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01) Bendigo-te, te louvo e te dou graças, Santa Mãe de Deus, Virgem Maria, por todos os bens e os dons que o Senhor te concedeu em abundância; por tuas inumeráveis virtudes e pelos extraordinários privilégios de graça, em virtude dos quais de maneira muito insigne e acima de todos os santos resplandeceste na terra; por ser digna Mãe de Deus e alimentar em teu seio, levantar em teus braços, apertar contra o coração e levar ao Verbo de Deus que se encarnou em ti.

02) Bendigo-te, te louvo e te honro, eleita Mãe de Deus e humilde “serva do Senhor” (Luc 1, 38), por todos os carinhosos serviços e as necessárias ajudas que prestaste a Cristo feito homem, teu Filho; pelas múltiplas perseguições, pelas privações, pelos trabalhos e as fadigas que suportaste pacientemente com Ele.

03) Bendigo-te, te louvo e te rendo homenagem, gloriosa Virgem Maria, Mãe e filha do eterno Rei, pelos aprazíveis e freqüentes colóquios com Jesus, pelas divinas palavras que com tanta diligência escutastes de sua boca e que pontualmente conservas e meditas no íntimo do coração (Luc. 3, 51); pelos magníficos consolos que com freqüência recebeste d’Ele.; pelos incomensuráveis gozos e as divinas alegrias proporcionados por sua presença, suscitados pela graça do Espírito Santo e largamente fomentados em teu coração.

04) Bendigo-te, te louvo e te exalto, Santa Maria e minha venerada Senhora, por tua vida transbordante de pureza e santidade, tão grata a Deus e aos anjos, que transcorreste em companhia de Jesus ao longo de muitos anos em pobreza e em silêncio, provada por muitos padecimentos e adversidades, oferecida a todos os seguidores de Cristo como exemplo para imitar devotamente e oferecida de modo admirável até o final dos séculos à Igreja universal como apoio em suas provas.

05) Bendigo-te, te louvo e te glorifico, ó benigníssima e piedosíssima Mãe de Deus, Maria, por todos teus exercícios de devoção e tuas sagradas meditações acerca da lei de Deus, ao quais te dedicavas dia e noite; por tuas muito fervorosas orações, pelas lágrimas e jejuns que ofereceste a Deus com tanto empenho pela conversão dos pecadores e perseverança dos justos; pela tua grande compaixão para com os pobres e enfermos, para com os tentados e oprimidos de angústia; por teu intenso desejo da salvação do gênero humano, que sabias que tinha que ser redimido pela morte de teu Filho.

06) Ademais, embora abrigavas um imenso amor a teu Filho unigênito, contudo não O arrancaste do horrível suplício da cruz, senão que te submeteste totalmente à vontade do Pai. Por outro lado, em todos teus sofrimentos, “consofreste” junto com Ele; e, até chegar à ignomínia da cruz, seguiste com passo firme a Jesus que marchava adiante, sem reparar na fuga dos apóstolos (Mat 2, 56) e sem temer a crueldade dos judeus. Estavas disposta a suportar a morte com Ele, antes que abandoná-Lo em um transe tão extremo.

07) Bendigo-te, te louvo e te exalto com todas minhas forças, ó fidelíssima e amadíssima Mãe de Deus, celestial Maria, por tua perseverança na fé firme e na caridade perfeita, quando tu somente, enquanto os apóstolos fugiam por medo e enquanto também os poucos que seguiam a Jesus se envergonhavam, com extrema constância mantiveste em alto a tocha acesa da fé na paixão do Filho, sem duvidar de sua futura ressurreição ao terceiro dia, como Ele havia predito com bastante clareza.

08) Enquanto todos os amigos de Jesus haviam dispersado, tu, afligidíssima Mãe, com um pequeno grupo de mulheres te transladasse impávida ao Calvário, abrindo caminho através de uma multidão ameaçadora, para aproximar-te o mais rápido possível ao Filho, o qual estavam a crucificar. Querias ver-Lo enquanto estava ainda vivo, a fim de poder receber d’Ele, antes que morresse, a palavra de sua amorosa doação.

09) Bendigo-te, te louvo e com todas as minhas forças me encomendo a ti, Santa e Imaculada Virgem, por tua dolorosa presença junto à cruz de Jesus, onde oprimida e afligida te detiveste por longo tempo, atravessada por uma espada de dor, segundo a profecia de Simão (Luc. 2, 35); pelas abundantes lágrimas derramadas; pela grande fidelidade e inefável coerência que demonstraste a teu Filho em sua extrema necessidade, quando estava por morrer; pela imensa dor de teu coração; pelo sofrimento mais lacerante no momento de sua morte; pela palidez de seu aspecto, quando O viste pender morto diante de ti.

10) Bendigo-te e te louvo pelo piedoso abraço com que O estreitaste entre teus maternais braços; pelo triste trajeto até o lugar de sua sepultura, quando banhada em lágrimas seguias aos que levavam o santo cadáver, e chorando fixaste a mirada em teu Filho depositado no sepulcro e fechado baixo uma grande lápide; pelo doloroso regresso desde o sepulcro à casa em que te hospedavas, onde acompanhada de muitos fiéis ali reunidos te desfizeste em lágrimas pela morte do amado Filho, com repetidos lamentos, e foi tão copioso teu pranto que fizeste também chorar os que estavam ao teu lado.

11) Compadece-te agora, alma minha, da Virgem dolorosa, da Mãe lacrimosa, de Maria amorosa. Se amas a Maria, deves compadecer-te dela por suas dores numerosas, para que te socorra em tuas penas. Que quadro! A Santa Mãe chora a seu único Filho; chora Maria de Cléofas a seu querido parente; chora Maria Madalena ao médico de sua saúde; chora João a seu dulcíssimo Mestre; choram todos os apóstolos a seu Senhor que hão perdido. E quem não choraria entre tantos amigos que choram juntos?

12) É verdadeiramente grande este pranto em Jerusalém. Detém-te, pois, tu também um pouco, e aprende a chorar da Virgem Maria: suas amargas lágrimas poderão comover seu coração no mais profundo. Ei-la aí de pé junto à cruz, atormentada por intensas dores, aquela que um distante dia, frente ao presépio, estava culminada de celestiais harmonias. Sente-se oprimida pelo clamor dos judeus, ela que em outro tempo foi honrada pelos reis magos; está toda salpicada de sangue de seu Filho, ela que havia experimentado a carícia de seu cândido afeto.

13) Vê pender da cruz, entre os ladrões, ao que tantas vezes havia visto operar milagres em meio ao povo; contempla, volto quase como um leproso pelo estrago das feridas, ao que havia concedido a cura a muitos leprosos; olha, oprimido por inumeráveis dores, ao que havia expulsado a dor dos enfermos; contempla, vencido pela morte, ao que havia feito retornar a vida ao defunto Lázaro. Todas as alegrias se trocaram em tristezas, e todas as coisas doces em amarguras.

14) A cintilante Estrela do mar é sacudida por numerosas e angustiantes tempestades; mas sua mente, que permanece fixa em Deus, não é vencida pelas perversidades humanas. Está, pois, erguida junto a cruz, com constância e paciência, com fidelidade e amor, sem temer aos que a ameaçam de morte e sem evadir-se dos que a maldizem. Tudo suporta com tranqüilidade de espírito, e se esforça por competir com seu Filho humilhado, não respondendo nada a seus tão cruéis inimigos. Não utiliza expressões de desdém nem faz gestos de indignação. Somente emite profundos gemidos, chora com amargura, se aflige com ansiedade, se compadece no íntimo e experimenta uma imensa aflição. Não se irrita com os crucifixores, roga, contudo, pelos caluniadores, se entristece e se lamenta a causa dos que se burlam e blasfemam de Cristo. Por isso, está de pé junto à cruz em um mar de lágrimas, e com seu exemplo de mansidão oferece o consolo da paciência a todos os atribulados.

15) Ó, todos vocês, os que passam pelo caminho do Calvário, observem a dolorosa presença da Santíssima Virgem Maria: dirijam a vista à direita da cruz e observem à Maria, Mãe de Cristo. Não pode haver uma dor semelhante à sua; não houve jamais no mundo uma mãe que se haja compadecido de seu próprio filho com tanto amor, já que por quantas feridas recebiam os membros de Jesus, outras tantas se produziam em sua alma; tantas vezes voltava a ser mártir, quantas vezes contemplava as cruentas chagas do Filho.

16) Tenta, por conseguinte, alma devota, gravar estas coisas em teu coração. Seja tranqüilo e forte quando vier o momento da tentação. Não te turbes nem desesperes se chega a faltar-te aquele que tanto amas ou se te nega o que consideras que é necessário para ti. Os amigos de Jesus são freqüentemente provados com gravíssimas aflições, porque, se Deus não economizou penas nem sequer a seu Filho senão que por todos nós o abandonou em gravíssimos tormentos, como pretendes um trato melhor? Se Cristo não buscou a si mesmo, mas foi obediente e propenso a suportar inclusive feitos sumamente vis e dolorosos, porque tu temes tanto a fadiga e a dor, e ao invés, por amor ao Crucificado, não abraças as realidades ásperas e duras? Se Ele reservou à sua Santíssima Mãe numerosas contrariedades na terra; se permitiu que com freqüência passasse por muitas tribulações e sofrimentos, como se entende que tu poderias viver sem provas?

17) Se observas a todos os amigos de Deus, não encontrarás nenhum que haja navegado pelo mar desta vida sem duras provas. Portanto, recolha da imagem do Crucificado e de sua bendita Mãe o exemplo de uma incansável paciência, e não temerás mais suportar sacrifícios por tua salvação e pela recompensa da infinita bondade de Jesus. Obrando assim, poderás gozar da visão de seu rosto por toda a eternidade.

18) A benigníssima Mãe de Jesus sabe bem compadecer-se do que sofre. Aprendeu do que há sofrido a ter afetuosa compaixão dos aflitos. Não se esquecerá de seus pobres devotos, acudirá ao encontro de suas orações, ajudará aos que a invocam com perseverança e será propícia para os que a servem.

19) Misericordiosíssimo Jesus, Filho de Maria, rogo-Vos que me concedas o dom de lágrimas e que firas meu coração com um profundo e compassivo afeto, com aquele que bem sabes esteve angustiada vossa piedosa Mãe. Olha-me com os olhos compassivos com que olhastes a tua Mãe e ao discípulo João, que estavam junto à cruz entre soluços, no momento em que encomendaste sucessivamente um ao outro, dando-lhes este último adeus: “Aqui tens a teu filho, aqui tens a tua Mãe”. Rogo-Vos que me visites com vossa graça quando estiver a ponto de morrer; e fazei-me sentir também as palavras que João ouviu desde a cruz: “Aqui tens a tua Mãe”, para que ao ouvir estas palavras, minha alma não tema ao inimigo rugidor.

20) Ó clementíssima Santa Maria, minha Senhora, advogada dos cristãos, rogo-te por todos teus altíssimos méritos, com os quais comprazeste a Deus em sumo agrado; por todas as atenções que com grande afeto tiveste para com seu Filho, e por todas as lágrimas que derramaste em sua tão dolorosa paixão: digna-te ter compaixão de mim, tomar-me baixo teu cuidado com maternal amor e por-me no número de teus servidores, que de modo particular formam teu entorno e são os mais amados por ti.

21) Ó única esperança, gloriosa Virgem Maria, venha mostrar-me teu rosto, antes que minha alma abandone meu corpo; e “volvei a mim teus olhos misericordiosos”, com os que olhaste muito freqüentemente com intensa alegria a Jesus, “o fruto bendito de teu ventre”: olhos marcados por tantas lágrimas durante sua paixão.

22) Assiste-me nesse momento Santíssima Mãe de Jesus, com a doce comitiva de teus virgens e com a sagrada congregação de todos os santos, como assististe até o final a teu diletíssimo Filho que estava por morrer na cruz, dado que, depois de teu Filho unigênito e Senhor meu Jesus Cristo, não encontro em minhas necessidades um alívio maior e mais solícito que o teu, ó benigníssima Mãe de todos os aflitos.

“De Maria nunquam satis”

“sobre Maria nunca se falará o bastante”

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 Fonte:

(KEMPIS, Tomás de. Imitación de María: Libro Segundo, Capítulo IV. pág. 45 – 54)


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