Os verdadeiros devotos da Santíssima Virgem participam de sua fé pura, firme e inquebrantável
Em um capítulo do excelente Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís de Montfort fala sobre os “maravilhosos efeitos desta devoção na alma que lhe é fiel”[1]. O santo francês enumera e explica as maravilhas que são operadas naquelas almas que, totalmente entregues a Nossa Senhora, cultivam esta devoção, esforçando-se por colocá-la em prática. Estes efeitos são percebidos, sobretudo, “na alma”, já que a verdadeira devoção mariana é interior: “parte do espírito e do coração”[2].
O primeiro efeito do qual fala São Luís é o conhecimento e desprezo de si mesmo. De fato, quanto mais nos aproximamos de Deus, especialmente por meio da oração, mais conhecemos o quanto somos fracos, miseráveis e indignos. Nesta devoção, a luz do Espírito Santo revela ao homem o seu “fundo mau”, a sua “corrupção e incapacidade para todo bem”. Escreve São Luís: “Considerar-te-ás como um caracol, que tudo estraga com a sua baba, ou como um sapo, que tudo envenena com a sua peçonha, ou como uma serpente maliciosa, que só procura enganar”.
Eis o verdadeiro caminho para chegar à humildade. Esta consiste em nada mais do que conhecer o que somos: “de barro somos feitos, (…) apenas somos pó” (Sl 102, 14). É, ao mesmo tempo, uma chave importante na luta contra o pecado: a desconfiança de nós mesmos. Quem confia demais em si mesmo, não duvidando das próprias disposições, dificilmente evitará as ocasiões de pecado e acabará por tornar-se presa fácil do demônio e de sua carne, tomada pela concupiscência. Ao contrário, quem conhece sua natureza decaída, sabendo de seu “fundo mau”, evitará, resolutamente, o ócio, pelo qual advêm inúmeros maus pensamentos; a exposição a ambientes e ocasiões particulares de perigo; e as más companhias, “que corrompem os bons costumes” (1 Cor 15, 33).
O segundo efeito da verdadeira devoção é a participação da fé de Maria Santíssima. Quando aqueles que viveram de maneira virtuosa nesta vida partem à glória do Céu, já não precisam da fé, pois, entrando na plena posse de Deus, já contemplam face a face Aquele em que creram sem ter visto (cf. 1 Pd 1, 8). Com Maria, no entanto, aconteceu de modo diferente, diz São Luís: Deus preservou a sua fé, “a fim de conservá-la na Igreja militante para os Seus mais fiéis servos e servas”. A fé de Maria é uma joia preciosa entesourada por Deus para a comunhão dos santos.
Aqueles que viverem fielmente esta devoção participarão da fé de Nossa Senhora: terão uma fé viva e animada de caridade – que fará a alma empreender todas as coisas pura e simplesmente por amor –, firme e inquebrantável – que não esmorece diante das dificuldades –, ativa e penetrante – capaz de perscrutar os mistérios do coração de Deus – , corajosa e reluzente – uma fé missionária que, tomada pelas graças de Deus por mediação de Maria, levará a outros a boa nova da salvação – e, por fim, uma fé pura, isto é, que não se preocupa “com o que é sensível e extraordinário”.
Esta fé pura da qual fala São Luís é uma fé que escolhe “a melhor parte” (Lc 10, 42), por assim dizer. Com efeito, muitos escravos da Virgem permanecem na exterioridade desta devoção. “Se não experimentam prazer sensível nas suas práticas, julgam que já não fazem nada, desorientam-se, abandonam tudo, ou fazem as coisas precipitadamente”[3], escreve o santo. Os verdadeiros devotos de Nossa Senhora, por outro lado, ainda que não sintam grandes coisas ou presenciem fatos extraordinários, permanecem em vigilância e oração. Eles têm consciência de que a vida aqui é um “vale de lágrimas”, que Maria Santíssima não promete aos seus servos nenhuma felicidade plena neste mundo e que é preciso amar menos as consolações de Deus que o próprio Deus das consolações.
Aqueles que recorrem à bem-aventurada Virgem Maria com confiança granjeiam de nosso Senhor Jesus Cristo este precioso dom que é o de permanecer em contínua comunhão Consigo, com o desejo ardente de orar e falar-Lhe ao coração. Com a fé pura de Nossa Senhora, entregam-se à meditação e às coisas celestes não raras vezes sacrificando a própria vontade e oferecendo ao Senhor um sacrifício verdadeiramente agradável a Seus olhos.
Para mostrar a importância da pureza da fé, do não se preocupar “com o que é sensível e extraordinário”, São Josemaría Escrivá responde à pergunta “Se não sinto vontade, não é autêntico?”:
Fonte:
Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências da Fonte:
- Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, cap. 7
- Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 106
- Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 96
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