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A Origem da Ave Maria

A Origem da Ave Maria

É difícil imaginar que muitas gerações de católicos não rezaram uma oração tão popular como a Ave Maria. Entretanto até o século XII, os sacerdotes ensinavam ao povo apenas o Pai-Nosso, o Credo dos Apóstolos e o Miserere. Os cristãos piedosos rezavam a Salve Rainha e a Alma Redemptoirs Mater antes de rezar a nossa Ave Maria. Em 1198 encontramos um decreto sinodal do bispo de Paris, Eudes de Sully, mencionando a Ave Maria. O texto utilizado durante toda a Idade Média foi mais breve que a atual Ave Maria.

A Saudação...

As palavras de saudação são tomadas da Anunciação e da Visitação relatado pelo evangelista Lucas: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre (Lc 1, 28-42)

Os cristãos conheciam e gostavam de ler as passagens, todavia, no começo da devoção mariana, não ocorreu convertê-las em uma invocação familiar. Primeiro apareceu na liturgia do Advento. No ofício das Laudes, a saudação de Isabel proporcionou a antífona do Benedictus para a quinta-feira da primeira semana; o quarto domingo reproduz a saudação do anjo Gabriel; ambas as fórmulas continuaram separadas.

A primeira justaposição se encontra na Missa do quarto domingo, em que os cânticos principais evocam ou celebram a mãe de Jesus. Originalmente, a vigília dos sábados do Advento se encerrava na madrugada do domingo, com a Missa que, antes da última reforma litúrgica, rezava-se no sábado pela manhã; quando se produziu a antecipação, foi preciso compor uma Missa nova para o quarto domingo: nesta redação encontramos na antífona do ofertório a primeira parte da nossa Ave-Maria. 

Isso produziu um efeito dos mais felizes. Maria é colocada à frente da comitiva de fiéis que levam o pão e vinho que serão transubstanciados no corpo e no sangue de Jesus Cristo, da mesma forma que no caminho de Belém, Nossa Senhora levava no ventre o Redentor que seria entregue ao mundo. Aqui se observa a primeira adição ao texto evangélico: logo após a Ave aparece o nome da Santíssima Virgem.

Os sacerdotes pregam sobre a Ave Maria...

A partir do século XII, se converte em devoção eclesiástica, ao mesmo tempo se torna devoção popular por influência dos monges cistercienses, e no século seguinte por Santo Domingo e os Dominicanos. A Ave Maria é colocada entre o Pai Nosso e o Credo tanto no Ofício como nas orações habituais dos fiéis. A oração é feita ao passar diante de uma imagem de Maria, para obter favores do Céu, para defesa diante das tentações e, principalmente, nas principais ações do dia. Os sacerdotes pregam sobre a Ave Maria. Nas sepulturas são encontradas inscrições pedindo a prece para o falecido.

Entre os irmãos e frades aparece o costume de se multiplicar as Ave Marias; para ajudar na contagem usam um cordão comumente chamado Paternoster, antes de receber o nome de Rosário. Alguns rezavam 50 vezes a oração, outros 400 vezes, até que a prática de rezar 150 vezes se tornou comum; este número corresponde ao mesmo número de salmos da Sagrada Escritura. São Luís, rei da França, recitava todos os dias as cinco dezenas. O santo monarca se ajoelhava todas as noites para rezar as cinquentas Ave Marias, a cada dezena levantava-se e voltava a se joelhar rezando lentamente.

Uma crônica do século anterior conta que Santa Eulália rezava diariamente 150 Ave Marias. Contudo foi repreendida por Nossa Senhora, porque atropelava a oração; assim, resolveu rezar apenas 50 vezes, com toda piedade. Sem dúvida, a prática de rezar o Rosário foi favorecida pela brevidade da antiga composição, isto é, metade da atual. A recitação diária das quinze dezenas exigia um tempo muito menor.

Durante muito tempo a fórmula da Ave Maria seguiu sendo a do ofertório do quarto domingo do Advento; acabava com as palavras: ventris tui.

Eis aqui a escrava do Senhor...

Duas monjas célebres do século XIII tentaram adicionar algumas palavras à oração. Santa Gertrudes aconselhava completar com estas palavras; Jesus, Filho único do Pai, esplendor e imagem da sua substância. Santa Gertrudes revela que na Ave pedia alívio para os aflitos; na seguinte, Maria, que significa “mar de amargura”, pedia a perseverança e segurança para os penitentes; na gratia plena, a graça para aqueles que não temiam; Dominus tecum, o perdão para os pecadores; Benedicta tu in mulieribus, a graça da boa vontade para os iniciantes; com as palavras benedictus fructus ventri ui, a perfeição para os eleitos; depois com as palavras que tinha acrescentado, Jesus splendor paternae claritatis et figura substantiae eius¸ pedia ciência verdadeira e o amor divino.

Também a contemporânea mística alemã, Santa Juliana de Mont-Cornillon, recebeu a ordem de Deus para enriquecer a liturgia do Santíssimo Sacramento. Muito devota da Santíssima Virgem, aconselhava adicionar uma resposta à saudação do anjo: eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra (Lc 1,38), pois estas palavras eram parte integrante do mistério da Encarnação. Porém, nesta mesma época, a instituição do Ângelus, propagado por São Boaventura e os frades franciscanos, respondia melhor ao desejo de Santa Juliana. Ambas as santas não conseguiram modificar o texto da Ave-Maria.

No século XIV, em todas as partes já havia o costume de terminar a oração, dizendo: Jesus, amém. O acréscimo é atribuído ao Papa Urbano IV; o Papa João XXII aconselha explicitamente terminar a oração desta forma. Era a coroação indispensável da Saudação. Em suma, foram adicionados as palavras Maria no começo e Jesus no final. Maria nos leva a Jesus. Vamos a Jesus por Maria.

A Petição...

A segunda parte da nossa Ave Maria se foi formando progressivamente. Sem dúvida, a confiança na poderosa intercessão de Nossa Senhora foi um grande incentivo para que os fiéis pedissem sua ajuda. Em breviário cartuxo do século XIII, encontra-se a oração com este final: Santa Maria ora pro nobis. A palavra peccatoribus figura em um breviário do século XIV. São Bernardino de Siena recitava: Santa Maria, rogai por nós pecadores. A fórmula já era corrente no século XIV. Na França foi introduzido o adjetivo “pobres”. Não se sabe quem fez tal adição, contudo a expressão “pobres pecadores” acentua o sentimento que devemos ter na nossa miséria, ao mesmo tempo que obriga o coração misericordioso de Maria a mostrar-se terno com os filhos humilhados e arrependidos, que tantas vezes são infiéis com Deus.

As palavras mater Dei em oposição a Sancta Maria, são mais recentes; ressaltam a alta dignidade de Nossa Senhora e as razões que temos para crer na eficácia de sua intervenção. A conclusão nunc et in hora mortis nostrae era usada pelas ordens religiosas, antes de se tornar comum também entre os leigos. Esta foi a última adição a Saudação Angélica. Assim, no final do século VII o texto atual era usado em toda a Igreja latina. Vemos que antes da forma definitiva, a Ave Maria já era uma oração comum entre os cristãos.

O Pai Nosso...

Com certeza nenhuma oração é mais importante que o Pai Nosso, porque ela é a oração fundamental, responde a todas as necessidades do homem; é a oração que o próprio Jesus ensinou. Entretanto, ao lado desta grande oração, a simples Ave Maria pode também reivindicar uma origem celeste, porque nos faz falar a linguagem dos anjos, nos faz repetir as palavras que Isabel pronunciou por inspiração do Espírito Santo. 

A segunda parte, que foi cristalizada através dos tempos por impulso espontâneo de piedosos cristãos é uma resposta ao que tinha dito o apóstolo São Paulo: o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós (Rm 8, 26). Além disso, podemos descobrir o selo divino no tesouro dogmático que a Ave Maria encerra sob sua aparentes simplicidade. A Ave Maria é um pequeno resumo da nossa fé, estabelece com notável precisão as bases doutrinais da devoção mariana.

Fonte: Georges Chevrot (Ave Maria Historia e Meditação, Ed. Formatto 2011)

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