I – Maria nos convida a empreender um caminho …
Naqueles dias, levantando-se Maria, foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá. E entrou em casa de Zacarias, e saudou Isabel. (Lc 1, 39-40). Maria nos dá o exemplo de quanto nós devemos ser sensíveis, o quanto devemos ser flexíveis, o quanto devemos estar prontos para atender as inspirações que Deus põe em nossas almas.
Quantas e quantas vezes nós ao longo de nossa vida temos essas ou aquelas inspirações, temos esses ou aqueles toques interiores da graça, sentimos em nossa alma que devemos empreender um caminho ou então abandonar algo que nos prejudica, que nos leva a ofender a Deus. Quantas vezes sentimos a voz de consciência, ou a própria voz de Deus nos convidando a empreender um caminho…
Nossa Senhora foi visitar Santa Isabel, não porque pudesse haver qualquer resquício de dúvida, sobre o que tinha dito o Anjo, ou então que este a tivesse enganado. Jamais isto teria acontecido. Ela foi visitar a prima porque recebeu uma inspiração de fazê-lo, foi tocada por uma graça, recebendo assim, um impulso em seu interior e obedecendo a este prontamente. Ela põe-se a campo, porque lhe veio ao espírito uma preocupação:
‘Minha prima está para dar a luz, não contou nada a ninguém, não haverá quem a ajude, ela não tem filhos, está sozinha, eu preciso ajudá-la. Maria não pensou em si; bateu-se em direção à cidade em que estava Santa Isabel, que era distante de três a quatro dias de caminhada. Certamente acompanhou alguma caravana que por lá passava, pois, viajar sozinho naquela época, era um risco enorme.
Entretanto, pôs-se em direção para onde? O Evangelho diz:”foi com pressa às montanhas…”
Ela não fez um plano de viagem…, bem quando eu me sentir um pouco melhor…, quem sabe, num dia mais propício… Não, “foi com pressa…”. Quando se trata de fazer o bem, é assim que se age. Quando alguém está com alguma necessidade, Ela atende às pressas; e foi por isso que se pôs a caminhar imediatamente. Maria vive dentro da contemplação de Deus, que se encontra no mais intimo de seu coração. Nosso Senhor Jesus Cristo estava sendo formado enquanto homem em seu claustro virginal. Por isso, quanta razão tinha para ficar em casa contemplando este Deus que estava sendo gerado em seu interior. Entretanto, recebida a notícia, não titubeou, põe-se a caminho.
1 – ¨Naqueles dias, levantando-se Maria, foi com pressa às montanhas…¨ (Lc 1, 39)
De fato a cidade de Santa Isabel ficava em uma região montanhosa e a distância da cidade de Nazaré até lá, eram de três a quatro dias de caminhada. Era portanto uma viagem penosa e difícil, mas Maria está satisfeita, está alegre, e é esta alegria que a coloca em movimento e a faz com que abandone as comodidades e se ponha a caminhar.
Exemplo magnífico para nós, quando formos tocados por uma graça para seguir um determinado caminho, ou quando formos tocados por alguma inspiração de Deus e somos convidados a abandonar uma situação que nos é agradável, ou então quando é uma situação que nos leva ao pecado, sejamos rápidos, tenhamos pressa e imitemos a Nossa Senhora em sua predisposição em cumprir o dever.
Vamos então, neste primeiro ponto de nossa meditação pedir a graça de poder imitá-La:
Oração:
Oh! Mãe Santíssima, neste versículo do Evangelho que meditamos, vimos o quanto Vós sois para nós um exemplo. Vós, ó Mãe minha, vos pusestes a caminho com toda a diligência, sendo que, todas as comodidades Vos convidavam a ficar em casa, isso muito especialmente pelo fato de ser a Mãe de Deus e estar com o próprio Deus Nosso Senhor em seu interior. Vós podíeis perfeitamente ficar na segurança do lar, entretanto vos apressastes em ir ter com aquela que seria a mãe de São João Batista.
Minha Mãe, dai-me a graça de nunca ser lento em atender as inspirações de Deus, sobretudo, se bem que isto nunca se tenha dado convosco, mas dá-se muito freqüentemente conosco, especialmente quando algum pecado, alguma ocasião próxima, alguma relação de amizade nos afasta do bom caminho. Portanto, quando receber um toque de minha consciência, ou um toque da graça, ou mesmo uma inspiração obtida por Vós a fim de me ajudar, que eu obedeça prontamente à Vossa vontade.
II – O Convívio com os santos!
¨E aconteceu que, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo; e exclamou em alta voz, e disse: Bendita sois vós entra as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre…¨ (Lc 1, 41-42)
Eis aí o efeito da presença de Nossa Senhora, o efeito da devoção para com Ela. Mais ainda, São João Batista três meses antes de nascer já foi santificado por Maria.
É real que os santos no seu convívio santificam, é real que a proximidade com uma pessoa santa faz sempre bem as almas que não se fecham às graças das quais são eles veículo. A influência de um santo também é benéfica. Quando alguém tem possibilidade de se aproximar de uma alma santa, e nós temos vários casos ao longo da história, como por exemplo o de Santo Agostinho, que teve uma mãe santa e acabou por se santificar em parte por causa desta influência. E porque isso? Porque a santidade é contagiante, assim como o mal. Os dois extremos são contagiantes: o bem na sua santidade contagia e o mal na sua maldade e hediondez também contagia. Portanto aí está, Nossa Senhora não é somente santa, Ela é Santíssima e por isso nós não dizemos Santa Virgem, dizemos Santíssima Virgem.
Maria Santíssima chegando à casa de Santa Izabel saudou-a e qual foi o efeito produzido? Foi a santificação da criança que estava sendo gestada, São João Batista saltou no ventre materno. E não há somente isso; pelas palavras de Maria, Santa Isabel que era sua prima, no momento do cumprimento, logo que o timbre de sua voz penetrou em seus ouvidos, nesse momento o Espírito Santo tomou-a. O Divino Espírito Santo poderia perfeitamente tomar Santa Isabel sem o concurso de Nossa Senhora, Ele poderia santificar São João Batista sem a intervenção de Maria. Mas acontece que a simples presença d´Ela por ser Santíssima, como que ¨força¨ o Espírito Santo a agir.
Nossa Senhora é aquela que propicia a santificação, por isso, bom sinal de salvação eterna é ter verdadeira devoção a Maria Santíssima. Ter esta verdadeira devoção à Mãe de Deus, significa sinal de predestinação e devemos agradecer a Deus pelo fato de hoje estarmos aqui nesta igreja, na celebração deste Primeiro Sábado do mês no intuito de reparar o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, poder fazer a confissão, mesmo dentro da oitava, rezarmos o terço, como o fizemos ainda há pouco e recebermos a Eucaristia na Santa Missa que se seguirá. Tudo isso é dom de Deus, é privilégio, é como que um sinal de predestinação.
III – Santa Isabel dá sinal de grande virtude!
Santa Isabel não teve inveja, mas pelo contrário, é reconhecedora dos benefícios que Deus fez a Maria. Ela, tomada pelo Espírito Santo, externa e exclama toda a admiração que tem por Nossa Senhora. Como é isso difícil de acontecer no gênero humano, infelizmente somos afeitos a comparações, vaidade, inveja, orgulho. É comum no nosso relacionamento social termo casos de pessoas que não elogiam, que não reconhecem as qualidades do próximo, pelo contrário, até diminuem essas qualidades nos outros. Não foi o que se passou com Santa Isabel, estando tomada pelo Espírito Santo, não vê o momento de externar tudo o que pensa a respeito daquela que seria a Mãe do Salvador, e não em voz baixa, porque a Escritura diz: “…exclamou em alta voz, e disse: Bendita és tu entra as mulheres, bendito é o fruto do seu ventre”.
Ou seja, reconheceu que Maria é bendita mais do que ela própria. Não nos esqueçamos que Maria é bem mais jovem que Isabel, esta era quase uma menina perto dela, e entretanto, sendo mais idosa, reconhece as maravilhas, reconhece os dons que Deus deu a Nossa Senhora.
Magnífico exemplo, reconhecer as qualidades dos outros, e isso não é só válido para o gênero feminino, mas também para os homens, devemos sempre reconhecer os valores do nosso próximo e este reconhecimento é uma obrigação moral.
Santa Isabel estava também para dar a luz, mas ela reconhece que aquele que está sendo gerado pela prima, é maior do que o seu próprio filho. Uma mãe reconhecer que o filho de uma outra é mais do que o seu filho, é sinal de grande virtude, mas é precisamente esse grau de virtude que devemos almejar, que devemos desejar, a ponto de reconhecer aqueles que são mais do que nós.
Vamos pedir graças sobre graças para conservar em nós a idéia de uma inteira disposição para fazer bem ao próximo, e também a idéia de ter sempre em mãos a nossa alma, nunca cedendo a nenhuma paixão que nos leve ao pecado.
Oração Final:
Oh! Mãe Santíssima, aqui estamos para reparar ao Vosso Sapiencial e Imaculado Coração, imploramos que nossos corações sejam pervadidos da graça de zelo apostólico, de amor ao próximo, do desejo de fazer o bem e de controlar e reter todas as nossas paixões, e jamais ceder ao pecado. Não queremos, ó Mãe, ser mais um daqueles que Vos ofende nos dias de hoje com tanta maldade e fazendo de modo desenfreado tudo aquilo que não é conforme a lei de Deus. Queremos, isso sim, ser santos, queremos trilhar o caminho da perfeição.
Dai-nos, ó Mãe, nós vo-lo pedimos, a graça de nunca abandonar este caminho. Mas se por desgraça, viermos a Vos ofender, daí-nos a graça de um arrependimento perfeito para assim retornarmos ao caminho do bem abandonado.
Assim seja!
A Visitação de Maria a sua prima Santa Isabel.
(Meditação do Mons.João S.Clá Dias.- Catedral da Sé, 1º de janeiro de 2005 – sem revisão do autor)
Em particular hoje, com a liturgia, detemo-nos a meditar sobre o mistério da Visitação da Virgem a Santa Isabel. Maria, trazendo no seio Jesus recém-concebido, vai visitar a prima Isabel. É uma jovem, mas não tem medo, porque Deus está com Ela, dentro d’Ela. De certo modo, podemos dizer que a sua viagem foi a primeira “procissão eucarística” da História.
Maria, Tabernáculo vivo de Deus que se fez carne, é a Arca da Aliança, em que o Senhor visitou e redimiu o seu povo. A presença de Jesus enche-A do Espírito Santo. Quando entra na casa de Isabel, a sua saudação é transbordante de graça: João estremece no seio da mãe, como se tivesse sentido a vinda d’Aquele que no futuro ele deverá anunciar a Israel. Os filhos exultam, as mães regozijam-se. Este encontro, impregnado da alegria do Espírito, encontra a sua expressão no cântico do Magnificat.
Não é, porventura, também esta a alegria da Igreja, que acolhe incessantemente Cristo na sagrada Eucaristia e O leva ao mundo com o testemunho da caridade concreta, imbuída de fé e de esperança? (Bento XVI, Saudação no final do Rosário recitado na Gruta de Lourdes, nos jardins do Vaticano, 31/5/2005)
Créditos:
Autor: Monsenhor João S.Clá Dias
Fonte: Arautos do Evangelho – Partes extraidas da Meditação para o primeiro sábado
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