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Maria nos consola e fortalece nos momentos difíceis.”

O SÁBADO SANTO pode ser para nós “o dia do Tríduo pascal que mais descuidemos, ansiosos por passar da cruz da sexta feira para a aleluia do domingo”[1]. Para que isto não nos aconteça, podemos prestar atenção nas mulheres que acompanharam a Virgem Maria o tempo todo. “Para elas, como para nós, era a hora mais obscura. Naquela situação, porém, as mulheres não ficaram paralisadas, não cederam às forças obscuras dos lamentos e do remorso, não se fecharam no pessimismo, não fugiram da realidade. Fizeram algo simples e extraordinário: prepararam em suas casas os aromas para o corpo de Jesus. (…) Sem consciência disso, essas mulheres estavam preparando na escuridão daquele sábado o amanhecer do ‘primeiro dia da semana’, dia que mudaria a história”[2].</>

Hoje Jesus Cristo repousa no sepulcro. Mãos amigas, com carinho, colocaram-no naquele lugar, propriedade de José de Arimateia, perto do Calvário. Onde estão os apóstolos? Os evangelhos não dizem nada, mas no entardecer daquele sábado talvez estivessem indo um a um até o Cenáculo, onde dias antes tinham se reunido com o Mestre. Quanto desânimo em suas conversas! Traíram a Jesus. A tal ponto deve ter chegado o desalento que talvez tenham tido a ideia de deixar tudo e voltar às coisas de antes, como se os últimos três anos tivessem sido apenas um sonho. No entanto, “no silêncio que envolve o Sábado Santo, embargados pelo amor ilimitado de Deus, vivemos à espera do alvorecer do terceiro dia, o alvorecer do triunfo do amor de Deus, o surgimento da luz que permite aos olhos do coração ver de modo novo a vida, as dificuldades, o sofrimento. A esperança ilumina os nossos fracassos, nossas desilusões, nossas amarguras, que parecem marcar o desmoronamento de tudo”[3].</>

HÁ ALGO diferente nas santas mulheres: foram fiéis até o último momento. Observaram atentamente como tudo ficara para, depois do repouso do sábado, poder voltar e terminar de embalsamar Jesus. Explica-se o desalento deles e delas: ainda não haviam testemunhado, nem os apóstolos e nem elas a ressurreição de Cristo. Apesar de tudo, não querem deixar de prestar esse serviço. O seu carinho é mais forte que a morte. Gostaríamos também, por outro lado, de ser tão valentes quanto José de Arimateia e Nicodemos, que “na hora da soledade, do abandono total e do desprezo…expõem-se (…). Eu subirei com eles até junto da Cruz, apertar-me-ei ao Corpo frio, cadáver de Cristo, com fogo do meu amor… , despregá-lo-ei com os meus desagravos e mortificações… , envolvê-lo-ei com o lençol novo da minha vida limpa, e o enterrarei em meu peito de rocha viva, donde ninguém mo poderá arrancar”[4]. Quando já quase ninguém espera nada de Cristo, esses personagens da Escritura não encolhem os ombros. Não têm nada a ganhar, podem perder tudo, mas querem igualmente demonstrar seu carinho a Jesus.</>

Por outro lado, o Sábado Santo não pode ter sido para a Virgem um dia triste, embora doloroso. A fé, a esperança, e o amor mais terno por seu divino filho dar-lhe-iam paz, fá-la-iam aguardar a ressurreição com uma ânsia serena. Recordaria, entretanto, as últimas palavras de Jesus: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19,26); começaria já a exercer a sua maternidade sobre aqueles homens e aquelas mulheres que haviam seguido Cristo desde os primeiros tempos. Maria procuraria reanimar a fé e a esperança dos apóstolos, recordando-lhes as palavras que tinham ouvido pouco antes dos lábios do Senhor: “Escarnecerão dele, cuspirão nele, açoitá-lo-ão, e hão de matá-lo; mas ao terceiro dia ele ressurgirá” (Mc 10, 34). O Senhor tinha falado bem claro para que, quando viessem momentos de dificuldades, soubessem segurar-se com fé em sua palavra. Junto à recordação dolorosa dos sofrimentos padecidos por Jesus Cristo, um alívio grande apoderar-se-ia de seu coração de Mãe ao pensar que tudo tinha passado: “Agora tudo passou. Concluiu-se a Obra de nossa Redenção. Já somos filhos de Deus, porque Jesus morreu por nós e a sua morte nos resgatou”[5].</>

JUNTO DA VIRGEM, à luz de sua esperança, os seus corações se inflamariam. “E se tudo aquilo fosse verdade?, pensavam talvez os apóstolos. “E se Jesus Cristo ressuscitasse de verdade como havia prometido? Como em outros tempos tinham estado todos juntos em volta do Filho, gostariam agora de estar perto da Mãe. Maria enviou certamente alguns para procurar os que talvez ainda não tivessem aparecido. É possível que ela esperasse encontrar Tomé para consolar oseu coração atemorizado. No momento da prova, souberam recorrer a Maria, e “com Ela, que fácil! ”[6].</>

Queremos apoiar nossa fé na dela: sobretudo quando as coisas custam, quando chegam dificuldades e momentos de escuridão. São Bernardo havia-o experimentado bem: “Quando se levantam os ventos das tentações, quando tropeças nos escolhos das tribulações, olha e Estrela, chama a Maria”[7]. Deus quer que ela seja para nós advogada, mãe, caminho seguro para encontrar outra vez a luz nos momentos de escuridão.</>

Quem recorre à poderosa intercessão de Santa Maria sabe que nunca se ouviu dizer que alguém que tenha confiado em Nossa Senhora tenha ficado desamparado, por mais que o momento fosse duro e grande a confusão da alma. Podemos dizer a Jesus: “Apesar da tristeza que possamos albergar, sentiremos que devemos esperar, porque contigo a cruz floresce em ressurreição, porque tu estás conosco na escuridão de nossas noites, és certeza em nossas incertezas, palavras em nossos silêncios e nada poderá roubar jamais o amor que nos tens”[8]. Junto de Maria, mãe da esperança, voltará a crescer a nossa fé nos méritos de seu filho Jesus.</>

[1] Francisco, Homilia, 11 de abril de 2020.

[2] Ibid.

[3] Bento XVI, Palavras no fim da Via Sacra, 2-IV-2010.

[4] São Josemaria, Via Sacra, 14ª estação, n. 1.

[5] São Josemaria, Via Sacra, 14ª estação.

[6] São Josemaria, Caminho, n. 5l3.

[7] São Bernardo, Homiliae super “Missus est”, 2, 17.

[8] Francisco, Homilia, 11 de abril de 2020.

Fonte: Opus Dei


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