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Artigos Devoções

Fundamentos da Devoção ao Imaculado Coração de Maria

Através dos séculos, Papas, Santos, e muitos bons e santos Teólogos ensinaram a importância da devoção e das orações dirigidas à Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria. Ora é necessário rezar à Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria do modo que os Santos nos ensinaram.

Também a Santa Igreja Católica, pilar e alicerce da Verdade, inspirada e orientada pelo Espírito Santo, ensinou de modo consistente através dos séculos esta doutrina e esta prática. A Santíssima Virgem Maria é “Vida, Doçura, e Esperança Nossa”, como tão bem expressa a Salve Regina – a oração milenar da Salve Rainha. Estes títulos e realidades são defendidos contra os ataques dos Protestantes e dos Modernistas por Santo Afonso Maria de Ligório, no seu livro As Glórias de Maria.

O Papa Leão XIII diz-nos que todas as graças nos vêm de Deus, através da Santa Humanidade de Jesus Cristo, e que é pelas Mãos da Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria que chegam até nós. É evidente vermos, a partir desta ordem estabelecida por Deus para a nossa Salvação, que Deus vem em primeiro lugar e acima de todas as coisas – depois, a Sua Santa Humanidade em Jesus Cristo – e depois, Santa Maria Mãe de Jesus. E só depois de Maria é que vem a importância da Santa Igreja Católica. É que Maria é a Mãe da Igreja, e o membro da Igreja mais elevado a seguir a Jesus Cristo, que é a Cabeça.

O papel da Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria, como Aquela que encaminha as almas para o Céu, ficou a ser mais ampla e mais profundamente compreendido pela Fé Católica (nos últimos 150 anos) a partir da Definição da Sua Imaculada Conceição, em 1854, e do Dogma da Assunção, definido em 1950. Qual a razão para este crescendo do importante papel da Virgem Santíssima, é o que explica S. Luís Grignion de Montfort, num pequeno ensaio que a seguir transcrevemos.

É certo que o demónio, Seu inimigo de sempre, Lhe armou um contra-ataque: contra Nossa Senhora e contra a devoção a Nossa Senhora. Nós mesmos presenciámos o desenrolar deste combate, especialmente durante os últimos 40 anos, desde o fim do Concílio Vaticano II.

Recresce a batalha pela perdição das almas neste tempo de Apostasia, e o alvo é cada um de nós – nós, os filhos da Nossa Mãe Santíssima, nós que acreditamos em Seu Divino Filho, Jesus Cristo, a Quem prestamos obediência.

Para além do ensinamento dos Santos (como Santo Afonso Maria de Ligório, S. Luís G. de Montfort, S. Bernardo, Santo António Maria Claret, S. Maximiliano Kolbe e tantos outros) e dos Papas (em especial entre 1750 e 1960) sobre a importância, as vantagens e a necessidade da Devoção a Nossa Senhora – a Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, tem vindo a receber uma série imensa de intervenções divinas por meio de aparições de Nossa Senhora. Ela apareceu na Rue du Bac em 1830; em La Salette, em 1846; em Lourdes, em 1858; em Knock, em 1878; e, acima de todas, em Fátima, em 1917.

Aprovadas e certificadas como merecedoras de crença pela Igreja Católica, as aparições de Fátima foram-no também pelo próprio Deus, através do apocalíptico Milagre do Sol, ocorrido a 13 de Outubro de 1917, perante 70 mil testemunhas.

É com a Mensagem de Fátima e por meio da Irmã Lúcia que surge o grande ímpeto do florescimento da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Deste assunto se voltará a falar mais adiante.

Função Providencial de Maria

Santíssima nos últimos tempos

Por São Luís Grignion de Montfort († 1715 AD)

Foi por Maria que começou a salvação do mundo, e é igualmente por Maria que ela será consumada.

Maria aparece muito discretamente na primeira vinda de Jesus Cristo, para que os Homens, ainda pouco instruídos e iluminados sobre a Pessoa de Seu Filho, não se desviassem da Verdade, agarrando-se a Ela com força demais e elevação de menos.

Aparentemente, era o que teria acontecido se a Senhora tivesse sido conhecida, devido aos admiráveis encantos com que o Altíssimo A tinha adornado, inclusivamente quanto à Sua aparência externa. Isto é tão verdade que S. Dinis Areopagita nos deixou nos seus escritos que, quando viu a Bem-Aventurada Senhora Nossa, teria pensado tratar-se de uma divindade, tais eram os Seus encantos velados e a Sua incomparável beleza – não fosse a inabalável Fé em que ele se firmava ensinar-lhe o contrário. (S.A., 842. Epistola ad Pauleum).

Na segunda vinda de Jesus Cristo, porém, Maria tem de ser dada a conhecer pelo Espírito Santo, para que, através d’Ela, Jesus Cristo possa ser conhecido, amado e servido. As razões que levaram o Espírito Santo a esconder a Sua Esposa enquanto foi viva, revelando-A apenas um pouco desde a pregação do Evangelho, não mais subsiste.

Existência desta função e sua razão de ser:

Portanto, Deus quer revelar e fazer conhecer Maria, a obra-prima das Suas mãos, nestes que são os últimos tempos:

1. Porque, pela Sua profunda humildade, Ela se escondeu a si mesma no mundo e Se colocou mais baixo do que o pó, tendo obtido de Deus e dos Seus Apóstolos e Evangelistas que não se manifestasse.

2. Porque, sendo Nossa Senhora a obra-prima das mãos de Deus, tanto na terra pela graça como no Céu pela glória, Ele quer ser glorificado e louvado n’Ela por aqueles que vivem sobre a terra.

3. Tal como Nossa Senhora é a aurora que precede e revela o Sol da Justiça, que é Jesus Cristo, Ela deve ser vista e reconhecida para que Jesus Cristo também o possa ser.

4. Sendo Ela o Caminho pelo qual Jesus chegou até nós da primeira vez, será Ela igualmente o Caminho pelo qual Ele virá pela segunda vez, embora não do mesmo modo.

5. Sendo Ela a Via Segura, Recta e Imaculada para chegar até Jesus Cristo e O encontrar com toda a perfeição, é por Ela que as almas mais resplandecentes em santidade têm de encontrar a Nosso Senhor. Quem encontrar Maria encontra a Vida (Prov. 8:35) ou seja, Jesus Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida (S. João 14:6). Mas ninguém pode encontrar Maria se não a procurar; e ninguém A pode procurar se não A conhecer, pois não podemos buscar ou desejar algo desconhecido. Portanto, é necessário, para o maior conhecimento e glória da Santíssima Trindade, que Maria seja conhecida – agora mais do que nunca.

6. Maria deve, agora mais do que nunca, iluminar tudo diante d’Ela, em misericórdia, em poder e em graça, nestes últimos tempos. Em misericórdia, para fazer arrepiar caminho e receber amorosamente os pobres pecadores extraviados, a fim de que se convertam e voltem ao seio da Igreja Católica; em poder, contra os inimigos de Deus – idólatras, cismáticos, maometanos, judeus e almas endurecidas na impiedade, que se erguem numa terrível revolta contra Deus – a fim de seduzir todos os que se lhes opõem, e de os vencer através de promessas e ameaças; e, finalmente, Maria deverá iluminar tudo em graça, por forma a animar, sustentando-os, os valentes soldados e fiéis servos de Jesus Cristo, que devem combater pelos Seus interesses.

7. Por último, Maria deve ser implacável para com o demónio e seus sequazes, tal como um exército ordenado para a batalha, principalmente nestes últimos tempos; porque o demónio, sabendo que lhe resta pouco tempo (e agora ainda menos) para perder as almas, a cada dia irá redobrar os seus esforços e combates. É a sua hora de erguer cruéis perseguições e de armar terríveis ciladas aos fiéis servos e verdadeiros filhos de Maria, cuja conquista lhe dá mais dificuldade do que a conquista de quaisquer outros.

Exercício desta função na luta contra Satanás:

É sobretudo a respeito destas últimas e cruéis perseguições do demónio, que se irão desenrolando num crescendo diário até ao reinado do Anti-Cristo, que nós devemos compreender a primeira e bem conhecida predição e maldição de Deus, por Ele pronunciada contra a serpente, ainda no Paraíso terreal. É nosso propósito explicar isto aqui, para glória da Santíssima Virgem, para a salvação dos Seus filhos e para a confusão do demónio:

“Eu porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência d’Ela; Ela esmagar-te-á a cabeça e tu acometerás o Seu calcanhar.” (Gén. 3:15).

(Fim da citação de S. Luís Grignion de Montfort)

Fonte: Associação de Fátima

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A alegria de Maria

Todos sentimos verdadeira decepção quando somos injustiçados em nossos direitos. Mas no ganho da causa em relação a isso, nossa alegria é evidenciada. Fez-se justiça! Nos dizeres bíblicos vemos a grande realidade da ação de Deus que nos dá a garantia de sua ação: “Assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as nações” (Isaías 61, 11). Baseado nessa ação do Senhor, o povo judeu teve a sustentação de sua euforia (Cf. Isaías 61, 10), repetida por Maria no Magnificat: “Meu espírito se alegra em Deus” (Lucas 1,47).

A alegria de Maria é a nossa também! Ela foi escolhida para nos dar o Salvador. Estávamos perdidos para sempre. De repente a invenção de um projeto divino mudou nossa história. Não somos mais condenados à tristeza, conseqüência do desatino de nos colocarmos no lugar de Deus, deixando-O de lado no nosso encaminhamento de vida. Sem Ele não somos capazes de cuidar com verdadeiro amor do planeta e de quem vive nele. O senhorio de Deus nos enriquece de satisfação em tudo, contando com seu amor e suas coordenadas. Viver em Deus e deixá-lo viver em nós é causa de nossa realização humana. O próprio Jesus nos assegura: “Sem mim, nada podeis fazer”!

Já perto da celebração da presença humana de Deus em nossa história, somos convidados a rever nossa caminhada para percebermos até que ponto O deixamos agir em nós para termos a grande graça e a certeza de que com Ele vencemos nossos limites. Assim, somos capazes de promover a vida de realização plena para todos, mesmo dos mais decepcionados ou desesperançosos. Não são os sofrimentos, os limites humanos, os desafios da caminhada, os empecilhos que vão nos tirar a certeza da vitória e da superação de nossos limites. Com o amor trazido pelo filho de Maria somos capazes de recomeçar uma vida mais saudável e cheia de esperança, motivo de nossa alegria brotada da fé no Emanuel.

Nem as incompreensões e injustiças acontecidas com Jesus anularam a confiança de sua mãe. Ela acreditava nele. Acompanhou-o por toda a vida, até mesmo ao túmulo. Mas viu-o também ressuscitado! Pode verificar seu poder divino, espalhando a toda a humanidade o resultado de seu sacrifício redentor! Mais: ela viu a Igreja nascente a espalhar até para povos distantes o Evangelho da promoção da vida. Torna-se verdadeira mãe de todos, pois, cooperou com a salvação da humanidade, dando-lhe o Salvador!

Como é bom vermos o resultado de nosso sacrifício para realizar um projeto de grande extensão na vida! Quando realizamos o projeto do Criador, temos a certeza do resultado positivo. Nossa alegria então se verifica, não só num momento, mas sempre. É a alegria duradoura, garantida pelo próprio Deus, que age em nós! Nosso compromisso com a implantação do Reino de Deus nos torna aptos a contribuir com a implantação da justiça. Esta nos leva a trabalhar pela construção da verdadeira cidadania para todos. Como Maria, nossa alegria se torna indizível!

Dom José Alberto Moura,CSS

Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Montes Claros (MG)

 

Fonte: Comunidade  Shalom

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Rosário – Configurar-se a Cristo com Maria

15. A espiritualidade cristã tem como seu caráter qualificador o empenho do discípulo em configurar-se sempre mais com o seu Mestre (cf. Rom 8, 29; Fil 3, 10.21). A efusão do Espírito no Batismo introduz o crente como ramo na videira que é Cristo (cf. Jo 15, 5), constitui-o membro do seu Corpo místico (cf. 1 Cor 12, 12; Rom 12, 5). Mas a esta unidade inicial, deve corresponder um caminho de assimilação progressiva a Ele que oriente sempre mais o comportamento do discípulo conforme à “lógica” de Cristo: « Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus » (Fil 2, 5). É necessário, segundo as palavras do Apóstolo, « revestir-se de Cristo » (Rom13, 14; Gal 3, 27).

No itinerário espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação – em companhia de Maria – do rosto de Cristo, este ideal exigente de configuração com Ele alcança-se através do trato, podemos dizer, “amistoso”. Este introduz-nos de modo natural na vida de Cristo e como que faz-nos “respirar” os seus sentimentos. A este respeito diz o Beato Bártolo Longo: « Tal como dois amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão, podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e aprender destes supremos modelos a vida humilde, pobre, escondida, paciente e perfeita ».(18)

Neste processo de configuração a Cristo no Rosário, confiamo-nos, de modo particular, à ação maternal da Virgem Santa. Aquela que é Mãe de Cristo, pertence Ela mesma à Igreja como seu « membro eminente e inteiramente singular »(19)sendo, ao mesmo tempo, a “Mãe da Igreja”. Como tal, “gera” continuamente filhos para o Corpo místico do Filho. Fá-lo mediante a intercessão, implorando para eles a efusão inesgotável do Espírito. Ela é o perfeito ícone da maternidade da Igreja.

O Rosário transporta-nos misticamente para junto de Maria dedicada a acompanhar o crescimento humano de Cristo na casa de Nazaré. Isto lhe permite educar-nos e plasmar-nos, com a mesma solicitude, até que Cristo esteja formado em nós plenamente (cf. Gal 4, 19). Esta ação de Maria,totalmente fundada sobre a de Cristo e a esta radicalmente subordinada, « não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, antes a facilita ».(20)É o princípio luminoso expresso pelo Concílio Vaticano II, que provei com tanta força na minha vida, colocando-o na base do meu lema episcopal: Totus tuus.(21)Um lema, como é sabido, inspirado na doutrina de S.Luís Maria Grignion de Montfort, que assim explica o papel de Maria no processo de configuração a Cristo de cada um de nós: “Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo Maria entre todas as criaturas a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo”.(22)Nunca como no Rosário o caminho de Cristo e o de Maria aparecem unidos tão profundamente. Maria só vive em Cristo e em função de Cristo!

Por Papa João Paulo II – Carta o Rosário – Paragrafo 15

Fonte: Shalom

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Os três lírios de Maria

Certa vez, naquele longínquo século XIII, um dominicano de uma inteligência luzidia, muito douto e devoto da Santíssima Virgem, estava passando por uma forte provação. Não conseguia entender como era possível a Mãe de Deus permanecer virgem, tendo dado à luz o Menino Jesus.

Esta dúvida era como um espinho em seus pensamentos, pois apesar de ser muito sábio, isto lhe permanecia oculto.

Um dia, tendo tomado conhecimento da existência de um Frei franciscano, o Bem-aventurado Egídio de Assis, o qual tinha fama de aliviar as consciências conturbadas, resolveu ir ao encontro deste religioso.

Quando chegara às portas do convento franciscano, não foi necessário chamar ninguém, pois Frei Egídio iluminado acerca da situação deste dominicano saiu-lhe ao encontro e disse-lhe: “Irmão pregador, a Santíssima Mãe de Deus, Maria, foi virgem antes de dar-nos Jesus” [1]. Enquanto dizia isto, Frei Egídio golpeou o chão com seu cajado e imediatamente brotou do solo um formoso lírio branco.

O dominicano surpreendido por este fato inesperado continuou ouvindo o Frei, que prosseguiu: “Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem ao dar-nos Jesus”. E com um novo golpe, outro lírio floresce instantaneamente.

Atônito, o dominicano presta atenção por mais uma vez: “Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem depois de dar-nos Jesus”. Ao terceiro golpe, surge um lírio mais esplêndido que os anteriores. Frei Egídio, sem dizer nenhuma outra palavra, retorna ao convento, tendo desfeito aquela longa provação de seu irmão religioso, o qual até o fim da vida conservou consigo os três lírios, símbolos inequívocos da virgindade de Nossa Senhora: antes, durante e depois do parto.

Esta bela história nos mostra a envolvente e cativante época dos milagres medievais, mas, sobretudo, destaca uma virtude cada vez mais esquecida nos tempos atuais, a virgindade.

Houve época em que o casamento entre pessoas virgens era uma questão de honra. Depois, isso se tornou uma responsabilidade apenas do gênero feminino. Mas hoje em dia, se fosse perguntado aos jovens sua opinião sobre o assunto, provavelmente muitos até ridicularizariam esta virtude tão sublime.

No entanto, ela deve ser preservada como um tesouro inestimável, o qual devemos guardar a todo custo, sob o peso de chorar sua perda. Por mais que certos ambientes possam zombar de sua prática e tê-la como praticada por pessoas retrógradas, podemos bem aplicar seu valor aos conhecidos versos de Casimiro de Abreu:

“Oh! que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!”.

Aqui podemos, inclusive, parafrasear Casimiro de Abreu, entendendo por infância aquela inocência de criança, de uma alma limpa e sem malícia, cujos anos, as más amizades, as ideias perniciosas, muitas vezes vêm deteriorar. Depois de perdida a inocência, o colorido que o mundo apresentava se torna mais opaco, quando não se apaga por completo.

Começa, então, uma longa caminhada em busca de uma felicidade que a pessoa já possuía na aurora da vida, mas que recusou diante de mentirosas promessas. Este é o momento de olhar para Nossa Senhora, intitulada Rainha das Virgens (Regina Virginum) em sua Ladainha e dizer a “Salve Rainha”.

Ela, como Mãe compassiva, olhará a miséria humana e pedirá ao seu Divino Filho para que restitua aquela virtude angélica, a fim de nos tornarmos verdadeiramente os “pequeninos”, aos quais pertence o “Reino dos Céus” (cf. Mt 19,13-15; Mc 10,13-16; Lc 18,15-17).

Thiago de Oliveira Geraldo

[1] Cf. Súrio, Vita del B. Edidio. Apud Pe. Gabriel Roschini. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p. 209.

Fonte: Gaudium Press (Arautos do Evangelho)

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A intercessão de Nossa Senhora na hora da morte

A intercessão de Maria Santíssima nos é tão necessária quanto eficaz na hora da morte. Como são felizes as al- mas assistidas por Ela nessa hora! "Madona del Pilas- tro" - Basílica de Santo Antônio, Pádua - Itália

 

“Rogai por nós pecadores, agora… e na hora de nossa morte”. Qual a razão de tanta insistência em pedir que Maria nos assista no fim de nossa vida?

Na oração que tantas vezes dirigimos a Nossa Senhora há duas partes distintas, as quais convém analisar: uma diz respeito ao presente, a outra ao futuro. A primeira muda continuamente no que diz respeito ao tema do pedido; a segunda não varia, roga sempre a mesma graça.

Rogai por nós agora é o pedido da hora presente, cujo objeto será diferente conforme nossas necessidades.

Por vezes será a solicitação de uma graça protetora, outras vezes de consolo, às vezes de alívio e de cura de alguma enfermidade.

Mas, rogai por nós na hora de nossa morte diz respeito ao futuro, e é sempre o mesmo pedido que fizemos ontem, fazemos hoje, repetido 200 vezes no Rosário, e voltaremos a fazer amanhã, se Deus nos conceder um novo dia e se nele rezarmos a Saudação Angélica.

Então, por que a Santa Igreja, por meio da Ave Maria, oração quotidiana e familiar a todos os cristãos, até mesmo aos mais indiferentes, formulou este pedido: Rogai por nós na hora de nossa morte? Só pode ser por razões muito dignas de sua sabedoria; é porque na hora da morte a intercessão da Santíssima Virgem Maria nos é soberanamente necessária e em extremo eficaz.

Necessidade da assistência de Maria nos derradeiros momentos

Para compreender bem quão necessária é a assistência de Nossa Senhora em nossos derradeiros momentos, deve-se lembrar que a hora da morte é propriamente a hora decisiva e difícil entre todas. Nela será fixado nosso destino para toda a eternidade. Quando cai uma árvore, à direita ou à esquerda, lá onde cai, fica, bem diz o Eclesiastes (11, 3). Se cair para o lado certo, se morrermos na graça de Deus, seremos felizes para sempre; mas se cair do lado errado, se morrermos na inimizade de Deus, nosso lugar será junto aos réprobos. A hora da morte é a hora do combate supremo. Se triunfarmos do demônio, todas as nossas derrotas passadas serão reparadas, seremos vitoriosos para sempre, tomaremos lugar entre os eternos triunfadores e o Rei do Céu nos cingirá com a coroa da glória eterna.

Vejamos o bom ladrão. Sua vida estava manchada por vários crimes. Tinha sido um infame criminoso que tingiu suas mãos no sangue de irmãos; alguns instantes antes de morrer, se arrependeu, foi perdoado, seus crimes foram apagados e – qual piedoso ladrão do Céu, como é chamado -, por um instante de sincera penitência, foi compartilhar as alegrias do Paraíso com os patriarcas e os profetas que passaram a vida inteira na prática de boas obras.

Se, pelo contrário, no último momento, nosso inimigo, o demônio, triunfar sobre nós, nossas vitórias já adquiridas, por mais numerosas ou retumbantes que tenham sido, nos serão inúteis. Nossas boas obras, embora tivéssemos vivido como justos durante longos anos, estariam perdidas para sempre e se volatilizariam como simples nuvem dispersa pelo vento. Ficaríamos como navegadores que, após triunfarem sobre várias tempestades em alto mar, vêm soçobrar no próprio porto de chegada.

Uma trágica defecção de última hora

Lembremos-nos da história dos 40 mártires de Sebaste. Eram 40 soldados que, juntos, nas tropas do exército romano, travaram inúmeros combates nesta terra, além de ganharem combates no Céu, pela prática das virtudes cristãs, sob o estandarte de Jesus Cristo. Para defenderem a Religião, compareceram diante do tribunal de seus perseguidores, confessando valentemente sua fé, sem se deixarem intimidar por ameaças nem seduzir por promessas. Foram todos jogados no calabouço e condenados a morrer num lago gelado. Os anjos já os sobrevoavam, trazendo nas mãos as coroas destinadas a esses gloriosos atletas, quando um deles, vencido pelo frio, saiu do lago para um banho de água morna preparado com vistas à desistência de algum deles. Pouco depois ele morreu (devido à mudança brusca de temperatura), perdendo por um instante de fraqueza os frutos de uma longa vida passada no exercício das virtudes, os méritos reluzentes de sua confissão de fé e a glória de um martírio quase consumado, deixando seus companheiros imersos na incomparável dor de sua defecção.

A hora da morte é uma hora decisiva, mas é também uma hora difícil.

Angústias dos moribundos

Como são atrozes as angústias dos moribundos, que não tenham perdido completamente a fé, quando os remorsos da consciência, o temor do julgamento iminente e a incerteza quanto à salvação eterna se unem para enchê-los de perturbação e pavor! Os demônios redobram de raiva para agarrar essa presa que lhes escapa. Acorrem numerosos em torno da cama do doente para tentar um supremo esforço.

Pudesse ainda o moribundo reagir na plenitude de suas forças! Mas não pode! Nunca terá sido atacado com tanta violência e jamais esteve tão fraco para se defender. A deficiência do corpo provoca um desastroso contragolpe na alma. A imaginação fica de todo desordenada. É como se fosse um campo aberto que os animais selvagens – melhor seria dizer fantasmas dos mais lúgubres e dos mais espantosos – atravessam livremente em todas as direções. O espírito fica repleto de trevas, a vontade sem energia e cheia de languidez.

Necessidade imperiosa do auxílio de Deus na hora da morte

Como o socorro de Deus é necessário nessa hora! Quão indispensável é a graça divina para perseverar! Entretanto, a graça, sobretudo a graça da perseverança final, é um dom de Deus que não nos é dado merecer, mas podemos obter infalivelmente pelas nossas orações.

Ora, como por um privilégio todo especial de Deus, o qual quer assim honrar sua Mãe, a Santíssima Virgem é a Medianeira obrigatória por cujas mãos todos os favores do Céu devem passar, a Ela é que devemos pedir esta graça das graças.

Compreendamos então por que a Santa Igreja nos leva a pedir tantas vezes a assistência de Maria Santíssima para a hora de nossa morte. Compreendamos também o motivo pelo qual ela nos incita a repetir todos os dias: Santa Maria, rogai por nós na hora de nossa morte.

Nessa hora, intercessão infalível de Maria Santíssima

A intercessão de Maria Santíssima nos é tão necessária quanto eficaz nessa suprema e solene circunstância. Como são felizes as almas assistidas por Maria nessa hora! Elas não podem perecer. Ainda que estejam cativas da tirania do demônio, esta boa Mãe romperá seus grilhões e lhes obterá os frutos benfazejos de uma sincera conversão, instando-as a fazerem verdadeira penitência. Lá estará Ela perto de seu leito de dores, como uma mãe à cabeceira do filho moribundo, dissipando suas angústias, acalmando suas dores, adoçando suas penas, proporcionando uma santa paciência e tomando sua defesa ante os ataques furiosos e múltiplos do espírito das trevas.

Quando chega a derradeira hora de algum devoto de Nossa Senhora, diz São Boaventura, esta boa Mãe lhe envia os espíritos angélicos que estão às suas ordens, juntamente com São Miguel, seu chefe. E Ela, que é o flagelo do inferno – como diz São João Damasceno – Ela que tem, por missão, o ódio à serpente infernal, lhe faz sentir, sobretudo quando algum de seus devotos vai abandonar este mundo, todo o seu vitorioso poder. Ela é para o demônio, nessa ocasião, terrível como um exército em ordem de batalha. Torna-se contra ele como essa torre da qual fala o Cântico dos Cânticos, onde mil escudos estão levantados com as armas dos mais valorosos.

Não, um servidor de Maria não pode perecer! – declara São Bernardo.

Não, aquele por quem Maria se dignou rezar não pode mais ter dúvida de sua salvação e de sua ida à glória do Céu! – diz Santo Agostinho.

Não, aquele pelo qual Maria rezou uma vez não perecerá! Não, quem recitou piedosamente todos os dias a Ave Maria não será abandonado na última hora! – exclama também Santo Anselmo.

Esta oração possui todas as qualidades capazes de torná-la infalivelmente vitoriosa. Primeiro lugar, ela é santa em sua motivação. Com efeito, o que pedimos por ela? A perseverança final “na hora de nossa morte”.

Depois, ela é humilde. Por ela confessamos a Maria Santíssima nossa miséria, revestindo-nos de um título que nos convém tão bem: “pobres pecadores”.

Ela é também confiante, pois nos dirigimos à mais poderosa intercessora que possa haver, Àquela que é chamada de “Onipotência suplicante”, em vista de sua santidade proeminente e de sua dignidade incomparável de Mãe de Deus: “Santa Maria, Mãe de Deus”.

Esta oração é perseverante. Qual oração pode ser mais perseverante? Ainda que, por suposição, só rezássemos uma Ave Maria por dia, quantas vezes durante nossa vida teríamos pedido a Ela para interceder por nós na hora da morte? E como será então se rezarmos ao menos uma dezena do Rosário? Mais ainda se tomarmos o costume de rezar diariamente um terço inteiro? Será possível que Maria Santíssima, tão zelosa de nossa salvação, não nos ouça? Não! Isso é impossível! A isso se opõem as promessas, os juramentos de Jesus Cristo Nosso Senhor relativos à oração, assim como a bondade e a ternura de sua Mãe Santíssima.

Tomemos, pois, a resolução de rezar todos os dias de nossa vida, com uma nova fé, uma nova confiança e um novo cuidado, esta curta mas tão bela e eficaz oração da Ave Maria. Assim obteremos a cada dia aquelas graças particulares das quais precisamos e, sobretudo, a graça necessária no fim da vida, a maior delas, a mais importante de todas as graças, a graça da perseverança final.

Santo André Avelino

Segundo se narra, na hora da morte de Santo André Avelino, um grande servo de Maria, seu leito estava envolto por mais de dez mil demônios; durante sua agonia, ele teve de travar contra o inferno um combate tão terrível que deixou estupefatos todos os religiosos ali presentes. Viram seu rosto decompor-se e ficar lívido. Ele tremia em todos os seus membros, rangia os dentes, lágrimas abundantes corriam-lhe pela face, testemunhando a violência do assalto ao qual estava sujeito. O espetáculo arrancou lágrimas de todos os assistentes. Cada qual redobrava as orações e tremia por si, ao ver um santo morrer dessa maneira. Uma única coisa consolava os religiosos: o moribundo muitas vezes voltava o rosto para uma imagem da Virgem, indicando assim pedir seu socorro e lembrando- lhes ter dito várias vezes durante a vida que Maria Santíssima seria seu refúgio na hora da morte.

Afinal, aprouve a Deus pôr um término a esse combate, outorgando ao santo a mais gloriosa vitória. As agitações cessaram, o rosto do moribundo retomou sua serenidade primeira; viram- no permanecer tranqüilo, mantendo o olhar em direção à imagem, inclinar-se em sinal de reconhecimento e, em seguida, expirar docemente nos braços da Santíssima Virgem, que ele tanto invocara em vida e que vinha fazê-lo sentir sua todo-poderosa proteção naquele supremo momento.

Imitemos a devoção de Santo André Avelino e, como ele, em nossa última hora seremos assistidos e socorridos pela misericordiosíssima Rainha dos Céus.

(Tradução, com adaptações, de “L’Ami du Clergé” nº 39, de 23/9/1880)

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2007, n. 65, p. 34 à 36)

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Angelus de Bento XVI – 15 de Janeiro de 2012

Praça de São Pedro – Vaticano
Domingo, 15 de janeiro de 2012

Queridos irmãos e irmãs!

Nas Leituras bíblicas deste domingo – segundo do Tempo Comum – emerge o tema da vocação: no Evangelho é o chamado dos primeiros discípulos por parte de Jesus, na primeira Leitura é o chamado do profeta Samuel. Em ambas as histórias, se destaca a importância da figura que desenvolve um papel de mediador, ajudando as pessoas chamadas a reconhecer a voz de Deus e segui-la.

No caso de Samuel, se trata de Eli, sacerdote do templo de Shiloh, onde ficava antigamente a arca da aliança, antes de ser transportada para Jerusalém. Uma noite, Samuel, que era ainda um garoto e desde pequeno vivia a serviço do templo, por três vezes seguidas sentiu ser chamado em seu sono e foi a Eli. Mas não era ele a chamá-lo. Na terceira vez, Eli entendeu e disse a Samuel: Se te chamarem ainda, responda: “Fala-me, Senhor, porque o teu servo te escuta”(1 Sam 3,9).

Assim foi, e desde então Samuel aprendeu a reconhecer as palavras de Deus e se torna seu fiel profeta.

No caso dos discípulos de Jesus, a figura mediadora é aquela de João Batista. Na verdade, João havia um vasto círculo de discípulos, e entre estes, existia também dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João, pescadores da Galiléia

Justamente a dois desses, Batista indicou Jesus, no dia depois de seu batismo no rio Jordão. Indicou-o a eles dizendo: “Eis o cordeiro de Deus!” (Jo 1,36), que equivale a dizer: Eis o Messias. E aqueles dois seguiram Jesus, permaneceram por um longo tempo com Ele e se convenceram que era realmente o Cristo. Logo, disseram aos outros, e assim se formou o primeiro núcleo daquele que se tornaria o colégio dos Apóstolos.

Sob a luz desses dois textos, gostaria de destacar o papel decisivo do guia espiritual no caminho de fé e, em particular, na resposta à vocação de especial consagração para o serviço de Deus e do seu povo.

Já esta mesma fé cristã, por si, pressupõe o anúncio e o testemunho: de fato essa consiste na adesão à boa nova que é Jesus de Nazaré, que morreu e ressuscitou, e que é Deus. E assim, também o chamado a seguir Jesus, mais de perto, renunciando a formar uma própria família para dedicar-se à grande família da Igreja, passa normalmente através do testemunho e da proposta de um “irmão maior”, normalmente um sacerdote.

Isso sem esquecer o papel fundamental dos pais, que com sua fé genuína e alegre e seu amor conjugal mostram aos filhos que é lindo e é possível construir toda a vida sobre o amor de Deus.

Queridos amigos, rezamos a Virgem Maria para todos os educadores, especialmente os sacerdotes e pais, para que tenham plena consciência da importância de seu papel espiritual, para favorecer nos jovens, além do crescimento humano, a resposta ao chamado de Deus, a dizer: “Fala, Senhor, o teu servo te escuta”.


Depois da recitação do Angelus, o Papa saudou os fiéis reunidos na Praça de São Pedro

Queridos irmãos e irmãs,

Celebramos hoje o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Milhões de pessoas são envolvidas no fenômeno das migrações, mas isso não são números! São homens e mulheres, crianças e anciãos que buscam um lugar onde viver em paz.

Na minha mensagem para este Dia chamei novamente a atenção sobre o tema “Migrações e a nova evangelização”, destacando que os migrantes são não somente destinatários, mas também protagonistas do anúncio do Evangelho no mundo contemporâneo. Neste contexto, tenho o prazer de dirigir uma cordial saudação aos representantes das comunidades de imigrantes de Roma, hoje presentes na Praça de São Pedro.

Desejo recordar que do dia 18 ao dia 25 deste mês de janeiro se desenvolverá a Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos. Convido todos, a nível pessoal e comunitário, a unirem-se espiritualmente e, onde possível, também na prática, para invocar a Deus o dom da plena unidade entre os discípulos de Cristo.


Artigos

A Mensagem Bíblica do Ofício de Nossa Senhora da Conceição

– MATINAS E LAUDES

Filha, Mãe, Esposa

Maria Ssma. Vive a plena comunhão com a Ssma. Trindade. Assim disse o Concílio Vaticano II: “Maria é adotada com a missão sublime e a dignidade de ser Mãe do Filho de Deus, e por isso, filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo” (Constituição Lumen Gentium, n.º 53). E o Documento dos Bispos reunidos em Puebla acrescenta: “A Virgem Imaculada vive agora imersa no mistério da Trindade, louvando a glória de Deus e intercedendo pelos homens” (n.º 293).

Virgem das virgens

Modo hebraico de exprimir o superlativo. Nossa Senhora é a mais santa de todas as Virgens.

Estrela da Manhã

No livro do Apocalipse, por duas vezes Jesus Cristo é apresentado como a “estrela da manhã”: Ap 2, 28 e 22, 16. É por meio dele que o mundo sai das trevas do pecado e entra na plena luz da graça. Aqui no Ofício, a expressão refere-se a Maria, por meio da qual é anunciada a vinda do Sol da Justiça, o Salvador.

Deus vos salve, Cheia de Graça

Foi essa a saudação do anjo Gabriel a Maria na anunciação (Lc 1, 28). A graça divina fez de Maria um jardim ornado de todas as virtudes.

Já Lá AB Aeterno

Se cada um de nós é escolhido e chamado por Deus antes da criação do mundo – como diz São Paulo em Ef 1, 4 – com mais razão Maria, desde toda eternidade, estava destinada por Deus para ser Mãe do Salvador.

Como o Verbo, Deus criou Terra, Mar e Céus

É o que diz o Evangelho de São João 1, 3: “Tudo foi feito por meio dele”. Assim também está no Salmo 32, vv. 6 e 9: “Pela Palavra do Senhor foram feitos os céus; Ele disse e tudo foi feito. Ele ordenou e tudo existiu”. Essa Palavra de Deus criadora veio morar entre nós e tomou forma humana, encarnando-se no seio de Maria: é Jesus, o Filho do Pai Celeste, a 2.ª Pessoa da Ssma. Trindade (Jo 1, 14).

Quando Adão pecou, Vos escolheu por esposa

Diz Gn 3, 15 que Deus prometeu à raça humana a vitória final sobre a serpente: por isso, esse texto é chamado de “Proto-evangelho”, primeiro anúncio da salvação. Comentando essa passagem, assim escreveu o Papa São Pio X: “vendo no futuro, Maria esmagar a cabeça da serpente, Adão estancou as lágrimas que a maldição arrancava de seu coração” (Encíclica Ad diem illum, de 02.11.1904). No plano de Deus, assim como o primeiro homem e a primeira mulher tinham causado a ruína da humanidade, assim também um Homem e uma Mulher seriam o início da redenção do mundo.

Deu-lhe morada em seu Tabernáculo

“Felizes os que habitam em vossa casa, Senhor; aí eles vos louvam para sempre!” (Sl 83, 5). A casa de Maria foi a casa de Deus no mundo durante os trinta anos da vida oculta de Jesus. Mas ela viveu sempre na presença do Senhor e por isso viveu em íntima comunhão com Ele; assim Deus a acolheu em seus tabernáculos eternos no dia da sua Assunção.

PRIMA

MESA, COLUNA, CASA

No livro dos provérbios, lemos que “a Sabedoria (divina) construiu a sua casa, plantando sete colunas. Preparou o banquete, misturou o vinho e pôs a mesa. Enviou as suas criadas para anunciar … Vinde comer do meu pão e beber do vinho que misturei” (Pr 9, 1-3). Nossa Senhora é a casa escolhida por Deus para Jesus vir morar entre nós. Ele que no Banquete Sagrado da Eucaristia se nos apresenta nos sinais do Pão e do Vinho.

Mãe Criadora dos Mortais Viventes

“Enquanto peregrinamos, Maria será a mãe e a educadora da fé. Ela cuida que o Evangelho nos penetre intimamente, plasme nossa vida de cada dia e produza em nós frutos de santidade” (Documento de Puebla, n.º 290). Ao pé da cruz, Maria recebeu de Jesus agonizante a missão de ser mãe de todos os que seriam discípulos dele (Jo 19, 26). Eva foi a mãe de todos os viventes na ordem da natureza (Gn 3, 20); Maria “se tornou para nós mãe na ordem da graça” (Concílio Vaticano II, Constituição Lumen Gentium, n.º 61).

Porta dos Santos

Ou porta do Céu, como se reza na Ladainha, significa que Maria intercede por nós para que sejamos dignos de receber a recompensa dos santos, o céu. Por isso, rezamos com a Igreja: “Depois deste desterro, mostrai-nos Jesus”.

Forte esquadão contra o inimigo

No Cântico dos Cânticos, livro que celebra a beleza do amor humano dos esposos, a expressão “terrível como um exército em ordem de batalha” é um dos elogios que o esposo faz à sua amada (Ct 6, 4.10). Esse Cântico é todo ele aplicado à Aliança de amor que existe entre Deus e Seu Povo, Aliança esta que os Profetas descreveram em termos de Matrimônio (Os 2, 12-22; Jr 2, 2; Is 62, 4-5). Por ser Maria a representante máxima desse Povo amado por Deus, aplica-se a ela o que o Cântico diz da esposa. Diante do poder de Maria, fogem as forças do mal; ela defende seus filhos nas batalhas que têm de travar para se manterem fiéis a Deus.

Estrela de Jacó

O profeta Balaão, chamado pelo rei Balac para amaldiçoar o povo de Israel, desobedeceu à ordem do rei e predisse num célebre oráculo que “uma estrela sairá de Jacó” (Nm 24, 17), isto é, do povo hebreu nascerá um chefe, que vencerá os inimigos. Neste anúncio do Messias, está também incluída sua Mãe, e por isso o nosso Ofício vê em Maria aquela estrela, que vai trazer a salvação ao Povo.

Refúgio do Cristão

Nossa Senhora é representada também como exercendo a mesma função que tinham no Antigo testamento as cidades de refúgio (Js 20, 3), onde podiam se abrigar os que tivessem cometido algum delito. Maria, Mãe de misericórdia, intercede pelos pecadores, libertando-os da morte eterna.

TERÇA

TRONO DO GRÃO SALOMÃO

Tão belo e luxuoso era o trono do grande rei Salomão, que a Bíblia exclama: “Nada de semelhante se fez em reino algum!” (1Rs 10, 20). Era de marfim, todo revestido de ouro puro. Para aquele que seria superior a Salomão (Mt 12, 42), Deus preparou em Nossa Senhora um trono infinitamente mais belo e nobre, enriquecendo-a com toda espécie de graça.

Arca do Concerto ou Arca da Aliança

Desde os tempos do Êxodo, a arca foi o sinal da presença de Deus nomeio do seu povo (Êx 25, 10-22). Era o lugar do encontro entre Deus e o povo. Nela se guardavam as tábuas da lei mosaica, o maná que alimentou os hebreus no deserto, e a vara de Aarão que floresceu milagrosamente. Jesus é o novo Moisés, que no Sermão da Montanha pregou a nova Lei (Mt 5-7). Deixou-nos na Eucaristia o alimento, figurado no maná, que nos conduz até a pátria celeste (Jo 6, 32-33). E a vara de Aarão simboliza a virgindade de Maria que, sem concurso humano, gerou o Salvador. A força do Altíssimo envolveu Maria com sua sombra (Lc 1, 35), assim como a nuvem da presença divina enchia o Tabernáculo onde repousava a Arca da Aliança.

Velo ou Gedeão

Velo ou tosão é o couro do carneiro com a lã. Gedeão, que foi Juiz em Israel, obteve de Deus um duplo sinal de sua futura vitória contra os madianitas: primeiro, só o velo se umedeceu de orvalho e toda a terra ao redor permaneceu seca; depois, foi o contrário: enquanto o velo ficou seco, tudo ao redor apareceu molhado (Jz 6, 36-40). O orvalho que desce antes sobre o velo e depois sobre toda a terra representa a plenitude de graça que Maria recebeu, para depois comunicá-la à humanidade inteira.

Íris do Céu

O arco-íris, que apareceu no céu depois do dilúvio, tornou-se o sinal da Aliança entre Deus e os homens; ao vê-lo, Deus se lembraria da sua intenção misericordiosa de não mais castigar os homens com um novo dilúvio (Gn 9, 12-17). Maria anuncia que chegaram os tempos do perdão: por meio dela nasce o Rei Pacífico que veio, não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (Jo 3, 17).

Sarça da Visão

Deus chamou Moisés para libertar seu povo, aparecendo-lhe numa sarça, que ardia sem se consumir (Êx 3, 1-6). Nossa Senhora está simbolizada na sarça, porque deu à luz o Libertador do mundo, sem prejuízo da sua virgindade.

Favo de Sansão

Sansão encontrou um favo de mel dentro da ossada de um leão, morto por ele tempos atrás (Jz 14, 5-18). No seio da humanidade morta pelo pecado. Deus encontra aquela que na Salve-Rainha chamamos de “doce Virgem Maria”.

Florescente Vara

“Um ramo sairá do trono de Jessé”, disse o Profeta Isaías (11, 1). Jessé foi o pai do grande rei Davi, de quem Jesus era chamado filho (Mt 21, 9), por ser descendente seu. Maria é aquele ramo que floresce, quando dela nasce Jesus.

SEXTA

ALEGRIA DOS ANJOS

Os anjos anunciaram aos pastores aquela que seria a grande alegria para todo o povo: o nascimento do Salvador, o Cristo Senhor, e cantaram alegres os louvores de Deus (Lc 2, 10-13).

Horto de Deleites

Nossa Senhora é figurada naquele paraíso de delícias, onde viveram os primeiros Pais (Gn 2, 8). Porque ela é um verdadeiro jardim onde o Espírito Santo plantou as mais belas virtudes.

Palma de Paciência

Maria conquistou a palma da vitória pela paciência e constância que demonstrou, associando-se ao sacrifício do Seu Filho e “consentindo com amor na imolação da vítima por ela mesma gerada” (Concílio Vaticano II, Constituição Lumen Gentium, n.º 58).

Terra Bendita e Sacerdotal

Deus disse a Adão que, como castigo do seu pecado, a terra seria maldita, produzindo cardos e espinhos (Gn 3, 17). A Virgem Ssma., porém, é comparada àquela terra prometida, a terra santa, que mana leite e mel (Êx 3, 8). É uma terra sacerdotal, porque dá à luz o Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote (Hb 9, 11).

Cidade do Altíssimo

Na Bíblia, a Cidade Santa de Deus é Jerusalém, com a qual Ele faz uma Aliança de amor (ls 61, 10; Ap 21, 2). A Igreja inteira está representada nesta imagem da nova Jerusalém, mas sobretudo Aquela que é a Mãe da Igreja, escolhida para habitação de Deus na terra; com Ela Deus celebrou o seu Matrimônio místico, fazendo-a Esposa do Espírito Santo.

Porta Oriental

Diz o Profeta Ezequiel (46, 1-3) que a porta oriental do Templo de Jerusalém é o lugar por onde entra o príncipe; todo o povo da terra se prostra junto a essa entrada. Por meio de Maria, Deus entra na história humana, realizando o grande milagre da Encarnação do seu Filho Único, o Príncipe dos reis da terra (Ap 1. 5). E por isso todas as gerações proclamam as grandezas de Maria (Lc 1, 48).

Lírio

Essa comparação do lírio entre os espinhos é tirada do Cântido dos Cânticos (Ct 2, 2). No seu livro “Glórias de Maria”, Santo Afonso de Ligório imagina Deus dirigindo-se a Nossa Senhora com estas palavras: “Filha por excelência entre o resto das minhas filhas, sois como o lírio entre os espinhos, pois todas as outras foram manchadas pelo pecado, e só vós fostes sempre imaculada e sempre minha amiga”.

NOA

CIDADE DE DAVI,

GUARNECIDA DE TORRES

O rei Davi construiu sua capital, Jerusalém, como uma cidade bem fortificada, para resistir a todos os ataques dos inimigos (2Sm 5, 9; Ct 4, 4). Assim, Maria é aquela criatura santa, que nunca foi vencida pelo pecado; toda cheia de graça, foi sempre fiel a Deus. É nisso exatamente que consiste o privilégio da sua Imaculada Conceição, que “nos apresenta em Maria o rosto do homem novo redimido por Cristo, no qual Deus recria de modo ainda mais admirável o provejo do paraíso” (Puebla, n.º 298).

A Força do Dragão foi por vós prostada

Após o pecado dos primeiros Pais, quando Deus amaldiçoou a serpente, Ele anunciou que a descendência da Mulher haveria de esmagar-lhe a cabeça (Gn 3, 15). Por isso, Nossa Senhora da Conceição é representada com a cobra debaixo dos pés. Trazendo ao mundo o Salvador, ela deu início à vitória do Bem sobre o Mal.

Mulher Forte

O livro dos Provérbios (31, 10-31) faz o elogio da perfeita dona-de-casa, que se mostra solícita, corajosa e operante em tudo o que faz. Em todos os tempos, inclusive hoje, existem mulheres que vivem esse ideal de doação total. Porém, mais que todas, Maria sempre teve essa fortaleza de ânimo, para executar sua missão no lar e na sociedade. Foi ela “a mulher forte, que conheceu a pobreza e o sofrimento, a fuga e o exílio; é modelo para que os que não aceitam passivamente as circunstâncias adversas da vida pessoal e social, nem são vítimas da alienação” (Puebla, n.ºs 297, 302); tornou-se assim exemplo para a mulher contemporânea, desejosa de participar com poder de decisão nas opções da Comunidade (Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus, n.º 37).

Invicta Judite

A Igreja exalta a Mãe de Deus com as mesmas palavras com que os hebreus festejaram o triunfo desta mulher corajosa que, arriscando a vida, cortou a cabeça do general inimigo, e assim salvou seu povo: “Tu és a glória de Jerusalém! És a alegria de Israel, a honra do nosso povo!” (Jt 15, 9).

Alentaste o Sumo Davi

Na história de Davi se conta que ele, estando já velho, mandou que lhe procurassem uma jovem esposa, para o assistir e cuidar dele. Procuraram em todo o território de Israel e trouxeram-lhe uma jovem belíssima, chamada Abisag de Sunam, que o serviu e se tornou sua esposa, mas permaneceu virgem (1Rs 1, 1-4). Cristo realizou as esperanças que o povo colocava em Davi; por isso, ele foi reconhecido como um novo Davi, um filho de Davi. A seu lado, Nossa Senhora tornou-se a esposa virginal de Deus.

DO EGITO O CURADOR

O salvador do Egito, durante os sete anos de fome, foi José, que nasceu de Raquel, esposa predileta de Jacó (Gn 30, 22-24). Raquel é figura de Maria, a criatura preferida de Deus, predestinada a ser Mãe do Salvador do mundo.

TODA É FORMOSA MINHA COMPANHEIRA

Para o homem que ama ternamente sua esposa, ela é toda bela e sem defeito; é esse mais um elogio que o amado faz à sua amada no Cântico dos Cânticos (Ct 4, 7). Ele se aplica a Maria num grau eminente: ela jamais teve qualquer mancha de pecado, sendo toda ornada de virtudes.

VÉSPERAS

RELÓGIO ATRASADO,

SINAL DO VERBO ENCARNADO

O episódio bíblico referido aqui é o da cura obtida pelo rei Ezequias por intervenção do Profeta Isaías. Quando este anunciou ao rei que ele ficaria curado, ele não quis acreditar, sem antes ver um sinal do céu, que confirmasse as palavras do Profeta. Isaías então disse que a sombra do sol, com a qual se marcavam as horas no relógio solar, haveria de atrasar dez graus, como se as horas do dia voltassem atrás (2Rs 20, 8011; Is 38, 7-8).

Para entendermos que semelhança pode haver entre esse relógio e Maria Ssma., temos de ler a estrofe seguinte, que fala da descida de Deus até junto das criaturas. O Verbo se humilhou, tomando a forma de servo (Fl 2, 7), quando se encarnou no seio de Maria; o sol que retrocede representa o Cristo que se rebaixa fazendo-se homem. Então Maria é comparada com o relógio, no qual se realiza essa aniquilação do Sol divino.

SOL DA JUSTIÇA

Deus prometeu através do PROFETA Malaquias: “Para vós que temeis o meu Nome, brilhará o Sol da Justiça” (Ml 3, 20). Esse Sol é o Cristo Salvador, que faz Maria resplandecer com sua luz, pois Ele é a luz do mundo (Jo 8, 12). Por isso, São João viu Maria no Apocalipse como “uma mulher vestida com o sol” (Ap 12, 1).

OS CEGOS ERRADOS VÓS ALUMIAIS

A nós, que muitas vezes erramos o caminho, cegados pelas ilusões do mundo. Nossa Senhora nos aponta Aquele que é o “Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6), dizendo-nos como nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

COM NUVENS COBRISTES O MUNDO

A frase é tirada de Eclo 24, 6 e, aplicada a Nossa Senhora, exprime o que disseram os Bispos em Puebla: “Maria não vale apenas pela Igreja. Tem um coração tão grande quanto o mundo e intercede ante o Senhor da história por todos os povos. Isto bem registra a fé popular, que põe nas mãos de Maria, como Rainha e Mãe, o destino de nossas nações” (n.º 289).

COMPLETAS

RAINHA DE ESTRELAS COROADA

Em Ap 12, 1 aparece no céu, como um grande sinal, a Mãe do Messias, coroada de doze estrelas. A Liturgia aplica esse texto à Assunção de Maria, na qual “se nos manifestam o sentido e o destino do corpo santificado pela graça. No corpo glorioso de Maria começa a criação material a ter parte no corpo ressuscitado de Cristo. Maria, arrebatada ao céu, é a integridade humana, corpo e alma, que agora reina intercedendo pelos homens, peregrinos na história” (Puebla, n.º 298).

SOBRE OS ANJOS SOIS PURIFICADA

Mais pura que os anjos, Nossa Senhora tem uma santidade maior que a deles. Ela é a mais sublime das criaturas.

ESTAIS DE OURO ORNADA

O Salmo 44, composto para celebrar as núpcias do rei, descreve o cortejo formado pelas princesas que conduzem os monarcas. A rainha que traja vestes douradas e está à direita do rei (v. 10) simboliza Maria que, “ao lado do Rei dos séculos, resplandece como Rainha e intercede como Mãe” (Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus, n.º 6).

SEGURO PORTO AOS NAVEGANTES

Para os que enfrentamos as tempestades deste mundo, Maria é “vida, doçura, esperança nossa”. Santo Afonso de Ligório ensinou nas Glórias de Maria que a devoção a Nossa Senhora é sinal seguro de salvação: afirmou também que um verdadeiro devoto de Maria não se perde, pois Ela tudo alcança junto de Seu Filho em favor dos que A invocam.

ESTRELA DO MAR

Santo Tomás explica assim esse título de Maria: ” Assim como por meio de estrela do mar os navegantes são orientados para o porto, assim os cristãos por Maria são conduzidos para a glória”.

SAÚDE CERTA

Na Ladainha também invocamos Maria como “saúde dos enfermos”. Por meio de sua poderosa intercessão, recuperam a saúde os doentes de qualquer espécie. Como Seu Filho “passou pelo mundo fazendo o bem” (At 10, 38), Nossa Senhora não se cansa de zelar pela felicidade de seus filhos.

PORTA PARA O CÉU ABERTA

“Por Maria foi aberta para todos a porta do paraíso, a qual por meio de Eva tinha sido fechada” – diz o Breviário.

ÓLEO DERRAMADO

Essa imagem é tirada de Ct 1, 2: “Teu nome é como um óleo escorrendo”. O óleo tem as propriedades de alimentar, curar, fortalecer, perfumar, inflamar; assim, os que invocam o Nome de Maria com confiança experimentam em sua vida que ” a devoção à Virgem Ssma. É um auxílio poderoso para o homem em marcha para a conquista da sua própria plenitude” (Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus, n.º 57)

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Maria meditava em seu coração todas estas palavras

– O Concílio nos ensinou a ver Maria como a «figura» da Igreja, isto é, seu exemplo perfeito e sua primícia. Mas pode Maria servir de modelo à Igreja também em seu título de «Mãe de Deus», com o qual é honrada este dia? Podemos chegar a ser mães de Cristo?

Isso não só é possível, mas que alguns Padres da Igreja chegaram a dizer que, sem esta imitação, o título de Maria seria inútil para alguém: «De que me serve – diziam – que Cristo tenha nascido uma vez de Maria em Belém, se não nasce também pela fé em minha alma?». Jesus mesmo iniciou esta aplicação à Igreja do título «Mãe de Cristo», quando declarou: «Minha mãe e meus irmãos são os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8, 21). A liturgia do dia nos apresenta Maria como a primeira dos que se convertem em mães de Cristo mediante a escuta atenta de sua palavra. Foi eleita, de fato, para esta Solenidade, a passagem evangélica onde está escrito que «Maria, por sua parte, conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração».

Como é possível transformar-se, em concreto, em mãe de Cristo, o explica o próprio Jesus: escutando a Palavra e colocando-a em prática. Há duas maternidades incompletas ou dois tipos de interrupção de uma maternidade. Um é o antigo e conhecido aborto. Tem lugar quando se concebe uma vida mas não se lhe dá à luz porque, entretanto, por causas naturais ou pelo pecado dos homens, o feto morre. Até há pouco tempo, este era o único caso que se conhecia de maternidade incompleta. Hoje se conhece outro, que consiste, ao contrário, em dar à luz um filho sem tê-lo concebido. Assim ocorre com as crianças concebidas em provetas e implantadas em um segundo momento, no ventre da mulher, e no caso desolador e triste do útero dado por empréstimo para albergar, às vezes sob pagamento, vidas humanas concebidas em outro lugar. Neste caso a quem a mulher dá à luz não vem dela, não é concebido «antes no coração que no corpo».

Lamentavelmente, também no plano espiritual existem estas duas tristes possibilidades. Concebe Jesus, sem dá-lo à luz, quem acolhe a Palavra sem colocá-la em prática, quem continua praticando um aborto espiritual após outro, formulando propósitos de conversão que logo são sistematicamente esquecidos e abandonados no meio do caminho; quem se comporta para a Palavra como o observador apressado que olha seu rosto no espelho e logo se vai esquecendo de imediato como era (St 1, 23 24). Em resumo, quem tem fé, mas não tem obras.

Ao contrário, dá à luz Cristo sem tê-lo concebido quem realiza muitas obras, às vezes também boas, mas que não procedem do coração, do amor por Deus e da reta intenção, mas do costume, da hipocrisia, da busca da própria glória e do próprio interesse, ou simplesmente da satisfação que dá atuar. Em suma, quem tem as obras, mas não tem a fé.

Estes são os casos negativos, de uma maternidade incompleta. São Francisco de Assis nos descreve o caso positivo de uma verdadeira e completa maternidade que nos assemelha a Maria: «Somos mães de Cristo – escreve – quando o levamos no coração e em nosso corpo por meio do divino amor e da consciência pura e sincera; o geramos através das obras santas, que devem brilhar perante os demais para exemplo!». Nós – vem a dizer o santo – concebemos a Cristo quando o amamos com sinceridade de coração e com retidão de consciência, e o damos à luz quando realizamos obras santas que o manifestam ao mundo.

Fonte: Zenit

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Maria teve outros filhos?

 

– O objetivo desta matéria é demonstrar que Maria que não teve outros filhos além de Jesus, tendo permanecido virgem, mesmo após o nascimento de Jesus.

A Sagrada Tradição da Igreja sempre ensinou a Virgindade perpétua da mãe de Nosso Senhor. Eis alguns testemunhos dos primórdios do cristianismo:

Santo Inácio de Antioquia ( Século I ): “E permaneceram ocultos ao príncipe desse mundo a virgindade de Maria e seu parto, bem como a morte do Senhor: três mistérios de clamor, realizados no silêncio de Deus” (Carta aos Efésios, PG. V, 644 ss.)

Santo Irineu (130 a 203 dC): “Era justo e necessário que Adão fosse restaurado em Cristo, e que Eva fosse restaurada em Maria, a fim de que uma virgem feita advogada de uma virgem, apagasse e abolisse por sua obediência virginal a desobediência de uma virgem”. (Contra as Heresias)

Santo Atanásio (295 a 386 dC): “Jesus tomou carne da SEMPRE virgem Maria”.

Dídimo (386 dC): “Nada fez Maria, que é honrada e louvada acima de todas as outras: não se relacionou com ninguém, nem jamais foi Mãe de qualquer outro filho; mas, mesmo após o nascimento do seu filho [único], ela permaneceu sempre e para sempre uma virgem imaculada”. (“A Trindade 3,4”)

São Jerônimo (340-420 dC): “Cristo virgem e Maria virgem consagraram os princípios da virgindade em ambos os sexos”.

Santo Agostinho (354 a 430 dC): “Então, o Senhor tem irmãos? Será que Maria teve ainda outros filhos? Não! De modo algum! (…) Qual é, pois, a razão de ser da expressão “irmãos do Senhor”? Irmãos do Senhor eram os parentes de Maria”. (Comentário do Evangelho de São João, X, 2)

Santo Agostinho: “Concebeu-O [a Cristo Jesus] sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-lhe à luz, Virgem permaneceu”. (Sermão sobre a Ressurreição de Cristo, segundo São Marcos, PL XXXVIII, 1104-1107)

Veremos então textos que Comprovam que Jesus é Filho Único

1. A Bíblia só chama a Jesus de Filho de Maria

Em nenhuma passagem da Bíblia, ninguém é chamado de “filho de Maria”, a não ser Jesus. E, ainda, de ninguém Maria é chamada “Mãe”, a não ser de Jesus. Em Mc 6,3 é dito: “o filho de Maria” (com artigo, dando idéia de unicidade). A expressão grega implica que Ele era seu único filho. O Evangelho nunca diz “a mãe de Jesus com seus filhos”, embora isso fosse natural, especialmente em Mc 3,31 e At 1,14, se ela tivesse outros filhos.

2. Maria fez Voto de Virgindade

Em Lc 1,34 Maria pergunta: “Como se fará isso, pois eu não conheço varão?”.

A pergunta que Maria fez seria inadmissível em uma jovem desposada no momento em que lhe anunciavam o nascimento de um filho futuro. Esta pergunta só tem sentido se considerarmos que ela fizera voto de virgindade, uma vez que, embora estivesse desposada, ela afirma: “eu não conheço varão”. O anjo, porém, não a libera do voto, mas diz que se tratará de uma conceição milagrosa.

O voto de virgindade feito por Maria é também insinuado num apócrifo: o Protoevangelho de Tiago (120 dC).

3. Jesus Entregou Maria ao Discípulo João

Era costume judeu que os filhos cuidassem da mãe. Ao morrer o irmão mais velho, caberia aos demais filhos o cuidado da mãe. Porém, Jesus pede que o discípulo João, membro de outra família, cuidasse de sua mãe (Jo 19,26-27). Não haveria necessidade de tal preocupação e tal atitude seria inadmissível se Jesus tivesse outros irmãos.

4. Aos 12 Anos, não há Indícios de Irmãos na Festa da Páscoa

Quando Jesus foi a festa da Páscoa em Jerusalém, com a idade de 12 anos (Lc 2,41-51), não se menciona a existência de outros filhos, embora toda a família tivesse peregrinado junto durante uns 15 dias. Ora, Maria e José não poderiam ter deixado em casa, por tanto tempo, filhos tão pequenos.

Então, quem Seriam os “Irmãos” de Jesus?

Há vários textos no NT que mencionam os “irmãos de Jesus”: Mt 12,46-50; 13,55; Mc 3,31-35; Lc 8,19-21; Jo 2,12; 7,2-10; At 1,14; Gl 1,19; 1Cor 9,5. Vejamos, por exemplo, Mc 6,3:

“Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?”

A expressão “irmãos de Jesus” foi concebida, não em ambiente grego, mas no mundo semita, onde a língua falada era o aramaico. Ora, em aramaico (e também em hebraico), a palavra “irmãos” (se escreve “ah”), designa não somente os filhos dos mesmos pais, mas também, os primos ou até parentes mais remotos. No AT há 20 passagens que atestam o amplo significado da palavra “irmão”. Vejamos alguns exemplos:

Primeiro Exemplo:

Gn 11,27: “Taré gerou Abrão, Nacor e Arã. Arã gerou Ló.”

Logo, Ló é sobrinho de Abrão, como confirma Gn 12,5: “Abrão tomou sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, …”. Vejamos agora o que diz Gn 13,8:

“Abrão disse a Ló: Que não haja discórdia entre mim e ti, … , pois somos IRMÃOS.”

Segundo Exemplo:

1Cr 23,21-23: “Os filhos de Merari foram Moholo e Musi. Os filhos de Moholi foram Eleázaro e Cis. Eleázaro morreu sem ter filhos, mas apenas filhas. Os filhos de Cis, SEUS IRMÃOS, as tomaram por mulheres.”

Ora, como Eleázaro e Cis eram verdadeiros irmãos, então os filhos de Cis não eram irmãos das filhas de Eleázaro, mas sim primos. No entanto, a Bíblia utiliza o conceito amplo da palavra “ah” para chamá-los de irmãos, embora fossem primos.

Terceiro Exemplo:

Gn 29,15: “Então Labão disse a Jacó: Por seres meu IRMÃO, irás servir-me de graça?”

Seria Labão irmão de Jacó? Não! Era seu tio. Confira:

Gn 29,10: “Logo que Jacó viu Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, aproximou-se…”

Leia também: 1Cr 15,4-10.

Em conclusão, o uso dos termos “irmãos e irmãs” de Jesus, na verdade, designam simplesmente que se trata de parentes de Jesus, pois o termo hebraico “ah” (traduzido por “irmão”) possui este sentido amplo. Portanto, não eram filhos de Maria, mas sim parentes de Jesus, provavelmente seus primos ou filhos do viúvo José.

Mas o NT foi Escrito em Grego e não em Aramaico. E aí?

Em grego existem palavras definidas para irmão (ADELPHOS) e primo (ANEPSIOS). Paulo conhecia muito bem o grego pois chegou a discursar com muita eloquência num aerópago grego. Certamente, os autores sagrados conheciam muito bem as palavras ADELPHOS e ANEPSIOS. Inclusive, Paulo chegou a usar o termo ANEPSIOS (primo) em Cl 4,10:

“Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o PRIMO de Barnabé”

E ainda: “Saudai a Herodião, meu PARENTE” (Rm 16,11)

O mesmo se pode dizer do livro de Tobias, escrito em grego: “Como este jovem é parecido com meu PRIMO” (Tb 7,2)

Portanto, se os “irmão do Senhor” fossem primos de Jesus, ao escrever o NT em grego, os autores sagrados usariam a palavra ANEPSIOS (primo), e não ADELPHOS (irmão). Porém, o NT sempre se refere aos “irmãos do Senhor” usando o termo ADELPHOS (irmão) e nunca ANEPSIOS (primo).

O que dizer?

Ocorre que os escritores sagrados quiseram preservar o sabor semítico da palavra aramaica “ah” (“irmão” para qualquer grau de parentesco próximo) ao fazer a tradução para o grego. A expressão semita “irmãos do Senhor” já era muito usual entre os cristãos (como demonstra as várias inserções no NT) e os apóstolos quiseram preservá-la, pois “ah” é diretamente traduzido para o grego por “ADELPHOS”. Um contexto, portanto, bem diferente das passagens de Paulo e Tobias acima citadas, pois nestes casos Paulo e Tobias não estavam traduzindo um termo hebraico para o grego. Esta preservação do aramaico ou do sabor semita na tradução para o grego ocorre também em outras passagens do NT. Vejamos algumas:

– Pedro, em algumas passagens é chamado pelo nome CEFAS (pedra em aramaico), preservando assim o sabor semita com que os discípulos se acostumaram a chamar Pedro.

– Lc 14,26: “Se alguém vem a mim e não ODEIA seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs, sim, até a própria vida, não pode ser meu discípulos”

Teria Jesus pregado o odio? Óbvio que não! Ocorre que o aramaico não tem estruturas de comparação, tipo “amar mais” ou “amar menos”. Jesus, portanto, usou o vocábulo aramaico que traz a idéia de “amar menos” (ou seja, o mesmo que é traduzido por “odiar”), e que foi traduzido para o grego mantendo o sabor semita. Lucas podia usar a estrutura grega correspondente a “amar menos”, mas tal como no caso dos “irmãos do Senhor”, optou por manter o sabor semita do ensinamento, embora houvesse no grego termos mais apropriados.

– São Paulo cita Ml 1,2-3: “Eu amei Jacó e ODIEI Esaú” (Rm 9,13).

Obviamente, a tradução correta seria: “Eu amei mais a Jacó do que a Esaú”. Porém, Paulo mantêm o semitismo, embora o grego em que escreveu lhe proporcionasse termos mais adequados.

– Em várias passagens, São Paulo frequentemente faz uso do termo grego “dikaiosyne” não na forma estrita utilizada pelo sentido grego, mas na forma ampla do sentido hebraico de “sedaqah”.

– Lucas utiliza com freqüência o aditivo “kai” (“e”, em português), que reflete o aditivo hebraico “wau”. Ex: Lc 5,1 “… E ele se encontrava de pé …”. A palavra “e” poderia existir no hebraico, mas não no grego, nem mesmo no aramaico. Lucas nos diz que tomou grande cuidado, conversou com testemunhas oculares e checou relatos escritos sobre Jesus. Estes relatos escritos poderiam estar em grego, hebraico ou aramaico. Estas estranhas estruturas usada por Lucas em alguns pontos parece demonstrar que ele usou, em certos momentos, documentos hebraicos e os traduziu com extremo cuidado, tão extremo a ponto de manter a estrutura hebraica no texto grego. Lucas sabia como escrever em grego culto, como demonstra certas passagens. Mas por que escreveu assim? Certamente por causa de seu extremo cuidado, para ser fiel aos textos originais que usava.

Há muitos outros lugares no NT onde devemos considerar o fundamento hebraico para obter o sentido correto do grego. Demos apenas alguns exemplos que são suficientes para mostrar como os escritores do NT escreveram em grego mantendo o sabor semita das expressões, embora o grego tivesse estruturas e vocábulos mais apropriados, tais como “primos” em lugar de “irmãos”.

Em acréscimo, podemos observar que quando o AT foi traduzido para o grego (versão dos Setenta), alguns séculos antes de Cristo, o termo aramaico “ah” sempre foi traduzido para o grego ADELPHOS (irmão), mesmo quando era evidente que não se tratava de filhos da mesma mãe, mas sim de parentes próximos. Por exemplo, conforme visto acima, em Gn 13,8 “ah” deveria ser traduzido para o grego correspondente a “parentes” (tio e sobrinho), mas preservou-se o sabor semita “irmãos”. Portanto, não se deve admirar o fato do hagiógrafo do NT manter o sabor semita do vocábulo “ah” referente aos parentes, pois este também foi o critério usado na tradução do AT, alguns séculos antes de Cristo nascer. O linguajar grego da Versão dos Setenta, que conservava seu fundo semita, influiu profundamente na linguagem dos escritores do NT, familiarizados que estavam com a tradução dos Setenta. E quando se traduz a Bíblia para as línguas modernas, português, inglês, etc., o termo correspondente a “irmão” também é mantido mesmo nos casos onde é evidente que não se tratam de filhos dos mesmos pais, mas sim de parentes.

Mas o Profético Salmo 68 Afirma: “os filhos de sua mãe”!

O Salmo 68 é um salmo profético, pois o versículo 10 é aplicado à Jesus pelos discípulos em Jo 2,17: “O zelo pela tua casa me consumiu”. Dessa forma, se o versículo 10 foi aplicado a Jesus, muitos sugerem que o versículo 9 também deve ser aplicado, pois está adjacente ao versículo 10. Vejamos o que diz o versículo 9:

“Tornei-me um estranho para meus irmãos, um desconhecido para os filhos de minha mãe.”

Observe: “para os filhos de minha mãe”! Daí muitos concluem que Maria teve outros filhos além de Jesus.

O que dizer?

Ocorre, porém, que dado um contexto que contenha um versículo profético, se é verdade que todos os versículos deste contexto sejam todos igualmente proféticos, então o versículo 6 deste Salmo também deveria ser profético e aplicado a Jesus, pois pertence ao mesmo contexto dos versículos 9 e 10. Mas o que diz o versículo 6 ?

“Vós conheceis, ó Deus, a minha insipiência, e minhas faltas não vos são ocultas.” (Sl 68,6)

No salmo 68, o sujeito dos versículos 9 e 10 é o mesmo sujeito do versículo 6. Se o versículo 9 deve ser aplicado a Jesus porque o versículo 10 foi, então o versículo 6 também teria que ser, pois pertencem ao mesmo contexto. Mas o versículo 6 é a confissão de um sujeito insipiente e pecador. Porém, o NT nos garante que Jesus jamais cometeu um pecado (Jo 8,46; Hb 4,15; 1Pd 2,22; Is 53,9; 1Jo 3,5). Logo, concluímos que se um versículo do At for aplicável a Jesus (ou a alguém ou a algum fato do NT) não significa que todo os versículos adjacentes a ele (ou todo o contexto onde ele está inserido), também sejam obrigatoriamente proféticos e igualmente aplicáveis. No caso citado, o versículo 10 é aplicado a Jesus, mas os versículos 6 e 9, não.

Em acréscimo, observe o versículo 22 deste mesmo salmo. Ele também é profético e aplicado a Jesus (Mt 27,34; Jo 19,29). Igualmente os versículos 23, 24 e 26 são todos proféticos. Porém, enquanto o 23 e 24 são aplicado a Israel (Rm 11,9s), o versículo 26 é aplicado a Judas (At 1,20). Isto também comprova que os versículos são aplicados a sujeitos distintos sem qualquer vínculo com o contexto onde se encontra. E ainda, neste mesmo contexto, observe como os versículos 25, 28 e 29 destoam profundamente de Lc 23,34. Novamente observamos que não é porque alguns versículos são proféticos e aplicáveis ao NT que todos os versículos adjacentes o devem ser. Portanto, o versículo do Sl 68,9 não garante que Maria tenha tido outros filhos.

Respondendo às Objeções Protestantes

A Bíblia diz: “Até que…” (Mt 1,25)

“José não conheceu Maria (= não teve relações com Maria) ATÉ QUE ela desse à luz um filho (Jesus)”.

Significa isto que, depois de ter dado à luz a Jesus, Maria teve relações conjugais com José?

Não necessariamente. A expressão “até que” corresponde ao grego “heos hou” e ao hebraico “ad ki”. Esta partícula designa apenas o que se deu (ou não se deu) no passado, sem indicação do que havia de acontecer no futuro. Ou seja, a passagem quer afirmar que Jesus nasceu sem que José e Maria tivessem relações. O termo grego “heos hou” (“até que”) nada insinua se depois que Jesus nasceu houve ou não relação entre Maria e José, mas simplesmente relata algo que ocorreu no passado, no caso, Mateus quis relatar o fato extraordinário de que Jesus nasceu estando sua mãe virgem. Vejamos diversos casos semelhantes:

2Sm 6,23: “Micol, filha de Saul, não teve filhos ATÉ a morte.” Não significa que, após morrer, tenha tido filhos.

Sl 109,1: Deus Pai convida o Messias a sentar-se à sua direita ATÉ QUE Ele faça dos seus inimigos o escabêlo dos seus pés. Isto não significa que, após vencidos os inimigos, o Messias deixará de se assentar à direita do Pai.

Gn 28,15: “Diz o Senhor a Jacó: Não te abandonarei ATÉ QUE eu tenha realizado o que te prometi.” Certamente Deus não abandonou Jacó depois de cumprir as suas promessas.

Dt 34,6: Moisés foi enterrado “e ATÉ hoje ninguém sabe onde se encontra sua sepultura”. Isto era verdade no dia em que o autor do Deuteronômio relatou o fato; e continua sendo verdade ainda hoje.

1Tm 4,13: O Apóstolo pede para que Timóteo se devote à leitura, exortação e ensinamento “ATÉ eu (Paulo) chegar”. Isso não quer dizer que Timóteo deveria parar de fazer tais coisas após a chegada de Paulo.

Mt 13,33: “O reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que [heos hou] tudo esteja levedado.” Isso não quer dizer que depois que levedou ja não havia mais 3 medidas de farinha.

Mt 26,36: “Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto [heos hou] vou além orar.” Observe que Jesus ordena para que os discípulos esperem sentados. Isto não significa que, ao retornar da oração, eles deveriam novamente se levantar. Não! Quando Jesus voltasse, eles poderiam permanecer sentados conversando, ou irem durmir ou se levantarem. Observe como o HEOS HOU nada nos informa sobre o estado futuro.

Lc 24,49: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que [heos hou] do alto sejais revestidos de poder.” Quer dizer que, após Pentecostes, todos os apóstolos saíram de Jerusalém? De modo algum. Observe como HEOS HOU refere-se apenas ao passado, sem nada indicar sobre o futuro. A ordem de Jesus era para que antes de Pentecostes não saíssem de Jerusalém de modo algum. Depois, pouco lhe importa se permaneceriam ou se sairiam dali.

Alguns protestantes, porém, ainda contra-argumentam afirmando que no período entre 100 AC e 100 DC (época em que o NT foi escrito), a partícula “até que” (HEOS HOU, em grego) não era usada sem fazer referências ao futuro. Este argumento também é falso. Podemos citar, por exemplo, um escrito da época citada que diz:

“E Aseneth foi deixada com as sete virgens, e continuou a ser oprimida e a chorar ATÉ (HEOS HOU) o sol se pôr. E não comeu pão nem bebeu água. E a noite veio, e todos da casa dormiram, e somente ela estava acordada, continuando a se desesperar e a chorar.”

Fonte: História “Joseph e Aneseth” de C. Burchard, que pode ser encontrada em Old Testament Pseudepigrapha. Vol. 2, Expansions of the Old Testament and Legends, Wisdom and Philosophical Literature, Prayers, Psalms, and Odes, Fragments of Lost Judeo-Hellenistic Works, ed. James H.Charlesworth, p. 215. New York: Doubleday, 1985.

Notamos pelo contexto que Aneseth chorou até o pôr do sol, mas que ela continuou a chorar pela noite. Eis um caso clássico, da época de Cristo, onde “heos hou” não implica em mudança de ação futura, pois o próprio contexto não dá margem a qualquer outra possibilidade. Portanto, ou “heos hou” termina o ato, ou o continua. Neste exemplo ele certamente não terminou o ato, senão é fato que Aneseth deveria ter parado de chorar, e não continuado, depois que o sol se pôs.

Todos esses exemplos são casos em que se faz referência ao passado, sem referências do futuro. Essa locução era frequente entre os semitas e foi usada em Mt 1,25. A tradução mais clara deste versículo seria “Sem que José tivesse tido relações com Maria, ela deu à luz um filho”.

Se Jesus era o Primogênito, então foi o Primeiro de outros Filhos

Lc 2,7: “Maria deu à luz o seu filho primogênito”

Literalmente, “primogênito” é o primeiro filho, independente de haver ou não um segundo filho. Em hebrico “bekor” (primogênito) podia designar simplesmente “o bem-amado”, pois o primogênito é certamente aquele dos filhos no qual durante certo tempo se concentra todo o amor dos pais. Além disto, os hebreus julgavam o primogênito como alvo de especial amor de Deus, pois devia ser consagrado ao Senhor (Lc 2,22; Ex 13,2; 34,19).

A palavra “primogênito” podia mesmo ser sinônima de “unigênito” (único filho), pois um e outro vocábulos na mentalidade semita designam “o bem-amado”. Veja, por exemplo, Zc 12,10:

“Quanto àquele que transpassaram, irão chorá-lo como se chora um filho unigênito; irão chorá-lo amargamente como se chora um primogênito”

Da mesma forma, Maquir que é o único filho de Manassés é chamado de “primogênito” em Jos 17,1. A descendência de Manassés é descrita em Nm 26,29-34.

Observe como “primogênito” refere-se apenas a condição do primeiro filho, sem nada afirmar sobre outros filhos:

Ex 13,2: “Consagra-me todo primogênito, todo o que abre o útero materno entre os filhos de Israel. Homem ou animal será meu.”

Ex 34,19: “Todo o que sair por primeiro do seio materno será meu: Todo macho, todo primogênito das tuas ovelhas e do teu gado.”

Lc 2,23: “Todo macho que abre o útero será consagrado ao Senhor”

Numa inscrição sepulcral judaica datada de 5 AC e descoberta em Tell-el-Yedouhieh (Egito), em 1922, lê-se que uma jovem chamada Arsinoé MORREU “nas dores do parto do seu filho primogênito”. Ora, se ela morreu, então não teve outros filhos além do filho dito “primogênito”. E mais ainda: no apócrifo “Antiguidades Bíblicas”, a filha de Jefté (Jz 11,29-39) ora é dita primogênita (primeira filha), ora é dita unigênita (única filha). Portanto, embora fosse a única filha, também era chamada de primogênita.

E para confirmar definitivamente que o primogênito não necessariamente têm outros irmãos, São Jerônimo apresenta Lc 2,22-24 que diz:

“Concluídos os dias da sua purificação, de acordo com a lei de Moisés, eles o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor [como está prescrito na lei do Senhor, todo macho que abre o útero deve ser consagrado ao Senhor] e para oferecer em sacrifício de acordo com o que é prescrito na lei do Senhor, um par de rolinhas ou duas pombas novas”

Como não havia tempo suficiente, até o dia da sua purificação, para Maria conceber novamente, é certo que Jesus foi consagrado ao Senhor (lei da primogenitura) antes de ter qualquer irmão. Ora, se o primogênito fosse restrito àqueles que possuem irmãos, ninguém estaria sujeito a lei da primogenitura, enquanto não nascesse seu irmão. Mas visto que, o primeiro filho (que ainda não tem irmãos mais novos), poucos dias depois de nascer já é sujeito à lei da primogênitura, deduzimos que é chamado primogênito aquele que abre o útero da mãe e que não foi precedido por ninguém, e não aquele cujo nascimento foi seguido por outro de irmão mais novo.

Vimos, portanto, que o primeiro filho homem será consagrado a Deus. Este é o primogênito. Mesmo que não seja o primeiro filho, mas se for o primeiro filho homem, ele é o primogênito. E, se for o único filho, ele também é o primogênito porque foi o primeiro e único. Enfim, o termo “primogênito” possui o mesmo modo de falar de Mt 1,25: “primogênito” vem a ser apenas o filho antes do qual não houve outro, não necessariamente aquele após o qual houve outros.

Para encerrar, lembraremos o que professava a fé dos Reformadores Protestantes

Martinho Lutero:

Sobre Mt 1,25: “Destas palavras não se pode concluir que após o parto, Maria tenha tido consórcio conjugal. Não se deve crer nem dizer isso.” (Obras de Lutero Ed. Weimar, Tomo 11, p.323)

No fim de sua Vida: “Virgem antes, no, e depois do parto, que está grávida e dá a luz. Este artigo da fé é milagre divino.” (Sermão Natal 1540: WA 49,182)

João Calvino:

“Jesus é dito primogênito unicamente para que saibamos que Ele nasceu da Virgem” (CO 45,645)

“Certas pessoas têm desejado sugerir desta passagem [Mt 1,25] que a Virgem Maria teve outros filhos além do Filho de Deus, e que José teve relacionamento íntimo com ela depois. Mas que estupidez! O escritor do evangelho não desejava registrar o que poderia acontecer mais tarde; ele simplesmente queria deixar bem clara a obediência de José e também desejava mostrar que José tinha sido bom e verdadeiramente acreditava que Deus enviara seu anjo a Maria. Portanto, ele jamais teve relações com Maria, mas somente compartilhou de sua companhia… Além disso, N.Sr. Jesus Cristo é chamado o primogênito. Isto não é porque teria que haver um segundo ou terceiro [filho], mas porque o escritor do Evangelho está se referindo à precedência. Assim, a Escritura está falando sobre a titularidade do primogênito e não sobre a questão de ter havido qualquer segundo [filho]” (Sermão sobre Mateus, 1562).

Zvínglio:

“Creio firmemente que, segundo o Evangelho, Maria, como Virgem pura, gerou o Filho de Deus e no parto e após o parto permaneceu para sempre Virgem pura e íntegra.” (Zvínglio Opera 1,424)

“Os irmãos do Senhor eram os amigos do Senhor” (ZO 1,401)

Fonte: Cláudio Pinto – Sites Veritatis Splendor / Agnus Dei / Escritos de Dom Estevão Bettencourt.

Artigos

Mas você sabe o que está dizendo quando louva Maria?

Você já ouviu gente dizendo “Ave Maria cheia de “graçassssss”? Talvez achem que, acrescentando um “s”, estão acrescentando graças a Maria. Na verdade,apesar de sua boa vontade, estão diminuindo o fato de que Maria é plena, repleta da presença de Deus e a presença de Deus não se divide em partes que se posam contar no singular ou plural.

Outro costume engraçado é quando se intercede pelas ofensas, como se elas fossem capazes de agir por si mesmas. É quando se diz, no Pai Nosso, “perdoai as nossas ofensas”, como se diria “perdoai meu irmão, meu pai, minha mãe”. Na verdade, somos nós, os pecadores, que precisamos de perdão e não as ofensas. Elas não fizeram nada. Fomos nós que fizemos. Porém, para que isso fique claro, deveríamos dizer “perdoai-nos as nossas ofensas”.

Talvez nenhuma oração seja tão pouco compreendida como a Salve Ó Rainha, nome original da prece agora mais conhecida como “Salve Rainha”. No tempo em que São Bernardo compôs esta belíssima oração, era necessário colocar-se o “Ó” para honrar os reis e rainhas. Também naquele tempo – e ainda hoje – ser rei ou rainha significava ser o mais alto, belo e perfeito que alguém pudesse conceber. Ninguém chegava aos pés de um rei ou rainha. Por isso o vocativo “Ó”. Por isso, também, o “Salve” reverente, a saudação utilizada na época para os reis.

Nossa Rainha é também “Mãe de Misericórdia”. Isso mesmo, não “da misericórdia”, mas “de misericórdia”, que significa que ela, além de Rainha, é Mãe. Mãe de Jesus, e portanto Mãe de Deus e nossa Mãe. Nela, misticamente, fomos e somos continuamente gerados como Igreja, como filhos de Deus, como irmãos de Jesus Cristo.

Esta Mãe não é, porém, uma mera geratriz. Ela é cheia de misericórdia. Como toda boa mãe, a misericórdia, isto é, o perdão irrestrito, o interesse absoluto por nossas necessidades, a união com nossos corações, o incentivo a recomeçar sempre enchem seu coração sem deixar espaço para nenhuma mesquinhez.

É por isso que ela é “vida, doçura, esperança nossa”. Como dizem São Luis Grignon de Montfort e São Bernardo de Claraval, nas nossas situações mais difíceis e ainda que nada tenhamos para oferecer a Deus, podemos contar com a doçura de Maria, a nos apresentar ao Senhor que, ao ver quem nos apresenta, nem presta atenção às nossas faltas e feiúra tamanha é a perfeição e beleza daquela que nos apresenta e atrai seu olhar. Ela se torna, assim, nossa esperança e nossa vida unida a Cristo neste mundo e no outro. Vida eterna – Porta do Céu; doçura eterna – intercessora; esperança – gerada pela Mãe de Misericórdia, que jamais desiste de nós.

E o clamor dos degredados? É preciso lembrar. Nós, certamente, somos “degradados” pelo pecado que nos degradou e por nossa culpa em praticá-lo. No entanto, na “Salve Ó Rainha”, somos “degredados filhos de Eva”, isto é, enquanto vivermos aqui na terra, estamos em situação de “degredo”: ainda prisioneiros do pecado de Eva e fora da nossa pátria verdadeira que é o céu. Você se lembra quando o rei de Portugal, na época de nossa colonização enviou para cá os degredados? Pois é. Eram os prisioneiros expatriados dos quais Portugal se via livre enviando-os para a colônia além mar. Como estes, nós também estamos sofrendo o degredo. Por isso clamamos – não somente pedimos, mas clamamos, pois, como degredados, estamos em situação dificílima e nada podemos fazer por nós próprios. Clamamos à Rainha a misericórdia da Mãe, para que ela, Nova Eva, nos conduza ao céu.

Do clamor, passamos ao suspiro com gemidos e choro: “a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. O suspiro evoca a saudade do céu, o desejo de estar lá. Enquanto estamos aqui na terra, estamos como que em um vale cercado de montanhas e inundado de lágrimas, pois nela somos prisioneiros do pecado e do sofrimento que o pecado provoca. São o sofrimento e o pecado que nos fazem gemer e chorar nossa condição, da qual não temos como sair sem a ajuda de Maria que nos conduz à salvação conquistada por Jesus.

E o “Eia pois”? É português antigo. Hoje, talvez disséssemos: “É por isso”, ou “E então Advogada nossa”. Esta expressão é uma introdução ao que vamos realmente pedir. Até agora, saudamos a Rainha, louvamos suas virtudes e atributos e colocamos diante dela nossa situação de degredo e sofrimento. Neste ponto, dizemos que “por isso”, “diante dessa situação”, nós a constituímos nossa Advogada, isto é, alguém que fala em nosso nome, alguém que nos defende diante de Deus que é misericórdia, mas também justiça. E o que pedimos à nossa Advogada?

Primeiro, que olhe para nós: “Vossos olhos misericordiosos a nós volvei”. Que volte para nós seu rosto, seu olhar cheio de misericórdia. Em segundo lugar, que nos mostre Jesus depois de nosso degredo, de nosso desterro nesta terra, isto é, por ocasião de nossa morte: “e depois deste desterro, mostrai-nos Jesus”. Em outras palavras, estamos pedindo a Nossa Senhora que olhe para nós com misericórdia e nos leve ao Céu, que nos apresente a Jesus, que não nos deixe sozinhos no juízo, que esteja conosco na hora de nossa morte.

Ao falar de Jesus, que é o grande alvo desta oração tão bela, lembra-se a Maria quem Ele é: o bendito fruto do seu ventre. “mostrai-nos Jesus, bendito fruto do Vosso ventre”. (Aqui tem gente com mania de dizer “bendito é o fruto”, mas isso é dito na “Ave Maria” e não na “Salve Ó Rainha”.) Qual a mãe que não se derrete ao ouvir o nome do filho, especialmente quando é lembrada de sua gestação e, no caso de Maria, gestação milagrosa e felicíssima?

No final da oração, dizemos a Maria o que esperamos dela: clemência, isso é, misericórdia por ocasião do julgamento. Dizemos também porque esperamos dela esta clemência: porque ela é piedosa – isto é, íntima, amiga de Deus. Voltamos, então ao atributo de doçura, a que já nos havíamos referido antes com relação à apresentação que Maria faz a Deus de nossas necessidades: “ó clemente, ó piedosa, ó doce”.

Por fim, lembramos a Maria que Deus a preservou do pecado em sua alma e manteve a integridade do seu corpo de forma excepcional. Sua virgindade corporal antes, durante e depois do parto é sinal de sua concepção sem pecado: “sempre-virgem Maria”. Nossa Mãe e Rainha, como fez no Magnificat, se agrada de cantar conosco as maravilhas que Deus fez nela.

Que tal rezar agora, em homenagem à Rainha  uma “Salve Ó Rainha” bem rezada, sabendo o que estamos dizendo?

Fonte: Comunidade Shalom