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Há um cheiro sacramental espalhado por S. Mamede do Coronado, na Trofa (Portugal). Vem escorraçado pelo pó que sai das oficinas onde velhos “santeiros” talham e pintam estatuetas. São os discípulos de José Ferreira Thedim, o homem que há 82 anos criou a imagem de Nossa Senhora de Fátima. “Um mestre”, diz Zacarias Tedim, sobrinho do escultor. “O número um em arte sacra”, afirma o povo da aldeia.

José Ferreira Thedim nasceu em S. Mamede do Coronado (Portugal) em 1892 e aí morreu em 1971. “O pai era escultor e os irmãos também. Mas o meu tio recorda Zacarias, era o mais artístico de todos”, que aos 65 anos faz um pouco mais do que meia dúzia de imagens.

As estátuas de José Ferreira Thedim primavam pela exuberância, conta Joaquim Oliveira, 76 anos, 20 dos quais pintava o que José F. Thedim cinzelava. “Era o único a moldar, a desenhar e a fazer. Lembro-me que na oficina havia uma educação especial. Um silêncio tremendo. Parecia uma igreja”.

Seria esse profissionalismo, que fez “escola” em S. Mamede do Coronado (Portugal), que levaria a Igreja a escolher José F. Thedim para talhar a figura de Nossa Senhora de Fátima.

 “Muito antes do meu tio ter sido incumbido, em 1917, de esculpir a imagem, já outra tinha sido feita por Teixeira Lopes, escultor de arte antiga”, explica Zacarias. “Era uma mulher de busto forte, vergada, vestida com um traje normal. Só que foi rejeitada”.

Sem figura para assinalar o 13 de Maio, diz Zacarias, o Santuário encomendou outra. “Pediram uma nova imagem à Casa Fânzeres, de Braga, que a confiou a José F. Thedim”. Mas o contato não teria sido casual, destaca o padre Lucindo Silva, abade há 17 anos da vizinha S. Romão do Coronado. “José F. Thedim era amigo do antigo pároco de S. Mamede. E o bispo de Leiria, na época das Aparições, era de S. Pedro de Fins”.

Multiplicação do dinheiro

Escolhido o “santeiro”, “José F. Thedim foi levado até à irmã Lúcia para recolher dados para o trabalho”. Mas o certo, afirma Joaquim Oliveira, pintor, é que no início José F. Thedim teria ido buscar idéias “a um catálogo espanhol” para conceber a imagem original. Sim, “porque há uma original e uma repetitiva”, frisa o padre Lucindo. “A diferença está na forma como foi feito o manto, mas também no fato de uma ser artística e a outra comercial”. Foi esta última que acabou por encher os bolsos a muitos “santeiros”, esclarece Avelino Vinhas, enquanto passeia  com seus 90 anos pela escadaria da Casa Estúdios Nossa Senhora de Fátima.

“Trabalhei com o José F. Thedim dos 12 até aos 20 anos e depois estabeleci-me. Fiz milhares de contos de réis em Fátima e espalhei a nossa arte cristã por todas as nações do Mundo”.

Hoje alegra-se em ter estátuas na China, na América, na Catedral de Luanda e até “um Coração de Maria na terra do Papa, em Cracóvia”.

A visão de Lúcia

Acabada a obra, “com um metro e três centímetros dos pés até ao cabeça”, a imagem seguiu para o Santuário, diz  Zacarias Thedim. “Foi abençoada pelo pároco de Fátima a 13 de Maio de 1920 e a 13 de Junho foi colocada na Capelinha das Aparições”. A partir daí o trabalho de José F. Thedim internacionalizou-se. A tal ponto que em 1931 Pio XI atribuiu-lhe o título de comendador da Santa Sé.

Incansável, o escultor cria, em 1947, a Virgem Peregrina. Novamente, salienta Zacarias, “teve de falar com Lúcia, porque precisava de uma visão fiel”. No trajeto das alterações à estátua juntou-se a José F. Thedim o discípulo Joaquim Oliveira. “Depois de ter dado a primeira volta ao Mundo, a imagem voltou e chamaram-me para a restaurar”, conta. “Fui à presença de Lúcia que me disse o que queria e não queria na imagem”. E o que não queria, confessa, “era que soubessem que eu lá tinha estado”.

Seguiu-se S. João de Deus, “Pietá”, várias homenagens e um pedido especial do antigo presidente norte-americano Eisenhower que lhe encomendou uma “Santane de Beauprais”.

Hoje, a obra de José F. Thedim está espalhada por galerias, igrejas, mosteiros e conventos de todo o Mundo. O problema, frisa Joaquim Oliveira, é que a escola de Thedim está acabando. “Os jovens não ligam a isto. E nós somos os “santeiros”, porque escultores, só os das Belas Artes”.

Talhada em cedro do Brasil

A primeira imagem e que se encontra até hoje entronizada na capelinha das aparições, bem com as primeiras esculpidas para peregrinação pelo mundo foram feitas em madeira de cedro vinda dos Estados de S. Paulo, Paraná e Santa Catarina no Brasil. Uma material lenhoso, colorido e com um cheiro característico muito bom para a talha.

A Coroa

A coroa que a imagem ostenta apenas nas grandes celebrações é um exemplar único cunhado em Lisboa e nela trabalharam gratuitamente 12 artistas durante três meses. Pesa 1200 gramas e é enriquecida por 313 pérolas e 2679 pedras preciosas. Esta coroa  foi oferecida pelas mulheres portuguesas a 13 de Outubro de 1942, em ação de graças por Portugal não ter entrado na 2º Guerra Mundial, e tem incrustada a bala oferecida por João Paulo II.

O falecido Sumo Pontifice ofereceu a bala que lhe trespassou o corpo no atentado de que foi vítima em Roma, a 13 de Maio de 1981, em sinal de agradecimento à Virgem, por lhe salvo a vida.

Fonte:  Zacarias Thedim


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0 comentário

  1. temos aqui no nosso distrito uma imagem de Nossa Senhora De Fatima que, segundo o livro escrito pelo fundador,foi esculpida por tedim em portugal,ela traz em seus pés um estojo com areia do tronco da arvore onde Ela aparecia e foi benta na corva da iria.

  2. Permitam-me uma pequena correcção e informação complementar:
    1. – A foto acima com a legenda “José Thedim esculpindo o Imaculado Coração” está incorrecta, pois trata-se do escultor norte.americano, padre dominicano (que conheci nesse tempo), Thomas McGlynn, num atelier em Itália, trabalhando a grande estátua de mármore que se encontra no nicho por cima da entrada principal da basílica de Fátima.
    2. – Sobre as fontes de inspiração para a primeira imagem de N.S.Fátima a que José Thedim terá recorrido, além das referidas por Joaquim de Oliveira e pelo Pe. Lucindo, não esquecer a estátua existente na Igreja da Lapa no Porto, que, segundo depoimento do cónego Dr. Xavier Coutinho, foi a base e modelo principal desse trabalho.
    – Ao longo dos anos a referida imagem sofreu várias alterações, incluindo um ligeiro inclinar da cabaça (a que assisti).
    . – Confirmo igualmente a informação oportuna do Sr. Avelino Vinhas (escultor muito conhecido em Fátima).

    1. Sr. Antonio, Salve Maria, muito obrigado pela informação, estarei corrigindo a legenda, saliento que esta foto foi pesquisada pela internet e constava essa mesma legenda, na qual também já foi comunicada sobre a correção. Muito obrigado.

    2. Viva Sr. António Clemente, saberá, por mero acaso, dizer-me se o escultor José Ferreira Thedim será o mesmo que o escultor José Ferreira Oliveira Tedim? Tenho duas imagens com essa assinatura, com a morada da Travessa de Cedofeita e não consigo perceber se será o mesmo artista… Em termos cronológicos baterá certo… Grata!

  3. O texto sobre «a primeira imagem esculpida de Nossa Senhora de Fátima» enferma de erros e imprecisões de vária ordem. O seu autor devolveu às fontes algumas afirmações, pensando que desse modo se ilibaria de responsabilidades. Mais não fez e não faz, porém, do que induzir em erro quem leu ou venha a ler o que escreveu. É de lamentar tanta falta de rigor.

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