A grande lição do Segredo de Fátima

Por Frei Lourenço Maria Papin, OP

13 de Maio de 2015 vem lembrar-nos a primeira aparição de uma “Senhora mais brilhante do que o Sol”, a três humildes pastorinhos, Lúcia e os bem-aventurados Francisco e Jacinta Marto, acontecida há 98 anos, na Cova da Iria-Fátima, em Portugal. A essa aparição sucederam mais cindo. E Fátima tornou-se certamente o mais forte movimento popular de espiritualidade mariana.

O que mais tem chamado a atenção da opinião pública é o Segredo de Fátima, que a Irmã Lucia descreveu numa linguagem repleta de imagens vivas, portadoras de advertências, lições e mensagens de natureza religiosa.

Francisco e Jacinta morreram ainda crianças. Lúcia foi a vidente portadora do Segredo de Fátima. Foi monja carmelita em Coimbra e esteve uma vez com o bem aventurado Paulo VI e São João Paulo II. Faleceu no dia 13 de fevereiro de 2005. Os restos mortais de Lúcia, Francisco e Jacinta encontram-se no Santuário de Fátima.

O Segredo de Fátima é constituído de três partes. A primeira é o breve e terrível instante que os pastorinhos têm uma visão do inferno onde se precipitavam “as almas dos pobres pecadores”.

A segunda parte do segredo indica o motivo pelo qual os pastorinhos tiveram essa visão: “salvar as almas”, aliás, uma mensagem estritamente bíblica (cf. 1 Pd 1,9). Estamos, assim, diante do mistério da iniquidade e do mistério da salvação de que nos fala o apóstolo Paulo.

Num modo que a muitos surpreende, a devoção ao Coração Imaculado de Maria vem indicada como um caminho de salvação. À luz da Teologia, podemos entender essa afirmação no sentido de Maria ser exímio modelo de santidade e seguimento do Cristo e mãe que protege e intercede a Deus pelos seus filhos.

Nessa segunda parte do segredo, há uma referencia a Primeira e Segunda Guerra Mundial e uma preocupação pela conversão da Rússia que deve ser consagrada ao Imaculado Coração de Maria. E haverá alguma tempo de paz.

Se essas duas partes do Segredo já eram conhecidas, a terceira deixava muitos preocupados e suscitava a curiosidade sobretudo da mídia.

Por decisão do papa São João Paulo II, na passagem do segundo para o terceiro milênio, foi publicado o texto da terceira parte do Segredo de Fátima, seguido de uma interpretação da Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa emérito Bento XVI.

Essa terceira parte, marcada por uma linguagem simbólica, semelhante ao estilo apocalíptico, é constituída de diversas imagens.

Escreve Irmã Lucia: “Vimos um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda: ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contado do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência”!

E vimos um Bispo vestido de branco (tivemos pressentimento de que era o Santo Padre) e vários outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz…

O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trêmulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegando ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas e assim foram morrendo um atrás outros os bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros, senhoras de várias classes e posições. Sob dois braços da Cruz estavam dois anjos, cada um com um regador de cristal em a mão, n’eles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus”.

Essa espada de fogo não parece ser mera fantasia, pois o homem com seus artefatos de guerra é capaz de reduzir a terra a um mar de chamas e cinzas. A figura de Maria que neutraliza o efeito devastador das chamas, simboliza sua presença atuante na história da salvação da humanidade. Questionadora e autenticamente evangélica é a palavra do Anjo que, veemente, brada por Penitencia, palavra que pode ser entendida no sentido de sacrifício e de conversão (cf. Mc 1,15).

Certamente, a montanha, a cidade e os diversos personagens simbolizam a história da humanidade no século que encerrou o segundo milênio: um misto de progresso, de descobertas maravilhosas e de tantas destruições. A caminhada da Igreja é descrita como uma dolorosa Via Sacra.

Nessa Via Sacra, sem duvida, estão representados os papas desde São Pio X até São João Paulo II que pessoalmente se sentiu identificado com o “Bispo vestido de branco” do segredo. De fato, após o atentado de 13.05.1981, na praça de São Pedro, João Paulo pediu que lhe trouxessem o texto da terceira parte do segredo. E ao falar sobre esse atentado, no dia 13.05.1994, assim se expressou: “Foi uma mão materna que guiou a trajetória da bala e o papa agonizante deteve-se no limiar da morte”!

Ao comentar esse Segredo, observa o Cardeal Ratzinger: “Essa mão materna que desviou a bala mortífera, demonstra uma vez mais que não existe destino imutável, que a fé e a oração são forças que podem influir na história e que, em última análise, a oração é mais forte do que as balas e a fé mais poderosa que os exércitos”!

E o mesmo Cardeal Ratzinger vai afirmar que o essencial, o que permanece do Segredo de Fátima (nas suas três partes) ”é a exortação à oração como caminho para a salvação das almas’ e, no meio sentido, o apelo à penitencia e à conversão”. Eis a grande lição do Segredo de Fátima, sem oferecer satisfações à curiosidade humana ávida de revelações sensacionais sobre o fim do mundo e evolução da história.

AUTOR:
Frei Lourenço Maria Papin, OP
Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima (Santa Cruz do Rio Pardo/SP)

FONTE:
Informativo “A Partilha” Edição 189 – Maio de 2015)

Veja abaixo as fotos da Missa dos Enfermos no dia 13/05/2014 com a participação do Bispo Dom Salvador no Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima.