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Uma pequena gota de Maria

– Fui pastor pentecostal durante 25 anos. E digo a vocês que uma pequena gota de Maria fez mais por mim do que 25 anos como pastor. Maria é a nitroglicerina, a dinamite de Deus. Por isso me prostro diante de Jesus em Maria. Não tenho vergonha de me ajoelhar diante de uma imagem de Maria porque ela tem a plenitude do Espírito Santo. Não adoro as imagens nem os ícones, mas eles me colocam diante da realidade que representam.

Maria é a plenitude da graça. Ninguém é mais cheia do Espírito do que ela. Não é magnífico que ela seja nossa mãe? E o Espírito Santo quer brotar do mais profundo do nosso ser para invadir toda a nossa vida, ultrapassá-la e ir ao mundo inteiro. Quer que nós, como Maria, sejamos instrumentos da evangelização. Quando Deus tem um projeto muito difícil de evangelização, quando encontra um povo ou um país muito endurecido, Ele envia a evangelizadora mais eficaz: Maria. Eu sou um exemplo de pessoa com o coração muito duro, muito difícil, muito anticatólico. Mas uma só gota de Maria me transformou e me tornei católico.

O Pai-nosso

A oração é importante. São Paulo disse: “Rezo com meu espírito e com minha inteligência”. Jesus rezou com sua inteligência, com palavras compreensíveis e nos deu uma oração que Ele mesmo criou: o Pai-nosso. Quando rezamos essa oração, ela influencia nossa inteligência, que necessita de cura.

Certo dia, me perguntei se Maria rezava por Jesus. Será que Ele tinha necessidade de oração? Creio que sim. Creio que houve uma oração muito simples que Ele fez – é minha opinião, não é um dogma da Igreja. E acredito que a oração de Jesus começou com Maria. Quando eu era pequeno, minha mãe sempre me falava do meu nascimento. Ela dizia: “Richard, eu te adotei quando tua mãe te rejeitou. Eu te escolhi. Tu estavas doente, para morrer, mas ainda assim eu te escolhi”.

Vou interromper um pouco meu pensamento sobre a oração do coração para falar sobre o sofrimento. No verão passado, fui a Paray-le-Monial e em um dos dias, durante o dia inteiro, rezávamos pelos enfermos. Depois de todo esse dia de oração, à noite tivemos apenas dois testemunhos: o de minha esposa e o meu. Ela testemunhou a cura milagrosa de seus olhos quando encontrou Jesus. E eu testemunhei sobre o meu encontro com Jesus e sobre como continuo doente – estou doente praticamente todo o tempo. Há 30 anos tenho um mal físico e todo mundo já rezou por mim, mas não fui curado ainda. Porque nem todas as pessoas são curadas. Mas isso não muda nossa fé em Jesus. Ele não nos prometeu nos curar a todos, mas estar sempre conosco.

Então, durante esse dia de oração pelos enfermos em Paray-le-Monial, aproximei-me de uma menina de 8 anos numa cadeira de rodas – Ela se chama Clotilde; é paralítica, suas mãos são dobradas, não fala e quase não vê mais; acho que reconhece um pouco a voz das pessoas, quando ouve minha voz, se mexe um pouco. Ajoelhei-me ao lado de Clotilde e impus minhas mãos sobre ela e passei ali 15 minutos. É muito tempo para ficar com uma só pessoa quando se tem 4 mil pessoas para rezar. E quando me levantei alguém me disse que sou muito gentil por rezar tanto tempo por uma pessoa. E eu disse: “Você não entendeu, não sou eu que rezo por ela, é ela que reza por mim”.

Muitas vezes, aqueles que sofrem têm muito mais compaixão que os sãos. Gosto muito de pedir às pessoas que sofrem que rezem por mim. Se você conhece alguém que está sofrendo, em vez de ir rezar por ele, peça-lhe que reze por você, porque é a compaixão que toca.

Então, retomando meu pensamento, quando eu era pequeno, minha mãe me explicou como eu tinha sido doente na minha infância e como me escolheu mesmo assim. E me dizia: “Richard, você vai fazer grandes coisas neste mundo. E se você tiver dúvida do seu grande valor, lembre-se do preço que paguei por você. Eu poderia ter pego uma criança com saúde boa, mas escolhi você e não foi fácil cuidar de você porque você estava sempre doente”. E me explicava a minha origem.

Acho que aconteceu o mesmo na família de Nazaré. Jesus era um menininho como os outros, que corria, brincava, pulava, rolava no chão… E, certamente, muitas vezes Maria lhe explicava sua origem: “Um dia, aquele anjo enorme veio falar comigo. O nome dele era Gabriel. Ele brilhava como o sol e tinha duas asas enormes nas costas e era lindo, meio transparente, os olhos como o sol. E ele me disse: ‘Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo. Tu és bendita entre todas as mulheres e teu filho será bendito’.”

É muito fácil compreender como uma mãe explica a seu filho de onde ele veio. E creio que essa é a origem da primeira oração de Jesus. Maria trabalhava muito em casa, em Nazaré. Eles eram pobres, não tinham muitas coisas. Tinham aqueles presentes que os magos lhes tinham dado, mas provavelmente gastaram quando estiveram refugiados no Egito. São José era carpinteiro, trabalhava muito para a família, mas viviam muito simplesmente.

Então Maria tinha muito trabalho em casa, tinha que varrer a casa, preparar o alimento, lavar a louça… e Jesus criança corria para lá e para cá em casa e puxava o vestido de Maria. Como ela estava muito ocupada, não se virava logo para Ele. Mas Jesus sabia muito bem como chamar a atenção de sua mãe: olhava bem nos olhos dela e dizia: “Ave, Maria, cheia de graça. Eu, Jesus, estou contigo, você é bendita entre todas as mulheres e eu, Jesus, teu filho, também sou bendito. Santa Maria, mãe de Deus, reza por mim e pelo papai José, pela prima Isabel, pelo priminho João Batista e por todo mundo, agora e na hora de nossa morte. Amém”. Isso é possível que tenha acontecido.

O rosário

Essa oração nos remete ao rosário. É magnífica a oração do rosário! Ela começa como uma oração da nossa inteligência, depois se torna uma oração do coração. Como o Pai-nosso é uma oração com a nossa inteligência, que depois se torna uma oração do coração. Há muitos tipos de oração do coração e é o Espírito Santo que nos ajuda a rezar. Porque Ele mora no nosso coração. É por isso que às vezes rezamos com a mão no coração, essa morada de Deus em nós.

Oração com o corpo

Além do Pai-nosso e do rosário, outro tipo de oração do coração é o movimento do corpo, que corresponde ao movimento do Espírito Santo dentro do coração. É isso o que chamo de adoração corporal, ou seja, o corpo que adora através do movimento. Está escrito que Davi rodopiava com toda energia diante da Arca da Aliança. Maria é a Arca da Aliança. E quando estou diante da Arca da Aliança que é Jesus, também rodo. E quando rodopio, é como se eu entrasse na profundidade do meu coração. E muitas vezes, quando você louva o Senhor com sua inteligência, vai ter vontade de louvá-lo com o corpo, o movimento que vem do Espírito Santo no coração e se torna movimento do corpo.

Quando éramos pequenos, todos dançávamos, nos mexíamos. Podemos dizer que quando criança, o coração dirige o corpo, não temos restrições intelectuais. Um amor tão intenso pelo Espírito Santo liberta nosso corpo e nos “devolve” esse movimento do corpo como uma oração do coração.

Tenho uma cunhada que se chama Suzana. Um dia fomos apanhá-la no aeroporto e percebi que ela desceu do avião toda encurvada. Perguntei à minha esposa como era a Suzana quando criança. Ela me disse que a Suzana era cheia de vida, cheia de alegria, dançava muito, se mexia muito e adorava escrever seu nome em todo lugar. E um dia ela entrou no quarto recém-pintado e, com uma salsicha, escreveu seu nome nas paredes recém-pintadas. Ela tinha muita parresia, audácia, energia de viver. Não era bloqueada por sua inteligência. Tinha um coração de criança. Quando os pais chegaram, perguntaram quem fez isso. E ela, morrendo de medo, disse que não tinha sido ela, mas estava assinado seu nome lá e deram-lhe uma surra. Depois vieram muitas outras surras. Após tantas punições, a Suzana cheia de vida tornou-se encurvada. No entanto, ela era cristã, acreditava no poder do Espírito, era fiel à Igreja. Então, por que estava encurvada?

Na França, era ensinado que o corpo é um perigo. Que é preciso dominá-lo pela inteligência e, sobretudo, não se deve exprimir alegria em público. Então, infelizmente, mesmo os cristãos carismáticos parecem tristes. Mas tive uma idéia. Eu pensei: “É capaz da Suzana ter necessidade de escrever seu nome em algum lugar”, então lhe disse: “Suzana, o único lugar que é realmente meu nessa casa é o meu escritório. Quero te fazer uma proposta, tu podes escolher a tinta na tua cor predileta e te deixo escrever o teu nome no teto do meu escritório”.

O Senhor nos criou para que nosso nome esteja escrito nas paredes da história. Ele quer que a história se lembre do que você fez por Jesus nessa vida. Deus quer que muitas pessoas sejam tocadas pelo amor de Deus através de você.

Então ela escolheu a tinta vermelha, dei-lhe um pincel, deixei-a no meu escritório e fiquei imaginando como ela escreveria: pequeno, grande? Ela estava sempre encurvada, queria desaparecer, não ser vista pelas pessoas; tinham lhe dito que ela não tinha nenhum valor… Dez minutos depois abri a porta e lá estava seu nome escrito, grande. E alguma coisa mudou na vida de Suzana. Ela se abriu de maneira nova e vi a mudança na sua vida. E depois disso, eu sempre dizia nos encontros em que pregava: “Dêem uma parede da casa de vocês para seus filhos escreverem, desenharem, fazerem o que quiserem. Quando crescerem, talvez se encontrem em algum momento desencorajados, então vocês podem lhes mostrar a parede e lhes dizer: ‘Vocês são assim’. E quando se mudarem, levem a parede para mostrar a seus filhos quando precisarem de um estímulo”.

Aconteceu que tive de me mudar. E fiquei no dilema sobre levar o teto com o nome de Suzana. Eu pensava: “Quando Suzana estiver triste, vou precisar mostrar esse teto a ela e dizer: ‘Suzana, você é livre, o Espírito Santo habita em você. Você pode viver a alegria do Espírito. Pode ter parresia, viver a experiência de Deus em público’”. Então decidi levar o teto. Peguei uma serra e o cortei. Ficou lá um buracão e precisei de dois dias para consertar o teto.

Eu trouxe para cá o teto da Suzana e pedi a muitos irmãos da Comunidade Shalom que o assinassem e, se um dia estiverem desencorajados, lhes mandarei o teto da Suzana. O Moysés o assinou. Se um dia ele estiver desencorajado, vou dizer: “O mundo pertence a você, tenha audácia, não fique restrito a alguns países. É preciso estabelecer o Shalom no mundo inteiro. O mundo inteiro precisa deste louvor, desta alegria”.

Então, todo mundo tem que assinar os muros da história. Deus quer nos encorajar e libertar a Suzana que está em nós. Quer que sejamos brilhantes, que transpareçamos o brilho do Espírito Santo. Que ultrapassemos todas as dificuldades da vida e todos os desencorajamentos que nos assolam. Quer que sejamos instrumentos de louvor.

As línguas do Espírito

Por falar nisso, não sei como vou morrer, mas se tiver chance de escolher, quero morrer louvando o Senhor, quero estourar de louvor. Quero ser tão profundamente um instrumento de louvor que meu coração exploda. Quero ser um instrumento de louvor para a glória de Deus. Ele nos criou para louvá-lo, para amá-lo, para rezar com nossa inteligência, para rezar com nosso coração, para meditar o rosário, para louvá-lo numa língua desconhecida.

Vocês cantam no Espírito? Essas palavras maravilhosas do Espírito Santo que brotam nas nossas línguas? O Espírito Santo quer louvar a Deus em nós através da nossa língua, isso é também uma oração do coração. E essas palavras brotam quando pedimos a Jesus que nos encha do Espírito Santo. Ele disse: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba e os rios de água viva correrão do seu seio”. Do mais profundo do nosso espírito, o Espírito Santo começa a subir, subir, subir da nossa voz e nesse tempo de louvor louvamos a Deus com línguas que não entendemos intelectualmente.

É preciso deixar o Espírito Santo fluir do mais profundo do nosso ser. Deus quer nos “equipar” para a oração. Nós precisamos da oração do coração, que é o Pai-nosso, o rosário, o movimento e as línguas. Abramo-nos e peçamos ao Senhor a graça para vivermos o que Ele quer de nós!

*Palestra ministrada no Fórum Carismático Shalom 2003. Mantido o tom coloquial.

Richard Borgman

Fonte: Comunidade Shalom

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LOURDES MOSTRA QUE DEUS É PROMESSA DE VIDA

Dom Jacques Perrier fala da Jornada Mundial dos Doentes 2012

ROMA, sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) – A festa litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, neste sábado, 11 de fevereiro, coincide com a Jornada Mundial dos Enfermos. Zenit entrevistou Dom Jacques Perrier, bispo de Tarbes-Lourdes, sobre a ocasião.

João Paulo II quis que a Jornada Mundial dos Enfermos coincidisse com a festa de Nossa Senhora de Lourdes. Por que Lourdes e por que esta Jornada?

Dom Perrier: Obviamente, a criação do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde e a Jornada Mundial dos Enfermos surgiram da experiência pessoal de João Paulo II. O Santo Padre levou um longo tempo antes de retornar às atividades normais depois do atentado de 13 de maio de 1981, cujas consequências ficaram para sempre. Mas não é a única razão. João Paulo II estava convencido de que a oração e o oferecimento dos doentes tiveram um papel importante na santificação da Igreja e da evangelização. O título da sua carta apostólica Salvifici doloris é tão revelador do seu pensamento quanto provocador pela sua opinião. Em relação à escolha de Lourdes, que é conhecida pelas suas curas, ela mostra que Deus é a promessa de vida, que o desejo de curar é perfeitamente legítimo e que as atividades do pessoal de enfermagem devem ser apreciadas e apoiadas pela Igreja. Bernadette se tornou freira e foi uma excelente enfermeira, apesar da sua pouca formação inicial.

Em Lourdes, quais são as características da jornada?

Dom Perrier: O curioso é que, em 11 de fevereiro, os doentes em Lourdes são muito poucos. No inverno [europeu], os accueils [pontos de recepção] não ficam abertos. Então são os doentes e as pessoas com deficiências físicas da própria Lourdes que representam todos aqueles que vêm nos meses posteriores.

Este ano, a mensagem de Bento XVI insiste nos sacramentos da cura: pode nos falar mais sobre isto?

Dom Perrier: Desde o Concílio Vaticano II e da reforma litúrgica que ele começou, a Igreja não fala mais de “extrema unção”, com aquela carga “fúnebre” que essas palavras envolviam na mentalidade comum. Mas é um erro definir a unção dos enfermos como o “sacramento dos doentes”, como se fosse o único sacramento adequado à situação deles: a reconciliação e a eucaristia também são. A eucaristia não é o penhor da vida eterna? “Quem come deste pão viverá para sempre”.

Existe um tipo de doença particularmente difícil de acompanhar: a doença mental. O senhor recomenda os sacramentos também para essas doenças?

Dom Perrier: Sim. Por que esses doentes deveriam ser excluídos? A doença psíquica e a graça do sacramento não estão no mesmo nível. Mas o ser humano é unificado. As interações são possíveis. Mas os sacramentos de cura espiritual não eximem dos cuidados médicos, tanto físicos quanto psíquicos.

Lourdes não é só a gruta, tem os hospitais e os capelães. Quais são os desafios que os capelães hospitalares estão enfrentando hoje?

Dom Perrier:O principal desafio da nossa cultura atual é dar sentido ao sofrimento, que os avanços da medicina têm reduzido, mas não eliminado. O sofrimento é multifacetado, não é só físico. O processo que leva ao oferecimento de si mesmo é um caminho árduo. O papa João Paulo II falou disso humildemente em Lourdes no dia 15 de agosto de 1983. É uma verdadeira jornada de conversão: a oração da comunidade cristã e da comunhão dos santos deve ser solicitada.

Anita Bourdin

Fonte: Zenit.org

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O Acontecimento de Lourdes

No ano de 1858, a Imaculada Virgem Maria apareceu a Bernadete Soubirous nas cercanias de Lourdes (França), na Gruta de Massabielle. Por meio desta humilde jovem, Maria convida os pecadores à conversão, suscitando na Igreja grande zelo pela oração e pela caridade, sobretudo no que diz respeito ao serviço dos pobres e dos doentes.

Assim, resumidamente, podemos tomar parte em um dos acontecimentos mais marcantes da História da Igreja. A aparição de Nossa Senhora em Lourdes na França.

Desde esta data, milhares de pessoas têm ido até o santuário, lá edificado, a fim de ter um encontro particular com Deus através de Maria que se dignou a visitar a jovem Bernadete e indicar um caminho para a salvação do mundo.

A Igreja de Cristo, prudente e zelosa em sua tarefa, ensina que “não se há de esperar nenhuma outra Revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1Tm 6,14;Tt 2,13)”(1) e por isso mesmo, o Papa e os bispos “não reconhecem qualquer nova revelação pública como pertencente ao depósito divino da fé”(2), isto, em outras palavras, quer dizer que nada mais pode ser acrescentado àquilo que Cristo nos deixou; nada falta à Sua mensagem; portanto, qualquer aparição pública anterior a que Cristo fará em sua nova vinda, não deve ser entendida como dogma de fé, ou seja, o católico não é obrigado a crer; contudo, é convidado a respeitar e a honrar Maria com tal título, pois todas as honras prestadas à Nossa Senhora se prestam à Maria Santíssima. A Igreja não proíbe nem contesta a crença nestas aparições, desde que as mensagens ali difundidas não alterem o conjunto das verdades da fé guardado pelos Apóstolos.

As aparições de Lourdes, apesar de também não serem dogmas de fé, chamam muito a atenção do católico e da própria Igreja. A multidão que lá acorre aponta diariamente para uma certeza cada vez maior: ali se sente a presença de Deus.

Assim como em todos os santuários católicos espalhados pelo mundo, Lourdes tem os seus milhares de testemunhos que afirmam terem recebido milagres. Ora, milagre é um testemunho que Deus dá em favor de uma verdade ou de uma pessoa, como por exemplo, um testemunho a favor da Divindade de Jesus Cristo, da autenticidade de sua Igreja, da santidade de uma alma, da eficácia da oração, etc. Assim, não é “milagre” certos fatos que, embora sejam admiráveis ou estranhos como algumas curas repentinas, visões sem conteúdo doutrinário, um ou outro caso de estigmatização, não têm significado religioso, não elevam a Deus, mas, ao contrário, só servem para satisfazer ao capricho e à vaidade de alguém. Quando Deus efetua prodígios, nunca o faz por capricho ou ostentação de sua Onipotência, mas sempre a fim de chamar a atenção do homem para algum dos atributos divinos.

Diante disso, a Igreja que tem por missão apregoar a verdade, não pode divulgar um milagre que não seja milagre. Não pode chamar de “testemunho de Deus” aquilo que é apenas “caso admirável” mas sem significado religioso, sendo apenas fenômenos naturais. Por isso, a Igreja constituiu em Lourdes, há muito tempo, quatro secretarias para analisar os ditos “milagres”. Essas secretarias estão à disposição de qualquer médico de qualquer lugar do mundo que queira tomar posse dos exames e dos debates. Ali participam médicos de todos os credos religiosos, inclusive ateus.

Um processo para declaração de milagre, que se realiza no Bureau Medical de Lourdes, leva no mínimo 5 anos e tem quatro instâncias a percorrer. Somente após o caso percorrer todas as instâncias e ser examinado e reexaminado é que a Igreja vai dar a sua palavra confirmando ou não o milagre.

O processo para a declaração de um milagre começa quando alguém se diz curado. Esta pessoa é então levada à primeira instância do processo. Nesta primeira instância são feitos rigorosos exames médicos, coletam-se documentos e depoimentos de testemunhas do fato e do estado anterior do enfermo. Qualquer circunstância que permita explicar naturalmente a cura (como nos casos das doenças meramente funcionais) leva o caso a ser imediatamente encerrado. Se, por esses exames médicos iniciais, não se acha uma explicação natural para a cura, um relator expõe o caso na Assembléia geral do Bureau, na qual todos os médicos presentes têm direito de intervir. Se a Assembléia geral decidir pela continuação do processo, ele é arquivado por um ano. Nesse tempo, a pessoa tida como curada fica sob observação de um médico designado pela Assembléia. Esse médico vai coletar novas testemunhas e constatar se a cura foi de fato definitiva.

Um ano depois, o processo chega à segunda instância: o caso é reapresentado à Assembléia de médicos que o discute, baseados nos novos dados colhidos pelo médico que acompanhou o caso. Qualquer dúvida prudente leva o caso a ser encerrado. Se após a nova discussão, o caso não tiver solução, a Assembléia Geral o encaminha para a

Terceira instância: um relator leva o caso à Comissão Médica Internacional em Paris. Se for declarada de modo formal que a cura não se explica do ponto de vista médico-científico, o caso passa à última instância.

Quarta instância: nesta instância se dá o processo canônico, ou seja, é a hora da Igreja, através do bispo da localidade onde mora a pessoa curada, analisar todos os resultados médicos para afirmar, em nome de toda a Igreja, se houve milagre ou não. Uma comissão, constituída pelo bispo, examinará minuciosamente o caso sob todos os aspectos físicos e morais. Após todas as análises, o bispo confirmará, não só apenas com os olhos da ciência, mas também com os olhos da fé, o possível milagre.

Mais de onze mil casos ali já passaram da terceira instância com a confirmação médico-científica de que não há explicação para aquela tal cura. No entanto, até hoje, apenas sessenta e seis de todos esses casos foram tidos como milagre pela quarta instância. Por quê? Por causa da seriedade da Igreja ao proclamar qualquer coisa que seja, ainda mais um milagre, que é um testemunho de Deus em favor de alguém.

Destes sessenta e seis casos reconhecidos oficialmente pela Igreja como milagres, podemos destacar o primeiro e o último:

O primeiro milagre reconhecido oficialmente foi o de Catherine Latapie, que era mulher de 38 anos. Ela tinha dado à luz quatro filhos, dois já haviam morrido. Na noite de 28 de fevereiro de 1858, sentiu a necessidade de ir à Gruta das aparições. Dois anos antes, ela caíra de uma árvore e tinha uma paralisia cubital no braço direito, que a atrapalhava enormemente em suas atividades. Além disso, estava grávida. Entretanto, não hesitou em ir assistir à décima segunda aparição da Virgem que se dava naquele dia. Quando tudo terminou, ela subiu na gruta, e encontrou a fonte onde Nossa Senhora tinha pedido à Santa Bernadete para lavar-se. Catherine Latapie colocou a mão, e logo em seguida ficou com o uso completo do braço direito. Partindo de volta a pé para casa, seis quilômetros da gruta, ela sentiu as dores do parto e deu à luz um filho que se chamou Jean-Baptiste. Mais tarde ele se tornou padre.

Já o mais recente caso a respeito dela confirmado pela Igreja como milagroso é o do francês Jean-Pierre Bély.

Jean-Pierre nasceu em 1936, é casado e pai de dois filhos. Em 1972, a doença começou a manifestar-se através de fadiga e formigamentos nas mãos e nos pés. Numa manhã de 1984, acordou com o lado direito do corpo paralisado. Era a esclerose em placa, doença degenerativa do sistema nervoso que conduz a uma dolorosa morte. Em 1987, seu quadro clínico era desesperador. O sistema de saúde público o tinha declarado 100% inepto a título definitivo e pagava um assistente para suas necessidades básicas. Era transportado em maca. Em cinco de outubro deste mesmo ano, peregrinou à Lourdes.

A peregrinação já ia chegando ao fim e Jean só piorava. Seus acompanhantes temiam que morresse antes de voltar.

Jean estava sobre a esplanada da Basílica onde acontecia a cerimônia da Unção dos Enfermos, e já ali Jean sentiu algo diferente: “Após receber a unção, senti uma paz, uma alegria, uma serenidade extraordinária. Como se tudo o que havia de mal na minha vida me tivesse sido tirado: meu esgotamento, minha ansiedade… Eu estava exultante, desligado do mundo (…) Posso dizer que recebi a cura do coração antes que a do corpo. Essa paz, essa serenidade não me deixaram mais. E todos os dias tenho a impressão de reviver esse momento. À tarde, conduziram-me de maca à cerimônia de encerramento da peregrinação. Lá, fui dominado por uma vontade irrefreável de me levantar e de caminhar. Mas, vendo em torno de mim todos os outros doentes de maca, tive medo de chocá-los. Desde aquele momento, decidi agir discretamente”(3)

E Jean continua seu relato: “Naquela noite fui acordado delicadamente. Senti que alguém me tocava. Julguei que era a enfermeira da noite que queria colocar-me o cobertor. Então acordei e não vi ninguém. Ouvi o sino da Basílica tocar três vezes. Mais tarde, interroguei a enfermeira sobre o fato, mas ela disse não se lembrar de me ter coberto durante a noite… Comecei então a relembrar todos os acontecimentos da peregrinação quando me veio uma idéia inesperada, e que se apresentou ao meu espírito como uma ordem, um convite: ‘Levanta-te e caminha!’ Eu julgava estar ouvindo coisas (…) O apelo voltava, mais insistente, mais premente que a primeira vez. Tudo isso me deixava mal à vontade… Virava-me e revirava-se no leito… O apelo tornou-se firme. O que eu ouvia não eram palavras, mas era como se alguém me falasse sem dizer palavras. É difícil explicar…”(4).

“Vendo que me movia no leito, a enfermeira da noite perguntou-me o que eu tinha. Disse-lhe que desejava ir ao banheiro. E caminhei pela primeira vez. Ela simplesmente me segurava pelo braço. Dei os meus primeiros passos na noite, como um bebê aprende a caminhar”(5).

O médico que acompanhava o caso de Jean-Pierre, Dr. Patrick Fontanaud, passou mal quando o viu sentado na sala de espera. O médico é agnóstico, mas confessa que a cura é inexplicável. Na paróquia, as pessoas choravam quando o viram voltar com suas próprias forças. Até o carteiro, o sr. Raymond, declarou à imprensa local: “Agora eu serei obrigado a acreditar no Bom Deus!”

O inquérito para estudar o caso de Jean-Pierre durou onze anos e consistiu numa longa série de exames médicos e psiquiátricos. Cada ano ele comparecia diante de 60 ou 80 médicos do Comitê Médico Internacional e respondia a um pinga-fogo de perguntas. Em 14 de novembro de 1998, o Comitê Médico concluiu tratar-se de “cura inesperada” e “fato inabitual e inexplicável em função dos dados da ciência”(6). Em 9 de fevereiro de 1999, D. Claude Dagens, bispo de Angoulême, reconheceu publicamente em nome da Igreja o caráter autêntico do milagre(7).

Assim procede a Igreja Católica Apostólica Romana diante das curas e milagres.

Bendigamos ao Senhor.

Demos graças a Deus.

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(1) Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 4.

(2) Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 25.

(3) Jornal Le Monde, Paris, 22 de dezembro de 2002.

(4) Loudes Magazine, nº 76, novembro de 1998.

(5) Jornal Le Monde, Paris, 22 de dezembro de 2002.

(6) www.lourdes-france.org/fr/frsa0021.htm

(7) www.lourdes-france.org/fr/frsa0085.htm

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por Carlos J. M. Neto

Artigos Devoções

Jesus quer que, ao lado da Devoção ao Seu Sagrado Coração, seja posta a Devoção ao Imaculado Coração de Maria

Em vários pontos da Mensagem de Fátima a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é promovida juntamente com a devoção ao Imaculado Coração de Maria.

A Mensagem do Anjo de Fátima

Primeiro, há as palavras do Anjo da Paz, na Primavera de 1916, aos três pastorinhos de Fátima:

“Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.”

E o Anjo voltou a falar-lhes no Verão de 1916:

“Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.”

Depois, no Outono de 1916, o mesmo Anjo ensina-lhes uma oração que termina dizendo:

“E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração [de Jesus] e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.”

Este tema dos Sagrados Corações de Jesus e Maria que se encontra na Mensagem de Fátima, vemo-lo de novo nas aparições de Jesus e de Maria à Irmã Lúcia em Pontevedra e em Tuy, a que já nos referimos.

É o mesmo tema que se revela tanto nas orações que Jesus nos ensinou, para rezarmos em honra da Pura e Imaculada Conceição de Nossa Senhora, como na oração ao Doce Coração de Maria dada em Rianjo.

Jesus aborda este assunto de forma explícita:

Mas a mensagem mais impressionante sobre a importância de reunir a devoção ao Sagrado Coração de Jesus à do Imaculado Coração de Maria é a que ressalta do diálogo de Jesus com a Irmã Lúcia, em 1936. Citamo-lo directamente da carta de 18 de Maio de 1936, dirigida pela Irmã Lúcia ao seu director espiritual que fizera várias perguntas. E ela responde:

“(…) Quanto à outra pergunta: Se será conveniente insisir para obter a consagração da Rússia?, respondo quase o mesmo que das outras vezes tenho dito. Sinto que não se tenha já feito; mas o mesmo Deus que a pediu, é que assim o permitiu. Vou a dizer algo do que sinto a este respeito, ainda que é matéria bastante delicada para se enviar por uma carta, com perigo de se perder e ser lida; mas ao mesmo Deus a confio, porque tenho receio de não tratar o assunto com toda a claridade.

“Se é conveniente insistir? Não sei. Parece-me que, se o Santo Padre agora a fizesse, Nosso Senhor a aceitava e cumpria a Sua promessa; e, sem dúvida, seria um gosto que dava a Nosso Senhor e ao Imaculado Coração de Maria. (a sua carta continua:)

(Lúcia)

 “Intimamente, tenho falado a Nosso Senhor do assunto; e há pouco perguntava-Lhe porque não convertia a Rússia sem que Sua Santidade fizesse essa consagração.

(Jesus)

 ‘Porque quero que toda a Minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o Seu culto e pôr, ao lado da devoção do Meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração.’

“Mas, meu Deus, o Santo Padre não me há-de crer, se Vós mesmo o não moveis com uma inspiração especial.”

‘O Santo Padre! Ora muito pelo Santo Padre. Ele há-de fazê-la, mas será tarde! No entanto, o Imaculado Coração de Maria há-de salvar a Rússia. Está-Lhe confiada.’

Artigos Devoções

Fundamentos da Devoção ao Imaculado Coração de Maria

Através dos séculos, Papas, Santos, e muitos bons e santos Teólogos ensinaram a importância da devoção e das orações dirigidas à Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria. Ora é necessário rezar à Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria do modo que os Santos nos ensinaram.

Também a Santa Igreja Católica, pilar e alicerce da Verdade, inspirada e orientada pelo Espírito Santo, ensinou de modo consistente através dos séculos esta doutrina e esta prática. A Santíssima Virgem Maria é “Vida, Doçura, e Esperança Nossa”, como tão bem expressa a Salve Regina – a oração milenar da Salve Rainha. Estes títulos e realidades são defendidos contra os ataques dos Protestantes e dos Modernistas por Santo Afonso Maria de Ligório, no seu livro As Glórias de Maria.

O Papa Leão XIII diz-nos que todas as graças nos vêm de Deus, através da Santa Humanidade de Jesus Cristo, e que é pelas Mãos da Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria que chegam até nós. É evidente vermos, a partir desta ordem estabelecida por Deus para a nossa Salvação, que Deus vem em primeiro lugar e acima de todas as coisas – depois, a Sua Santa Humanidade em Jesus Cristo – e depois, Santa Maria Mãe de Jesus. E só depois de Maria é que vem a importância da Santa Igreja Católica. É que Maria é a Mãe da Igreja, e o membro da Igreja mais elevado a seguir a Jesus Cristo, que é a Cabeça.

O papel da Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria, como Aquela que encaminha as almas para o Céu, ficou a ser mais ampla e mais profundamente compreendido pela Fé Católica (nos últimos 150 anos) a partir da Definição da Sua Imaculada Conceição, em 1854, e do Dogma da Assunção, definido em 1950. Qual a razão para este crescendo do importante papel da Virgem Santíssima, é o que explica S. Luís Grignion de Montfort, num pequeno ensaio que a seguir transcrevemos.

É certo que o demónio, Seu inimigo de sempre, Lhe armou um contra-ataque: contra Nossa Senhora e contra a devoção a Nossa Senhora. Nós mesmos presenciámos o desenrolar deste combate, especialmente durante os últimos 40 anos, desde o fim do Concílio Vaticano II.

Recresce a batalha pela perdição das almas neste tempo de Apostasia, e o alvo é cada um de nós – nós, os filhos da Nossa Mãe Santíssima, nós que acreditamos em Seu Divino Filho, Jesus Cristo, a Quem prestamos obediência.

Para além do ensinamento dos Santos (como Santo Afonso Maria de Ligório, S. Luís G. de Montfort, S. Bernardo, Santo António Maria Claret, S. Maximiliano Kolbe e tantos outros) e dos Papas (em especial entre 1750 e 1960) sobre a importância, as vantagens e a necessidade da Devoção a Nossa Senhora – a Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, tem vindo a receber uma série imensa de intervenções divinas por meio de aparições de Nossa Senhora. Ela apareceu na Rue du Bac em 1830; em La Salette, em 1846; em Lourdes, em 1858; em Knock, em 1878; e, acima de todas, em Fátima, em 1917.

Aprovadas e certificadas como merecedoras de crença pela Igreja Católica, as aparições de Fátima foram-no também pelo próprio Deus, através do apocalíptico Milagre do Sol, ocorrido a 13 de Outubro de 1917, perante 70 mil testemunhas.

É com a Mensagem de Fátima e por meio da Irmã Lúcia que surge o grande ímpeto do florescimento da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Deste assunto se voltará a falar mais adiante.

Função Providencial de Maria

Santíssima nos últimos tempos

Por São Luís Grignion de Montfort († 1715 AD)

Foi por Maria que começou a salvação do mundo, e é igualmente por Maria que ela será consumada.

Maria aparece muito discretamente na primeira vinda de Jesus Cristo, para que os Homens, ainda pouco instruídos e iluminados sobre a Pessoa de Seu Filho, não se desviassem da Verdade, agarrando-se a Ela com força demais e elevação de menos.

Aparentemente, era o que teria acontecido se a Senhora tivesse sido conhecida, devido aos admiráveis encantos com que o Altíssimo A tinha adornado, inclusivamente quanto à Sua aparência externa. Isto é tão verdade que S. Dinis Areopagita nos deixou nos seus escritos que, quando viu a Bem-Aventurada Senhora Nossa, teria pensado tratar-se de uma divindade, tais eram os Seus encantos velados e a Sua incomparável beleza – não fosse a inabalável Fé em que ele se firmava ensinar-lhe o contrário. (S.A., 842. Epistola ad Pauleum).

Na segunda vinda de Jesus Cristo, porém, Maria tem de ser dada a conhecer pelo Espírito Santo, para que, através d’Ela, Jesus Cristo possa ser conhecido, amado e servido. As razões que levaram o Espírito Santo a esconder a Sua Esposa enquanto foi viva, revelando-A apenas um pouco desde a pregação do Evangelho, não mais subsiste.

Existência desta função e sua razão de ser:

Portanto, Deus quer revelar e fazer conhecer Maria, a obra-prima das Suas mãos, nestes que são os últimos tempos:

1. Porque, pela Sua profunda humildade, Ela se escondeu a si mesma no mundo e Se colocou mais baixo do que o pó, tendo obtido de Deus e dos Seus Apóstolos e Evangelistas que não se manifestasse.

2. Porque, sendo Nossa Senhora a obra-prima das mãos de Deus, tanto na terra pela graça como no Céu pela glória, Ele quer ser glorificado e louvado n’Ela por aqueles que vivem sobre a terra.

3. Tal como Nossa Senhora é a aurora que precede e revela o Sol da Justiça, que é Jesus Cristo, Ela deve ser vista e reconhecida para que Jesus Cristo também o possa ser.

4. Sendo Ela o Caminho pelo qual Jesus chegou até nós da primeira vez, será Ela igualmente o Caminho pelo qual Ele virá pela segunda vez, embora não do mesmo modo.

5. Sendo Ela a Via Segura, Recta e Imaculada para chegar até Jesus Cristo e O encontrar com toda a perfeição, é por Ela que as almas mais resplandecentes em santidade têm de encontrar a Nosso Senhor. Quem encontrar Maria encontra a Vida (Prov. 8:35) ou seja, Jesus Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida (S. João 14:6). Mas ninguém pode encontrar Maria se não a procurar; e ninguém A pode procurar se não A conhecer, pois não podemos buscar ou desejar algo desconhecido. Portanto, é necessário, para o maior conhecimento e glória da Santíssima Trindade, que Maria seja conhecida – agora mais do que nunca.

6. Maria deve, agora mais do que nunca, iluminar tudo diante d’Ela, em misericórdia, em poder e em graça, nestes últimos tempos. Em misericórdia, para fazer arrepiar caminho e receber amorosamente os pobres pecadores extraviados, a fim de que se convertam e voltem ao seio da Igreja Católica; em poder, contra os inimigos de Deus – idólatras, cismáticos, maometanos, judeus e almas endurecidas na impiedade, que se erguem numa terrível revolta contra Deus – a fim de seduzir todos os que se lhes opõem, e de os vencer através de promessas e ameaças; e, finalmente, Maria deverá iluminar tudo em graça, por forma a animar, sustentando-os, os valentes soldados e fiéis servos de Jesus Cristo, que devem combater pelos Seus interesses.

7. Por último, Maria deve ser implacável para com o demónio e seus sequazes, tal como um exército ordenado para a batalha, principalmente nestes últimos tempos; porque o demónio, sabendo que lhe resta pouco tempo (e agora ainda menos) para perder as almas, a cada dia irá redobrar os seus esforços e combates. É a sua hora de erguer cruéis perseguições e de armar terríveis ciladas aos fiéis servos e verdadeiros filhos de Maria, cuja conquista lhe dá mais dificuldade do que a conquista de quaisquer outros.

Exercício desta função na luta contra Satanás:

É sobretudo a respeito destas últimas e cruéis perseguições do demónio, que se irão desenrolando num crescendo diário até ao reinado do Anti-Cristo, que nós devemos compreender a primeira e bem conhecida predição e maldição de Deus, por Ele pronunciada contra a serpente, ainda no Paraíso terreal. É nosso propósito explicar isto aqui, para glória da Santíssima Virgem, para a salvação dos Seus filhos e para a confusão do demónio:

“Eu porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência d’Ela; Ela esmagar-te-á a cabeça e tu acometerás o Seu calcanhar.” (Gén. 3:15).

(Fim da citação de S. Luís Grignion de Montfort)

Fonte: Associação de Fátima

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A alegria de Maria

Todos sentimos verdadeira decepção quando somos injustiçados em nossos direitos. Mas no ganho da causa em relação a isso, nossa alegria é evidenciada. Fez-se justiça! Nos dizeres bíblicos vemos a grande realidade da ação de Deus que nos dá a garantia de sua ação: “Assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as nações” (Isaías 61, 11). Baseado nessa ação do Senhor, o povo judeu teve a sustentação de sua euforia (Cf. Isaías 61, 10), repetida por Maria no Magnificat: “Meu espírito se alegra em Deus” (Lucas 1,47).

A alegria de Maria é a nossa também! Ela foi escolhida para nos dar o Salvador. Estávamos perdidos para sempre. De repente a invenção de um projeto divino mudou nossa história. Não somos mais condenados à tristeza, conseqüência do desatino de nos colocarmos no lugar de Deus, deixando-O de lado no nosso encaminhamento de vida. Sem Ele não somos capazes de cuidar com verdadeiro amor do planeta e de quem vive nele. O senhorio de Deus nos enriquece de satisfação em tudo, contando com seu amor e suas coordenadas. Viver em Deus e deixá-lo viver em nós é causa de nossa realização humana. O próprio Jesus nos assegura: “Sem mim, nada podeis fazer”!

Já perto da celebração da presença humana de Deus em nossa história, somos convidados a rever nossa caminhada para percebermos até que ponto O deixamos agir em nós para termos a grande graça e a certeza de que com Ele vencemos nossos limites. Assim, somos capazes de promover a vida de realização plena para todos, mesmo dos mais decepcionados ou desesperançosos. Não são os sofrimentos, os limites humanos, os desafios da caminhada, os empecilhos que vão nos tirar a certeza da vitória e da superação de nossos limites. Com o amor trazido pelo filho de Maria somos capazes de recomeçar uma vida mais saudável e cheia de esperança, motivo de nossa alegria brotada da fé no Emanuel.

Nem as incompreensões e injustiças acontecidas com Jesus anularam a confiança de sua mãe. Ela acreditava nele. Acompanhou-o por toda a vida, até mesmo ao túmulo. Mas viu-o também ressuscitado! Pode verificar seu poder divino, espalhando a toda a humanidade o resultado de seu sacrifício redentor! Mais: ela viu a Igreja nascente a espalhar até para povos distantes o Evangelho da promoção da vida. Torna-se verdadeira mãe de todos, pois, cooperou com a salvação da humanidade, dando-lhe o Salvador!

Como é bom vermos o resultado de nosso sacrifício para realizar um projeto de grande extensão na vida! Quando realizamos o projeto do Criador, temos a certeza do resultado positivo. Nossa alegria então se verifica, não só num momento, mas sempre. É a alegria duradoura, garantida pelo próprio Deus, que age em nós! Nosso compromisso com a implantação do Reino de Deus nos torna aptos a contribuir com a implantação da justiça. Esta nos leva a trabalhar pela construção da verdadeira cidadania para todos. Como Maria, nossa alegria se torna indizível!

Dom José Alberto Moura,CSS

Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Montes Claros (MG)

 

Fonte: Comunidade  Shalom

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Rosário – Configurar-se a Cristo com Maria

15. A espiritualidade cristã tem como seu caráter qualificador o empenho do discípulo em configurar-se sempre mais com o seu Mestre (cf. Rom 8, 29; Fil 3, 10.21). A efusão do Espírito no Batismo introduz o crente como ramo na videira que é Cristo (cf. Jo 15, 5), constitui-o membro do seu Corpo místico (cf. 1 Cor 12, 12; Rom 12, 5). Mas a esta unidade inicial, deve corresponder um caminho de assimilação progressiva a Ele que oriente sempre mais o comportamento do discípulo conforme à “lógica” de Cristo: « Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus » (Fil 2, 5). É necessário, segundo as palavras do Apóstolo, « revestir-se de Cristo » (Rom13, 14; Gal 3, 27).

No itinerário espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação – em companhia de Maria – do rosto de Cristo, este ideal exigente de configuração com Ele alcança-se através do trato, podemos dizer, “amistoso”. Este introduz-nos de modo natural na vida de Cristo e como que faz-nos “respirar” os seus sentimentos. A este respeito diz o Beato Bártolo Longo: « Tal como dois amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão, podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e aprender destes supremos modelos a vida humilde, pobre, escondida, paciente e perfeita ».(18)

Neste processo de configuração a Cristo no Rosário, confiamo-nos, de modo particular, à ação maternal da Virgem Santa. Aquela que é Mãe de Cristo, pertence Ela mesma à Igreja como seu « membro eminente e inteiramente singular »(19)sendo, ao mesmo tempo, a “Mãe da Igreja”. Como tal, “gera” continuamente filhos para o Corpo místico do Filho. Fá-lo mediante a intercessão, implorando para eles a efusão inesgotável do Espírito. Ela é o perfeito ícone da maternidade da Igreja.

O Rosário transporta-nos misticamente para junto de Maria dedicada a acompanhar o crescimento humano de Cristo na casa de Nazaré. Isto lhe permite educar-nos e plasmar-nos, com a mesma solicitude, até que Cristo esteja formado em nós plenamente (cf. Gal 4, 19). Esta ação de Maria,totalmente fundada sobre a de Cristo e a esta radicalmente subordinada, « não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, antes a facilita ».(20)É o princípio luminoso expresso pelo Concílio Vaticano II, que provei com tanta força na minha vida, colocando-o na base do meu lema episcopal: Totus tuus.(21)Um lema, como é sabido, inspirado na doutrina de S.Luís Maria Grignion de Montfort, que assim explica o papel de Maria no processo de configuração a Cristo de cada um de nós: “Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo Maria entre todas as criaturas a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo”.(22)Nunca como no Rosário o caminho de Cristo e o de Maria aparecem unidos tão profundamente. Maria só vive em Cristo e em função de Cristo!

Por Papa João Paulo II – Carta o Rosário – Paragrafo 15

Fonte: Shalom

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Os três lírios de Maria

Certa vez, naquele longínquo século XIII, um dominicano de uma inteligência luzidia, muito douto e devoto da Santíssima Virgem, estava passando por uma forte provação. Não conseguia entender como era possível a Mãe de Deus permanecer virgem, tendo dado à luz o Menino Jesus.

Esta dúvida era como um espinho em seus pensamentos, pois apesar de ser muito sábio, isto lhe permanecia oculto.

Um dia, tendo tomado conhecimento da existência de um Frei franciscano, o Bem-aventurado Egídio de Assis, o qual tinha fama de aliviar as consciências conturbadas, resolveu ir ao encontro deste religioso.

Quando chegara às portas do convento franciscano, não foi necessário chamar ninguém, pois Frei Egídio iluminado acerca da situação deste dominicano saiu-lhe ao encontro e disse-lhe: “Irmão pregador, a Santíssima Mãe de Deus, Maria, foi virgem antes de dar-nos Jesus” [1]. Enquanto dizia isto, Frei Egídio golpeou o chão com seu cajado e imediatamente brotou do solo um formoso lírio branco.

O dominicano surpreendido por este fato inesperado continuou ouvindo o Frei, que prosseguiu: “Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem ao dar-nos Jesus”. E com um novo golpe, outro lírio floresce instantaneamente.

Atônito, o dominicano presta atenção por mais uma vez: “Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem depois de dar-nos Jesus”. Ao terceiro golpe, surge um lírio mais esplêndido que os anteriores. Frei Egídio, sem dizer nenhuma outra palavra, retorna ao convento, tendo desfeito aquela longa provação de seu irmão religioso, o qual até o fim da vida conservou consigo os três lírios, símbolos inequívocos da virgindade de Nossa Senhora: antes, durante e depois do parto.

Esta bela história nos mostra a envolvente e cativante época dos milagres medievais, mas, sobretudo, destaca uma virtude cada vez mais esquecida nos tempos atuais, a virgindade.

Houve época em que o casamento entre pessoas virgens era uma questão de honra. Depois, isso se tornou uma responsabilidade apenas do gênero feminino. Mas hoje em dia, se fosse perguntado aos jovens sua opinião sobre o assunto, provavelmente muitos até ridicularizariam esta virtude tão sublime.

No entanto, ela deve ser preservada como um tesouro inestimável, o qual devemos guardar a todo custo, sob o peso de chorar sua perda. Por mais que certos ambientes possam zombar de sua prática e tê-la como praticada por pessoas retrógradas, podemos bem aplicar seu valor aos conhecidos versos de Casimiro de Abreu:

“Oh! que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!”.

Aqui podemos, inclusive, parafrasear Casimiro de Abreu, entendendo por infância aquela inocência de criança, de uma alma limpa e sem malícia, cujos anos, as más amizades, as ideias perniciosas, muitas vezes vêm deteriorar. Depois de perdida a inocência, o colorido que o mundo apresentava se torna mais opaco, quando não se apaga por completo.

Começa, então, uma longa caminhada em busca de uma felicidade que a pessoa já possuía na aurora da vida, mas que recusou diante de mentirosas promessas. Este é o momento de olhar para Nossa Senhora, intitulada Rainha das Virgens (Regina Virginum) em sua Ladainha e dizer a “Salve Rainha”.

Ela, como Mãe compassiva, olhará a miséria humana e pedirá ao seu Divino Filho para que restitua aquela virtude angélica, a fim de nos tornarmos verdadeiramente os “pequeninos”, aos quais pertence o “Reino dos Céus” (cf. Mt 19,13-15; Mc 10,13-16; Lc 18,15-17).

Thiago de Oliveira Geraldo

[1] Cf. Súrio, Vita del B. Edidio. Apud Pe. Gabriel Roschini. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p. 209.

Fonte: Gaudium Press (Arautos do Evangelho)

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A intercessão de Nossa Senhora na hora da morte

A intercessão de Maria Santíssima nos é tão necessária quanto eficaz na hora da morte. Como são felizes as al- mas assistidas por Ela nessa hora! "Madona del Pilas- tro" - Basílica de Santo Antônio, Pádua - Itália

 

“Rogai por nós pecadores, agora… e na hora de nossa morte”. Qual a razão de tanta insistência em pedir que Maria nos assista no fim de nossa vida?

Na oração que tantas vezes dirigimos a Nossa Senhora há duas partes distintas, as quais convém analisar: uma diz respeito ao presente, a outra ao futuro. A primeira muda continuamente no que diz respeito ao tema do pedido; a segunda não varia, roga sempre a mesma graça.

Rogai por nós agora é o pedido da hora presente, cujo objeto será diferente conforme nossas necessidades.

Por vezes será a solicitação de uma graça protetora, outras vezes de consolo, às vezes de alívio e de cura de alguma enfermidade.

Mas, rogai por nós na hora de nossa morte diz respeito ao futuro, e é sempre o mesmo pedido que fizemos ontem, fazemos hoje, repetido 200 vezes no Rosário, e voltaremos a fazer amanhã, se Deus nos conceder um novo dia e se nele rezarmos a Saudação Angélica.

Então, por que a Santa Igreja, por meio da Ave Maria, oração quotidiana e familiar a todos os cristãos, até mesmo aos mais indiferentes, formulou este pedido: Rogai por nós na hora de nossa morte? Só pode ser por razões muito dignas de sua sabedoria; é porque na hora da morte a intercessão da Santíssima Virgem Maria nos é soberanamente necessária e em extremo eficaz.

Necessidade da assistência de Maria nos derradeiros momentos

Para compreender bem quão necessária é a assistência de Nossa Senhora em nossos derradeiros momentos, deve-se lembrar que a hora da morte é propriamente a hora decisiva e difícil entre todas. Nela será fixado nosso destino para toda a eternidade. Quando cai uma árvore, à direita ou à esquerda, lá onde cai, fica, bem diz o Eclesiastes (11, 3). Se cair para o lado certo, se morrermos na graça de Deus, seremos felizes para sempre; mas se cair do lado errado, se morrermos na inimizade de Deus, nosso lugar será junto aos réprobos. A hora da morte é a hora do combate supremo. Se triunfarmos do demônio, todas as nossas derrotas passadas serão reparadas, seremos vitoriosos para sempre, tomaremos lugar entre os eternos triunfadores e o Rei do Céu nos cingirá com a coroa da glória eterna.

Vejamos o bom ladrão. Sua vida estava manchada por vários crimes. Tinha sido um infame criminoso que tingiu suas mãos no sangue de irmãos; alguns instantes antes de morrer, se arrependeu, foi perdoado, seus crimes foram apagados e – qual piedoso ladrão do Céu, como é chamado -, por um instante de sincera penitência, foi compartilhar as alegrias do Paraíso com os patriarcas e os profetas que passaram a vida inteira na prática de boas obras.

Se, pelo contrário, no último momento, nosso inimigo, o demônio, triunfar sobre nós, nossas vitórias já adquiridas, por mais numerosas ou retumbantes que tenham sido, nos serão inúteis. Nossas boas obras, embora tivéssemos vivido como justos durante longos anos, estariam perdidas para sempre e se volatilizariam como simples nuvem dispersa pelo vento. Ficaríamos como navegadores que, após triunfarem sobre várias tempestades em alto mar, vêm soçobrar no próprio porto de chegada.

Uma trágica defecção de última hora

Lembremos-nos da história dos 40 mártires de Sebaste. Eram 40 soldados que, juntos, nas tropas do exército romano, travaram inúmeros combates nesta terra, além de ganharem combates no Céu, pela prática das virtudes cristãs, sob o estandarte de Jesus Cristo. Para defenderem a Religião, compareceram diante do tribunal de seus perseguidores, confessando valentemente sua fé, sem se deixarem intimidar por ameaças nem seduzir por promessas. Foram todos jogados no calabouço e condenados a morrer num lago gelado. Os anjos já os sobrevoavam, trazendo nas mãos as coroas destinadas a esses gloriosos atletas, quando um deles, vencido pelo frio, saiu do lago para um banho de água morna preparado com vistas à desistência de algum deles. Pouco depois ele morreu (devido à mudança brusca de temperatura), perdendo por um instante de fraqueza os frutos de uma longa vida passada no exercício das virtudes, os méritos reluzentes de sua confissão de fé e a glória de um martírio quase consumado, deixando seus companheiros imersos na incomparável dor de sua defecção.

A hora da morte é uma hora decisiva, mas é também uma hora difícil.

Angústias dos moribundos

Como são atrozes as angústias dos moribundos, que não tenham perdido completamente a fé, quando os remorsos da consciência, o temor do julgamento iminente e a incerteza quanto à salvação eterna se unem para enchê-los de perturbação e pavor! Os demônios redobram de raiva para agarrar essa presa que lhes escapa. Acorrem numerosos em torno da cama do doente para tentar um supremo esforço.

Pudesse ainda o moribundo reagir na plenitude de suas forças! Mas não pode! Nunca terá sido atacado com tanta violência e jamais esteve tão fraco para se defender. A deficiência do corpo provoca um desastroso contragolpe na alma. A imaginação fica de todo desordenada. É como se fosse um campo aberto que os animais selvagens – melhor seria dizer fantasmas dos mais lúgubres e dos mais espantosos – atravessam livremente em todas as direções. O espírito fica repleto de trevas, a vontade sem energia e cheia de languidez.

Necessidade imperiosa do auxílio de Deus na hora da morte

Como o socorro de Deus é necessário nessa hora! Quão indispensável é a graça divina para perseverar! Entretanto, a graça, sobretudo a graça da perseverança final, é um dom de Deus que não nos é dado merecer, mas podemos obter infalivelmente pelas nossas orações.

Ora, como por um privilégio todo especial de Deus, o qual quer assim honrar sua Mãe, a Santíssima Virgem é a Medianeira obrigatória por cujas mãos todos os favores do Céu devem passar, a Ela é que devemos pedir esta graça das graças.

Compreendamos então por que a Santa Igreja nos leva a pedir tantas vezes a assistência de Maria Santíssima para a hora de nossa morte. Compreendamos também o motivo pelo qual ela nos incita a repetir todos os dias: Santa Maria, rogai por nós na hora de nossa morte.

Nessa hora, intercessão infalível de Maria Santíssima

A intercessão de Maria Santíssima nos é tão necessária quanto eficaz nessa suprema e solene circunstância. Como são felizes as almas assistidas por Maria nessa hora! Elas não podem perecer. Ainda que estejam cativas da tirania do demônio, esta boa Mãe romperá seus grilhões e lhes obterá os frutos benfazejos de uma sincera conversão, instando-as a fazerem verdadeira penitência. Lá estará Ela perto de seu leito de dores, como uma mãe à cabeceira do filho moribundo, dissipando suas angústias, acalmando suas dores, adoçando suas penas, proporcionando uma santa paciência e tomando sua defesa ante os ataques furiosos e múltiplos do espírito das trevas.

Quando chega a derradeira hora de algum devoto de Nossa Senhora, diz São Boaventura, esta boa Mãe lhe envia os espíritos angélicos que estão às suas ordens, juntamente com São Miguel, seu chefe. E Ela, que é o flagelo do inferno – como diz São João Damasceno – Ela que tem, por missão, o ódio à serpente infernal, lhe faz sentir, sobretudo quando algum de seus devotos vai abandonar este mundo, todo o seu vitorioso poder. Ela é para o demônio, nessa ocasião, terrível como um exército em ordem de batalha. Torna-se contra ele como essa torre da qual fala o Cântico dos Cânticos, onde mil escudos estão levantados com as armas dos mais valorosos.

Não, um servidor de Maria não pode perecer! – declara São Bernardo.

Não, aquele por quem Maria se dignou rezar não pode mais ter dúvida de sua salvação e de sua ida à glória do Céu! – diz Santo Agostinho.

Não, aquele pelo qual Maria rezou uma vez não perecerá! Não, quem recitou piedosamente todos os dias a Ave Maria não será abandonado na última hora! – exclama também Santo Anselmo.

Esta oração possui todas as qualidades capazes de torná-la infalivelmente vitoriosa. Primeiro lugar, ela é santa em sua motivação. Com efeito, o que pedimos por ela? A perseverança final “na hora de nossa morte”.

Depois, ela é humilde. Por ela confessamos a Maria Santíssima nossa miséria, revestindo-nos de um título que nos convém tão bem: “pobres pecadores”.

Ela é também confiante, pois nos dirigimos à mais poderosa intercessora que possa haver, Àquela que é chamada de “Onipotência suplicante”, em vista de sua santidade proeminente e de sua dignidade incomparável de Mãe de Deus: “Santa Maria, Mãe de Deus”.

Esta oração é perseverante. Qual oração pode ser mais perseverante? Ainda que, por suposição, só rezássemos uma Ave Maria por dia, quantas vezes durante nossa vida teríamos pedido a Ela para interceder por nós na hora da morte? E como será então se rezarmos ao menos uma dezena do Rosário? Mais ainda se tomarmos o costume de rezar diariamente um terço inteiro? Será possível que Maria Santíssima, tão zelosa de nossa salvação, não nos ouça? Não! Isso é impossível! A isso se opõem as promessas, os juramentos de Jesus Cristo Nosso Senhor relativos à oração, assim como a bondade e a ternura de sua Mãe Santíssima.

Tomemos, pois, a resolução de rezar todos os dias de nossa vida, com uma nova fé, uma nova confiança e um novo cuidado, esta curta mas tão bela e eficaz oração da Ave Maria. Assim obteremos a cada dia aquelas graças particulares das quais precisamos e, sobretudo, a graça necessária no fim da vida, a maior delas, a mais importante de todas as graças, a graça da perseverança final.

Santo André Avelino

Segundo se narra, na hora da morte de Santo André Avelino, um grande servo de Maria, seu leito estava envolto por mais de dez mil demônios; durante sua agonia, ele teve de travar contra o inferno um combate tão terrível que deixou estupefatos todos os religiosos ali presentes. Viram seu rosto decompor-se e ficar lívido. Ele tremia em todos os seus membros, rangia os dentes, lágrimas abundantes corriam-lhe pela face, testemunhando a violência do assalto ao qual estava sujeito. O espetáculo arrancou lágrimas de todos os assistentes. Cada qual redobrava as orações e tremia por si, ao ver um santo morrer dessa maneira. Uma única coisa consolava os religiosos: o moribundo muitas vezes voltava o rosto para uma imagem da Virgem, indicando assim pedir seu socorro e lembrando- lhes ter dito várias vezes durante a vida que Maria Santíssima seria seu refúgio na hora da morte.

Afinal, aprouve a Deus pôr um término a esse combate, outorgando ao santo a mais gloriosa vitória. As agitações cessaram, o rosto do moribundo retomou sua serenidade primeira; viram- no permanecer tranqüilo, mantendo o olhar em direção à imagem, inclinar-se em sinal de reconhecimento e, em seguida, expirar docemente nos braços da Santíssima Virgem, que ele tanto invocara em vida e que vinha fazê-lo sentir sua todo-poderosa proteção naquele supremo momento.

Imitemos a devoção de Santo André Avelino e, como ele, em nossa última hora seremos assistidos e socorridos pela misericordiosíssima Rainha dos Céus.

(Tradução, com adaptações, de “L’Ami du Clergé” nº 39, de 23/9/1880)

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2007, n. 65, p. 34 à 36)

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Angelus de Bento XVI – 15 de Janeiro de 2012

Praça de São Pedro – Vaticano
Domingo, 15 de janeiro de 2012

Queridos irmãos e irmãs!

Nas Leituras bíblicas deste domingo – segundo do Tempo Comum – emerge o tema da vocação: no Evangelho é o chamado dos primeiros discípulos por parte de Jesus, na primeira Leitura é o chamado do profeta Samuel. Em ambas as histórias, se destaca a importância da figura que desenvolve um papel de mediador, ajudando as pessoas chamadas a reconhecer a voz de Deus e segui-la.

No caso de Samuel, se trata de Eli, sacerdote do templo de Shiloh, onde ficava antigamente a arca da aliança, antes de ser transportada para Jerusalém. Uma noite, Samuel, que era ainda um garoto e desde pequeno vivia a serviço do templo, por três vezes seguidas sentiu ser chamado em seu sono e foi a Eli. Mas não era ele a chamá-lo. Na terceira vez, Eli entendeu e disse a Samuel: Se te chamarem ainda, responda: “Fala-me, Senhor, porque o teu servo te escuta”(1 Sam 3,9).

Assim foi, e desde então Samuel aprendeu a reconhecer as palavras de Deus e se torna seu fiel profeta.

No caso dos discípulos de Jesus, a figura mediadora é aquela de João Batista. Na verdade, João havia um vasto círculo de discípulos, e entre estes, existia também dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João, pescadores da Galiléia

Justamente a dois desses, Batista indicou Jesus, no dia depois de seu batismo no rio Jordão. Indicou-o a eles dizendo: “Eis o cordeiro de Deus!” (Jo 1,36), que equivale a dizer: Eis o Messias. E aqueles dois seguiram Jesus, permaneceram por um longo tempo com Ele e se convenceram que era realmente o Cristo. Logo, disseram aos outros, e assim se formou o primeiro núcleo daquele que se tornaria o colégio dos Apóstolos.

Sob a luz desses dois textos, gostaria de destacar o papel decisivo do guia espiritual no caminho de fé e, em particular, na resposta à vocação de especial consagração para o serviço de Deus e do seu povo.

Já esta mesma fé cristã, por si, pressupõe o anúncio e o testemunho: de fato essa consiste na adesão à boa nova que é Jesus de Nazaré, que morreu e ressuscitou, e que é Deus. E assim, também o chamado a seguir Jesus, mais de perto, renunciando a formar uma própria família para dedicar-se à grande família da Igreja, passa normalmente através do testemunho e da proposta de um “irmão maior”, normalmente um sacerdote.

Isso sem esquecer o papel fundamental dos pais, que com sua fé genuína e alegre e seu amor conjugal mostram aos filhos que é lindo e é possível construir toda a vida sobre o amor de Deus.

Queridos amigos, rezamos a Virgem Maria para todos os educadores, especialmente os sacerdotes e pais, para que tenham plena consciência da importância de seu papel espiritual, para favorecer nos jovens, além do crescimento humano, a resposta ao chamado de Deus, a dizer: “Fala, Senhor, o teu servo te escuta”.


Depois da recitação do Angelus, o Papa saudou os fiéis reunidos na Praça de São Pedro

Queridos irmãos e irmãs,

Celebramos hoje o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Milhões de pessoas são envolvidas no fenômeno das migrações, mas isso não são números! São homens e mulheres, crianças e anciãos que buscam um lugar onde viver em paz.

Na minha mensagem para este Dia chamei novamente a atenção sobre o tema “Migrações e a nova evangelização”, destacando que os migrantes são não somente destinatários, mas também protagonistas do anúncio do Evangelho no mundo contemporâneo. Neste contexto, tenho o prazer de dirigir uma cordial saudação aos representantes das comunidades de imigrantes de Roma, hoje presentes na Praça de São Pedro.

Desejo recordar que do dia 18 ao dia 25 deste mês de janeiro se desenvolverá a Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos. Convido todos, a nível pessoal e comunitário, a unirem-se espiritualmente e, onde possível, também na prática, para invocar a Deus o dom da plena unidade entre os discípulos de Cristo.