A sétima aparição de Nossa Senhora de Fátima
Última aparição na Cova da Iria foi dirigida a Lúcia, a única vidente viva em 1921, tendo Nossa Senhora cumprido o que anunciou a 13 de maio de 1917, quando disse aos Pastorinhos que haveria de voltar ainda uma sétima vez.
O arrependimento
Em 15 de junho de 1921, Lúcia visita a Cova da Iria, com o intuito de se despedir deste lugar. Embora sem vontade tinha anuído à proposta do bispo de Leira para partir, mas Lúcia estava hesitante. O convite do bispo para ir para o Asilo de Vilar, no Porto, tinha sido tentador do ponto de vista da exposição, já que a procura da pequena vidente não lhe dava sossego, mas Lúcia já estaria arrependida, acusando o peso da separação da família e dos locais que lhe eram familiares: “A alegria que senti ao despedir-me do Senhor Bispo durou pouco tempo.
Lembrava-me dos meus familiares, da casa paterna, da Cova da Iria, Cabeço, Valinhos, do poço… e agora deixar tudo, assim, de uma vez para sempre? Para ir não sei bem para onde…? Disse ao Sr. Bispo que sim, mas agora vou dizer-lhe que me arrependi e que para aí não quero ir”, conta a religiosa no seu Diário.
A diocese de Leiria tinha sido restaurada em 1920 e D. José Alves Correia da Silva fora sagrado bispo diocesano e logo quis informar-se dos acontecimentos de Fátima e do paradeiro de Lúcia, única sobrevivente dos pastorinhos. Ao saber que, nessa ocasião, ela se encontrava em Fátima, pediu a uma senhora da sua confiança o favor de ir ver se, com a licença da mãe, a levava a Leiria. Assim, Lúcia encontrou-se pela primeira vez com D. José que a interrogou sobre as aparições e a aconselhou a guardar segredo do que havia testemunhado e a sair de Fátima.
A aparição
Depois de ter anuído à proposta do bispo, Lúcia entra em profundo sofrimento, arrependida entre a obediência e a sua própria vontade, e decide visitar, por uma última vez, os terrenos da Cova da Iria, quando, de repente, tem uma visão de Nossa Senhora, como descreve na intimidade do seu diário, uns anos mais tarde:
“Assim solícita, mais uma vez desceste à terra, e foi então que senti a Tua mão amiga e maternal tocar-me no ombro; levantei o olhar e vi-Te, eras Tu, a Mãe bendita a dar-me a mão e a indicar-me o caminho; os Teus lábios descerraram-se e o doce timbre da tua voz restituiu a luz e a paz à minha alma: ‘Aqui estou pela sétima vez, vai, segue o caminho por onde o Senhor Bispo te quiser levar, essa é a vontade de Deus’.
Repeti então o meu ‘sim’, agora bem mais consciente do que o do dia 13 de maio de 1917 e, enquanto de novo Te elevavas ao Céu, como num relance, passou-me pelo espírito toda a série de maravilhas que naquele mesmo lugar, havia apenas quatro anos, ali me tinha sido dado contemplar”. E, prossegue: “Por certo que, desde o Céu, o Teu maternal olhar me seguia os passos e, no espelho imenso da Luz que é Deus, viste a luta daquela a quem prometeste especial proteção: “Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.
A vida como religiosa
Completam-se mais de cem anos desta aparição que é, porventura, pela sua natureza e pela destinatária, uma aparição dirigida a Lúcia e que iria moldar a sua história vocacional. Menos conhecida do que as restantes, não só as ocorridas na Cova da Iria e testemunhadas pelos primos Francisco e Jacinta Marto, mas também as ocorridas em Espanha, esta aparição assume, por isso, um caráter mais místico e molda o caminho de santidade da vidente de Fátima, que viveu sempre longe da Cova da Iria daí em diante.
No dia seguinte à aparição, Lúcia sai de Aljustrel, a caminho do Asilo de Vilar, no Porto, onde é admitida em 17 de junho à guarda das religiosas de Santa Doroteia, tomando o nome de Maria das Dores, sugerido por Mons. Manuel Pereira Lopes, confessor da casa, que em carta a D. João Pereira Venâncio explica: “quando ela entrou, sob condição de se guardar segredo, no Asilo de Vilar, assisti ou fui o padrinho da substituição do seu nome para Maria das Dores, que era o nome da então superiora do Asilo (Madre Maria das Dores Magalhães). Ela compreendeu as vantagens da substituição e foi fiel à promessa de segredo”.
Professou como religiosa doroteia em 1928, em Tui (Galiza, Espanha), onde viveu alguns anos. Pouco tempo depois morou em Pontevedra, Galiza, onde também lhe apareceu a Virgem, em 1925, em Pontevedra.
A obediência
Lúcia haveria, ainda, de experimentar mais três aparições, que integram o denominado ciclo cordimariano, entre 1925 e 1929: a Aparição de Nossa Senhora, a Aparição do Menino Jesus e a Aparição da Santíssima Trindade e de Nossa Senhora.
Desejando uma vida de maior recolhimento para responder à mensagem que a Senhora lhe tinha confiado, entrou no Carmelo de Coimbra, em 1948, onde se entregou mais profundamente à oração e ao sacrifício e tomou o nome de Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado.
Foi neste Carmelo que Irmã Lúcia faleceu em 13 de fevereiro de 2005. Atualmente, seus restos mortais se encontram sepultados na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Fátima, desde o dia 19 de fevereiro de 2006.
Ao recordar a sétima aparição de Nossa Senhora à Lúcia, o Santuário de Fátima afirmou que esta aparição assume “um caráter mais místico e molda o caminho de santidade da vidente de Fátima, que viveu sempre longe da Cova da Iria daí em diante”. Além disso, declarou que os relatos da vidente revelam dois aspectos que marcariam sua vida: “a obediência ao bispo de Leiria, e consequentemente à Igreja, e a solicitude diante da Mãe, cumprindo esse pedido de Maria, nas Bodas de Caná: ‘Fazei tudo o que Ele vos disser’”.
Uma vida de oração
Em um recente vídeo publicado pelo Santuário de Fátima por ocasião da exposição temporária “Os rostos de Fátima – fisionomias de uma paisagem espiritual”, o teólogo e historiador José Rui Teixeira afirmou que as duas feições da personalidade de irmã Lúcia de Jesus foram obediência e resistência.
“O âmago desta vida foi a oração, a intimidade espiritual com Deus. Nesse âmago, nunca esqueceu a Igreja, o Santo Padre; a conversão dos pecadores; a união das Igrejas e a unidade da Igreja; a sua comunidade e essa multidão silenciosa que – de todo o mundo – se recomendava às suas orações”, afirmou.
De acordo com Teixeira, “por mais que Lúcia tentasse manter-se oculta, por mais que as circunstâncias a isolassem e silenciassem, ninguém a esqueceu, mesmo depois de décadas de clausura”.
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Fontes:
- Santuário Nossa Senhora de Fátima – Portugal
- ACI Digital
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