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Invocações Marianas

Nossa Senhora da Portaria

Outra imagem de Nossa Senhora muito venerada na Espanha, principalmente em Ávila, é a conhecida sob o título deNossa Senhora da Portaria.

A origem desta imagem não é, como a de outras, muito remota, pois conta apenas dois séculos de existência, mais ou menos; porém as circunstâncias que acompanham sua criação contribuíram para celebrizá-la e ao mesmo tempo nos edificam.
Num dos conventos da cidade de Ávila havia, no século XVIII, um irmão leigo, frei Luís de são José, muito devoto do mistério da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem.
Essa devoção fez com que ele desejasse muito uma pintura que representasse Nossa Senhora como é representada no mistério. Para obtê-la, dirigiu-se ao pinto Salvador Galvan, que prometeu encarregar-se da pintura e executá-la em um determinado prazo.
Efetivamente, com o intuito de cumprir a promessa, começou o quadro; porém, acometido de uma repentina enfermidade, viu-se obrigado a suspendê-lo.
Não obstante a moléstia do pintor, o piedoso irmão não deixava de constrangê-lo a terminar o quadro, e a tal ponto levou sua insistência que o pintor deu ordem à família que não deixasse entrar frei Luís quando fosse visitá-lo, pensando livrar-se, com essa ordem, das importunações do religioso. Por isso foi grande sua surpresa quando o viu, à noite, sentado à cabeceira de sua cama, recordando-lhe a promessa de pintar o quadro da Imaculada Conceição.
Todas as portas da casa estavam fechadas, e ninguém havia visto o irmão entrar no quarto do enfermo. Este fato deu muito que pensar ao pintor, até que se convenceu de que a aparição do irmão Luís em seu aposento era sobrenatural, e que, portanto, o céu se interessava pela pronta conclusão do quadro de Nossa Senhora.
Mas, como concluí-lo achando-se enfermo e sem a inspiração artística tão necessária em trabalhos desse gênero?!…
Só por um favor especial da Santíssima Virgem, pensou ele, em cuja honra seria pintado o quadro. Invocou-a portanto, fervorosamente, e no mesmo instante sentiu tão grande melhora que pediu a ceia e dormiu o resto da noite com uma tranqüilidade que havia muito tempo não desfrutava.
Levantou-se no dia seguinte completamente curado e dentro de poucos dias terminou o quadro, que foi exposto na portaria do convento, motivo pelo qual deram à Santa imagem o título de Nossa Senhora da Portaria.
Têm sido muitos e muito notáveis os favores e milagres obtidos pelos avilenses mediante a invocação de Nossa Senhora da Portaria.
Invocações Marianas

Invocação Mariana: Nossa Senhora da Raiz ou da Esperança


 O povoado de Jacona, no fértil e rico estado de Michoacan (México), possui um santuário no qual se venera, há muito tempo, uma imagem da Santíssima Virgem Maria.

Se a tradição não engana, esta imagem formou-se milagrosamente da raiz de uma árvore, tendo sido encontrada por alguns lavradores.

Admirados do encontro da imagem, os felizes lavradores levaram-na para seu povoado, entregando-a ao vigário do lugar, que a colocou com toda reverência em um dos altares da igreja paroquial, até que se lhe construísse uma capela, e nessa capela permaneceu muitos anos, sendo venerada sob o título de Nossa Senhora da Raiz.

No fim do século XVIII foi a milagrosa imagem (que já havia sido retocada e ricamente vestida) novamente trasladada para a matriz.

Desde que a imagem foi encontrada, a Mãe de Deus tem derramado, por meio dela, grandes benefícios, pelo que seu culto se espalhou por todo o estado e os estados vizinhos.

Tomando posse do curato de Jacona o Pe. Antônio Plancarte y Labastida, em 1867, além de muitos outros benefícios espirituais e até materiais a favor de seus paroquianos, dedicou-se de modo especial a propagar o culto de Nossa Senhora da Raiz, conseguindo que chegasse ao auge do esplendor.

Desde então se começou a invocar Nossa Senhora, mediante aquela imagem, sob o título de Nossa Senhora da Esperança.

O povo de Jacona, agradecido pela proteção singular e pelos benefícios obtidos pela intercessão de Nossa Senhora da Esperança ou da Raiz, resolveu pedir ao Sumo Pontífice dignasse coroar a venerada imagem.

A petição foi benevolamente acolhida, e o papa Leão XIII nomeou como seu delegado o arcebispo do México.

Com grande regozijo popular realizou-se a augusta cerimônia celebrada com sessões letrárias e imponentes funções religiosas.

Invocações Marianas

Invocação Mariana: Nossa Senhora da Revelação

No sábado depois da Páscoa, 12 de abril de 1947, o condutor de bonde Bruno Cornacchiola, de 34 anos, achava-se livre de serviço depois do meio-dia e queria aproveitar aquela linda tarde de primavera para fazer uma excursão a Ostia com seus três filhos; mas, como perderam o trem, resolveram ir até Tre Fontane.

Bruno conhecia muito bem o lugar com seu bosque de eucaliptos, silencioso e tranqüilo, longe do ruído da grande cidade de Roma.
Bruno havia lutado na Espanha, como legionário, a favor dos comunistas e fazia cinco anos que abandonara a religião católica, seguindo primeiro a doutrina dos batistas e depois a dos adventistas.
Era fervoroso propagandista de sua crença. Lia com assiduidade a Bíblia protestante, à procura de textos que pudesse utilizar em ataques contra a Igreja Católica.
Também naquele fim de semana Bruno se entretinha, em Tre Fontane, em formular idéias para uma conferência contra a virgindade da Santíssima Virgem.
Lia, apontando no papel os pensamentos para a conferência que devia ser lida no dia seguinte, enquanto seus filhos continuavam a brincar de futebol com uma bolinha de borracha, à sombra do bosque de eucaliptos.
Súbito o seu trabalho é interrompido: Isola, de 10 anos, e Carlos, de 7. gritam:
“Papai, papai, perdemos a nossa bola! Perdemos a nossa bolinha!”
Bruno sai então à procura da bola em companhia das crianças, depois de ter dito a Gianfranco, de 4 anos, que ficasse ali numa gruta situada na parte mais alta do bosque, olhando as revistas infantis ilustradas.
Os três percorrem então o mato à procura da bola; mas, como o filhinho mais moço não respondesse mais, como antes, à voz do pai, dirigiu-se este, muito preocupado, para a gruta, à entrada da qual encontrou, com grande espanto, o pequeno Gianfranco ajoelhado, as mãos postas, repetindo sempre, a sorrir.
“Bella Signora! Bella Signora”
A atitude “católica” de oração da criança era inteiramente contrária aos costumes da família Cornacchiola. Além disso, o menino nem era batizado.
O pai chamou Isola, que se encontrava acima da gruta, e perguntou a ela e a Carlos, que se achava ao lado: “Vocês estão vendo alguma coisa na gruta?”
“Não, papai!”, responderam.
Mas, no mesmo instante, Isola cai de Joelhos e, de mãos postas como o irmãozinho, repete: “Bella Signora!…” e também Carlos se ajoelha e balbucia como que extasiado: “Bella Signora! Bella Signora!…”
Podemos imaginar o espanto e a aflição do condutor de bondes. Sacode as crianças, porém elas continuam na mesma posição, com os rostos pálidos, mas inteiramente espiritualizados, e os olhos muito abertos, fixos em um mesmo ponto da gruta.
Bruno é, no fundo, de natureza religiosa: crê em Deus, crê em Cristo e também no demônio. Temendo que os filhos estivessem sob o influxo demoníaco, rezou do fundo do coração: “Senhor, salvai-nos!”
Foi como se mãos invisíveis o tivessem sacudido, e que alguém lhe tivesse arrancado a venda que lhe cobria os olhos. (Tudo isso ele mesmo narrou ao sr. Lacatelli, colaborador do Giornale d`Itália).
Súbito, Bruno sente-se leve como uma pena. Da gruta sombria não vê mais nada, a não ser que lhe parece inundada de luz deslumbrante, e naquela claridade excelsa Bruno vê uma encantadora figura de mulher, verdadeira formosura oriental, como se expressou ele, de 1,65 m de altura conforme lhe pareceu.
Os pés nus pousavam sobre um bloco de pedra, atualmente conservado no vizinho convento dos trapistas. O corpo da celestial aparição está envolto numa túnica branca, presa por uma faixa rósea. Da cabeça, desce-lhe um manto verde até os pés. Na mão direita segura um livrinho cinzento. A esquerda aponta para baixo, indicando uma veste negra (batina?) no sola; perto havia uma cruz quebrada.
Bruno Cornacchiola disse ouvir uma voz a nenhuma outra semelhante, pelo tom e pelo modo como lhe falava: “Sou aquela que sou na Trindade Divina. Sou a Virgem da Revelação. Tu me persegues. Agora é bastante. Entra no apriso santo, corte celeste na terra. Às noves sextas-feiras que praticastes antes de te desviares do caminho da verdade, deves a tua salvação… Deve-se rezar o rosário diariamente pela conversão dos pecadores e dos incrédulos e pela união entre os cristãos. Com esta terra de pecados operarei muitos milagres pela conversão dos pecadores. Para mostrar-te que esta visão é divina, e não arte diabólica, como muitos hão de pensar, dou-te este sinal: deves andar pelas ruas e igrejas de Roma, e, ao primeiro sacerdote que encontrares, dirás: Padre, quero falar-lhe. E se ele te replicar: Ave, Maria, filho; que desejas?; dirás o que te vier à boca. Este indicará outro sacerdote, que receberá a tua abjuração e se ocupará de ti. Se prudente … A ciência renegará a Deus. Quando fores levar a mensagem secreta ao Santo Padre, serás acompanhado por outro sacerdote”.
De fato, alguns dias depois, em 28 de abril, verificou-se a predição.
Ao entrar na igreja de Todos os Santos, administrada por um dos filhos espirituais de dom Orione, dirigi-se ao Pe. Albino Frosi:
– Permita, padre, que lhe diga uma palavra…
– Ave, Maria, filho, que desejas? respondeu o Pe. Frosi
– Sou protestante, mas quero tornar-me católico.
– Apresentá-lo-ei a quem melhor o atenda, retorquiu o padre.
Cumpriu-se à risca o sinal dado pela Senhora. O Pe. Frosi apresentou-o ao seu colega Pe. Gilberto Carniel, acostumado a tratar com convertidos.
Desde o dia 12 de abril Bruno tornou-se outro homem, e essa conversão completa de um apóstata foi o primeiro milagre da graça operado em Tre Fontane.
Bruno procurou reparar, segundo suas forças, o escândalo que havia dado e suportou pacientemente toda sorte de agravos. Todas as vezes que podia dirigia-se à gruta para rezar, e nos dias 6, 23 e 30 de maio foi agraciado com novas visões.
Depois de receberem a necessária instrução, Bruno e sua mulher foram novamente admitidos no seio da Igreja Católica, no dia 7 de maio. Em 18 de maio Gianfranco recebia o batismo, e Isola, a crisma e a primeira comunhão.
Na aparição de 30 de maio, Nossa Senhora enviou por meio de Bruno uma mensagem às irmãs filipinas, que naquela região se dedicam à educação da juventude. Que rezassem pela conversão dos incrédulos, principalmente pelos incrédulos do bairro.
A expressão “Virgem da Revelação” que Nossa Senhora usou é, conforme a suposição de Locatelli, uma alusão à “Misteriosa Revelação”, o Apocalipse, e uma indicação de que atualmente vivemos nos tempos apocalípticos, e visto que, como protestante, Bruno lia outra Bíblia, é bem provável que o livro que Nossa Senhora segura na mão direita signifique a Bíblia católica.
Inúmeros são os milagres que se operam por meio da terra da gruta, por intercessão da Santíssima Virgem Maria.
Nossa Senhora da Revelação, rogai por nós que recorremos a Vós!
Invocações Marianas

Invocação Mariana: Nossa Senhora da Rocha

É relativamente moderno o santuário de Nossa Senhora da Rocha ou da Conceição da Rocha A origem deste título é a seguinte: alguns rapazinhos que perseguiam um coelho, nas margens do rio Jamor, viram-no entrar em uma leira e, acompanhando-o, foram descobrir uma gruta na qual havia ossos humanos. Contando o caso às famílias, estas foram à gruta e lá encontraram (era o dia 31 de maio de 1822) uma imagenzinha de Nossa Senhora da Conceição, de barro, com um manto de seda apodrecido.

Nessa noite a imagem desapareceu, aparecendo misteriosamente em 4 de junho (do mesmo ano) numa oliveira que havia perto.
Começou logo a afluência dos fiéis, alguns dos arredores, outros de longe, levando ofertas e donativos.
Veio logo também a idéia de construir um templo; mas como o povo de Carnaxide e de Linda, a Pastora (ficam um ao lado do outro) discutissem sobre o local em que devia ser erigido, o ministro dos negócios eclesiásticos, Silva Carvalho, ordenou que a imagem fosse para a sé patriarcal, na qual esteve, no altar de Nossa Senhora, a Grande, até que o povo de Carnaxide construiu o templo à sua custa.
Carnaxide é um povoadozinho distante de Lisboa 19 km, na direção do Estoril.
A imagem foi restituída graças à influência de Tomás Ribeiro.
Pronto o templo, construído sobre a gruta, continuou a afluência de peregrinos.
A imagem de Nossa Senhora da Rocha é pequenina (um palmo de altura, mais ou menos) e pretinha, por ter estado exposta aos estragos do tempo. O título é proveniente da rocha em que foi encontrada, a qual forma no centro uma gruta, onde estava a imagem.
Invocações Marianas

Invocação Mariana: Nossa Senhora da Salette

Melanie Calvat nasceu em 7 de novembro de 1831, em Corps, pequeno povoado dos Alpes Franceses. Muitas crianças da zona rural eram empregadas como pastoras entre a primavera e o outono, a serviço de outras famílias, algo mais abastadas, donas de alguns animais. Melanie Cavalt começou pastorear nos morros quando estava com seis anos. Era uma menina muito sensível. Não sabia ler nem escrever. Pouco freqüentava a igreja paroquial. Tinha mais prazer em vaguear pelas montanhas à procura de ermidas perdidas nas quais orava.

Seu pai, Pedro Cavalt, ensinou-a a rezar. Ele trabalhava na construção e por isso passava semanas ausente de casa. A mãe, Júlia Bernard, ralhava muito com ela, porque Melanie sempre chorava quando assistiam a algum espetáculo na aldeia. Melanie não se sentia muito à vontade no meio das pessoas. Preferia a solidão dos montes. Uma tarde, mandaram-na para fora de casa e ela foi para a floresta. Sentada sobre um tronco, novamente começou a chorar com saudades de seus pais.
Maximino Giraud também nasceu em Corps, em 27 de agosto de 1835. Estava, portanto, com 11 anos de idade quando conheceu Melanie. Também não sabia ler nem rezar; falava apenas o dialeto de sua região e também pastoreava. Muito curioso, não possuía a sensibilidade de Melanie, nem a sua espiritualidade, embora fosse bom e singelo. E aconteceu que o pastor que guardava as duas vacas, duas terneiras, e duas cabras de Pedro Selme, adoeceu, de modo que esse camponês chamou Maximino para substituí-lo, e sendo ele mais novo, mandou que se juntasse a Melanie, que conduzia e cuidava nos altos pastos das quatros vacas do senhor Prat.
Maximino veio juntar-se a Melanie. Ela o viu e ficou triste.
Estranhou, porque achava que todo mundo na região sabia que ela “fugia de todas as companhias”.
Resmungando, o aceitou pondo como condição que ele não a incomodasse. “Pode deixar, eu me comportarei direitinho”, ele respondeu. “Eu me divertia sozinha com as flores”, escreve Melanie. Falava com elas sem mais nem menos, e Maximino, estupefato, ria dela e lhe dizia que não fizesse aquilo, pois as flores, para ele, não tinham ouvidos. O som do sino da Salete marcava a “hora do Angelus”. Melanie rezava enquanto Maximino tirava o chapéu e guardava silêncio. Assim, chegou a hora de comer. Tirou o pão da mochila e, como costumava fazer, fez uma grande cruz com a ponta da navalha; no centro, abriu um pequeno buraco… “Se o diabo estiver, saia; se o bom Deus, fique.” Assim falou Melanie; mas Maximino, que não parava de rir, jogou o pão para ela ladeira abaixo, de um pontapé. Não se aborreceram e continuaram comendo.
No dia seguinte, 19 de setembro de 1846, voltaram a encontrar-se. Maximino se acostumara com Melanie; escutava atentamente o que ela dizia às flores… E se propôs que ela lhe ensinasse um jogo. Melanie disse: “vamos fazer um ‘paraíso’.” Puseram-se a colher flores, uma boa quantidade. Não havia pedras no local, de modo que Melanie propôs conduzirem os animais até “uma pequena planície perto da ribanceira”, onde as encontrariam. Partiram para a tarefa; terminaram, e Melanie explicava e Maximino o símbolo. Ficaram olhando; o sono bateu neles, afastaram-se alguns passos e deitaram para dormir sobre a relva.
Ao acordar, Melanie não viu o gado. Chamou seu companheiro, enquanto subia a colina. Do cume, viu os animais deitados, muito tranqüilos, em outro prado. Eu descia e Maximino subia quando de repente vi uma bela luz, mais brilhante que o Sol. Chamou a atenção de Maximino e este gritou, jogando do chão o pau que trazia. viram aquela luz intensa, que não fazia mal, arrendondada, rasgando-se, e dentro dela apareceu uma belíssima Senhora, ainda mais luminosas, sentada sobre o paraíso feito por eles. “Meu Coração”, conta Melanie “Queria correr mais depressa que eu.” No início, tinha o rosto entre as mãos; parecia chorar muito. E então, a Senhora ficou de pé, cruzou os braços sobre o peito e pediu-lhes cortesmente que se aproximassem. Tinha “uma grande notícia” a anunciar-lhes. Bem na frente dela, muito perto, a Senhora começou a falar. Dos olhos Dela, caíam lágrimas constantes, que não cessaram durante todo àquele tempo extraordinário. A sua mensagem era profética, apocalíptica, cheia de misericórdia, e Ela repetiu que o homem, se trabalha, deve santificar as festas, pois a sofreguidão do trabalho, da produção cega, é viciada, acaba maldizendo as colheitas dos campos, tornando-os estéreis e atraindo castigos sobre vidas e bens. A virgem disse-lhes o seguinte, para que o transmitissem a todos.
“Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade!”
“Se meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar cair o braço de meu Filho. É tão forte e tão pesado que não o posso mais”
“Há quanto tempo sofro por vós”
“Dei-vos seis dias para trabalhar, reservei-me o sétimo, e não mo querem conceder! É isso que torna tão pesado o braço de Meu Filho”
“E também os carroceiros não sabem jurar sem usar o nome de meu Filho. São essas as duas coisas que tornam tão pesado o braço de meu Filho”
“Se a colheita for perdida a culpa é vossa (…) Orai bem, obrai o bem.”
“Se a colheita se estraga, e só por vossa causa, Eu vo-lo mostrei no ano passado com as batatinhas: e vós nem fizestes caso! Ao contrário, quando encontráveis batatinhas estragadas, juráveis usando o nome de meu Filho. Elas continuarão assim, e neste ano, para o Natal, não haverá mais”
A palavra “batatinhas”, em francês: “pommes de terre”, deixa Melania intrigada. No dialeto da região, se diz “la truffa”. E a palavra “pommes” lembra-lhe o fruto da macieira. Ela se volta então para Maximino, para lhe pedir uma explicação. A Senhora porém, adianta-se dizendo: “Não compreendeis, meus filhos? Vou dizê-lo de outro modo
A Senhora repete, as últimas frases no dialeto de Corps, língua falada correntemente por Maximino e Melânia, a Bela Senhora prossegue sempre no dialeto: “Se tiverdes trigo, não se deve semea-lo. Todo o que semeardes será devorado pelos insetos, e o que produzir se transformará em pó ao ser malhado”. “Virá grande fome. Antes que a fome chegue, as crianças menores de sete anos serão acometidas de trevor e morrerão entre as mãos das pessoas que as carregarem, Os outros farão penitência pela fome. As nozes caruncharão, as uvas apodrecerão”
De repente, a Bela Senhora continua a falar, mas somente Maximino a entende. Melânia percebe seus lábios se moverem, mas nada entende. Alguns instantes depois, Melânia por sua vez, pode ouvir, enquanto Maximino, que nada mais entende, faz girar o chapéu na ponta do cajado ou, com a outra, brinca com pedrinhas no cho. – “Mas nenhuma sequer tocou os pés da Bela Senhora!”, excusar-se-ia alguns dias mais tarde.- “Ela me disse alguma coisa ao me dizer: Tu não dirás nem isso. Depois, não compreendia mais nada, e durante esse tempo, eu brincava”.
Assim a Bela Senhora falou em segredo a Maximino e depois a Melânia. E novamente, os dois em conjunto ouvem as seguintes palavras: “Se se converterem, as pedras e rochedos se transformarão em montões de trigo, e as batatinhas serão semeadas nos roçados” “Fazeis bem vossa oração, meus filhos?” Respondem as crianças. “Não muito Senhora”. A Senhora lhes diz: “Ah! Meus filhos, é preciso fazê-la bem, à noite e de manhã, dizendo ao menos um Pai Nosso e uma Ave Maria quando não puderdes rezar mais. Quando puderdes rezar mais, dizei mais”. “Durante o verão, só algumas mulheres mais idosas vão à Missa. Os outros trabalham no domingo, durante todo o verão. Durante o inverno, quanto não sabem o que fazer, vão a Missa zombar da religião. Durante a Quaresma vão ao açougue como cães”. “Nunca viste trigo estragado, meus filhos”
“Não Senhora,” responderam eles. Então Ela se dirige a Maximino:
“Mas tu, meu filho, tu deves tê-lo visto uma vez, perto do Coin, com teu pai. O dono da roça disse a teu pai que fosse ver seu trigo estragado. Ambos fostes até lá. Ele tomou duas ou três espigas entre as mãos, esfregou-as e tudo caiu em pó. Ao voltardes, quando estáveis a meia hora de Corps, teu pai te deu um pedaço de pão dizendo-te: “Toma, meu filho, come pão neste ano ainda, pois não sei quem dele comerá no ano próximo, se o trigo continuar assim” .
Maximino responde “É verdade, Senhora, agora lembro. Há pouco não lembrava mais”.
E a Bela Senhora conclui, não mais em patois, e sim em francês:
“Pois bem, meus filhos, transmitireis isso a todo o meu povo.”
Terminou assim a aparição daquela grande Senhora após um diálogo com as crianças. Deu meia-volta; cruzou o córregozinho, que tinha água e ficava seco em alguns períodos do ano, e a partir daquele momento já nunca pararia de fluir; continuou subindo até a colina onde Melanie estivera antes. Ela andava, mas as plantas de seus pés não esmagavam a relva, quase não dobravam os talos. Melanie correu e a contemplou de novo lá no alto. Teve a visão mística de seus olhos. E depois desse presente, viu o rosto e a figura da Senhora desaparecendo à medida que a luminosidade aumentava, como fundindo-se com a luz, até a imagem sumir e restar apenas o fulgor, que aos poucos acabou sendo também absorvido aos olhos de Melanie.
Desceram para o povoado mais rápido do que era de costume. Assim que chegaram, Melanie não falou, mas Maximino não agüentava esperar. Os dois tinham vistos e ouvido a grande Senhora, e ela lhes falara. “O vestido era branco prateado, não de pano, mas de “glória”. Muito bela, tudo Nela “respirava majestade, esplendor, a magnificência de uma Rainha incomparável”. Trazia sobre a cabeça uma coroa de rosas “que não eram da terra”; elas mudavam e emitiam raios. Das rosas surgiam feixes de ouro e multidão de outras florezinhas, misturadas com pedrinhas preciosas. Aquele diadema “brilhava mais que o nosso Sol da terra”. tinha um Cruz pendurada, com um Cristo; num dos extremos, um martelo, e no outro, um torquês. Sua voz era doce; e quanto aos olhos, para que falar dos olhos? Melanie tenta, mas nada é comparável a eles; nem os diamantes, nem as pedras preciosas jamais achadas… nada. Ela aparecera com um avental em cima do vestido, segundo era costume das camponesas do lugar. Esta peça e os sapatos eram tão sublimes e formosos quanto o vestido…
Os meninos voltaram à vila ao escurecer e contaram tudo que tinham visto e ouvido na montanha. Alguns acreditaram, outros duvidaram. Foram obrigados a repetir a história várias vezes e sofreram muito.
No dia 21 de setembro, tiveram início as romarias ao local da aparição. Muitos milagres foram comprovados. O bispo de Grenoble, a cuja diocese pertencia o sítio da Sallete, no dia 1º de maio de 1852, fundou uma Congregação de Missionários cuja missão era transmitir a mensagem de Nossa Senhora.
O Santuário ficou pronto em 1879. Maximino morreu ainda jovem. Melanie faleceu em 1904, em odor de santidade, como uma das fundadoras da Congregação das “Filhas do Zelo do Divino Coração de Jesus”.
Oração à Nossa Senhora da Sallete
Lembrai-vos, ó Nossa Senhora da Sallete,
das lágrimas que derramastes no Calvário.
Lembrai-vos também dos angustiados cuidados que tendes por mim para livrar-me da justiça de Deus.
Depois de terdes demonstrado tanto amor por mim, não podeis abandonar-me.
Animado por este pensamento consolador
venho lançar-me a vossos pés.
Apesar de minhas infidelidades e ingratidões.
Não rejeiteis a minha oração, ó Virgem reconciliadora,
mas atendei-me e alcançai-me a graça que tanto necessito.
Ajudai-me a amar a Jesus sobre todas as coisas.
Eu quero enxugar as vossas lágrimas por meio de uma vida santa e assim merecer um dia viver convosco e desfrutar a felicidade eterna do céu.
Amém.
Invocações Marianas

Invocação Mariana: Nossa Senhora da Salve Rainha

O pequeno oratório fica a 6 km de Cahors. Existe aí uma imagem de Nossa Senhora muito antiga, venerada desde as mais remotas eras.

Por causa do primeiro milagre operado depois de ter sido a Mãe de Deus invocada por meio da salve-rainha, deram à referida imagem o título de Nossa Senhora da Salve-Rainha.
Segundo uma crença popular, aquele que, passando diante da imagem, rezar com piedade a salve-rainha será preservado da mordedura dos cães hidrófobos.
É mesmo costume tradicional entre os habitantes de Pradines e arredores, particularmente entre os pescadores, cantar a salve-rainha sempre que estão em algum perigo.
A peregrinação é no domingo da Santíssima Trindade.
Invocações Marianas

Invocação Mariana: Nossa Senhora da Saudade

                A palavra “Saudade” cultuada em prosa e verso na literatura portuguesa, apesar de expressar um sentimento próprio dos povos de língua lusitana, não foi capaz de elevar-se a ponto de fornecer um título à Virgem Maria em Portugal, país onde a Mãe de Deus é invocada sob tantos aspectos. A bonita e suave invocação de Nossa Senhora da Saudade é genuinamente brasileira, mas foi preciso aparecer um jornalista como Mozart Monteiro para descobri-la enclausurada no Carmelo de São José em Petrópolis. Entusiasmado com esta devoção de tão sublime sentimento poético, o cronista patrício estudou-a em sua recente origem e tem se dedicado a divulgar o culto da Virgem da Saudade.

Segundo o citado escritor brasileiro, esta devoção surgiu no Carmelo de Petrópolis a 30 de março de 1918, num Sábado Santo, por iniciativa da Irmã Inês do Sagrado Coração, inspirada na saudade imensa que a Virgem Maria teve de seu Divino Filho nos três dias incompletos que Ele esteve encerrado no sepulcro. Procurava assim a santa carmelita honrar a dor do Amantíssimo Coração de Maria nas 36 horas de padecimento atroz que se sucederam à morte de Jesus Cristo. É, pois, um título que corresponde ao de Senhora da Soledade, muito usado na tradição popular portuguesa e brasileira.
Naquela época era capelão de São José o eminente teólogo brasileiro Pe. João Gualberto do Amaral. As irmãs carmelitas apresentaram-lhe a nova devoção e, após examiná-la demoradamente, o ilustre sacerdote achou que estava de acordo com a doutrina cristã. O bispo de Mariana, D. Silvério Gomes Pimenta, em visita ao Carmelo, após elogiar o novo título da Virgem Maria, declarou que ele seria uma fonte de graças para seus devotos.
Foi então instituída a “Coroa da Saudade da Rainha dos Mártires” (aprovada pelo bispo de Niterói), espécie de terço constituído de três mistérios, cada um constando de um “Pai-Nosso” e doze “Lembrai-vos”, somando portanto esta última oração o número 36, correspondente às horas de sofrimento da Mãe Celestial. Na medalha de Nossa Senhora com que termina a coroa rezam-se três “Aves-Marias” e uma súplica especial à Rainha dos Mártires.
A atual liturgia da Semana da Paixão, considerando o Sábado Santo um dia de intenso luto, veio confirmar o culto à Saudade da Mãe Divina, já instituído há muitos anos no Carmelo de Petrópolis e dando um sentido mais vasto ao suplício da Saudade que a Mãe de Jesus padeceu durante o sepultamento de seu divino Filho.
A imagem de Nossa Senhora da Saudade, inaugurada dentro da clausura do Carmelo de Petrópolis, foi doada por uma senhora da sociedade, em agradecimento às graças recebidas da Virgem Saudosa. É de mármore de Carrara e representa Maria em tamanho natural de pé sobre o globo terrestre e com a cabeça ligeiramente inclinada para baixo, encimada por bonita coroa de ouro. Seu semblante docemente triste deixa transparecer um sorriso melancólico. Sua mão esquerda se apóia sobre o peito, trespassado por um punhal também de ouro, enquanto com a direita segura a “coroa da Saudade”, executada no mesmo e nobre metal. No Santuário, sobre a estátua, pode-se ler a comovente inscrição: -“Vinde a Ela, vós todos que sofreis, vós todos que chorais; e Ela vos consolará”.
Esta imagem, feita por célebre escultor francês, representa perfeitamente a saudade intensa da Mãe de Deus suportada no sábado após a Paixão do seu Divino Filho e os dizeres colocados sobre ela simbolizam a confiança que devemos ter na infinita bondade da Rainha dos Mártires.
Iconografia:
Estátua de mármore representando a Virgem Maria vestida de uma túnica e um manto que lhe envolve o corpo e passa sobre seu ombro esquerdo caindo atrás na altura dos joelhos. Com a mão esquerda segura um punhal cravado em seu coração e com a direita estendida apresenta a “coroa da Saudade”, que é uma espécie de terço, com uma medalha na ponta. Sua cabeça está coberta por um véu longo e sobre ele vê-se uma coroa aberta, semelhante à de visconde. Pisa sobre o globo terrestre.
Fonte:
– Invocações da Virgem Maria no Brasil
Autora: Nilza Botelho Megale
Editora Vozes – 5ª Edição
Invocações Marianas

Invocação Mariana: Nossa Senhora da Sede

Aix, antiga capital da Provença, cidade elegante e bem construída, foi fundada no ano de 120 a. C.

A igreja de Nossa Senhora da Sede, situada fora da cidade, na estrada de Berre, é de grande interesse para os historiadores, porque encerra uma das mais antigas Madonas da França.
A maior parte dos historiadores afirma que este santuário ocupa o lugar da primeira igreja cristã edificada em Aix.
A sede episcopal era naquele tempo fora do âmbito de Aix, daí o título Nossa Senhora da Sede dado à imagem venerada em Aix.
O edifício atual é de construção relativamente recente. É um monumento de estilo romano-bizantino; o exterior é precedido de uma praça. Cercado de uma grade, esse terreno tornou-se um poético jardim, porque agrupa a maior parte das plantas que simbolizam a Santíssima Virgem Maria, como plátanos, ciprestes, oliveiras, palmeiras, cedros e roseiras.
Os religiosos do Santíssimo Sacramento cuidam atualmente do santuário.
A imagem milagrosa é de um tipo considerado antigo; é de madeira policromada e mede 1,10m.
Numerosos ex-votos em todas as línguas testemunham a confiança inspirada por Nossa Senhora da Sede ao longo dos séculos.
Invocações Marianas

Nossa Senhora da Serra

A Espanha é um país de arraigada tradição mariana. Centenas de templos erigidos em honra da Virgem se espalham por pequenas e grandes cidades. Muitas devoções marianas espanholas ultrapassaram os limites da Península Ibérica, levadas pelos colonizadores, como é o caso de Nossa Senhora do Pilar, considerado o mais antigo título de Nossa Senhora. Outras devoções, mais regionais, não aportaram com tanta força no Novo Mundo. Mesmo restritas a certas regiões e províncias, seria lastimável desconhecê-las.

Assim, enriquece nosso amor à Nossa Senhora saber que, na cidade com o pitoresco nome de Cabra, Maria Santíssima é venerada como Nossa Senhora da Serra.
A cidade de Cabra, na Espanha, localiza-se a 78 Km de Córdoba, a capital da província e a 430 km de Madri. Cabra possui atualmente possui mais de 20.000 habitantes. É o centro geográfico da Andaluzia.
Segundo a tradição, existia em Cabra um antigo templo grego dedicado à deusa Fortuna, sobre o qual se construiu a igreja de São João Batista. Aí venerava-se uma imagem de Nossa Senhora que, conforme a lenda, foi esculpida por São Lucas. No I século da Era Cristã, a cidade se convertera ao cristianismo, sendo seu primeiro bispo Hissio, discípulo de São Tiago, que doara a imagem à cidade.
Arsesindo, décimo bispo, escondeu a imagem em uma gruta da serra para impedir que fosse profanada. Depois do domínio muçulmano, a cidade foi reconquistada pelas tropas cristãs em 1244. Pouco depois, como costumava acontecer em todas as aparições àquela época, um pastor encontra a imagem numa gruta situada no monte, hoje conhecido como “El Picacho”. Aí será cultuada Nossa Senhora da Serra.
O pastor leva a imagem para o povoado e sucessivamente ela reaparece no monte. Os fiéis resolvem construir uma ermida num ponto da esplanada da montanha chamado “Viñuela”, perto a uma fonte. O material para a construção, várias vezes, é encontrado sobre o monte, próximo à citada gruta, local onde, finalmente, se decide construir a capela. Os habitantes daquela região costumam dizer: “É mais fácil mover o monte que a Virgem”.
É provável que a construção da primitiva ermida tenha ocorrido na segunda metade do século XIV.
Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, o santuário e a devoção à Virgem da Serra passam por diversas vicissitudes. No século XVII, mais precisamente em 1621, a cura do paralítico Pedro Martín Pacho aumenta a devoção popular à Nossa Senhora da Serra. No século XVIII, a imagem só será conduzida à cidade por ocasião de alguma calamidade.
Em 1908, por decreto do papa Pio X, a Virgem da Serra foi nomeada e proclamada “Patrona de Cabra”. O santuário encontra-se a 1.223 m de altitude.
Nossa Senhora da Serra, rogai por nós!
Invocações Marianas

Nossa Senhora da Vida

Notável «retábulo fingido» de cerâmica policromada, constituído por nada menos de 1384 azulejos, este conjunto azulejar de características monumentais procede da Capela de Nossa Senhora da Vidana extinta igreja de Santo André de Lisboa, fundada pelo nobre Bartolomeu Vaz de Lemos, que aí jazeu em campa armoriada datada de 1580.

Disposto em andares sobrepostos, como se de retábulo marcenaria lavrada se tratasse, o retábulo de Nossa Senhora da Vida inclui, acima do entablamento simulado, as cenas figuradas do Anjo São Gabriel e da Virgem da Anunciação, em edículas incluem, ao centro, a cena da Adoração dos Pastores, e nos laterais, em nichos fingidos e intercolúnios, as figuras de São João Evangelista e de São Lucas. Trata-se de uma das obras da azulejaria portuguesa da segunda metade do século XVI onde melhor se sente o processo de adequação da linguagem plástica aos valores estéticos do Maneirismo internacional. O conjunto sugere a estrutura da uma máquina de marcenaria retabular com colunas de capitéis coríntios, frisos de grotesco, bases com pontas-de-diamante e remates de ramagem na cornija, como que integrando pinturas de cavalete nas suas edículas – numa solução cenográfica bem portuguesa, igualmente experimentada nos «frescos» maneiristas alentejanos, onde abundam os testemunhos de «retábulos fingidos» (as obras do pintor eborense José de Escobar, por exemplo).
O ceramista desenha com soltura e compõe as suas cenas dentro do espírito antoclássico da maneira «reformas», com colorido aberto a tonalidades luminosas (efeitos de verdes-malaquite, azuis e amarelos-dourados), um desenho «caprichoso» das figuras de linhas serpenteadas e das poses teatrakizantes, e ritmos de composição atentos a um elaborado impacto cenográfico, com evidentes cedências às orientações catequizadoras tridentinas dominantes, e revelando bom conhecimento dos processos figurativos da pintura de óleo de cavalete. Trata-se de produção Lisboeta, bastante diversa, no estilo e na técnica, do grosso da cerâmica sevilhana da Bacalhôa. A hipótese de se tratar de obra do ceramista lisboeta Marçal de Matos, carecendo de contraprova documental irrefutável, é todavia de reter como possibilidade: este mestre – acaso parente do azulejador Francisco de Matos que assina o revestimento cerâmico de uma das capelas de S. Roque (1584), e de um novo artista de nome Miguel de Matos (activo em 1613-14 na Irmandade de S. Lucas, talvez seu filho?? – é citado num processo de denúncia do Santo Ofício envolvendo o mestre flamengo de louça vidrada Filipe de Góis, e tinha loja e forno abertos na chamada Prais da Boa Vista, aí tendo executado, em 1575, um «retábulo fingindo» de azulejo para o arco da Capela de Nossa Senhora da Conceição, no convento do Carmo em Lisboa, obra infelizmente desaparecida. A circunstância de dever tratar de obra marcada por idêntico recurso à decoração cenográfica permite ilacções sobre a sua especialidade. De resto, um lambril de azulejo com grotesco flamengo, de cerca de 1565, que existe na Casa do Lago do Palácio da Bacalhôa, está assinado (MA)TOS, o que deixa analisar alguns paralelos estilísticos com o retábulo de Nossa Senhora da Vida. O fato de Marçal de Matos aparecer ainda citado, em 1576, numa obra lisboeta (o retábulo da capela do nobre Matias de Noronha), aí associado ao entalhador flamengo Estácio Matias e ao pintor João Francisco, permite extrair novas ilações sobre o seu meio de trabalho e sobre os contatos com os praticantes de talha lavrada e com os círculos de difusão de gravados ornamentais ítalo-flamengos.
Independentemente de ser Marçal de Matos o seu autor, o retábulo de Nossa Senhora da Vida atesta um elaborado conhecimento das influências de estampas maneiristas nórdicas, designadamente de Martin de Vos e de Cornelis Cort, cujos modelos inspiram algumas das cenas representadas nas edículas, e bem assim dos tratados de grotescos muito difundidos desde Antuérpia, onde se inspirou para o lavor dos frisos com ornato vegetal, e das bases com figuras de Leão alternando com pontas-de-diamante.
A fortuna histórica do retábulo conta-se em poucas palavras, á míngua de documentação mais precisa: destruído o templo de Santo André em 1845, dado que o terremoto de 1755 o tornara irreparável, o conjunto cerâmico passou por diversas vicissitudes, designadamente um gorado processo de venda para coleção inglesa; alguns anos após a demolição do templo-mãe, o Ministério de Obras Públicas, através dos esforços de José Valentim. teve o bom senso de fazer remontar (em 1861) o conjunto cerâmico num corredor da Biblioteca Nacional de Lisboa, instalada então no extinto convento de São Francisco da Cidade; mais de um século volvido, em 1969, o Museu Nacional de Arte Antiga decidiu que fosse transferido para o Museu Nacional do Azulejo, na Madre de Deus, onde desde então esteve exposto como obra-prima da azulejaria quinhentista portuguesa, ainda que sem a montagem dos dois andares, devido às suas excepcionais dimensões; após a Europália/91, em Bruxelas, onde a obra se expôs com grandioso destaque e evidenciando sucesso, o Diretor do Museu Nacional do Azulejo, João Castel-Branco Pereira, e o arquiteto João Bento de Almeida repensaram a sua montagem museológica em termos de uma mais eficaz reconstituição da obra, tal como se encontrava primitivamente na capela dos Vaz de Lemos em Santo André, criando-se para um efeito um espaço no Museu do Azulejo que permite a sua instalação integral.
Em termos de fortuna crítica, enfim, é Frei Agostinho de Santa Maria, no seu Santuário Mariano, quem pela primeira vez descreve com louvor a capela dos Vaz de Lemos em Santo André, elogiando o seu «azulejo antigo, mas de excelente qualidade», e no mesmo sentido se expressam depois o Padre Carvalho da Costa na Corographia Portuguesa e, já após a sua transferência para São Francisco da Cidade, Ribeiro Guimarães.