábados assume seu cunho definitivo com as revelações da Virgem, que a fixam em “cinco primeiros sábados” e a animam com a grande promessa do Coração de Maria. Eis a promessa: “Olha, minha filha, o meu coração circundado de espinhos, que os homens ingratos me enfiam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, faze algo para consolar-me; e transmite o seguinte: “A todos os que, durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, receberem a santa comunhão, recitarem um rosário e me fizerem companhia durante quinze minutos, mediando sobre os quinze mistérios do rosário, com o objetivo de reparar as ofensas que me são feitas, eu prometo assisti-los na hora da morte com todas as graças necessárias para a sua salvação”.

A devoção ao Coração de Maria sempre foi, durante toda a sua história, fonte inesgotável de vida interior para as almas marianas. Depois, o humanismo devoto de São Francisco de Sales, faz o coração da virgem Maria o lugar de encontro das almas com o Espírito Santo. Se entendermos o termo “coração” em toda a sua riqueza semântica, semita e cristã, pela qual ele designa o “ponto de referência”, o lugar em que se concentra a sua essência e de onde partem as suas palavras e as suas ações e, com este sentido, aplicarmos o termo à Virgem, veremos que a imagem por ele evocada é sinal sagrado da pessoa e das ações da própria virgem.

Convém insistir na sacramentalidade do “coração”: é um órgão escondido, que não obstante se manifesta: não o vemos, mas percebemos as suas “ações” é uma realidade vital, mas que remete à realidade mais elevadas, humanas e sobrenaturais.

A devoção ao Coração de Maria não pode reduzir-se à contemplação do “sinal do coração”, como às vezes aconteceu em épocas de gosto decadente. Ela deve abranger toda a realidade de Maria, considerada como mistério de graça, o amor e o dom total que ela fez de si a Deus e aos homens.

04- Memória Litúrgica atual

A Exortação apostólica “Marialis cultus” (2/2/1974), do Papa Paulo VI inclui a memória do Coração Imaculado da bem-aventurada Virgem Maria entre as “memórias ou festas que … expressam orientações surgidas na piedade contemporânea” (mc 8), o que é verdade.

Origem histórica da festa

De fato, quem promoveu a celebração litúrgica do Coração de Maria foi São João Eudes (1601-1680), conforme explícitas declarações de Leão XIII (1903) e de Pio X (1909), que o chamam “pai, doutor e primeiro apóstolo” da devoção e particularmente do culto litúrgico aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, a que o santo quis que fossem consagrados de modo especial os religiosos da sua congregação. A 31 de outubro de 1942 (e depois, solenemente, a 8 de dezembro na basílica vaticana), no 25º aniversário das aparições de Fátima, Pio XII consagrava a Igreja e o gênero humano ao Coração Imaculado de Maria: como recordação perene de tal ato, a 4 de março de 1944, com o decreto “Cultus liturgicus”, o papa estendia à toda a igreja latina a festa litúrgica do Coração Imaculado de Maria, designando-lhe como dia próprio 22 de agosto – oitava da Assunção – e elevando a rito duplo de segunda classe. O atual calendário reduziu a celebração à memória facultativa e quis encontrar para ele um lugar mais adequado colocando-a no dia seguinte à solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus.

Conteúdos dos textos litúrgicos

Essa aproximação das duas festas (Sacratíssimo Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria) nos faz voltar à origem histórica da devoção: na verdade, São João Eudes, nos seus escritos, jamais separa os dois corações. Aliás, durante nove meses a vida do Filho de Deus feito carne pulsou seguindo o mesmo ritmo da vida do coração de Maria. Mas os textos próprios da missa do dia destacam mais a beleza espiritual do coração da primeira discípula de Cristo.

Ela, na verdade, trouxe Jesus mais no coração do que no ventre; gerou-o mais com a fé do que com a carne! De acordo com textos bíblicos, Maria escutava e meditava no seu coração a palavra do Senhor, que era para ela como um pão que nutria o íntimo, como que uma água borbulhante que irriga um terreno fecundo. Neste contexto, aparece a fase dinâmica da fé de Maria: recordar para aprofundar, confrontar para encarnar, refletir para atualizar.

Maria nos ensina como hospedar Deus, como nutrir-nos com o seu Verbo, como viver tentando saciar a fome e a sede que temos dele. Maria tornou-se, assim, o protótipo dos que escutam a palavra de Deus e dela fazem o seu tesouro; o modelo perfeito dos que na Igreja devem descobrir, por meio de meditação profunda, o hoje desta mensagem divina. Imitar Maria nesta sua atitude quer dizer permanecer sempre atentos aos sinais do tempos, isto é, ao que de estranho e de novo Deus vai realizando na história por trás das aparências da normalidade; em uma palavra, quer dizer refletir, com o coração de Maria, sobre os acontecimentos da vida quotidiana, destes tirando, como ela o fazia, conclusões de fé.

Fonte: Dicionário de Mariologia, 1995 – Editora Paulus

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Maria: Reflexão 24/05/2011

Invocar Maria como Auxilio dos cristãos não é senão expressar com palavras o que a celestial Mãe faz em nós com suas obras.

Realmente, Maria é a grande auxiliadora do povo cristão, que dela recebe a proteção contra a adversidades, o consolo em seus sofrimentos, a fortaleza nas desgraças.

Se o filho, em todo o momento de aflição, recorre à sua mãe, dos lábios do cristão brota a invocação à sua Mãe Santíssima; e esta celestial Senhora nada tem que mais preocupe como ajudar seus filhos, que a ela se dirigem com simples confiança e profundo amor.

Fonte: Livro “Os cinco minutos de Maria” – Alfonso Milagro

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A Mensagem Bíblica do Ofício de Nossa Senhora da Conceição

MATINAS E LAUDES 

Filha, Mãe, Esposa

Maria Ssma. Vive a plena comunhão com a Ssma. Trindade. Assim disse o Concílio Vaticano II: “Maria é adotada com a missão sublime e a dignidade de ser Mãe do Filho de Deus, e por isso, filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo” (Constituição Lumen Gentium, n.º 53). E o Documento dos Bispos reunidos em Puebla acrescenta: “A Virgem Imaculada vive agora imersa no mistério da Trindade, louvando a glória de Deus e intercedendo pelos homens” (n.º 293).

Virgem das virgens 

Modo hebraico de exprimir o superlativo. Nossa Senhora é a mais santa de todas as Virgens.

Estrela da Manhã 

No livro do Apocalipse, por duas vezes Jesus Cristo é apresentado como a “estrela da manhã”: Ap 2, 28 e 22, 16. É por meio dele que o mundo sai das trevas do pecado e entra na plena luz da graça. Aqui no Ofício, a expressão refere-se a Maria, por meio da qual é anunciada a vinda do Sol da Justiça, o Salvador.

Deus vos salve, Cheia de Graça 

Foi essa a saudação do anjo Gabriel a Maria na anunciação (Lc 1, 28). A graça divina fez de Maria um jardim ornado de todas as virtudes.

Já Lá AB Aeterno

Se cada um de nós é escolhido e chamado por Deus antes da criação do mundo – como diz São Paulo em Ef 1, 4 – com mais razão Maria, desde toda eternidade, estava destinada por Deus para ser Mãe do Salvador.

Como o Verbo, Deus criou Terra, Mar e Céus 

É o que diz o Evangelho de São João 1, 3: “Tudo foi feito por meio dele”. Assim também está no Salmo 32, vv. 6 e 9: “Pela Palavra do Senhor foram feitos os céus; Ele disse e tudo foi feito. Ele ordenou e tudo existiu”. Essa Palavra de Deus criadora veio morar entre nós e tomou forma humana, encarnando-se no seio de Maria: é Jesus, o Filho do Pai Celeste, a 2.ª Pessoa da Ssma. Trindade (Jo 1, 14).

Quando Adão pecou, Vos escolheu por esposa 

Diz Gn 3, 15 que Deus prometeu à raça humana a vitória final sobre a serpente: por isso, esse texto é chamado de “Proto-evangelho”, primeiro anúncio da salvação. Comentando essa passagem, assim escreveu o Papa São Pio X: “vendo no futuro, Maria esmagar a cabeça da serpente, Adão estancou as lágrimas que a maldição arrancava de seu coração” (Encíclica Ad diem illum, de 02.11.1904). No plano de Deus, assim como o primeiro homem e a primeira mulher tinham causado a ruína da humanidade, assim também um Homem e uma Mulher seriam o início da redenção do mundo.

Deu-lhe morada em seu Tabernáculo 

“Felizes os que habitam em vossa casa, Senhor; aí eles vos louvam para sempre!” (Sl 83, 5). A casa de Maria foi a casa de Deus no mundo durante os trinta anos da vida oculta de Jesus. Mas ela viveu sempre na presença do Senhor e por isso viveu em íntima comunhão com Ele; assim Deus a acolheu em seus tabernáculos eternos no dia da sua Assunção.

PRIMA 

MESA, COLUNA, CASA 

No livro dos provérbios, lemos que “a Sabedoria (divina) construiu a sua casa, plantando sete colunas. Preparou o banquete, misturou o vinho e pôs a mesa. Enviou as suas criadas para anunciar … Vinde comer do meu pão e beber do vinho que misturei” (Pr 9, 1-3). Nossa Senhora é a casa escolhida por Deus para Jesus vir morar entre nós. Ele que no Banquete Sagrado da Eucaristia se nos apresenta nos sinais do Pão e do Vinho.

Mãe Criadora dos Mortais Viventes 

“Enquanto peregrinamos, Maria será a mãe e a educadora da fé. Ela cuida que o Evangelho nos penetre intimamente, plasme nossa vida de cada dia e produza em nós frutos de santidade” (Documento de Puebla, n.º 290). Ao pé da cruz, Maria recebeu de Jesus agonizante a missão de ser mãe de todos os que seriam discípulos dele (Jo 19, 26). Eva foi a mãe de todos os viventes na ordem da natureza (Gn 3, 20); Maria “se tornou para nós mãe na ordem da graça” (Concílio Vaticano II, Constituição Lumen Gentium, n.º 61).

Porta dos Santos 

Ou porta do Céu, como se reza na Ladainha, significa que Maria intercede por nós para que sejamos dignos de receber a recompensa dos santos, o céu. Por isso, rezamos com a Igreja: “Depois deste desterro, mostrai-nos Jesus”.

Forte esquadão contra o inimigo

No Cântico dos Cânticos, livro que celebra a beleza do amor humano dos esposos, a expressão “terrível como um exército em ordem de batalha” é um dos elogios que o esposo faz à sua amada (Ct 6, 4.10). Esse Cântico é todo ele aplicado à Aliança de amor que existe entre Deus e Seu Povo, Aliança esta que os Profetas descreveram em termos de Matrimônio (Os 2, 12-22; Jr 2, 2; Is 62, 4-5). Por ser Maria a representante máxima desse Povo amado por Deus, aplica-se a ela o que o Cântico diz da esposa. Diante do poder de Maria, fogem as forças do mal; ela defende seus filhos nas batalhas que têm de travar para se manterem fiéis a Deus.

Estrela de Jacó 

O profeta Balaão, chamado pelo rei Balac para amaldiçoar o povo de Israel, desobedeceu à ordem do rei e predisse num célebre oráculo que “uma estrela sairá de Jacó” (Nm 24, 17), isto é, do povo hebreu nascerá um chefe, que vencerá os inimigos. Neste anúncio do Messias, está também incluída sua Mãe, e por isso o nosso Ofício vê em Maria aquela estrela, que vai trazer a salvação ao Povo.

Refúgio do Cristão 

Nossa Senhora é representada também como exercendo a mesma função que tinham no Antigo testamento as cidades de refúgio (Js 20, 3), onde podiam se abrigar os que tivessem cometido algum delito. Maria, Mãe de misericórdia, intercede pelos pecadores, libertando-os da morte eterna.

TERÇA 

TRONO DO GRÃO SALOMÃO 

Tão belo e luxuoso era o trono do grande rei Salomão, que a Bíblia exclama: “Nada de semelhante se fez em reino algum!” (1Rs 10, 20). Era de marfim, todo revestido de ouro puro. Para aquele que seria superior a Salomão (Mt 12, 42), Deus preparou em Nossa Senhora um trono infinitamente mais belo e nobre, enriquecendo-a com toda espécie de graça.

Arca do Concerto ou Arca da Aliança 

Desde os tempos do Êxodo, a arca foi o sinal da presença de Deus nomeio do seu povo (Êx 25, 10-22). Era o lugar do encontro entre Deus e o povo. Nela se guardavam as tábuas da lei mosaica, o maná que alimentou os hebreus no deserto, e a vara de Aarão que floresceu milagrosamente. Jesus é o novo Moisés, que no Sermão da Montanha pregou a nova Lei (Mt 5-7). Deixou-nos na Eucaristia o alimento, figurado no maná, que nos conduz até a pátria celeste (Jo 6, 32-33). E a vara de Aarão simboliza a virgindade de Maria que, sem concurso humano, gerou o Salvador. A força do Altíssimo envolveu Maria com sua sombra (Lc 1, 35), assim como a nuvem da presença divina enchia o Tabernáculo onde repousava a Arca da Aliança.

Velo ou Gedeão 

Velo ou tosão é o couro do carneiro com a lã. Gedeão, que foi Juiz em Israel, obteve de Deus um duplo sinal de sua futura vitória contra os madianitas: primeiro, só o velo se umedeceu de orvalho e toda a terra ao redor permaneceu seca; depois, foi o contrário: enquanto o velo ficou seco, tudo ao redor apareceu molhado (Jz 6, 36-40). O orvalho que desce antes sobre o velo e depois sobre toda a terra representa a plenitude de graça que Maria recebeu, para depois comunicá-la à humanidade inteira.

Íris do Céu 

O arco-íris, que apareceu no céu depois do dilúvio, tornou-se o sinal da Aliança entre Deus e os homens; ao vê-lo, Deus se lembraria da sua intenção misericordiosa de não mais castigar os homens com um novo dilúvio (Gn 9, 12-17). Maria anuncia que chegaram os tempos do perdão: por meio dela nasce o Rei Pacífico que veio, não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (Jo 3, 17).

Sarça da Visão 

Deus chamou Moisés para libertar seu povo, aparecendo-lhe numa sarça, que ardia sem se consumir (Êx 3, 1-6). Nossa Senhora está simbolizada na sarça, porque deu à luz o Libertador do mundo, sem prejuízo da sua virgindade.

Favo de Sansão

Sansão encontrou um favo de mel dentro da ossada de um leão, morto por ele tempos atrás (Jz 14, 5-18). No seio da humanidade morta pelo pecado. Deus encontra aquela que na Salve-Rainha chamamos de “doce Virgem Maria”.

Florescente Vara 

“Um ramo sairá do trono de Jessé”, disse o Profeta Isaías (11, 1). Jessé foi o pai do grande rei Davi, de quem Jesus era chamado filho (Mt 21, 9), por ser descendente seu. Maria é aquele ramo que floresce, quando dela nasce Jesus.

SEXTA 

ALEGRIA DOS ANJOS 

Os anjos anunciaram aos pastores aquela que seria a grande alegria para todo o povo: o nascimento do Salvador, o Cristo Senhor, e cantaram alegres os louvores de Deus (Lc 2, 10-13).

Horto de Deleites 

Nossa Senhora é figurada naquele paraíso de delícias, onde viveram os primeiros Pais (Gn 2, 8). Porque ela é um verdadeiro jardim onde o Espírito Santo plantou as mais belas virtudes.

Palma de Paciência 

Maria conquistou a palma da vitória pela paciência e constância que demonstrou, associando-se ao sacrifício do Seu Filho e “consentindo com amor na imolação da vítima por ela mesma gerada” (Concílio Vaticano II, Constituição Lumen Gentium, n.º 58).

Terra Bendita e Sacerdotal 

Deus disse a Adão que, como castigo do seu pecado, a terra seria maldita, produzindo cardos e espinhos (Gn 3, 17). A Virgem Ssma., porém, é comparada àquela terra prometida, a terra santa, que mana leite e mel (Êx 3, 8). É uma terra sacerdotal, porque dá à luz o Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote (Hb 9, 11).

Cidade do Altíssimo

Na Bíblia, a Cidade Santa de Deus é Jerusalém, com a qual Ele faz uma Aliança de amor (ls 61, 10; Ap 21, 2). A Igreja inteira está representada nesta imagem da nova Jerusalém, mas sobretudo Aquela que é a Mãe da Igreja, escolhida para habitação de Deus na terra; com Ela Deus celebrou o seu Matrimônio místico, fazendo-a Esposa do Espírito Santo.

Porta Oriental 

Diz o Profeta Ezequiel (46, 1-3) que a porta oriental do Templo de Jerusalém é o lugar por onde entra o príncipe; todo o povo da terra se prostra junto a essa entrada. Por meio de Maria, Deus entra na história humana, realizando o grande milagre da Encarnação do seu Filho Único, o Príncipe dos reis da terra (Ap 1. 5). E por isso todas as gerações proclamam as grandezas de Maria (Lc 1, 48).

Lírio 

Essa comparação do lírio entre os espinhos é tirada do Cântido dos Cânticos (Ct 2, 2). No seu livro “Glórias de Maria”, Santo Afonso de Ligório imagina Deus dirigindo-se a Nossa Senhora com estas palavras: “Filha por excelência entre o resto das minhas filhas, sois como o lírio entre os espinhos, pois todas as outras foram manchadas pelo pecado, e só vós fostes sempre imaculada e sempre minha amiga”.

NOA 

CIDADE DE DAVI, GUARNECIDA DE TORRES 

O rei Davi construiu sua capital, Jerusalém, como uma cidade bem fortificada, para resistir a todos os ataques dos inimigos (2Sm 5, 9; Ct 4, 4). Assim, Maria é aquela criatura santa, que nunca foi vencida pelo pecado; toda cheia de graça, foi sempre fiel a Deus. É nisso exatamente que consiste o privilégio da sua Imaculada Conceição, que “nos apresenta em Maria o rosto do homem novo redimido por Cristo, no qual Deus recria de modo ainda mais admirável o provejo do paraíso” (Puebla, n.º 298).

A Força do Dragão foi por vós prostada 

Após o pecado dos primeiros Pais, quando Deus amaldiçoou a serpente, Ele anunciou que a descendência da Mulher haveria de esmagar-lhe a cabeça (Gn 3, 15). Por isso, Nossa Senhora da Conceição é representada com a cobra debaixo dos pés. Trazendo ao mundo o Salvador, ela deu início à vitória do Bem sobre o Mal.

Mulher Forte 

O livro dos Provérbios (31, 10-31) faz o elogio da perfeita dona-de-casa, que se mostra solícita, corajosa e operante em tudo o que faz. Em todos os tempos, inclusive hoje, existem mulheres que vivem esse ideal de doação total. Porém, mais que todas, Maria sempre teve essa fortaleza de ânimo, para executar sua missão no lar e na sociedade. Foi ela “a mulher forte, que conheceu a pobreza e o sofrimento, a fuga e o exílio; é modelo para que os que não aceitam passivamente as circunstâncias adversas da vida pessoal e social, nem são vítimas da alienação” (Puebla, n.ºs 297, 302); tornou-se assim exemplo para a mulher contemporânea, desejosa de participar com poder de decisão nas opções da Comunidade (Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus, n.º 37).

Invicta Judite 

A Igreja exalta a Mãe de Deus com as mesmas palavras com que os hebreus festejaram o triunfo desta mulher corajosa que, arriscando a vida, cortou a cabeça do general inimigo, e assim salvou seu povo: “Tu és a glória de Jerusalém! És a alegria de Israel, a honra do nosso povo!” (Jt 15, 9).

Alentaste o Sumo Davi 

Na história de Davi se conta que ele, estando já velho, mandou que lhe procurassem uma jovem esposa, para o assistir e cuidar dele. Procuraram em todo o território de Israel e trouxeram-lhe uma jovem belíssima, chamada Abisag de Sunam, que o serviu e se tornou sua esposa, mas permaneceu virgem (1Rs 1, 1-4). Cristo realizou as esperanças que o povo colocava em Davi; por isso, ele foi reconhecido como um novo Davi, um filho de Davi. A seu lado, Nossa Senhora tornou-se a esposa virginal de Deus.

DO EGITO O CURADOR 

O salvador do Egito, durante os sete anos de fome, foi José, que nasceu de Raquel, esposa predileta de Jacó (Gn 30, 22-24). Raquel é figura de Maria, a criatura preferida de Deus, predestinada a ser Mãe do Salvador do mundo.

TODA É FORMOSA MINHA COMPANHEIRA 

Para o homem que ama ternamente sua esposa, ela é toda bela e sem defeito; é esse mais um elogio que o amado faz à sua amada no Cântico dos Cânticos (Ct 4, 7). Ele se aplica a Maria num grau eminente: ela jamais teve qualquer mancha de pecado, sendo toda ornada de virtudes.

VÉSPERAS 

RELÓGIO ATRASADO, SINAL DO VERBO ENCARNADO 

O episódio bíblico referido aqui é o da cura obtida pelo rei Ezequias por intervenção do Profeta Isaías. Quando este anunciou ao rei que ele ficaria curado, ele não quis acreditar, sem antes ver um sinal do céu, que confirmasse as palavras do Profeta. Isaías então disse que a sombra do sol, com a qual se marcavam as horas no relógio solar, haveria de atrasar dez graus, como se as horas do dia voltassem atrás (2Rs 20, 8011; Is 38, 7-8).

Para entendermos que semelhança pode haver entre esse relógio e Maria Ssma., temos de ler a estrofe seguinte, que fala da descida de Deus até junto das criaturas. O Verbo se humilhou, tomando a forma de servo (Fl 2, 7), quando se encarnou no seio de Maria; o sol que retrocede representa o Cristo que se rebaixa fazendo-se homem. Então Maria é comparada com o relógio, no qual se realiza essa aniquilação do Sol divino.

SOL DA JUSTIÇA 

Deus prometeu através do PROFETA Malaquias: “Para vós que temeis o meu Nome, brilhará o Sol da Justiça” (Ml 3, 20). Esse Sol é o Cristo Salvador, que faz Maria resplandecer com sua luz, pois Ele é a luz do mundo (Jo 8, 12). Por isso, São João viu Maria no Apocalipse como “uma mulher vestida com o sol” (Ap 12, 1).

OS CEGOS ERRADOS VÓS ALUMIAIS 

A nós, que muitas vezes erramos o caminho, cegados pelas ilusões do mundo. Nossa Senhora nos aponta Aquele que é o “Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6), dizendo-nos como nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

COM NUVENS COBRISTES O MUNDO 

A frase é tirada de Eclo 24, 6 e, aplicada a Nossa Senhora, exprime o que disseram os Bispos em Puebla: “Maria não vale apenas pela Igreja. Tem um coração tão grande quanto o mundo e intercede ante o Senhor da história por todos os povos. Isto bem registra a fé popular, que põe nas mãos de Maria, como Rainha e Mãe, o destino de nossas nações” (n.º 289).

COMPLETAS 

RAINHA DE ESTRELAS COROADA 

Em Ap 12, 1 aparece no céu, como um grande sinal, a Mãe do Messias, coroada de doze estrelas. A Liturgia aplica esse texto à Assunção de Maria, na qual “se nos manifestam o sentido e o destino do corpo santificado pela graça. No corpo glorioso de Maria começa a criação material a ter parte no corpo ressuscitado de Cristo. Maria, arrebatada ao céu, é a integridade humana, corpo e alma, que agora reina intercedendo pelos homens, peregrinos na história” (Puebla, n.º 298).

SOBRE OS ANJOS SOIS PURIFICADA 

Mais pura que os anjos, Nossa Senhora tem uma santidade maior que a deles. Ela é a mais sublime das criaturas.

ESTAIS DE OURO ORNADA 

O Salmo 44, composto para celebrar as núpcias do rei, descreve o cortejo formado pelas princesas que conduzem os monarcas. A rainha que traja vestes douradas e está à direita do rei (v. 10) simboliza Maria que, “ao lado do Rei dos séculos, resplandece como Rainha e intercede como Mãe” (Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus, n.º 6).

SEGURO PORTO AOS NAVEGANTES 

Para os que enfrentamos as tempestades deste mundo, Maria é “vida, doçura, esperança nossa”. Santo Afonso de Ligório ensinou nas Glórias de Maria que a devoção a Nossa Senhora é sinal seguro de salvação: afirmou também que um verdadeiro devoto de Maria não se perde, pois Ela tudo alcança junto de Seu Filho em favor dos que A invocam.

ESTRELA DO MAR 

Santo Tomás explica assim esse título de Maria: ” Assim como por meio de estrela do mar os navegantes são orientados para o porto, assim os cristãos por Maria são conduzidos para a glória”.

SAÚDE CERTA 

Na Ladainha também invocamos Maria como “saúde dos enfermos”. Por meio de sua poderosa intercessão, recuperam a saúde os doentes de qualquer espécie. Como Seu Filho “passou pelo mundo fazendo o bem” (At 10, 38), Nossa Senhora não se cansa de zelar pela felicidade de seus filhos.

PORTA PARA O CÉU ABERTA 

“Por Maria foi aberta para todos a porta do paraíso, a qual por meio de Eva tinha sido fechada” – diz o Breviário.

ÓLEO DERRAMADO

Essa imagem é tirada de Ct 1, 2: “Teu nome é como um óleo escorrendo”. O óleo tem as propriedades de alimentar, curar, fortalecer, perfumar, inflamar; assim, os que invocam o Nome de Maria com confiança experimentam em sua vida que ” a devoção à Virgem Ssma. É um auxílio poderoso para o homem em marcha para a conquista da sua própria plenitude” (Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus, n.º 57).

Fonte: Comunidade Shalom


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Hino à Irmã Dulce

Salve! Salve! Save Irmã Dulce do amor!
Veja! veja! veja,  os grandes feitos do Senhor!

Irmã Dulce tão querida e tão amada, ontem e hoje tão venerada,
acolheu crianças, jovens, idosos e doentes entregues a divina
caridade e da bondade!

Salve! Salve! Save Irmã Dulce do amor!
Veja! veja! veja,  os grandes feitos do Senhor!

Lecionou pelas ruas, tão feliz do que fazia,
foi muito além daquilo que podia!
Dulce! Dulce! Dulce tão querida do Senhor,
dedicou o amor ao pobre, viveu o evangelho com ardor!

Salve! Salve! Save Irmã Dulce do amor!
Veja! veja! veja,  os grandes feitos do Senhor!

Por que é Deus, ficará no coração e na mente,
o ardor dessa canção para o mundo e ação eternamente,
Dulce do grande amor, viveu com os pequeninos a amizade do Senhor!

Salve! Salve! Save Irmã Dulce do amor!
Veja! veja! veja,  os grandes feitos do Senhor!

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O Anjo Bom da Bahia

Autor: Frei Lourenço Maria Papin, OP
Santa Cruz do Rio Pardo/SP

Neste Domingo, 22 de maio, a Igreja no Brasil viverá um dia de intenso júbilo: a beatificação da brasileira Irmã Dulce, em solene cerimônia presidida pelo Cardeal Dom Geraldo Agnelo, Arcebispo emérito de Salvador, por delegação do Papa Bento XVI.

Ela nasceu em Salvador (BA) aos 26 de maio de 1914. Seu nome de Batismo: Maria. Seu nome de registro civil: Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Foram seus pais Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Sua mãe faleceu quando ela tinha 07 anos.

Desde cedo Maria Rita mostrava-se uma garota alegre e extrovertida. Consta que apreciava o futebol e seu time de coração era o Esporte Clube Ypiranga, formado por trabalhadores e pessoas socialmente excluídas.

Espelhando-se no seu pai, dentista que atendia gratuitamente os necessitados, a menina Maria Rita, com seus dozes anos, já visitava algumas áreas carentes de Salvador, em companhia da sua tia, irmã de sua mãe.

Visitando casebres da periferia de Salvador, começou a conhecer de perto a pobreza, o sofrimento dos doentes carentes, das crianças abandonadas e dos pais desempregados. Essa experiência despertou em Maria Rita um grande amor pelos pobres que se tornaram sua opção preferencial.

Aos 15 anos entrou para a Ordem Terceira Franciscana, cujo carisma é viver a pobreza evangélica.

Em fevereiro de 1933, aos 19 anos, apenas formada professora, entrou para Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristovão-SE. Como então era costume mudou seu nome para Irmã Dulce, em homenagem à sua falecida mãe.

Sua primeira missão como freira foi lecionar num colégio mantido pela Congregação em Salvador. Seu desejo, porém, era trabalhar com os pobres.

Já em 1935 dava assistência a uma comunidade muito pobre de Alagados do bairro de Itapagipe. Atendendo também a numeros operários desse bairro, criou um posto médico e foi pioneira ao fundar a União Operária São Francisco, primeira organização operária católica do Estado.

Juntamente com o franciscano frei Hildebrando Kruthaup fundou o Círculo Operário da Bahia, mantido com rendas de três cinemas que os dois construíram através de doações recebidas.

Freira de idéias avançadas, fundou o Colégio Santo Antonio para operários e filhos de operários.

Freira destemida, invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar os doentes que encontrava pelas ruas de Salvador. Houve reintegração de posse… mas Irmã Dulce não abandonou seus doentes, alojando-os onde encontrava abrigo.

Um fato até pitoresco dessa freira criativa: em 1949, com autorização de sua superiora transformou um galinheiro ao lado convento, num local onde abrigou 70 doentes. Como Irmã Dulce veio a construir o maior hospital da Bahia (Hospital Santo Antonio) os baianos diziam jocosamente que isso aconteceu a partir de um simples galinheiro! Em 1989 esse hospital tinha mais de 700 funcionários.

Alicerçada em sua fé na Divina Providência e movida pela sua ardente caridade, Irmã Dulce conseguiu formar uma impressionante rede de obras visando sobretudo a saúde dos doentes pobres ou abandonados.

Em 1988, o então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Silvia da Suécia, a indicou para o Prêmio Nobel da Paz. O bem aventurado João Paulo II por duas vezes se encontrou com a Irmã Dulce: na primeira, aos 07.07.1980, incentivando-a prosseguir no seu benemérito trabalho; na segunda aos 20.10.1991, para confortá-la em seu leito de enferma em um Convento.

Cinco meses após a visita do Papa, aos 13.03.1992, a Bahia chorou a morte de Irmã Dulce que carinhosamente era chamada de “o bom anjo da Bahia”.

Importante observar que, após a sua morte, suas obras sociais mais do que duplicacaram em núlceos que prestam assistência médica, social e educacional à população sobretudo carente.

Irmã Dulce viveu heroicamente a Caridade amando em plenitude a Deus e aos pobres e marginalizados. Foi uma mulher de oração e de vida eucarística como amorosa oblação a Deus e como serviço aos irmãos. Por tudo isso ela está sendo declarada bem-aventurada.

Deixo aqui minha prece: Bem-aventurada Irmã Dulce, junto de Deus seja o anjo bom não só da Bahia mas também de nosso imenso Brasil. Amém!

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Não queres aliviar meu Coração?

Valerie nunca se sentira mais feliz! Quando comungou, depois de tantos anos sem frequentar os Sacramentos, estava tão radiante como Jeanette, que recebia por primeira vez a Jesus Eucarístico em seu inocente coração.


Na pitoresca cidadezinha de Veynes, junto aos Alpes franceses, vivia uma família muito unida e religiosa: Pierre Blondet, o pai, Marie Anne, a mãe, e os dois pequerruchos, Jeanette e Louis. O casal era muito abastado e generoso, dando continuamente bons exemplos de caridade e auxílio aos mais necessitados.

Não era raro, por exemplo, ver os empregados do senhor Pierre levarem o pároco, na melhor carruagem do patrão, para atender camponeses enfermos ou moribundos. E a cada domingo, depois da Missa, Marie Anne atendia com carinho a todos os que vinham bater à sua porta pedindo um bocado de comida, remédio para seus males ou uma palavra de consolo.

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Nesse ano, todos esperavam os Blondet com impaciência

Porém, o pequeno Louis sofria de asma, e quando chegava o inverno, o frio daquelas regiões fazia-o sofrer bastante. Por isso, a família havia adquirido uma bela casa na pequena cidade de Saint-Remy de Provence, próxima a Marselha, onde o clima era bem mais ameno, e para lá se mudavam nessa época.

Chegada a primavera, os Blondet retornavam para Veynes e o casarão de Saint-Remy ficava sob os cuidados de Valerie, uma jovem governanta muito honesta e trabalhadeira, que mantinha com esmero a casa da nobre patroa.

Logo que o outono começava a manifestar sinais de seu término, muitos braços se ofereciam para ajudar Valerie na limpeza da casa, a fim de bem receber tão querida família. Faziam uma faxina geral, lavando cortinas e tapetes, limpando móveis e almofadas, tirando as teias de aranha acumuladas pelo tempo, deixando tudo limpo e perfumado. E não se esqueciam do jardim, onde ainda era possível encontrar algumas flores coloridas.

Naquele ano, todos esperavam os Blondet com impaciência, porque a pequena Jeanette ia fazer sua Primeira Comunhão na Matriz. Valerie, entretanto, não se sentia tão alegre… Apesar de muito honrada e competente, não era nada piedosa. Nunca ia à Missa aos domingos, não gostava de rezar, e nem se lembrava de quando se havia confessado pela última vez… Apenas pisava na igreja para acompanhar a patroa e, nessas ocasiões, ficava sempre no fundo e distraída. Afinal, chegaram os viajantes e as crianças logo correram para o jardim, para ver as flores e brincar com o cachorrinho Rex, que os esperava pulando de alegria, enquanto balançava agitadamente o rabinho. A senhora Marie Anne respirou comprazida o ar perfumado da habitação e logo se dirigiu aos seus aposentos e aos das crianças. Agradada com a ordem e limpeza, voltou-se para a governanta e disse-lhe:

– Valerie, estou realmente encantada com tudo o que fazes em minha ausência. Quero dar-te uma pequena retribuição por teu bom trabalho.

E entregou-lhe uma vistosa caixa, contendo um belo vestido bordado com as melhores linhas de seda. Uma verdadeira obra de arte!

– Madame, muito obrigada! Mas não mereço tanto… – replicou a governanta.

– É para acompanhar-nos, no próximo domingo, à Missa de Primeira Comunhão de Jeanette.

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“Minha filha, esta espada simboliza a dor
que sinto ao ver-te fechar a alma para as
graças que te concedo”

Valerie percebeu não ser possível ficar no fundo da igreja, dessa vez… Mas não importava, pensou ela, assim apareceria melhor diante de suas amigas, que iam morrer de inveja ao vê-la tão elegante…

Na véspera da cerimônia, Marie Anne avisou que sairiam mais cedo, porque o esposo e ela queriam confessar-se antes da Missa. Jeanette já o havia feito no dia anterior, e o pequeno Louis ainda não tinha idade para isso.

– Confessar-se? – pensou Valerie – Para que essa bobagem? Até parece que Deus fica ressentido com o que fazemos…

Contudo, não disse nada. E, na manhã do domingo, estava pronta bem cedinho, com seu belo vestido novo e um penteado todo especial, imaginando todos os olhares dirigindo-se para ela, quando entrasse na igreja…

Valerie não se enganara. Suas amigas, ao vê-la chegar, fitaram-na com admiração e começaram a cochichar sobre seu novo vestido! Não cabendo em si de vaidade, a governanta procurava aparentar indolência enquanto se dirigia lentamente para a sacristia com o casal Blondet.

Ali havia algumas pessoas esperando sua vez para receber o Sacramento da Reconciliação, e para não dar impressão de estar ela também querendo confessar-se, Valerie se afastou em direção a uma imagem do Imaculado Coração de Maria que havia no lado oposto, fingindo rezar.

Entretanto, seus olhos se fixaram no coração da Virgem, cercado de espinhos e atravessado por uma espada. Era curioso… Ela conhecia essa imagem desde sua infância, mas não se lembrava daquela adaga. Levantou então os olhos para a fisionomia de Nossa Senhora e, vendo nela uma incomum expressão de tristeza, ouviu uma voz a lhe dizer:

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Entre lágrimas, Valerie confessou
suas faltas ao bom pároco

– Minha filha, tu estranhas esta espada? Pois ela simboliza a dor que sinto ao ver-te fechar a alma para todas as graças que te concedo. Não queres aliviar meu Coração? Arrepende-te, confessa-te e faze o firme propósito de mudar de vida. Eu estarei a teu lado para ajudar-te!

Valerie não soube explicar o que se passou… Quando se deu conta, estava de joelhos, confessando, entre lágrimas, as suas faltas ao bom pároco, o qual lhe dizia:

– Vê, filha, passas todo o ano arranjando com esmero a casa da senhora Blondet, para deixá-la satisfeita quando chega. Agora, fizeste algo muito melhor: preparaste tua alma com todo cuidado para receber o Rei dos reis, que há tanto tempo espera para entrar em teu coração.

A governanta nunca se sentira mais feliz! Terminada a confissão, olhou para a imagem de Maria e viu-a risonha e luzidia, sem a espada que antes lhe feria o Coração. E quando comungou, depois de tantos anos sem frequentar os Sacramentos, sentia-se tão radiante como Jeanette, que recebia por primeira vez a Jesus Eucarístico em seu inocente coração.

Marie Anne havia acompanhado discretamente o acontecido na Sacristia e estava emocionada. Juntas, comemoraram a dupla festa. A boa governanta mudou completamente de vida e os habitantes de Saint-Remy, ao tomarem conhecimento da inesperada conversão, cresceram ainda mais em fervor e devoção a Maria Santíssima, pois Ela nunca desampara aos que são d’Ela, e chama a Si até mesmo aqueles que já A abandonaram.

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Autora:
Mariana Iecker Xavier Quimas de Oliveira

Fonte: Revista Arautos do Evangelho, Maio/2011, n. 113, p. 44-45

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Espírito do Santo Temor

Autora: Raphaela Nogueira Thomaz

No sacramento da confirmação, o Exmo. Bispo impõe suas sagradas mãos e invoca sobre os crismandos os sete dons do Espírito Santo: “ Deus de Bondade […] e enchei-os do espírito do temor de Deus”.

Entretanto, o temor se opõe à esperança – como ensinam os filósofos – e em Deus temos a suma esperança. Então, por que “temor de Deus”?
Em sua carta, São João nos diz: “Deus caritas est” (1Jo 4,16). Portanto, se Deus é amor não há por que temê-lo.

Contudo, aliada a essa suma Bondade que é Deus, encontramos também Sua infinita justiça, que odeia e castiga o pecado do homem. E, neste sentido, Ele pode e deve ser temido, enquanto tem a faculdade de infligir-nos um mal que mereçamos, em castigo de nossas culpas.

Há quatro classes de temor, muito distintas entre si:

  1. Temor mundano – é aquele que não vacila em ofender a Deus para evitar um mal temporal. Em tempos idos, quantos heróis da Fé, quantos mártires que, por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, não negaram sua Fé e entregaram sua própria vida! Hoje em dia, quantos há que, por horror ao ridículo e por medo das risadas, se entregam às mais deploráveis infâmias!
  2. Temor servil – é próprio do servo que obedece a um senhor apenas por medo do castigo que pode advir-lhe, se assim não proceder. Todavia, nesta classe de temor existem duas modalidades:
    1. A primeira é o medo do castigo como causa única, sem ter em conta a afronta contra Deus.
    2. A segunda é quando o medo do castigo acompanha a causa principal, que é o horror de ofender a Deus. Também chamada dor de atrição, é boa e honesta, mas é um temor simplesmente servil.
  3. Temor filial imperfeito – é o que evita o pecado porque nos separaria de Deus, a quem amamos. É próprio do filho que ama seu pai e não quer separar-se dele. É um temor bom e honesto, mas ainda não é o perfeito, posto que tenha em conta o castigo que lhe viria: a separação do Pai, por isso, do Céu. Assim, é um temor inicial.
  4. Temor filial perfeito – é o amor sumamente perfeito a Deus, o qual levou Santa Teresa D’Ávila a dizer com toda a verdade: “ Ainda que não houvesse céu, eu Te amaria, e ainda que não houvesse inferno, Te temeria”.

Agora, qual dessas classes estaria relacionada ao Dom de Temor de Deus? Evidentemente, o temor filial perfeito, pois se funda na caridade e reverência a Deus como Pai. Mas como o temor filial imperfeito não difere substancialmente do filial perfeito, também o imperfeito passa a fazer parte do dom de temor, ainda que só em suas manifestações incipientes ou imperfeitas. À medida que cresce a caridade, este temor inicial vai se purificando; vai perdendo sua modalidade servil, que ainda teme a pena, para fixar-se unicamente na culpa enquanto ofensa a Deus. O dom de Temor é, portanto, um dom importantíssimo, que inclina a nossa vontade ao respeito filial a Deus, afasta-nos do pecado, enquanto lhe desagrada, e nos faz esperar no poder de Seu auxílio, aperfeiçoando as virtudes da esperança e da temperança, ao fazer-nos considerar a grandeza de Deus.

Grandes santos existiram ao longo da História, os quais, espargindo seu perfume de virtude, inspiravam fortes oposições entre os bons e os maus. Sua integridade impunha respeito e, sobretudo temor que é um reflexo do temor que os homens devem ter a Deus

Fonte: Instituto Filosófico-Teológico Santa Escolastica

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Os dogmas marianos: luz para a Igreja

Verdades de Fé proclamadas pelo Magistério em sua missão de custodiar e expor a Revelação, os dogmas marianos constituem um autêntico sinal da divina vitalidade da Igreja.

Autora: Irmã Clarissa Ribeiro de Sena, EP

Após a Ascensão do Senhor aos Céus, coube aos Apóstolos, já transformados pelas graças de Pentecostes, a missão de instruir os homens na Boa Nova. Assim o fez Filipe, por exemplo, quando, impelido pelo Espírito, se aproximou do estrangeiro que lia um trecho de Isaías e lhe perguntou: “Tu compreendes o que estás lendo” ? Ao que este respondeu: “Como posso se não há quem mo explique?” (At 8, 31). Então Filipe, “principiando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus” (At 8, 35).

Com efeito, sendo a Palavra de Deus expressa com as limitações próprias à linguagem humana, e estando as nossas mentes sempre sujeitas a enganos, era inevitável surgirem dúvidas e dificuldades na compreensão do sagrado depósito da Fé, dando origem às mais variadas interpretações. Inclusive porque naSagrada Escritura, conforme escreve São Pedro a propósito das cartas paulinas, “há algumas partes difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para sua própria ruína” (II Pd 3, 16).

Jesus, portanto, quis instituir um Magistério vivo, confiado ao Papa e aos bispos, sucessores dos Apóstolos, a fim de que “permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos”1, possibilitando-lhe praticar a Fé autêntica sem erro.2

A este Magistério vivo, e somente a ele, cabe “o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição”; 3 e seu caráter infalível se verifica ao definir, por singular assistência do Espírito Santo, doutrinas em matéria de Fé e moral, seja através do Papa, pronunciando-se ex cathedra, ou do Colégio Episcopal “quando este exerce o supremo Magistério em união com o sucessor de Pedro”.4

É nesse contexto que se inserem as definições dogmáticas nas quais “o Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo”5 e propõe ao povo cristão uma verdade a ser aceita com adesão irrevogável de Fé. Longe de serem imposições arbitrárias, “os dogmas são luzes no caminho de nossa Fé que o iluminam e tornam seguro”.6

Magistério e fervor popular

Os sucessores dos Apóstolos não são apenas mestres, mas também pastores; seus ensinamentos visam, pois, intervir na ordem concreta dos fatos. Por isso, “insistem mais num ponto ou noutro, desenvolvem mais uma matéria, enriquecem de preferência outra, com novos ensinamentos e novas leis, tudo ao influxo do que lhe vai pedindo a solicitude pastoral à vista das diversas vicissitudes pelas quais vai passando o gênero humano ao longo da História”.7

Nesse sentido, ensina Santo Agostinho: “Referentes à Fé católica, há muitos pontos que, ao serem postos no tapete da discussão pela astuta inquietude dos hereges, para podermos fazer- lhes frente, devem ser considerados com mais cuidado, entendidos com mais clareza e pregados com mais insistência. E, assim, a questão suscitada pelo adversário oferece oportunidade para aprender”.8

Há, entretanto, um motor ainda mais dinâmico do que as heresias no desenvolvimento da Fé: é o amor do povo fiel que, inspirado pelo Espírito Santo, impulsiona os seus Pastores a tornarem explícitos certos aspectos da Revelação. Assim, as novas definições dogmáticas não nascem de frias considerações doutrinais, mas provêm das legítimas necessidades e apetências do povo de Deus.

As proclamações dos dogmas marianos são belos testemunhos dessa imbricação entre o Magistério vivo e o fervor dos fiéis, desde os primeiros séculos do Cristianismo. O surgimento das primeiras heresias e o surto de amor à verdade que se insurgiu contra elas vai dar uma oportunidade única ao desenvolvimento da Doutrina Cristã, fomentando a reflexão teológica e propiciando as intervenções do Magistério da Igreja, vigilante salvaguarda da Fé.

A história da definição da maternidade divina e da virgindade perpétua de Maria Santíssima como verdades de Fé são dois magníficos exemplos desta realidade.

Maternidade divina

Entre as inúmeras lições outorgadas aos homens pela História, há uma de capital importância: a forma mais eficaz de combater uma verdade nem sempre consiste em propagar o erro oposto, mas em exagerar algum de seus aspectos. Constata-se isso ao analisar o movimento pendular das heresias dos primeiros séculos, as quais, sob as aparências de zelo e pia defesa da ortodoxia, sucederam-se nos mais heterodoxos extremismos, igualmente distantes do equilíbrio da Fé. Foi o sucedido, por exemplo, com a heresia que ocasionou a definição do primeiro dogma mariano.

Grassava no século IV um terrível erro cristológico difundido por Apolinário, Bispo antiariano de Laodiceia, o qual, alegando a necessidade de salvaguardar a unidade de Cristo com Deus, terminou por amputar-Lhe a natureza de homem, negando a existência da alma humana no Verbo Encarnado.

Contra os apolinaristas – como ficaram conhecidos os seguidores do heresiarca -, levantou-se Nestório, Patriarca de Constantinopla, defendendo a integridade tanto da natureza humana como da divina, mas afirmando um erro oposto: ambas eram tão completas que formavam duas hipóstases independentes, duas pessoas unidas de maneira extrínseca e acidental. Assim, Cristo seria Deus e homem, não no sentido católico da união hipostática do Verbo com a humanidade, mas formando um composto de duas pessoas distintas, havendo entre elas apenas uma união moral.9 Essa doutrina comportava um importante corolário: Maria não era Mãe da pessoa divina, mas apenas da natureza humana de Cristo. Portanto, deveria ser chamada Khristotókos (Mãe de Cristo), e não Theotókos (Mãe de Deus).

Tal afirmação contundia tanto o ensinamento dos Padres, quanto a piedade dos fiéis, cuja indignação diante das proposições de Nestório não foi pequena.

Com efeito, claros precedentes da doutrina estabelecida pelo dogma aparecem desde os primeiros tempos da literatura cristã. Já nos escritos de Santo Inácio de Antioquia, que foi discípulo do Apóstolo João, encontramos expressões como estas: “De fato, o Nosso Deus Jesus Cristo, segundo a economia de Deus, foi levado no seio de Maria, da descendência de Davi e do Espírito Santo”10; “Constatei que sois perfeitos na Fé imutável. […] Estais plenamente convencidos de que Nosso Senhor é verdadeiramente da descendência de Davi segundo a carne, Filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus, nascido verdadeiramente da Virgem”.11

Em sentido análogo se pronuncia Santo Irineu, no segundo século, quando atribui à mesma Pessoa a geração eterna e a temporal, acentuando a unidade pessoal de Cristo, Verbo de Deus e Filho de Maria: “É, portanto, o Filho de Deus nosso Senhor, Verbo do Pai e, ao mesmo tempo, Filho do homem, que de Maria, nascida de criaturas humanas e Ela própria criatura humana, teve nascimento humano, tornando-Se Filho do homem”.12

A devoção dos fiéis pela “Sancta Dei Genitrix (Santa Mãe de Deus)” vem demonstrada, pelo menos desde o século III, pela prece Sub tuum præsidium, a mais antiga oração dirigida a Maria da qual se tem conhecimento, no qual Ela é assim invocada. 13 Segundo afirma Gabriel Roschini, “no século IV, mesmo antes do Concílio de Éfeso, a expressão Mãe de Deus se tornara tão comum entre os fiéis que dava nos nervos do Imperador Juliano, o Apóstata”.14

Empolgantes são as páginas deste capítulo da História da Igreja em que, tendo à frente o grande São Cirilo de Alexandria, o Concílio de Éfeso definiu no ano 431 a verdade destinada a brilhar para sempre no firmamento da teologia: “Se alguém não confessar que o Emanuel é Deus no sentido verdadeiro e que, portanto, a santa Virgem é deípara (pois gerou segundo a carne o Verbo que é Deus e veio a ser carne), seja anátema”.15

É digno de nota o entrelaçamento havido entre a fé popular e a reação doutrinária contra a heresia, como fator decisivo para a proclamação deste primeiro dogma mariano. A par das questões teológicas, faz-se presente em quase todas as obras que tratam sobre o Concílio de Éfeso, a constituição de uma como que “torcida” dos fiéis pela proclamação do dogma, manifestada, sobretudo, na narrativa do júbilo popular após o encerramento da sessão que consagrou a Theotókos: provida de tochas acesas, a multidão devota acompanhou os Padres conciliares até suas moradas, aclamando-os pelas ruas da cidade.

Estavam abertas, assim, as portas para as definições formais da Santa Igreja sobre as realidades teológicas que dizem respeito à Santíssima Virgem. A segunda delas, sobre a sua virgindade perpétua, viria duzentos anos mais tarde, novamente em defesa da verdade na luta contra a falsa doutrina.

Virgindade perpétua

A virgindade perpétua da Mãe de Deus é sintetizada nesta fórmula: Maria foi virgem antes do parto, no parto e depois do parto. Estes três elementos do dogma afirmam a concepção virginal de Jesus, pois Maria foi mãe por virtude divina, sem concurso humano; o nascimento milagroso de Jesus, “o qual não só não lesou a integridade de sua Mãe, mas também a consagrou”16; e a integridade de Maria Santíssima depois do nascimento de seu Divino Filho.

Já os livros do Antigo Testamento trazem imagens e profecias sobre a virgindade de Maria como comenta São Bernardo: “Que prefigurava em seu dia aquela sarça ardendo sem consumir-se? A Maria dando a luz sem dor alguma. E a vara de Aarão, que floresce misteriosamente, sem havê-la plantado? À Virgem, que concebeu sem concurso de varão. E será Isaías quem melhor nos formule o maior mistério deste prodigioso milagre. ‘Germinará uma vara do tronco de Jessé, e de sua raiz brotará uma flor’, assim deixa representada a Virgem na vara, e seu parto na flor”.17

E prototípica é a profecia de Isaías, recolhida por São Mateus: “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: ‘Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho que se chamará Emanuel’ (Is 7, 14), que significa: ‘Deus conosco'” (Mt 1, 22-23).

No Novo Testamento, a concepção virginal é atestada por São Lucas e São Mateus, ao afirmarem que Jesus foi gerado pelo Espírito Santo: “O Espírito Santo descerá sobre Ti, e a força do Altíssimo Te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de Ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 35); “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que n’Ela foi concebido vem do Espírito Santo” (Mt 1, 20).

Apesar desses indícios escriturísticos, a maternidade virginal de Maria foi alvo dos ataques de várias heresias nos primeiros séculos, como a corrente dos ebionitas, a qual negava a divindade de Jesus. Contudo, a concepção virginal era já considerada pela Igreja como indiscutível patrimônio doutrinário18, e foi posta a serviço da defesa da divindade do Redentor. É neste período que, com São Justino, a expressão “a Virgem” começa a se tornar característica para designar Maria Santíssima.19

No século IV, houve uma ampla explicitação deste dogma, como reação aos erros então propagados. Defenderam a virgindade perpétua de Maria grandes escritores como Santo Epifânio, São Jerônimo, Santo Ambrósio e Santo Agostinho. Belas são as páginas dedicadas pelo Bispo de Hipona ao louvor deste privilégio mariano, como nos mostra o seguinte trecho: “Maria permanece virgem ao conceber seu Filho, virgem como gestante, virgem ao dá-Lo à luz, virgem ao alimentá-Lo em seu seio, sempre virgem. Por que te admiras disso, ó homem? Uma vez que Deus Se dignou fazer-Se homem, convinha que nascesse desse modo”.20

Não tardou que ao aprofundamento teológico se acrescentasse o reconhecimento do Magistério. Coube ao Sínodo de Latrão de 649, convocado pelo Papa São Martinho I, a proclamação do dogma.

Após as grandes controvérsias cristológicas de seus primórdios, a Igreja esperaria doze séculos para uma nova definição dogmática solene sobre os atributos da Mãe de Deus. Desta vez, não será ela impelida pela necessidade de combater heresias, mas por outro possante fator de desenvolvimento dogmático: o sensus fidei.

O dogma da Imaculada Conceição: triunfo da piedade cristã

A definição do dogma da Imaculada Conceição é um exemplo paradigmático da Fé eclesial que, por especial assistência do Espírito Santo, cresce e se aprofunda na compreensão das verdades reveladas. Neste caso, o povo cristão, “que não sabe teologia, mas tem o ‘instinto da fé’, que provém do mesmo Espírito Santo e lhe faz pressentir a verdade, ainda que não saiba demonstrá-la”21, antecipou-se aos doutos e sábios crendo na Imaculada Conceição de Maria.

Estimulados pela fé instintiva dos fiéis, os teólogos buscaram fundamentá-la com argumentos plausíveis e harmonizá-la com o conjunto da Revelação. E foi neste ponto que a tese da Imaculada Conceição se viu incompreendida até por grandes e piedosos doutores, como São Bernardo, Santo Anselmo, São Boaventura, Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino, os quais não ousavam defender a proclamação deste dogma por não conseguirem conciliá-lo com a doutrina acerca da transmissão do pecado original e da redenção universal operada por Cristo.

Uma reação à altura em favor do dogma apareceria anos mais tarde, com o Beato João Duns Escoto, o qual “depois de bem fixar os verdadeiros termos da questão, estabeleceu com admirável clareza os sólidos fundamentos para desvanecer as dificuldades que os contrários opunham à singular prerrogativa mariana”.22 Tais fundamentos consistiram, sobretudo, na elaboração do conceito de redenção preventiva, argumento decisivo da doutrina sobre a Imaculada.

Argumentam os teólogos que há duas formas de libertar um cativo: pagando o preço de seu resgate para tirá-lo do cativeiro em que já está (situação análoga à redenção liberativa, na qual, pelos méritos de Cristo, somos limpos da culpa original herdada de nossos primeiros pais); ou pagando antecipadamente, impedindo a pessoa de cair em cativeiro (redenção preventiva). Esta última é uma verdadeira e própria redenção, mais autêntica e profunda que a primeira, e é a que se aplicou à Santíssima Virgem, preservada imune de qualquer mancha de pecado, desde o primeiro instante de sua concepção.23

O entusiasmo do bom povo de Deus do mundo inteiro – e especialmente da Espanha – fazia-se sentir até no Vaticano. Entretanto foi preciso esperar até 8 de dezembro de 1854 para a declaração do dogma. Então, como afirma Pio IX, “teria chegado o tempo oportuno para definir a Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus, que a Sagrada Escritura, a veneranda tradição, a constante percepção da Igreja, o singular consenso dos Bispos católicos e dos fiéis, os atos memoráveis e as constituições dos nossos predecessores ilustram e explicam admiravelmente”.24

A solene definição teve lugar na Basílica Vaticana com a presença de numerosas autoridades eclesiásticas e de uma multidão de devotos. Observou uma testemunha ocular desse memorável dia: “É hoje em Roma, como outrora em Éfeso: as celebrações de Maria são, em toda a parte, populares. Os romanos se aprestam a receber a definição da Imaculada Conceição, como os efésios acolheram a da Maternidade Divina de Maria: com cânticos de júbilo e manifestações do mais vivo entusiasmo”.25 Estava consagrada para sempre a fórmula encontrada pelos fiéis espanhóis, que tão grande papel tiveram na difusão desta verdade, para expressar seu amor pela Imaculada: “Ave Maria Puríssima, sem pecado concebida!”.

Maria assunta ao Céu

A proclamação dogma da Assunção, definido por Pio XII quase um século depois, é outro belo exemplo de maturação da Fé eclesial.

A devoção popular pela Assunção de Maria em corpo e alma aos Céus encontrou suas primeiras manifestações numa antiquíssima celebração litúrgica no Oriente. Prévias a essa celebração são as primeiras referências da Tradição sobre o destino final da Santíssima Virgem, que aparecem entre os séculos IV e V, destacando-se as asserções de Santo Efrém e Santo Epifânio. Os testemunhos dos Padres tornaram-se mais numerosos a partir do século seguinte, e de grande importância
são as homilias de Santo André de Creta e, sobretudo, de São João Damasceno que “entre todos se distingue como pregoeiro desta tradição”.26

Seguindo os Padres da Igreja, os teólogos escolásticos expuseram com grande clareza o significado da Assunção e sua profunda conexão com as demais verdades reveladas, muito contribuindo na progressiva divulgação deste privilégio da Mãe de Deus. Pode-se dizer que, em linhas gerais, a partir do século XV os teólogos já eram unânimes em afirmá-lo. A esses testemunhos litúrgicos, patrísticos e teológicos cabe acrescentar numerosas expressões da piedade popular, entre elas a dedicação de um dos mistérios do Rosário a essa verdade.

Tal consenso eclesial é apontado por Pio XII como argumento fundamental para a proclamação dogmática da Assunção, pois mostra “a doutrina concorde do Magistério ordinário da Igreja, e a Fé igualmente concorde do povo cristão – que aquele Magistério sustenta e dirige – e, por isso mesmo, manifesta, de modo certo e imune de erro, que tal privilégio é verdade revelada por Deus e contida no depósito divino que Jesus Cristo confiou a sua esposa para o guardar fielmente e infalivelmente o declarar”.27 Apoiada nesses pressupostos, a definição solene realizou-se em 1950.

O ambiente que emoldurou a declaração dogmática da Assunção foi, sem dúvida, impressionante, como puderam registrar as câmeras fotográficas da época. Numerosos Cardeais, Bispos, sacerdotes e religiosos, além da grande multidão de fiéis, acorreram à Praça de São Pedro, sem contar todos os que, espalhados pelo mundo, acompanharam a transmissão por rádio e televisão. Era o orbe católico unido em “um só coração e uma só alma” (At 4, 32), assistindo à solene proclamação da Fé que em uníssono professava.

Assim rezam as palavras definitórias: “Para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.28

Sinal de crescimento e fortalecimento

Nas poucas narrações da infância de Jesus registradas nos Evangelhos, figura uma admirável – mas, hélas, quão sucinta! – síntese dos primeiros anos do Verbo de Deus feito carne: “O Menino ia crescendo e Se fortificava: estava cheio de sabedoria,
e a graça de Deus repousava n’Ele” (Lc 2, 40). Tais palavras relativas a Cristo bem podem ser aplicadas a seu Corpo Místico, o qual cresce e se fortalece continuamente, animado pelo Espírito Santo que o vivifica.

Ora, ao término desta reflexão, é reconfortante observar o quanto as definições dogmáticas constituem uma das mais belas manifestações desse crescimento. Pois, como ensina o padre Garrigou-Lagrange, a solene declaração das verdades de Fé e sua penetração cada vez mais profunda no povo cristão apresentam como principal corolário o conduzir à compreensão – tanto quanto seja possível nesta Terra – d’Aquele que “nos ama além do que podemos conceber e desejar, até querer associar-nos à sua vida íntima, levar-nos pouco a pouco a vê-Lo como Ele Se vê, e amá-Lo como Ele Se ama”.29

Portanto, se a solene declaração de uma verdade de Fé tem por principal finalidade conduzir ao conhecimento de Deus e das realidades a Ele concernentes, a mais relevante implicação teológica dos dogmas marianos não poderia ser outra senão a de proporcionar, a partir da explicitação do conteúdo da Revelação, uma maior ciência acerca d’Aquela que Deus escolheu por Mãe e uniu a Si e a toda Igreja de forma singularíssima.

Assim o entendeu a Igreja que, a partir da exegese das Escrituras, da ausculta da Tradição, do labor teológico e da fidelidade à ação do Espírito Paráclito nas almas, descortinou amplos panoramas na compreensão da Santíssima Virgem e de seu Divino Filho.

Nos primeiros séculos, a tenra Igreja recém-nascida vê-se convulsionada por diversas heresias. Grande perigo? Sem dúvida. Mas também excelente oportunidade para a consolidação doutrinária, esforço que talvez não se tivesse efetuado se não fosse a necessidade apologética.

Bem o demonstram a solene declaração da Maternidade Divina e a virgindade perpétua, dogmas que alargaram os horizontes da Doutrina Católica, conferindo a Nossa Senhora um destaque único. Estavam lançados os fundamentos da Mariologia, abertas as portas para o florescimento das festividades em honra à Mãe de Deus e estabelecidas sólidas bases para a devoção mariana dos fiéis.

Passam-se os séculos, e a robustez doutrinária já alcançada permite que se verifique outra forma de desenvolvimento da piedade, desta vez a partir do senso sobrenatural da Fé. As verdades reveladas já definidas, seus corolários doutrinários e suas manifestações litúrgicas são base para a profícua ação do Espírito Santo, que inspira nos fiéis novos aprofundamentos. Estes serão colhidos pelo Magistério da Igreja e, quais novos rebentos inseridos no rol das verdades de Fé, são proclamados
os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção de Maria.

Organismo vivo e – ao contrário das leis naturais – em contínuo rejuvenescimento, a Igreja pode ainda ver florescer em seu regaço novos dogmas marianos, como, por exemplo, o da mediação universal e o da corredenção da Santíssima Virgem, se a isto a conduzir o cumprimento de sua missão. Sem jamais constituir entraves coercitivos e obsoletos, farão ressoar novamente o grande conselho cristocêntrico de Maria: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5), convidando-nos a uma adesão amorosa ao Magistério da Igreja, “coluna e sustentáculo da verdade” (I Tm 3, 15).

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Fontes de Pesquisas:


1 CONCÍLIO VATICANO II. Dei Verbum, n.7.

2 CIC, 890.

3 CONCÍLIO VATICANO II. Dei Verbum, n.10.

4 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.25.

5 CIC 88.

6 Idem, 89.

7 CORRÊA DE OLIVEIRA Plinio. A Igreja e a História. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano V. N.46 (Jan., 2002); p.20.

8 SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus, l.XVI, c.2, 1.

9 Cf. ALASTRUEY, Gregorio. Tratado de la Virgen Santísima. Madrid: BAC, 1956, p.76-77.

10 SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA. Carta aos efésios, 18,2.

11 Idem, Carta aos esmirniotas, 1,1.

12 SANTO IRINEU DE LIÃO. Contra as heresias, l.3, c.19, 3.

13 ROSCHINI, Gabriel. Instruções marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p.44.

14 Idem, ibidem.

15 Dz 252.

16 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.57.

17 SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. Laudibus Virginis Matris, II, 5.

18 Em sua Apologia, São Justino apresenta a concepção virginal de Maria como uma verdade fundamental da religião cristã (I, 33); de igual modo, Santo Irineu (Adv. Haer. 3,19ss) afirma que esta verdade é uma das contidas na “regra de Fé” que todos devem crer.

19 Cf. ALDAMA, José Antonio de. María en la patrística de los siglos I y II. Madrid: BAC, 1970, p.83.

20 SANTO AGOSTINHO. Sermão 186,1.

21 ROYO MARÍN, OP, Antonio. La Virgen María: teología y espiritualidad marianas. 2.ed. Madrid: BAC, 1997, p.75.

22 CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Pequeno ofício da Imaculada Conceição comentado. São Paulo: Artpress, 1997, p.496.

23 Cf. ROYO MARÍN, op. cit., p.75. 

24 PIO IX. Ineffabilis Deus, n.22.

25 CHANTREL, Joseph. Histoire populaire des papes, apud CLÁ DIAS, op. cit., p.501.

26 PIO XII. Munificentissimus Deus, n.21.

27 Idem, n.12.

28 Idem, n.44.

29 GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. El sentido común: la filosofía del ser y las fórmulas dogmáticas. Buenos Aires: Desclée de Brouwer, 1945, p.240.

Fonte do Artigo: (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2011, n. 113, p. 18 à 25)

Artigos

História de Irmã Dulce

Irmã Dulce, que ao nascer recebeu o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, era filha do dentista Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes.

Aos 13 anos, depois de visitar áreas carentes, acompanhada por uma tia, ela começou a manifestar o desejo de se dedicar à vida religiosa.

Com o consentimento da família e o apoio da irmã Dulcinha, foi transformando a casa da família num centro de atendimento a pessoas necessitadas.

Em 8 de fevereiro de 1933, logo após se formar professora, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 15 de agosto de 1934, aos 20 anos de idade, foi ordenada freira, recebendo o nome de Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe.

Sua primeira missão como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, na Cidade Baixa, em Salvador, região onde também dava assistência às comunidades pobres e onde viria a concentrar as principais atividades das Obras Sociais Irmã Dulce.

Em 1936, ela fundou a União Operária São Francisco. No ano seguinte, junto com Frei Hildebrando Kruthaup, abriu o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações. Em maio de 1939, irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, voltado para os operários e seus filhos.

No mesmo ano, por necessidade, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas. Mas foi expulsa do lugar e teve que peregrinar durante uma década, instalando os doentes em vários lugares, até transformar em albergue o galinheiro do Convento Santo Antônio, que mais tarde deu origem ao Hospital Santo Antônio, centro de um complexo médico, social e educacional que continua atendendo aos pobres.

Considerada um “Anjo bom” pelo povo baiano, recebeu também o apoio de pessoas de outros estados brasileiros e de personalidades internacionais. Mesmo com a saúde frágil, ela construiu e manteve uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país.

Em 1988, irmã Dulce foi indicada pelo então presidente José Sarney, com o apoio da rainha Silvia da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouviu do Papa João Paulo 2o, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.

Os dois voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Papa ao Brasil, quando João Paulo 2o fez questão de ir ao Convento Santo Antônio visitar Irmã Dulce, já bastante enferma. Cinco meses depois, no dia 13 de março de 1992, Irmã Dulce morreu, pouco antes de completar 78 anos. No ano 2000 foi distinguida pelo papa João Paulo 2o com o título de Serva de Deus. O processo de beatificação de irmã Dulce está tramitando na Congregação das Causas dos Santos do Vaticano.

“ENTREVISTA COM IRMÃ DULCE”

Aproximando-se o dia da beatificação de Irmã Dulce, a cada momento cresce mais a curiosidade em torno de sua vida e obra. O que ela pensava? Como era ela? Como agia? Preparamos com muito carinho essa entrevista inédita para que você pudesse saber quais eram as cogitações, os desejos e a religiosidade do “Anjo Bom do Brasil”. Leia!

Irmã Dulce, eu gostaria de fazer uma série de perguntas. São perguntas sobre temas diversos. Inicialmente desejava saber sobre a vida de uma pessoa consagrada a Deus. Vou começar por ai…

Como devemos considerar a Vida de uma pessoa Consagrada a Deus?

Irmã Dulce – Não existe estado mais sublime do que o da pessoa que consagra sua vida a Deus. Devemos ser evangelhos vivos, uma aliança no amor mútuo, uma íntima comunhão entre a alma consagrada e Deus. A sublimidade da nossa vida está na doação total de todo ser a Deus.

É certo que a Irmã se identifica com sua ordem religiosa. Como é ser religiosa em sua congregação?

Irmã Dulce – Uma religiosa deve ser ativa, empreendedora, dar bom exemplo, estar sempre trabalhando, executando os seus deveres, a sua missão. Em tudo o que nos fizermos deve nos mover o desejo de fazer o bem às pessoas, aproximá-las de Deus. Se temos um verdadeiro amor a Deus, devemos querer que todos os nossos irmãos também o amem.

A religiosa por si mesma deve ser um exemplo. Não somos anjos nem santos, porém devemos fazer o máximo para que a nossa vida seja um exemplo.

Como assim?… Exemplo de que?

Irmã Dulce – Devemos ser evangelhos vivos.

A vida religiosa é, antes de tudo, uma aliança de amor, em íntima comunhão entre a pessoa consagrada e Deus. É necessário estarmos de coração generosamente atento ao convite que Cristo faz, independentemente de qualquer condicionamento humano.

Independente de…

Irmã Dulce – “Só Deus basta”, “Tudo é nada”, Para mim, viver é Cristo”, “Por Ele considerei tudo como lixo”, são expressões que exprimem o elevado amor que atingiram os santos em relação a Deus. Procuremos, como os santos, nos esforçar para alcançarmos a verdadeira perfeição na vida religiosa.

Toda a nossa vida deve ser em função do amor de Deus. Amemos, amemos com um amor sem limites ao nosso amado Jesus. Amemos com um amor disposto a tudo sacrificar por ele, que se sacrificou por nós. Se o amarmos assim, com um amor sem reservas, seremos felizes aqui e na eternidade.

Seremos felizes!? Por que?

Irmã Dulce – Nas coisas mais simples, nos trabalhos mais humildes, estamos fazendo o que Deus quer de nós, e isto basta. O principal objetivo é o nosso ardente desejo de amar a Deus, de servi-Lo e buscar a salvação das pessoas. Após cinquenta anos de vida religiosa, asseguro por experiência própria: não há maior felicidade neste mundo do que a de servir a Deus na pessoa do nosso irmão carente e sofredor.

A nossa vida se transforma e passamos a viver a vida e os problemas do nosso próximo, esquecendo-nos totalmente de nós mesmos.

Na verdade, não existe nada mais sublime do que ser toda de Deus. Procuremos coragem com a graça extraordinária que Deus nos concedeu através da vocação religiosa, para cumprir os nossos deveres, sobretudo a oração, a caridade fraterna, a humildade, o saber perdoar uns aos outros. E façamos o máximo para sermos bons exemplos para o nosso próximo, para aqueles com quem vivemos.

Mas isto é difícil. É uma vida de muito sacrifício.

Irmã Dulce – A nossa vida é por certo uma vida de sacrifícios, porém este sacrifício é para Deus. Quantos no mundo se sacrificam pelo amor do mundo, atrás de uma vil recompensa, ou por ambição! O nosso sacrifício é meritório. Se pensarmos bem no valor da vida religiosa, na sublimidade de nossa vocação, seremos sempre muito felizes!

Não devemos ficar parados na rotina de cada dia. Muito ao contrário, cada dia deve ser para nós um novo incentivo para melhor servirmos a Deus na pessoa dos nossos irmãos, do nosso próximo. O nosso trabalho é exaustivo: problemas diversos, inúmeras dificuldades, incompreensões. Naturalmente é um trabalho bastante difícil e exige muito de nós.

Procuramos sempre ver nos doentes a imagem de Cristo Sofredor. As irmãs se esforçam ao máximo em dedicação e cuidados aos pobres enfermos. Suas vidas são sacrificadas em prol dos doentes.

Onde encontrar forças para levar essa vida?

Irmã Dulce – A graça de Deus e a Eucaristia nos dão forças para superar todos os obstáculos e vencer as lutas do dia a dia. É na comunhão que encontramos as forças necessárias para vencer todas as dificuldades.

O que a Irmã diz me recorda a oração. Como deve ser a vida de oração?

Irmã Dulce – (Devemos procurar) fazer da nossa vida, do nosso trabalho, uma oração contínua em união perfeita com Deus. Sempre mais a vida interior, a vida de oração. A oração é a força da nossa alma. Sem ela não poderemos manter-nos firmes… Peçamos, pois, a Deus que nos conceda a graça de vivermos sempre em oração.

Oração, oração…e oração. É o que a Irmã recomendaria a suas Irmãs?

Irmã Dulce – (Sim!) Recomendo mais uma vez a oração, o espírito de caridade e fraternidade: Que todas sejam uma só oração e uma só alma. Quero (…) que atendam ao pedido de Nossa Senhora, que recomenda e pede com insistência: oração. Todo tempo disponível que tiverem, aproveitem para rezar. Também durante o trabalho, fazendo da vida uma oração contínua.

Poderia dizer algo sobre a devoção a Nossa Senhora?

Irmã Dulce – Estamos no mês do rosário (outubro). É o mês de nossa Mãe do Céu. (Sobretudo nesse mês) deveríamos nos esforçar para rezarmos com fervor o santo rosário em honra de Maria Santíssima. Todas as graças que veem do céu acontecem por intermédio da nossa querida Mãe. Então a Ela, com mais fervor, deveremos pedir a graça da perseverança, a graça de permanecermos fiéis a Deus até a morte.

Se tivermos um amor verdadeiro de filhas para com a nossa Mãe Santíssima, todos os sofrimentos, todos os problemas, tudo se resolverá mais fácil para nós.

Como considerar a devoção eucarística?

Irmã Dulce – Hoje é um grande dia para todas nós! O dia em que Jesus não querendo se separar de nós, pobres e miseráveis criaturas, resolveu ficar toda a vida conosco pela santa Eucaristia. Nunca poderemos compreender este mistério de amor de Deus para com seus filhos: na hora da santa comunhão ele se faz um conosco. Pensemos bem na nossa responsabilidade de trazer Deus conosco.

Nós, portadores de Cristo, devemos dar testemunho às pessoas de vida dedicada a Deus na pessoa do pobre. Devemos levar uma vida edificante e santa, principalmente na comunidade, na vida fraterna, na família, na qual devemos olhar as virtudes de nossos irmãos e irmãs, e não os seus defeitos.

A Irmã poderia falar do convívio numa comunidade? São anos a fio de convivência… e com pessoas muito diferentes entre si.

Irmã Dulce – Viver em comunidade não é tão fácil. Temperamentos diversos, educação diferente, instrução, formação de família. Tudo isso torna difícil a vida em comum. Porém, quanto entramos na congregação, não escolhemos com quem vamos conviver. Entramos na congregação para servir a Deus, nos santificar e ajudar as pessoas.

Eis, então, que nos deparamos com irmãs de temperamento, gênio, educação, diferentes do nosso. Nada disso, no entanto, nos deveria causar surpresa ou sofrimento. Ao contrário, na vida em comum é que vamos nos exercitar em aceitar as pessoas como são. Assim como elas nos aceitam como somos, com todos os nossos defeitos e virtudes.

É muito importante na vida religiosa a vida em comum: é uma ocasião de nos aperfeiçoarmos.

Santificar, perdoar… Ser perdoado também?

Irmã Dulce – Devemos aprimorar cada vez mais a caridade fraterna na comunidade. Não é correto que entre as irmãs que tem o mesmo ideal haja coisas pequenas, faltas mínimas, coisas sem importância que perturbem a convivência. Devemos saber perdoar aos outros como queremos ser perdoados. Procuremos seguir o exemplo de nossa Mãe do Céu que perdoou e continua perdoando as nossas faltas.

Façamos o possível para imitar o exemplo de nossa Mãe, amando, servindo, perdoando, e sabendo de tudo o que Deus nos enviar para que se faça a vontade dele e não a nossa.

… mas pode acontecer de haver ofensas pessoais!

Irmã Dulce – O mais importante na nossa vida religiosa é a união, o amor para com os nossos irmãos. Procuremos viver em união, em espírito de caridade, perdoando uns aos outros as nossas pequenas faltas e defeitos. É necessário saber desculpar para viver em paz e em união.

Jesus nos pediu que perdoássemos setenta vezes sete, quer dizer, in-fi-ni-ta-men-te… Procuremos fazer isso, além de amar e servir.

Por que as irmãs são chamadas de…

Irmã Dulce – Um instante. Vou terminar meu pensamento…

“Vede como se amam!” Assim (eu penso que) se deveria dizer das irmas! Como elas se amam, com um amor espiritual, sem ressentimento uma das outras, sabendo perdoar quando ofendidas. Jamais se deve falar mal de outra irmã. É necessário evitar a todo custo tal procedimento, Procuremos imitar o silêncio de Maria Santíssima, nossa Mãe.

Viver em paz, em harmonia, na fraternidade, na vida em comum, (como já disse) não é fácil, pois cada um tem um temperamento. Se soubermos compreender e suportar os defeitos umas das outras, assim como suportam os nossos, teremos alcançado uma grande virtude.

Obrigado. Agora… Por que as irmãs são chamadas de Filhas de Maria Servas dos Pobres?

Irmã Dulce – Que lindo e significativo título! Filhas de Maria! Filhas desta nossa Mãe tão querida. Desta Mãe a quem devemos tudo na vida, na nossa vida espiritual! Servas dos pobres! Que belo título também… Somos servas dos pobres, daqueles a quem mais Jesus ama. A serva é para servir, …mas servir amando, vendo no pobre, no carente, a imagem de Jesus.

Se pensarmos sempre assim, por mais agressivos, grosseiros, sem nenhuma formação, por piores que eles sejam, crianças ou adultos, veremos neles a imagem de Deus, a quem tanto amamos.

Por força de sua missão, a Irmã tem um contato grande com as pessoas diversas e fica sabendo de muita coisa. Então, Juventude e desagregação familiar. O que a Irmã diz disso?

Irmã Dulce – A agitação do mundo de hoje e a desagregação da família levam muitos jovens ao desespero, ao vício, à revolta. Mas devemos estar também atentos aos outros jovens, ou seja, àqueles que têm a sabedoria suave e simples dos que começam a vida, dos que são capazes de (encontrar) conforto na dor e trazer a alegria em meio ao sofrimento. Eles podem ser o espelho perfeito para os que não conseguem ver, os que parecem sem rumo, perdidos nas suas inseguranças e incertezas.

É preciso ter paciência para com os jovens. Eles têm a inquietude natural da idade, a necessidade de desvendar os profundos segredos do mundo. A nós, que já passamos pela juventude, compete prestarmos atenção, orientando-os com sabedoria. Pois são eles que, na verdade, tem de encontrar e abrir as próprias portas.

Está bem. Agora, imagine, que uma jovem não vocacionada ouça o que a Irmã acaba de dizer e peça um conselho… O que diria a ela?

Irmã Dulce – (Eu diria a ela): “na vida, o que sempre nos conforta é a Fé. E eu gostaria que essa chama de Fé ficasse sempre acesa em seu coração.

Todos nós somos fracos, sem a graça de Deus. É imprescindível procurar o apoio na graça de Deus para não “cair”. Devemos seguir certos, sempre olhando para frente, vendo ao longe aquele que nos aguarda no final da estrada da vida, com a cruz nos ombros e a luz da glória que nos espera. Siga sempre o caminho certo, mesmo que andemos lado a lado com aqueles que procuram outros caminhos. Confio em você com a sua personalidade, com sua formação(…).

Não falte a missa, reze, faça a sua comunhão. É o que vai lhe sustentar pela vida afora.”

Mais uma pergunta: Que relação a Irmã faz entre corpo, mente, alma e a interioridade da pessoa?

Irmã Dulce – O corpo é um templo sagrado e a mente, um altar. Então, devemos cuidar deles com o maior zelo. Corpo e mente são o reflexo da nossa alma, a forma como nos apresentamos ao mundo e um cartão de visitas para o nosso encontro com Deus. Habitue-se a ouvir a voz de seu coração. É através dele que Deus fala conosco e nos dá a força de que necessitamos para seguirmos em frente, vencendo os obstáculos que surgem na nossa estrada.

A Irmã acabou de dizer “Encontro com Deus”, que o homem necessita encontrar-se com Deus. Onde encontrá-lo?

Irmã Dulce – Os olhos dos que verdadeiramente veem podem facilmente encontrar a Deus. Ele sempre está naquele irmão mais necessitado, que precisa de uma mão para ampará-lo no momento de dor e de sofrimento.

Amar a Jesus é estar sempre pronto a dizer sim. É saber calar, aceitando tudo. É saber perdoar as falhas dos irmãos, como Jesus nos perdoa, é dar-se a ele na pessoa da criança, do pobre, do carente.

No meio da feiura que o mundo de hoje oferece, onde podemos encontrar a beleza?

Irmã Dulce – A beleza está nas pessoas, nas plantas, nos bichos, em todas as coisas de Deus. É mais intensa ainda nos olhos de quem consegue ver, acima da simplicidade, a beleza com que ele criou cada pequeno detalhe da vida.

Confiança em Deus… A Irmã poderia dar um exemplo do que seria essa confiança, sobretudo em tempos de incerteza?

Irmã Dulce – “Na viagem que Deus nos reservou na terra, temos que estar preparado para as possíveis incertezas do tempo. Traga sempre um agasalho para se proteger nos dias cinzentos de frio e sempre tenha no rosto um sorriso pronto a se iluminar, porque o inverno não consegue resistir ao brilho da luz do sol.

Não desanime! Coragem! As coisas de Deus são muito difíceis, mas não devemos desanimar. Nisto está o nosso mérito: sofrer, lutar e confiar na Misericórdia Divina.”

“Aqui (nas Obras Sociais) nós vemos diariamente a mão de Deus. Assistimos à repetição do milagre dos pães e dos peixes. Por isso, mesmo com todas as dificuldades, conseguimos atender a todos os que nos procuram. É preciso que tenhamos fé e esperança em um futuro melhor. O essencial é confiar em Deus.

Considero tudo o que foi conseguido até hoje como um milagre de Deus.”

É fundamental preocupar-se com uma vida espiritual levada a sério. Mas, e os bens materiais? A Irmã preocupa-se com eles?

Irmã Dulce – A preocupação com os bens materiais é natural, faz parte da vida humana. Mas o importante, o que de fato valoriza a vida, são os gestos que rendem juros e correção na conta aberta em nome de cada um de nós no banco do céu.

Os benfeitores, a quem eu nunca conseguirei agradecer plenamente, não se sintam completamente seguros: haverá ainda outras ocasiões em que bateremos às portas dos seus corações generosos para pedir ajuda.

E o amor a Jesus?

Irmã Dulce – Jesus nos ama tanto e sofreu tanto por nós, que o muito que fizermos a ele torna-se pouco diante do seu imenso amor (dele) por toda a humanidade.

(Devemos) agradecer a Deus por tudo: todos os sofrimentos, todas as alegrias, todas as graças que ele nos concedeu. Se amamos realmente a Deus, todos os sacrifícios não são nada, em vista do que ele sofreu por nós.

Acabou ficando uma dúvida… Peço que a senhora esclareça: Tanto trabalho, tanta ação não atrapalha o chamado à santidade, o chamado à vida de perfeição?

Irmã Dulce – Os trabalhos, os sofrimentos, nada disso nos deve afastar do nosso ideal de alcançar a santidade, a perfeição. “Sede perfeitas como vosso Pai do Céu é perfeito” é o que nos aconselha o Divino Mestre. Na vida comum, no dia a dia, podemos, com a graça de Deus e com a nossa aquiescência à graça, obter a perfeição.

(…) Continuo bem contente, brincando, sempre muito feliz, graças ao bom Deus! (…) espero de minha Mãe do Céu e de Jesus todas as graças necessárias para me tornar uma santa.(…) É o que desejo de coração.

O que motiva a Irmã a dar tanta atenção aos pobres e doentes?

Irmã Dulce – Muita gente acha que não devemos dar aos pobres a mesma atenção que damos às outras pessoas. Para mim o pobre, o doente, aquele que sofre, o abandonado, (todos são) a imagem de Cristo. Sempre recomendo às irmãs, aos funcionários, que vejam no doente que bate à nossa porta o próprio Jesus e, assim, façam a ele o que faríamos se Jesus em pessoa viesse nos pedir ajuda ou socorro.

Se olharmos o pobre desta maneira, então, todo o aspecto exterior, o estar sujo, cheio de parasitas, com grandes chagas, não nos incomodará, pois na sua pessoa está presente Cristo sofredor.

Pode dizer algo sobre sua obra, o Hospital, por exemplo?

Irmã Dulce – O nosso hospital é como um navio navegando sobre a tempestade, mas que tem como comandante Deus. Por isso ele segue calmo, sereno; nada o perturba.

Aqui não se diz ao doente para voltar dentro de oito dias. Aqui o doente jamais é rejeitado. Sabemos que, se fecharmos a porta, ele morre. Se não tiver lugar, a gente aperta, coloca até embaixo das camas, mas dá um jeito. A gente vê no doente apenas uma pessoa de Deus.

Quando nenhum hospital quiser aceitar algum paciente, nós o faremos. Essa é a última porta, e por isso não posso fechá-la. Não recuso ninguém, porque o doente é a imagem de Deus.

Como a Irmã faria um apelo a favor de seus pobres e doentes?

Irmã Dulce – Ajudem-me! Deem-me a possibilidade de ajudar esses pobres irmãos a saírem dos barracos cobertos de papelão ou de latas velhas: famintos, desempregados, doentes; seus filhos, suas mulheres também tem fome. E eles estão morrendo e não sabemos se estarão vivos numa manhã, quando conseguirmos aquilo que é, sem dúvida alguma, um sacrossanto objetivo.

Nossos velhinhos viviam na sarjeta, no chão. Agora tem conforto, amor e todos os cuidados que qualquer pessoa deve receber.

Permita-me dizer que a Irmã não é imortal…

Irmã Dulce – (Não sou…)

Assim sendo, pergunto o que a Irmã teria a dizer a quem a substituísse em sua obra?

Irmã Dulce – Se quem vier me substituir tiver fé, verá que Deus não faltará e que sempre conseguirá a quantia necessária para as despesas. O nosso administrador, o secretário e nosso auxiliar são testemunhas do que estou escrevendo. Quantas vezes não tínhamos nada e chegava uma pessoa com um cheque que dava para pagar todos os compromissos!

Deus é nosso organizador, o cérebro que tudo pensa e executa. Tudo que vai com Deus e com fé vai bem. Não há progresso sem Deus, não há desenvolvimento sem Deus, porque Deus é fraternidade, Deus é amor, Deus é bondade, Deus é harmonia.

A Irmã…

Irmã Dulce – Um instante… Vou terminar.

(Eu ainda diria para aquelas que me substituirão.) Espero que vocês continuem firmes no ideal de servir a Deus na pessoa do pobre, da criança e do doente. Não há nada melhor neste mundo do que se dar inteiramente a Deus. Quanto mais nos damos a deus, com os nossos sacrifícios, renúncias, vivendo não a nossa vida, mas a daqueles que nos cercam, pessoas tão carentes, mais Deus se dá a todos nós.

Imitem Jesus e os santos que viveram somente para ele. A felicidade neste mundo consiste em servir a Deus com todo o amor, com toda a dedicação. As lutas, os problemas da vida, tornam-se fáceis quando procuramos viver só para ele.

À medida que os dias se passam, sinto-me cada vez mais feliz por Deus ter me dado tão santa vocação. Jesus é tão bom! E eu, pobre criatura, não sei com que retribuir. Penso que retribuir só com o pequeno amor do meu pequenino coração, por mais amor que ele contenha, ainda é pouco para um Deus tão grande.

Peço-lhes que se esforcem o mais possível em dedicar a Jesus pequenos atos de penitência, sacrifício, oferecendo-os para a conversão dos pecadores. Jesus sofreu tanto por nós! Tudo que oferecemos a ele é pouco diante do muito que fez para a nossa salvação. Procuremos viver em união, em espírito de caridade, perdoando uns aos outros, e também as nossas pequenas faltas e defeitos.

Nota do autor:

Aqui terminamos essa entrevista inédita. Inédita porque nunca havia sido publicada em forma de entrevista. Imaginária? Não. Todo o conteúdo da matéria aqui publicada é verdadeiro. Ele foi tirado de escritos cartas, boletins, pequenas publicações editadas nas obras sociais da Irmã Dulce.

Escolhemos esse formato de entrevista porque, sendo ele lícito, é também um modo possível e simples de divulgar entre todos uma alma que também foi simples e atraente.

É necessário saber perdoar, saber desculpar, para vivermos em paz e união. Numa comunidade, só pode haver paz, se soubermos aceitar e perdoar uns aos outros.

Cronologia da vida Irmã Dulce

1914

26 de maio – Nasce Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, à rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo, cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Filha do cirurgião dentista Dr. Augusto Lopes Pontes e D. Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes.

13 de dezembro – É batizada na igreja de Santo Antônio Além do Carmo.

1921

8 de junho – Morre D. Dulce, sua mãe, aos 26 anos de idade.

1922

Junto com seus irmãos Augusto e Dulce, faz a primeira comunhão, na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo.

1927

Manifesta pela 1ª vez o interesse pela vida religiosa. Por esta época já atendia doentes no portão de sua casa, na rua da Independência, 61 – bairro de Nazaré.

1929

Conhece no Convento de Nossa Senhora do Desterro, a Irmã Rosa Schüller que pela 1ª vez lhe falou sobre a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

14 de fevereiro – Foi matriculada na Escola Normal da Bahia, no 1º ano do curso de professora.

1932

20 de agosto – Recebe o sacramento da crisma, das mãos do Arcebispo D. Augusto Álvaro da Silva.

9 de dezembro – Forma-se em professora pela Escola Normal da Bahia (atual ICEIA).

1933

15 de janeiro – Faz a profissão de Terceira Franciscana, recebendo o nome de Irmã Lúcia.

9 de fevereiro – Ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão, Sergipe.

13 de agosto – Recebe o hábito das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Em homenagem à mãe, recebe o nome de Irmã Dulce.

1934

15 de agosto – Emite sua Santa Profissão de votos simples temporários de Noviciado.

Setembro – Vem para Salvador, trabalhar na abertura do Hospital Espanhol, em companhia das Irmãs Tabita e Capertana, exercendo as funções de enfermeira, sacristã, porteira e responsável pelo raio X.

1935

Inicia a assistência à comunidade carente, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe, além de começar a atender os operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico que teve em Dr. Bernadino Nogueira, seu 1º colaborador e diretor. Por esta época a imprensa começa a chamá-la de Anjo dos Alagados.

Fevereiro – Passa a ensinar no Curso Infantil e lecionar Geografia e História no Colégio Santa Bernardete, no Largo da Madragoa, pertencente à sua Congregação.

Junho – Começa a trabalhar com os operários da Península Itapagipana.

6 de dezembro – Inaugura uma biblioteca para os operários da Fábrica Penha, em Itapagipe.

1936

1 de novembro – Funda com os operários Ramiro S. Mendonça, Nicanor Santana e Jorge Machado, a União Operária São Francisco, 1ª organização operária católica da Bahia.

1937

A União Operária São Francisco se transforma no Círculo Operário da Bahia.

15 de maio – A Serva de Deus inicia seu 2º noviciado.

15 de agosto – Emite sua Santa Profissão de votos simples perpétuos.

1937 / 40 – Ajuda a fundar os cinemas Plataforma, São Caetano, cuja renda contribuía para a manutenção do COB.

1939

1 de maio – Inaugura o Colégio Santo Antônio, no bairro da Massaranduba, para operários e seus filhos, com 300 crianças no turno matutino e 300 adultos à noite.

Ocorre a invasão das cinco casas, na Ilha dos Ratos, que irá definir o futuro da ação social e religiosa da Serva de Deus.

1941

8 de janeiro – Conclui o curso de Oficial de Farmácia.

A Serva de Deus inicia a obra do quilo, para ajudar as famílias carentes junto ao Círculo Operário.

1946

Dá início à campanha para entronizar o Sagrado Coração de Jesus nas fábricas de Itapagipe.

1947

11 de junho – É instalado o Convento Santo Antônio, com as Irmãs Plácida e Hilária e, a Serva de Deus como a sua 1ª Superiora, junto ao Círculo Operário da Bahia.

15 de novembro – Recebe o título de Auxiliar de Serviço Social.

1948

28 de novembro – Inaugura o Cine Teatro Roma.

1949

Ocupa o galinheiro ao lado do convento inaugurado em 1947, após a autorização da sua Superiora, com os primeiros 70 doentes, dando origem a tradição propagada a décadas pelo povo baiano, de que a Serva de Deus construiu o maior hospital da Bahia, a partir de um simples galinheiro.

1950

Inicia o atendimento aos presos da cadeia conhecida como “Coréia”, devido as más condições de higiene local, no Dendezeiros.

1952

16 de abril – Cria o SAC – Serviço de Alimentação do Comerciário – almoço a preços populares ( 2 tostões), no prédio do Círculo Operário da Bahia.

1959

26 de maio – Funda a Associação Obras Sociais Irmã Dulce.

15 de agosto – Instala oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce.

1960

8 de fevereiro – Inaugura o Albergue Santo Antônio, com 150 leitos.

1976

25 de fevereiro – Falece seu pai, Dr. Augusto Lopes Pontes, que além de se constituir num baluarte ao lado de sua filha, na construção e consolidação das suas obras, foi um grande incentivador de outras obras sociais, destacando-se entre elas o “Abrigo Filhos do Povo”, situado no bairro da Liberdade.

1980

7 de julho – A Serva de Deus tem seu primeiro encontro com o Papa João Paulo II.

1981

9 de março – Cria a Fundação Irmã Dulce.

1983

Inaugura o novo Hospital Santo Antônio, com 400 leitos.

1984

Funda a Associação Filhas de Maria Servas dos Pobres, com o intuito de manter o carisma da sua Obra.

1988

O então Presidente da República José Sarney, indica a Serva de Deus para o Prêmio Nobel da Paz, com o apoio da Rainha Sílvia da Suécia.

1990

11 de novembro – A Serva de Deus é internada com problemas respiratórios.

1991

20 de outubro – Recebe no seu leito de enferma, a visita do Papa João Paulo II, pela última vez.

1992

13 de março – Numa sexta feira, morre às 16:45, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, sito a Av. Dendezeiros, depois de sofrer por 16 meses.

15 de março – As 20:00h, é sepultada no altar do Santo Cristo, na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, em Salvador, Bahia, Brasil.

Fontes:

*Coleção Cinco minutos com Deus e Irmã Dulce – Luzia Sena (org) São Paulo, Paulinas, 2011
*Arautos do Evangelho
*Uol Educação
*OSID – Obras Sociais Irmã Dulce