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Beata Jacinta, milagre da Graça

Em pouco mais de dois anos, a inocente pastorinha de Fátima atingiu altíssimo grau de união com Deus, cumpriu uma grande missão e espalhou pelo mundo inteiro o  perfume de sua santidade. Como conseguiu tudo isto  em tão pouco tempo?

O que é mais fácil: fazer o sol bailar no céu ou mover o coração humano a abraçar a santidade? É bastante conhecido o “milagre do sol” que ziguezagueou no céu, no dia 13 de outubro de 1917, diante de 70 mil pessoas reunidas na Cova da Iria.

Mas a pergunta acima, feita por um famoso sacerdote português, desperta a atenção para outro prodígio operado pelo Imaculado Coração de Maria, mais luminoso e duradouro que o primeiro: a santificação de Jacinta e Francisco Se todos os santos são milagres da graça, estes dois são, por assim dizer, únicos no seu gênero. Por quê?

“Em breve tempo cumpriu uma longa vida”

Até o pontificado de João Paulo II, a Igreja não permitia canonizar uma criança a título de confessora da Fé, ou seja, sem ter sido mártir. Pelo seguinte motivo: para uma pessoa ser elevada à honra dos altares, ela precisa ter praticado a virtude em grau heróico; ora, isso pressupõe uma consistência de caráter que, pelas contingências da natureza humana, falta a uma criança. O Papa Pio XI chegou mesmo a regulamentar o assunto, impossibilitando serem instaurados esses processos de canonização.

Porém, ante as provas incontestáveis da heroicidade das virtudes dos dois pequenos videntes de Fátima, o Papa João Paulo II suspendeu o decreto do seu antecessor e declarou-os bem-aventurados.

A vida de Jacinta é mais conhecida. Primeiro, devido às várias visões particulares tidas por ela de Nossa Senhora. Em segundo lugar, pelos múltiplos aspectos de santidade que transpareciam em sua fogosa alma.

“Em breve tempo cumpriu uma longa vida” diz o Livro da Sabedoria (4,13). Estas palavras são utilizadas no decreto de beatificação da jovem vidente, justamente para mostrar como em pouquíssimos anos atingiu elevados píncaros da perfeição.

Um amor capaz de chegar ao Heroísmo

De um temperamento afeito aos extremos, Jacinta ficou imediatamente fascinada pela “Senhora”, como geralmente a chamava. Logo após a primeira aparição, não se cansava de repetir: “Ai! Que Senhora tão linda! Que Senhora tão linda!” E o seu amor nunca vacilou, mesmo quando foi necessário dar provas de heroísmo.

No dia 13 de agosto, por exemplo, os três pastorinhos foram seqüestrados pelo Administrador (autoridade

 

 municipal). Este, ateu e arbitrário, decidira arrancar-lhes a custo de ameaças a revelação do segredo a eles confiado pela Virgem. Começou por metê-los num cárcere, onde foram mantidos durante três dias entre bandidos e malfeitores. Depois submeteu-os a um brutal interrogatório. Por fim, fez-lhes, aos gritos, a ameaça de matá-los num grande caldeirão de azeite fervente, se não lhes contassem tudo.

Jacinta foi a primeira a enfrentar a possibilidade do martírio.

– Tenho para os três um caldeirão de azeite a ferver na cozinha, prontinho à vossa espera. Jacinta, qual é o segredo que a tal Senhora te revelou? A pobrezinha tremia de medo, mas respondeu com firmeza:

– Eu não o posso dizer, senhor Administrador, ainda que me matem.

Fama de santidade

A fama de santidade de Jacinta espalhou- se rapidamente. Quem dela se aproximava, sentia logo o perfume dos seus dons sobrenaturais e a presença da graça. Sua prima Lúcia assim a descreve: “Jacinta tinha um porte sempre sério, modesto e amável, que parecia traduzir a presença de Deus em todos os seus atos, próprio de pessoas já avançadas em idade e de grande virtude”.

Certa vez, Jacinta acompanhou Lúcia a uma festa e, após o almoço, começou a deixar cair a cabeça, com sono. O dono da casa mandou uma das suas sobrinhas deitá-la em sua cama. Daí a pouco, a pequena dormia a sono solto. Começou a juntar-se a gente do lugarejo e, na ansiedade de a ver, foram espreitar no quarto. Todas ficaram admiradas de vê-la em profundo sono, com um sorriso nos lábios, um ar angelical e as mãozinhas postas voltadas para o céu.

O quarto encheu-se depressa de curiosos. A custo uns saíam para deixar entrar os outros. A dona da casa e suas sobrinhas comentavam admiradas: “Isto deve ser um anjo”. E, tomadas de um reverencial respeito, permaneceram de joelhos junto da cama. À medida que transcorriam as aparições, crescia a confiança do povo no poder de intercessão dos videntes.

Numa tarde, iam eles pela estrada para rezar o terço na casa de uma piedosa senhora. A meio caminho, veio-lhes ao encontro uma jovem de uns 20 anos, suplicando-lhes irem até sua casa rezar por seu pobre pai, o qual, havia mais de três anos, sofria de um incômodo soluço que o impedia de dormir.

Sendo quase noite, e não querendo atrasar o terço, Lúcia pediu a Jacinta que fosse à casa da jovem rezar pelo seu pai, enquanto ela seguiria adiante com o Francisco e a chamaria na volta. Quando retornou, encontrou sua jovem prima sentada numa cadeira, diante de um homem não muito idoso, mas mirrado e chorando de comoção, totalmente curado. Jacinta levantou-se e se despediu, prometendo não se esquecer do ex-enfermo em suas orações. Três dias depois, acompanhado de sua filha, este veio agradecer a graça recebida pelas valiosas orações da humilde pastorinha.

Sacrifícios pela conversão dos pecadores

“Sim, eu quero oferecer sacrifícios para salvar os pecadores”, repetia sempre a pequena Jacinta, especialmente quando seu irmão Francisco apresentava- lhe uma oportunidade de mortificar-se.

Movidos por uma ardente devoção ao Imaculado Coração de Maria, os dois juveníssimos videntes em pouco tempo alcançaram uma alta compreensão do verdadeiro significado do sofrimento.

Poucos meses antes, a Santíssima Virgem lhes mostrara o inferno, local de tormentos eternos, e lhes pedira que oferecessem orações e sacrifícios pela conversão dos pecadores, muitos dos quais para lá vão por não haver quem sofra por eles. Jacinta e Francisco tomaram tão a sério o pedido da “Senhora” que, a partir de então, não deixavam passar ocasião alguma de sacrificar-se nessa intenção.

Lúcia, em suas memórias, afirma serem tão numerosos os exemplos do seu espírito de mortificação que não era possível relatá-los todos. A título de exemplo, narra alguns.

Numa manhã, quando os três videntes brincavam perto de uma vinha, a mãe de Jacinta ofereceu-lhes alguns cachos de uva. Nada mais apetecível, para três crianças vivazes, cansadas e com sede. Mas Jacinta nunca se esquecia do pedido da bela Senhora:

– Não vamos comê-las! E oferecemos esse sacrifício pelos pecadores. Em seguida, foi correndo levar as uvas para algumas crianças pobres, que brincavam pouco além. Quando voltou, estava radiante de alegria. Em outro dia, a tia de Lúcia ofereceu- lhes uma cesta de esplêndidos figos. Jacinta sentou-se com Lúcia, satisfeita, ao lado da cesta. Pegou o primeiro figo para comer, mas, de repente, lembrou-se do pedido da Senhora e disse:

– É verdade! Hoje ainda não fizemos nenhum sacrifício pelos pecadores! Temos que fazer este.

Convite ao holocausto completo

Maior generosidade, contudo, foi necessária para enfrentar a terrível gripe pneumônica de 1918, a qual ceifou milhões de vidas na Europa. Entre elas, as de Jacinta e Francisco. Durante meses, os dois irmãos sofreram com edificante resignação. A primeira operação, mal-sucedida, fora feita apenas com um anestésico local para remediar as dores. Duas costelas foram-lhe tiradas para facilitar a drenagem, deixando uma chaga aberta que permitia a entrada de um punho. Em meio às imensas dores, Jacinta dizia apenas: “Ai! Nossa Senhora! Ai! Nossa Senhora!”

Em janeiro de 1919, a Santíssima Virgem apareceu-lhes para dar uma surpreendente notícia e convidar Jacinta ao holocausto completo. Eis como esta relatou o fato a Lúcia: – Nossa Senhora veio nos ver e disse que vem buscar o Francisco muito breve para o Céu. E a mim, perguntou- me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim. Disse-me que iria para um hospital, que lá sofreria muito; que sofresse pela conversão dos pecadores, em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria e por amor de Jesus.

Aconteceu como Nossa Senhora predisse. Internada no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, ela a todos edificou por sua inocência e pela encantadora serenidade com que suportava os padecimentos da terrível enfermidade.

De lá, só sairia para o Céu, em 20 de fevereiro de 1920.

Na última visita feita à sua santa prima, Lúcia perguntou-lhe se sofria muito, e colheu de seus lábios esta singela e sublime confidência: “Sofro sim, mas ofereço tudo pelos pecadores e para reparar o Imaculado Coração de Maria. Gosto tanto de sofrer por seu amor! Para dar-lhe gosto! Ela gosta muito de quem sofre para converter os pecadores!”

União mística com Jesus

Em poucos anos de vida, Jacinta atingiu uma tão alta união com Nosso Senhor Jesus Cristo, que pode ter chegado àquele grau chamado de “troca de corações” por alguns teólogos. Disse ela: “Eu não sei como é: sinto Nosso Senhor dentro de mim, compreendo aquilo que Ele me diz, embora não O veja e não escute a sua voz!”

Mas, não nos esqueçamos! Se Jacinta chegou em tão pouco tempo a este grau de união com Deus, foi porque soube entender e praticar ternamente a devoção a Nossa Senhora. Sigamos, pois, nós também, o conselho dado por ela à Lúcia na última despedida: “Diz a toda a gente que Deus nos concede as graças por meio do Coração Imaculado de Maria. Ah! Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o fogo que tenho cá dentro do peito, que me queima e me faz gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!” (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2004, n. 29, p. 12 a 15)

Fonte: Arautos do Evangelho

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Nossa Senhora de Lourdes

Ao contemplar a história das aparições de Nossa Senhora de Lourdes, na gruta de Massabielle, nossos olhos se voltam para a menina a quem Ela falou. Sua vida, transcorrida em acrisolada virtude, expressa com eloqüência porque Deus “escondeu estas coisas aos sábios e prudentes, e as revelou aos pequeninos” (Lc 10, 21).

Lourdes! Onde encontraremos os termos que alcancem exprimir tudo quanto esse nome significa para a piedade católica no mundo inteiro? Quem poderá traduzir em palavras o ambiente de paz que envolve a gruta sagrada na qual, há 153 anos, a Santíssima Virgem apareceu à humilde Bernadette e inaugurou, de modo definitivo, um novo vínculo com a humanidade sedenta de refrigério e paz? Por desígnio da Divina Providência, a esse lugar associou-se uma ação intensa da graça, especialmente capaz de transmitir aos milhares de peregrinos, vindos de longe, a certeza interior de serem suas preces benignamente ouvidas, seus dramas apaziguados, e suas esperanças fortalecidas.

Com efeito, ao longo deste século e meio, as ásperas rochas de Massabielle tornaram-se palco das mais espetaculares conversões e curas, legando à Santa Igreja Católica um tesouro espiritual de valor incalculável.

Em Lourdes fatos se revestem de uma grandiosidade peculiar, diante da qual nossa língua emudece. Ali está, diante de nós, a sublimidade do milagre. Entretanto, não se pode falar de Lourdes sem nos lembrarmos com veneração da personagem ligada de modo indissociável a essa história de bênçãos e misericórdias.

A modesta pastorinha a quem Nossa Senhora apareceu é o primeiro e maior prodígio de Lourdes: ela simboliza a íntegra fidelidade aos apelos de conversão e penitência, que naqueles dias foram lançados pela Rainha dos Céus, os quais haveriam de chegar aos mais longínquos recantos da Terra.

Infância marcada pela Fé

Bernadette nasceu num século de profundas transformações. Animada, de um lado, pelo surto de devoção mariana que o pontificado do Beato Pio IX estava suscitando, a segunda metade do século XIX presenciava o avanço insolente do ateísmo e do materialismo.

Os espíritos estavam divididos e, a fim de agir precisamente nessa encruzilhada da História, Maria Santíssima quis servir-se da filha primogênita do casal Soubirous.

 

Quão distantes, porém, desta sorte de considerações, estavam François e Louise, em 7 de janeiro de 1844! Nascia-lhes a filha Bernadette, no Moinho Bolly, nas cercanias de Lourdes, durante os dias felizes de fartura ali transcorridos. A menina foi batizada, recebendo o nome de sua madrinha Bernard, ao qual se acrescentou o da Senhora que haveria de lhe aparecer. Marie- Bernard, eis como se chamava Bernadette, sem escapar do diminutivo carinhoso que a acompanharia para o resto da vida.

No Moinho Bolly transcorreu sua primeira infância, marcada por uma religiosidade autêntica e sincera. Além da freqüência aos Sacramentos, a oração em conjunto aos pés do crucifixo e uma exímia prática dos princípios cristãos correspondiam a um dever moral para aquele casal de camponeses. Bernadette cresceu, por assim dizer, respirando a santa Fé Católica do mesmo modo que respirava o puro ar da montanhosa região dos Pirineus.

A miséria visitou o lar dos Soubirous

A época era difícil e os negócios de François Soubirous iam mal. Quando Bernadette tinha 8 anos, mudaramse para um moinho mais simples, e ao cabo de três anos alugaram uma cabana à beira da estrada. Já crescida, ela acompanhava os progressivos insucessos dos pais e enfrentava, com admirável resignação, a situação de indigência a que se viram reduzidos em 1856, a ponto de terem de mudar para o antigo cárcere da rua Petits- Fosées: um cubículo úmido e pestilento, que as autoridades locais haviam julgado inadequado até mesmo para os presos.

A pobreza era ali completa. O cômodo media menos de 20 m² e a família não possuía absolutamente nada, além da mobília mais indispensável e das roupas. A luz do Sol nunca penetrava no recinto, marcado pela grade da janela e pelo ferrolho da pesada porta – reminiscências do antigo calabouço. Ali vivia o casal Soubirous e as quatro crianças, constantemente atormentados pela fome. Quando conseguia comprar pão, a mãe o dividia entre os pequenos, que ainda assim se sentiam insaciados. Bernadette, não raras vezes, privava-se de sua pequena porção em favor dos mais novos, sem nunca demonstrar o menor descontentamento por isso.

À noite, sem conseguir dormir, atormentada pela asma, Bernadette chorava. A causa principal daquele desafogo, porém, não eram a doença ou as duras privações materiais.

O único desejo da angelical menina era fazer a Primeira Comunhão, mas a necessidade de cuidar dos irmãos e da casa a impedia de freqüentar o catecismo, de aprender a ler e escrever e até de falar francês. De fato, quando a Santíssima Virgem lhe dirigiu a palavra, o fez em patois, o dialeto da região de Lourdes. Se Bernadette desejou algo para si, nos dias de sua infância, foi apenas receber o Santíssimo Sacramento, o Senhor ofendido pelos pecados dos homens, que ela aprendera tão cedo a consolar.

Dias de pastoreio em Bartrès

As poucas vezes que Bernadette freqüentou as aulas de catecismo em Lourdes foram malogradas, porque não conseguia acompanhar as demais crianças, bem mais novas e adiantadas que ela. Louise Soubirous preocupava-se com a filha, de treze anos, que ainda não fizera a Primeira Comunhão, e resolveu pedir à amiga Marie Lagües que a recebesse em Bartrès – vilarejo não muito distante de Lourdes – a fim de que Bernadette lá pudesse freqüentar as aulas de catecismo.

Por consideração e amizade, Marie Lagües a recebeu em sua casa, mas não foi tão fiel à promessa quanto seria de se esperar. Logo ocupou Bernadette nos serviços da casa e no cuidado das crianças. E seu marido encontrou nela a pastora ideal para seu rebanho de cordeiros. Foi nesse períodoque Bernadette solidificouse na oração, durante as longas horas transcorridas no mais completo silêncio em meio ao privilegiado panorama pirenaico. Contemplativa, ela montava um pequeno altar em honra da Santíssima Virgem e aí passava horas de grande fervor recitando o Rosário, a única oração que conhecia.

Um fato passado com Bernadette por essa época demonstra a pureza cristalina de seu coração. Certo dia, quando François Soubirous foi visitar a filha, encontrou-a triste e cabisbaixa. Perguntou-lhe o que a afligia.

– Todos os meus cordeiros têm as costas verdes – respondeu ela.

O pai, percebendo tratar-se da marca posta por um negociante, fez um ameno gracejo: – Eles têm as costas verdes porque comeram muita erva.

– E podem morrer? – perguntou assustada Bernadette.

– Talvez…

Penalizada, ela começou a chorar no mesmo instante. O pai, então, contou-lhe a verdade: – Vamos, não chores. Foi o negociante que os marcou assim.

Mais tarde, quando a chamaram de boba por ter acreditado em semelhante brincadeira, sua resposta constituiu uma demonstração involuntária de sua elevada virtude: – Eu nunca menti; não podia supor que aquilo que o meu pai me dizia não era verdade.

Os dias se escoavam lentamente na pequena aldeia, havendo completado sete meses que Bernadette lá chegara. Quanta esperança de aproximar- se da Mesa Eucarística trazia na chegada, e que decepção experimentava agora, após poucas aulas de insignificante instrução! Aquela espera interminável a afligia, mas, como tudo na vida do homem, foi permitida por Nosso Senhor.

“Sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça” (Eclo 2, 3). Essas palavras, desconhecidas para Bernadette, significam exatamente o modo como Deus procedeu a seu respeito. Ao mesmo tempo que a graça inspirava em sua alma um ardente desejo das coisas do alto, estas pareciam ser-lhe tiradas. Com isso, seu anseio se robustecia, e tudo o que era terreno ia se afigurando como pouca coisa aos seus olhos, cada vez mais aptos para compreender as realidades sobrenaturais.

Como costuma ocorrer com as almas que Deus prova por meio de longas esperas, estavam-lhe reservadas grandes graças.

Celestial surpresa

De volta à casa paterna, Bernadette retomou os antigos afazeres. Na manhã inolvidável de 11 de fevereiro de 1858, saiu com a irmã Toinette e a amiga Jeanne Abadie para o bosque, a fim de recolherem gravetos para a lareira e ossos para vender a fim de comprarem algum alimento. Andaram bastante até chegarem à gruta de Massabielle, onde Bernadette nunca havia estado. Enquanto as vivazes meninas atravessavam a água gelada do rio Gave, Bernadette se preparava para fazer o mesmo.

 

Eis sua própria narração do que então sucedeu: “Escutei um barulho, como se fosse um rumor. Então, virei a cabeça para o lado do prado; vi que as árvores absolutamente não se mexiam. Continuei a descalçar-me. Escutei de novo o mesmo barulho. Levantei a cabeça, olhando para a gruta. Avistei uma Senhora toda de branco, com um vestido branco, um cinto azul e uma rosa amarela sobre cada pé, da cor da corrente do seu terço: as contas do terço eram brancas” 1.

Era a Santíssima Virgem sorrindolhe, e chamando-a para se aproximar d’Ela. Temerosa, Bernadette não se adiantou, mas puxou o terço e começou a rezar. O mesmo fez a “linda Senhora”, a qual embora sem mover os lábios, a acompanhava com seu próprio terço. Após o término do Rosário, Ela desapareceu.

A impressão causada por essa primeira aparição em Bernadette foi profunda. Sem reconhecer nEla a Mãe celeste, a menina sentia-se irresistivelmente atraída por figura tão amável e admirável, na qual não podia parar de pensar. Quando uma freira lhe perguntou, anos mais tarde, na enfermaria do convento, se a Senhora era bela, ela respondeu: – Sim! Tão bela que, quando se vê uma vez, deseja-se a morte só para tornar a vê-la!

Dezoito encontros em Massabielle

Por mais que Bernadette tivesse pedido segredo às suas duas companheiras, às quais contou o que vira, elas não se mantiveram caladas por muito tempo. Logo, dezenas de pessoas comentavam na vizinhança o sobrenatural acontecimento. E era apenas o começo: a impressionante popularidade das aparições assumiram proporções tais, que no dia 4 de março, estavam junto a Bernadette nada menos que vinte mil peregrinos.

Antes de cada visita de Nossa Senhora, Bernadette sentia irresistível desejo de ir a Massabielle. Assim aconteceu nos dias 14 e 18 de fevereiro, quando um pressentimento interior a conduziu até a gruta. Na segunda aparição, a Virgem Santíssima permaneceu novamente em silêncio; disse algo apenas no dia 18, conforme no-lo narra a obediente menina: “A Senhora só me falou na terceira vez. Ela perguntou-me se eu queria ir lá durante quinze dias. Eu respondi que sim, depois que pedisse licença a meus pais” 2.

A quinzena de aparições, que se deu entre 18 de fevereiro e 4 de março, com exceção dos dias 22 e 26, constituiu o cerne da mensagem confiada a Bernadette. A cada dia multiplicava- se o número dos assistentes que empreendiam penosas viagens, atraídos pelos celestiais colóquios. Embora mais ninguém além de Bernadette visse a “Senhora”, todos sentiam Sua presença e se comoviam com os êxtases da camponesa.

– Ela não parecia ser deste mundo – disse uma testemunha.

As palavras de Nossa Senhora não foram muitas, mas de expressivo significado. Disse a Bernadette no mesmo dia 18: “Não prometo fazer-te feliz neste mundo, mas sim no outro”. E nas outras vezes: “Eu quero que venha aqui muita gente”. “Pede a Deus pelos pecadores! Beije a terra pelos pecadores!”. “Penitência, penitência, penitência!” “Vá e diga aos padres que construam aqui uma capela. Quero que todos venham em procissão”.

Ainda durante a quinzena, a Rainha dos Céus confiou três segredos e ensinou uma oração a Bernadette, a qual ela recitou com insuperável fervor todos os dias de sua vida. Após um longo silêncio a respeito de sua identidade, a Senhora revelou seu nome a Bernadette na 16ª aparição, em 25 de março de 1858: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Era uma solene confirmação do dogma proclamado pelo Beato Pio IX, quatro anos antes; a pureza da doutrina seria coroada, daqui por diante, pela beleza dos milagres.

Transformada por Nossa Senhora

Um dos critérios de prudência adotados pela Santa Igreja para verificar a autenticidade de revelações como as que recebeu Bernadette, consiste em observar atentamente a conduta dos videntes. Neles, se reflete invariavelmente a veracidade e o teor do que dizem ver: seu testemunho pessoal é decisivo.

No caso de Lourdes, tal como depois sucedeu com os pastorinhos de Fátima, a mudança operada em Bernadette pode ser considerada um milagre da graça. Seus gestos, modos, palavras e, sobretudo sua piedade adquiririam indescritível brilho pelo contato com a Rainha dos Céus: “Na sua atitude, nos seus traços fisionômicos, via-se que a sua alma estava arrebatada. Que paz profunda! Que serenidade! Que elevada contemplação! O olhar da criança para a aparição não era menos maravilhoso que o seu sorriso. Era impossível imaginar algo tão puro, tão suave, tão amável…” 3.

 

Após os êxtases, ela mantinha a clave de sublimidade que a pervadira: o modo como fazia o sinal-dacruz, sua compostura durante a oração e sua fineza de trato, aliados à simplicidade, eram mais distintos que os de qualquer dama que tivesse passado a vida inteira exercitando-se na arte do “savoir-plaire”.

“Não escapa aos pais que se operou nela uma transformação no decorrer deste último mês. Não foram vãs para ela a contemplação e as lições celestes. […] Tendo visto chorar a Senhora de Massabielle pelo pecado e pelos pecadores, esta criança analfabeta compreendeu o grande dever da penitência e da oração” 4.

Até mesmo o Pe. Peyramale, o pároco de Lourdes, célebre pela desconfiança em realção a todos os fatos ocorridos com Bernadette, confessou: “tudo nela evolui de maneira impressionante” 5.

Respondendo aos magistrados

Os espíritos céticos estavam à espreita dos acontecimentos. Sumamente irritados pela afluência multitudinária à gruta, diziam: “É incrível quererem fazer-nos crer em aparições em pleno século XIX”. Tais homens colocavam suas esperanças mais em seus “modernos” inventos que na onipotência de Deus: “É estupidez e obscurantismo admitir a possibilidade de aparições e milagres na época do telégrafo elétrico e da máquina a vapor” 6.

Foi diante de autoridades com essa mentalidade que Bernadette teve de depor três vezes no curto período de uma semana, ainda durante a quinzena das aparições. Durante os intermináveis inquéritos em que a crivaram de perguntas capciosas, Bernadette ouviu coisas brutais: “Vamos prenderte! O que é que vais procurar à gruta? Por que fazes correr tanta gente? Vamos meter-te na prisão! Matar-te-emos na prisão!” 7. Chamaram-na de mentirosa, visionária, louca. A tudo isso ela apenas respondia com a verdade, suportando esses sofrimentos com humildade e doçura. Suas respostas acertadas confundiram os magistrados, que nunca tiveram qualquer motivo legal para prendê-la.

A opinião final que formaram a respeito de Bernadette, e que enviaram ao Ministro da Justiça de então, foi esta: “Segundo o reduzido número daqueles que pretendem ter a seu lado o bom senso, a razão e a ciência, Bernadette Soubirous é portadora de uma enfermidade mental conhecida: está sendo vítima de alucinações, apenas isto!” 8. Teriam eles, como pretendiam, a razão do seu lado? A resposta não demorou a se tornar clara.

A fonte milagrosa e o chamado à expiação

Na aparição de 25 de fevereiro, a Santíssima Virgem disse a Bernadette: “Vai beber à fonte”. Bernadette foi ao rio Gave e bebeu. Contudo, não era ao rio que Ela se referia, mas sim a um canto da gruta onde havia apenas água suja. A menina cavou e bebeu.

Daquela nascente obscura brotou discretamente a água milagrosa, que dali a alguns dias borbulhava em abundância para maravilhamento de todos.Os doentes não demoraram em servir-se dela e as curas inexplicáveis se iniciaram em 1º de março. Enfermos desenganados “pela razão e pela ciência” viam seus males desaparecer num instante, e os argumentos de inúmeros corações reticentes se transformavam em cânticos de fé.

Mas, quando Bernadette, mais tarde, serviu- se da água para suas penosas doenças, ela não lhe foi eficaz. Perguntaram, então: – Essa água cura os outros doentes: por que não te cura a ti? – Talvez a Santíssima Virgem queira que eu sofra – foi a sua resposta. De fato, a sua vocação era sofrer e expiar pela conversão dos pecadores. A água da fonte não era para ela.

Essa filha predileta de Maria compreendeu com profundidade sua singular missão. Tudo quanto haveria de padecer física e moralmente dali em diante – o que não foi pouco – ela desejava unir aos méritos infinitos do Redentor crucificado, para que fosse pleno o efeito das graças derramadas na gruta. Nunca um murmúrio, uma queixa ou um ato de impaciência se desprendeu de seus resignados lábios, afeitos de modo heróico ao silêncio e à imolação.

No Asilo e em Nevers

Após o ciclo das aparições, todos queriam ver Bernadette e tocá-la. Pediam-lhe bênçãos, roubavam relíquias… Homens ilustres empreendiam longas viagens para conhecê-la e altas figuras eclesiásticas não escondiam sua admiração diante dela.

Todavia, quanto a faziam sofrer por causa disso! Em sua acrisolada humildade, Bernadette sentia-se incomodada perante tantas manifestações de deferência. Seu maior desejo era ser esquecida, queria que apenas a Virgem Santíssima fosse objeto de enlevo e amor.

Em Lourdes, ela viveu ainda nove anos no Asilo, administrado pelas Irmãs de Caridade e da Instrução Cristã, de Nevers. Ajudava no atendimento aos doentes, nos serviços da cozinha, na atenção às crianças. Aos 23 anos partiu para a Casa-Mãe da Congregação, em Nevers, desejando avidamente a vida de recolhimento e oração: – Vim aqui para esconder-me – disse ela.

Seus treze anos de vida religiosa foram vincados pela prática de todas as virtudes. De modo especial, o desprendimento de si mesma e o amor ao sofrimento. Desse período, passou nove anos de ininterruptas enfermidades: a asma inclemente, um doloroso tumor no joelho, que evoluiu até uma terrível cárie dos ossos. No dia 16 de abril de 1879, aos 35 anos de idade, ela entregou sua alma ao Criador.

“Encontrar-me-eis junto ao rochedo”

Seus restos mortais incorruptos constituem um dos mais belos vestígios da felicidade eterna que Deus tenha outorgado aos pobres mortais neste Vale de Lágrimas. Intocado, puro, angélico é o corpo de Bernadette, diante do qual o peregrino sente-se atraído a passar horas seguidas em oração, levantando-se depois com a doce impressão de ter penetrado na felicidade eterna de que goza a vidente de Massabielle.

Ali estão, cerrados, mas eloqüentes, os olhos que outrora contemplaram a Santíssima Virgem, a nos ensinar que os únicos a serem exaltados são os mansos e humildes de coração; a nos lembrar que, para realizar Suas grandes obras, Deus não precisa das forças humanas, mas sim da fidelidade à voz de Sua graça.

Sabemos que a missão de Bernadette não terminou. A ação benfazeja de sua intercessão se faz sentir junto à gruta, conforme ela mesma predisse: “Encontrar-me-eis junto ao rochedo que tanto amo”. Que ela nos obtenha, neste ano do jubileu das aparições, uma confiança inquebrantável no poder dAquela que disse: “Eu sou a Imaculada Conceição”.

Fonte: Arautos do Evangelho

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Uma pequena gota de Maria

– Fui pastor pentecostal durante 25 anos. E digo a vocês que uma pequena gota de Maria fez mais por mim do que 25 anos como pastor. Maria é a nitroglicerina, a dinamite de Deus. Por isso me prostro diante de Jesus em Maria. Não tenho vergonha de me ajoelhar diante de uma imagem de Maria porque ela tem a plenitude do Espírito Santo. Não adoro as imagens nem os ícones, mas eles me colocam diante da realidade que representam.

Maria é a plenitude da graça. Ninguém é mais cheia do Espírito do que ela. Não é magnífico que ela seja nossa mãe? E o Espírito Santo quer brotar do mais profundo do nosso ser para invadir toda a nossa vida, ultrapassá-la e ir ao mundo inteiro. Quer que nós, como Maria, sejamos instrumentos da evangelização. Quando Deus tem um projeto muito difícil de evangelização, quando encontra um povo ou um país muito endurecido, Ele envia a evangelizadora mais eficaz: Maria. Eu sou um exemplo de pessoa com o coração muito duro, muito difícil, muito anticatólico. Mas uma só gota de Maria me transformou e me tornei católico.

O Pai-nosso

A oração é importante. São Paulo disse: “Rezo com meu espírito e com minha inteligência”. Jesus rezou com sua inteligência, com palavras compreensíveis e nos deu uma oração que Ele mesmo criou: o Pai-nosso. Quando rezamos essa oração, ela influencia nossa inteligência, que necessita de cura.

Certo dia, me perguntei se Maria rezava por Jesus. Será que Ele tinha necessidade de oração? Creio que sim. Creio que houve uma oração muito simples que Ele fez – é minha opinião, não é um dogma da Igreja. E acredito que a oração de Jesus começou com Maria. Quando eu era pequeno, minha mãe sempre me falava do meu nascimento. Ela dizia: “Richard, eu te adotei quando tua mãe te rejeitou. Eu te escolhi. Tu estavas doente, para morrer, mas ainda assim eu te escolhi”.

Vou interromper um pouco meu pensamento sobre a oração do coração para falar sobre o sofrimento. No verão passado, fui a Paray-le-Monial e em um dos dias, durante o dia inteiro, rezávamos pelos enfermos. Depois de todo esse dia de oração, à noite tivemos apenas dois testemunhos: o de minha esposa e o meu. Ela testemunhou a cura milagrosa de seus olhos quando encontrou Jesus. E eu testemunhei sobre o meu encontro com Jesus e sobre como continuo doente – estou doente praticamente todo o tempo. Há 30 anos tenho um mal físico e todo mundo já rezou por mim, mas não fui curado ainda. Porque nem todas as pessoas são curadas. Mas isso não muda nossa fé em Jesus. Ele não nos prometeu nos curar a todos, mas estar sempre conosco.

Então, durante esse dia de oração pelos enfermos em Paray-le-Monial, aproximei-me de uma menina de 8 anos numa cadeira de rodas – Ela se chama Clotilde; é paralítica, suas mãos são dobradas, não fala e quase não vê mais; acho que reconhece um pouco a voz das pessoas, quando ouve minha voz, se mexe um pouco. Ajoelhei-me ao lado de Clotilde e impus minhas mãos sobre ela e passei ali 15 minutos. É muito tempo para ficar com uma só pessoa quando se tem 4 mil pessoas para rezar. E quando me levantei alguém me disse que sou muito gentil por rezar tanto tempo por uma pessoa. E eu disse: “Você não entendeu, não sou eu que rezo por ela, é ela que reza por mim”.

Muitas vezes, aqueles que sofrem têm muito mais compaixão que os sãos. Gosto muito de pedir às pessoas que sofrem que rezem por mim. Se você conhece alguém que está sofrendo, em vez de ir rezar por ele, peça-lhe que reze por você, porque é a compaixão que toca.

Então, retomando meu pensamento, quando eu era pequeno, minha mãe me explicou como eu tinha sido doente na minha infância e como me escolheu mesmo assim. E me dizia: “Richard, você vai fazer grandes coisas neste mundo. E se você tiver dúvida do seu grande valor, lembre-se do preço que paguei por você. Eu poderia ter pego uma criança com saúde boa, mas escolhi você e não foi fácil cuidar de você porque você estava sempre doente”. E me explicava a minha origem.

Acho que aconteceu o mesmo na família de Nazaré. Jesus era um menininho como os outros, que corria, brincava, pulava, rolava no chão… E, certamente, muitas vezes Maria lhe explicava sua origem: “Um dia, aquele anjo enorme veio falar comigo. O nome dele era Gabriel. Ele brilhava como o sol e tinha duas asas enormes nas costas e era lindo, meio transparente, os olhos como o sol. E ele me disse: ‘Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo. Tu és bendita entre todas as mulheres e teu filho será bendito’.”

É muito fácil compreender como uma mãe explica a seu filho de onde ele veio. E creio que essa é a origem da primeira oração de Jesus. Maria trabalhava muito em casa, em Nazaré. Eles eram pobres, não tinham muitas coisas. Tinham aqueles presentes que os magos lhes tinham dado, mas provavelmente gastaram quando estiveram refugiados no Egito. São José era carpinteiro, trabalhava muito para a família, mas viviam muito simplesmente.

Então Maria tinha muito trabalho em casa, tinha que varrer a casa, preparar o alimento, lavar a louça… e Jesus criança corria para lá e para cá em casa e puxava o vestido de Maria. Como ela estava muito ocupada, não se virava logo para Ele. Mas Jesus sabia muito bem como chamar a atenção de sua mãe: olhava bem nos olhos dela e dizia: “Ave, Maria, cheia de graça. Eu, Jesus, estou contigo, você é bendita entre todas as mulheres e eu, Jesus, teu filho, também sou bendito. Santa Maria, mãe de Deus, reza por mim e pelo papai José, pela prima Isabel, pelo priminho João Batista e por todo mundo, agora e na hora de nossa morte. Amém”. Isso é possível que tenha acontecido.

O rosário

Essa oração nos remete ao rosário. É magnífica a oração do rosário! Ela começa como uma oração da nossa inteligência, depois se torna uma oração do coração. Como o Pai-nosso é uma oração com a nossa inteligência, que depois se torna uma oração do coração. Há muitos tipos de oração do coração e é o Espírito Santo que nos ajuda a rezar. Porque Ele mora no nosso coração. É por isso que às vezes rezamos com a mão no coração, essa morada de Deus em nós.

Oração com o corpo

Além do Pai-nosso e do rosário, outro tipo de oração do coração é o movimento do corpo, que corresponde ao movimento do Espírito Santo dentro do coração. É isso o que chamo de adoração corporal, ou seja, o corpo que adora através do movimento. Está escrito que Davi rodopiava com toda energia diante da Arca da Aliança. Maria é a Arca da Aliança. E quando estou diante da Arca da Aliança que é Jesus, também rodo. E quando rodopio, é como se eu entrasse na profundidade do meu coração. E muitas vezes, quando você louva o Senhor com sua inteligência, vai ter vontade de louvá-lo com o corpo, o movimento que vem do Espírito Santo no coração e se torna movimento do corpo.

Quando éramos pequenos, todos dançávamos, nos mexíamos. Podemos dizer que quando criança, o coração dirige o corpo, não temos restrições intelectuais. Um amor tão intenso pelo Espírito Santo liberta nosso corpo e nos “devolve” esse movimento do corpo como uma oração do coração.

Tenho uma cunhada que se chama Suzana. Um dia fomos apanhá-la no aeroporto e percebi que ela desceu do avião toda encurvada. Perguntei à minha esposa como era a Suzana quando criança. Ela me disse que a Suzana era cheia de vida, cheia de alegria, dançava muito, se mexia muito e adorava escrever seu nome em todo lugar. E um dia ela entrou no quarto recém-pintado e, com uma salsicha, escreveu seu nome nas paredes recém-pintadas. Ela tinha muita parresia, audácia, energia de viver. Não era bloqueada por sua inteligência. Tinha um coração de criança. Quando os pais chegaram, perguntaram quem fez isso. E ela, morrendo de medo, disse que não tinha sido ela, mas estava assinado seu nome lá e deram-lhe uma surra. Depois vieram muitas outras surras. Após tantas punições, a Suzana cheia de vida tornou-se encurvada. No entanto, ela era cristã, acreditava no poder do Espírito, era fiel à Igreja. Então, por que estava encurvada?

Na França, era ensinado que o corpo é um perigo. Que é preciso dominá-lo pela inteligência e, sobretudo, não se deve exprimir alegria em público. Então, infelizmente, mesmo os cristãos carismáticos parecem tristes. Mas tive uma idéia. Eu pensei: “É capaz da Suzana ter necessidade de escrever seu nome em algum lugar”, então lhe disse: “Suzana, o único lugar que é realmente meu nessa casa é o meu escritório. Quero te fazer uma proposta, tu podes escolher a tinta na tua cor predileta e te deixo escrever o teu nome no teto do meu escritório”.

O Senhor nos criou para que nosso nome esteja escrito nas paredes da história. Ele quer que a história se lembre do que você fez por Jesus nessa vida. Deus quer que muitas pessoas sejam tocadas pelo amor de Deus através de você.

Então ela escolheu a tinta vermelha, dei-lhe um pincel, deixei-a no meu escritório e fiquei imaginando como ela escreveria: pequeno, grande? Ela estava sempre encurvada, queria desaparecer, não ser vista pelas pessoas; tinham lhe dito que ela não tinha nenhum valor… Dez minutos depois abri a porta e lá estava seu nome escrito, grande. E alguma coisa mudou na vida de Suzana. Ela se abriu de maneira nova e vi a mudança na sua vida. E depois disso, eu sempre dizia nos encontros em que pregava: “Dêem uma parede da casa de vocês para seus filhos escreverem, desenharem, fazerem o que quiserem. Quando crescerem, talvez se encontrem em algum momento desencorajados, então vocês podem lhes mostrar a parede e lhes dizer: ‘Vocês são assim’. E quando se mudarem, levem a parede para mostrar a seus filhos quando precisarem de um estímulo”.

Aconteceu que tive de me mudar. E fiquei no dilema sobre levar o teto com o nome de Suzana. Eu pensava: “Quando Suzana estiver triste, vou precisar mostrar esse teto a ela e dizer: ‘Suzana, você é livre, o Espírito Santo habita em você. Você pode viver a alegria do Espírito. Pode ter parresia, viver a experiência de Deus em público’”. Então decidi levar o teto. Peguei uma serra e o cortei. Ficou lá um buracão e precisei de dois dias para consertar o teto.

Eu trouxe para cá o teto da Suzana e pedi a muitos irmãos da Comunidade Shalom que o assinassem e, se um dia estiverem desencorajados, lhes mandarei o teto da Suzana. O Moysés o assinou. Se um dia ele estiver desencorajado, vou dizer: “O mundo pertence a você, tenha audácia, não fique restrito a alguns países. É preciso estabelecer o Shalom no mundo inteiro. O mundo inteiro precisa deste louvor, desta alegria”.

Então, todo mundo tem que assinar os muros da história. Deus quer nos encorajar e libertar a Suzana que está em nós. Quer que sejamos brilhantes, que transpareçamos o brilho do Espírito Santo. Que ultrapassemos todas as dificuldades da vida e todos os desencorajamentos que nos assolam. Quer que sejamos instrumentos de louvor.

As línguas do Espírito

Por falar nisso, não sei como vou morrer, mas se tiver chance de escolher, quero morrer louvando o Senhor, quero estourar de louvor. Quero ser tão profundamente um instrumento de louvor que meu coração exploda. Quero ser um instrumento de louvor para a glória de Deus. Ele nos criou para louvá-lo, para amá-lo, para rezar com nossa inteligência, para rezar com nosso coração, para meditar o rosário, para louvá-lo numa língua desconhecida.

Vocês cantam no Espírito? Essas palavras maravilhosas do Espírito Santo que brotam nas nossas línguas? O Espírito Santo quer louvar a Deus em nós através da nossa língua, isso é também uma oração do coração. E essas palavras brotam quando pedimos a Jesus que nos encha do Espírito Santo. Ele disse: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba e os rios de água viva correrão do seu seio”. Do mais profundo do nosso espírito, o Espírito Santo começa a subir, subir, subir da nossa voz e nesse tempo de louvor louvamos a Deus com línguas que não entendemos intelectualmente.

É preciso deixar o Espírito Santo fluir do mais profundo do nosso ser. Deus quer nos “equipar” para a oração. Nós precisamos da oração do coração, que é o Pai-nosso, o rosário, o movimento e as línguas. Abramo-nos e peçamos ao Senhor a graça para vivermos o que Ele quer de nós!

*Palestra ministrada no Fórum Carismático Shalom 2003. Mantido o tom coloquial.

Richard Borgman

Fonte: Comunidade Shalom

Artigos

LOURDES MOSTRA QUE DEUS É PROMESSA DE VIDA

Dom Jacques Perrier fala da Jornada Mundial dos Doentes 2012

ROMA, sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) – A festa litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, neste sábado, 11 de fevereiro, coincide com a Jornada Mundial dos Enfermos. Zenit entrevistou Dom Jacques Perrier, bispo de Tarbes-Lourdes, sobre a ocasião.

João Paulo II quis que a Jornada Mundial dos Enfermos coincidisse com a festa de Nossa Senhora de Lourdes. Por que Lourdes e por que esta Jornada?

Dom Perrier: Obviamente, a criação do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde e a Jornada Mundial dos Enfermos surgiram da experiência pessoal de João Paulo II. O Santo Padre levou um longo tempo antes de retornar às atividades normais depois do atentado de 13 de maio de 1981, cujas consequências ficaram para sempre. Mas não é a única razão. João Paulo II estava convencido de que a oração e o oferecimento dos doentes tiveram um papel importante na santificação da Igreja e da evangelização. O título da sua carta apostólica Salvifici doloris é tão revelador do seu pensamento quanto provocador pela sua opinião. Em relação à escolha de Lourdes, que é conhecida pelas suas curas, ela mostra que Deus é a promessa de vida, que o desejo de curar é perfeitamente legítimo e que as atividades do pessoal de enfermagem devem ser apreciadas e apoiadas pela Igreja. Bernadette se tornou freira e foi uma excelente enfermeira, apesar da sua pouca formação inicial.

Em Lourdes, quais são as características da jornada?

Dom Perrier: O curioso é que, em 11 de fevereiro, os doentes em Lourdes são muito poucos. No inverno [europeu], os accueils [pontos de recepção] não ficam abertos. Então são os doentes e as pessoas com deficiências físicas da própria Lourdes que representam todos aqueles que vêm nos meses posteriores.

Este ano, a mensagem de Bento XVI insiste nos sacramentos da cura: pode nos falar mais sobre isto?

Dom Perrier: Desde o Concílio Vaticano II e da reforma litúrgica que ele começou, a Igreja não fala mais de “extrema unção”, com aquela carga “fúnebre” que essas palavras envolviam na mentalidade comum. Mas é um erro definir a unção dos enfermos como o “sacramento dos doentes”, como se fosse o único sacramento adequado à situação deles: a reconciliação e a eucaristia também são. A eucaristia não é o penhor da vida eterna? “Quem come deste pão viverá para sempre”.

Existe um tipo de doença particularmente difícil de acompanhar: a doença mental. O senhor recomenda os sacramentos também para essas doenças?

Dom Perrier: Sim. Por que esses doentes deveriam ser excluídos? A doença psíquica e a graça do sacramento não estão no mesmo nível. Mas o ser humano é unificado. As interações são possíveis. Mas os sacramentos de cura espiritual não eximem dos cuidados médicos, tanto físicos quanto psíquicos.

Lourdes não é só a gruta, tem os hospitais e os capelães. Quais são os desafios que os capelães hospitalares estão enfrentando hoje?

Dom Perrier:O principal desafio da nossa cultura atual é dar sentido ao sofrimento, que os avanços da medicina têm reduzido, mas não eliminado. O sofrimento é multifacetado, não é só físico. O processo que leva ao oferecimento de si mesmo é um caminho árduo. O papa João Paulo II falou disso humildemente em Lourdes no dia 15 de agosto de 1983. É uma verdadeira jornada de conversão: a oração da comunidade cristã e da comunhão dos santos deve ser solicitada.

Anita Bourdin

Fonte: Zenit.org

Orações

Oração a Nossa Senhora de Lourdes

Ó Maria, Vós aparecestes a Bernardete na cavidade de um rochedo.

No frio e nas sombras do inverno, Vós trazíeis o calor de vossa presença, a luz e a beleza.

No vazio de nossas vidas, tantas vezes obscuras, no fundo deste mundo no qual o mal é poderoso, trazei a esperança, restabelecei a confiança!

Vós, que sois a Imaculada Conceição, vinde em auxílio destes pecadores que somos nós.

Dai-nos a humildade da conversão, a coragem da penitência.

Ensinai-nos a rezar por todos os homens.

Guiai-nos até as fontes da verdadeira vida.

Fazei de nós peregrinos em marcha dentro de vossa Igreja.

Incrementai em nós a fome da Eucaristia, o alimento nesta terra, o pão da vida.

Em Vós, ó Maria, o Espírito Santo operou maravilhas: por seu poder, Ele vos colocou junto ao Pai, na glória de vosso Filho, vivo para sempre.

Considerai com ternura as misérias de nossos corpos e de nossos corações.

Brilhai para todos, como uma doce luz, na hora da morte.

Com Bernardete, recorremos a Vós, ó Maria, com a simplicidade de filhos.

Fazei-nos entrar, como ela, na eterna bem-aventurança.

Então poderemos, já nesta terra, começar a sentir a alegria do Céu e, convosco, cantar: Magnificat!

Glória a Vós, Virgem Maria, ditosa serva do Senhor, Mãe de Deus, morada do Espírito Santo! Amém!

Artigos

O Acontecimento de Lourdes

No ano de 1858, a Imaculada Virgem Maria apareceu a Bernadete Soubirous nas cercanias de Lourdes (França), na Gruta de Massabielle. Por meio desta humilde jovem, Maria convida os pecadores à conversão, suscitando na Igreja grande zelo pela oração e pela caridade, sobretudo no que diz respeito ao serviço dos pobres e dos doentes.

Assim, resumidamente, podemos tomar parte em um dos acontecimentos mais marcantes da História da Igreja. A aparição de Nossa Senhora em Lourdes na França.

Desde esta data, milhares de pessoas têm ido até o santuário, lá edificado, a fim de ter um encontro particular com Deus através de Maria que se dignou a visitar a jovem Bernadete e indicar um caminho para a salvação do mundo.

A Igreja de Cristo, prudente e zelosa em sua tarefa, ensina que “não se há de esperar nenhuma outra Revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1Tm 6,14;Tt 2,13)”(1) e por isso mesmo, o Papa e os bispos “não reconhecem qualquer nova revelação pública como pertencente ao depósito divino da fé”(2), isto, em outras palavras, quer dizer que nada mais pode ser acrescentado àquilo que Cristo nos deixou; nada falta à Sua mensagem; portanto, qualquer aparição pública anterior a que Cristo fará em sua nova vinda, não deve ser entendida como dogma de fé, ou seja, o católico não é obrigado a crer; contudo, é convidado a respeitar e a honrar Maria com tal título, pois todas as honras prestadas à Nossa Senhora se prestam à Maria Santíssima. A Igreja não proíbe nem contesta a crença nestas aparições, desde que as mensagens ali difundidas não alterem o conjunto das verdades da fé guardado pelos Apóstolos.

As aparições de Lourdes, apesar de também não serem dogmas de fé, chamam muito a atenção do católico e da própria Igreja. A multidão que lá acorre aponta diariamente para uma certeza cada vez maior: ali se sente a presença de Deus.

Assim como em todos os santuários católicos espalhados pelo mundo, Lourdes tem os seus milhares de testemunhos que afirmam terem recebido milagres. Ora, milagre é um testemunho que Deus dá em favor de uma verdade ou de uma pessoa, como por exemplo, um testemunho a favor da Divindade de Jesus Cristo, da autenticidade de sua Igreja, da santidade de uma alma, da eficácia da oração, etc. Assim, não é “milagre” certos fatos que, embora sejam admiráveis ou estranhos como algumas curas repentinas, visões sem conteúdo doutrinário, um ou outro caso de estigmatização, não têm significado religioso, não elevam a Deus, mas, ao contrário, só servem para satisfazer ao capricho e à vaidade de alguém. Quando Deus efetua prodígios, nunca o faz por capricho ou ostentação de sua Onipotência, mas sempre a fim de chamar a atenção do homem para algum dos atributos divinos.

Diante disso, a Igreja que tem por missão apregoar a verdade, não pode divulgar um milagre que não seja milagre. Não pode chamar de “testemunho de Deus” aquilo que é apenas “caso admirável” mas sem significado religioso, sendo apenas fenômenos naturais. Por isso, a Igreja constituiu em Lourdes, há muito tempo, quatro secretarias para analisar os ditos “milagres”. Essas secretarias estão à disposição de qualquer médico de qualquer lugar do mundo que queira tomar posse dos exames e dos debates. Ali participam médicos de todos os credos religiosos, inclusive ateus.

Um processo para declaração de milagre, que se realiza no Bureau Medical de Lourdes, leva no mínimo 5 anos e tem quatro instâncias a percorrer. Somente após o caso percorrer todas as instâncias e ser examinado e reexaminado é que a Igreja vai dar a sua palavra confirmando ou não o milagre.

O processo para a declaração de um milagre começa quando alguém se diz curado. Esta pessoa é então levada à primeira instância do processo. Nesta primeira instância são feitos rigorosos exames médicos, coletam-se documentos e depoimentos de testemunhas do fato e do estado anterior do enfermo. Qualquer circunstância que permita explicar naturalmente a cura (como nos casos das doenças meramente funcionais) leva o caso a ser imediatamente encerrado. Se, por esses exames médicos iniciais, não se acha uma explicação natural para a cura, um relator expõe o caso na Assembléia geral do Bureau, na qual todos os médicos presentes têm direito de intervir. Se a Assembléia geral decidir pela continuação do processo, ele é arquivado por um ano. Nesse tempo, a pessoa tida como curada fica sob observação de um médico designado pela Assembléia. Esse médico vai coletar novas testemunhas e constatar se a cura foi de fato definitiva.

Um ano depois, o processo chega à segunda instância: o caso é reapresentado à Assembléia de médicos que o discute, baseados nos novos dados colhidos pelo médico que acompanhou o caso. Qualquer dúvida prudente leva o caso a ser encerrado. Se após a nova discussão, o caso não tiver solução, a Assembléia Geral o encaminha para a

Terceira instância: um relator leva o caso à Comissão Médica Internacional em Paris. Se for declarada de modo formal que a cura não se explica do ponto de vista médico-científico, o caso passa à última instância.

Quarta instância: nesta instância se dá o processo canônico, ou seja, é a hora da Igreja, através do bispo da localidade onde mora a pessoa curada, analisar todos os resultados médicos para afirmar, em nome de toda a Igreja, se houve milagre ou não. Uma comissão, constituída pelo bispo, examinará minuciosamente o caso sob todos os aspectos físicos e morais. Após todas as análises, o bispo confirmará, não só apenas com os olhos da ciência, mas também com os olhos da fé, o possível milagre.

Mais de onze mil casos ali já passaram da terceira instância com a confirmação médico-científica de que não há explicação para aquela tal cura. No entanto, até hoje, apenas sessenta e seis de todos esses casos foram tidos como milagre pela quarta instância. Por quê? Por causa da seriedade da Igreja ao proclamar qualquer coisa que seja, ainda mais um milagre, que é um testemunho de Deus em favor de alguém.

Destes sessenta e seis casos reconhecidos oficialmente pela Igreja como milagres, podemos destacar o primeiro e o último:

O primeiro milagre reconhecido oficialmente foi o de Catherine Latapie, que era mulher de 38 anos. Ela tinha dado à luz quatro filhos, dois já haviam morrido. Na noite de 28 de fevereiro de 1858, sentiu a necessidade de ir à Gruta das aparições. Dois anos antes, ela caíra de uma árvore e tinha uma paralisia cubital no braço direito, que a atrapalhava enormemente em suas atividades. Além disso, estava grávida. Entretanto, não hesitou em ir assistir à décima segunda aparição da Virgem que se dava naquele dia. Quando tudo terminou, ela subiu na gruta, e encontrou a fonte onde Nossa Senhora tinha pedido à Santa Bernadete para lavar-se. Catherine Latapie colocou a mão, e logo em seguida ficou com o uso completo do braço direito. Partindo de volta a pé para casa, seis quilômetros da gruta, ela sentiu as dores do parto e deu à luz um filho que se chamou Jean-Baptiste. Mais tarde ele se tornou padre.

Já o mais recente caso a respeito dela confirmado pela Igreja como milagroso é o do francês Jean-Pierre Bély.

Jean-Pierre nasceu em 1936, é casado e pai de dois filhos. Em 1972, a doença começou a manifestar-se através de fadiga e formigamentos nas mãos e nos pés. Numa manhã de 1984, acordou com o lado direito do corpo paralisado. Era a esclerose em placa, doença degenerativa do sistema nervoso que conduz a uma dolorosa morte. Em 1987, seu quadro clínico era desesperador. O sistema de saúde público o tinha declarado 100% inepto a título definitivo e pagava um assistente para suas necessidades básicas. Era transportado em maca. Em cinco de outubro deste mesmo ano, peregrinou à Lourdes.

A peregrinação já ia chegando ao fim e Jean só piorava. Seus acompanhantes temiam que morresse antes de voltar.

Jean estava sobre a esplanada da Basílica onde acontecia a cerimônia da Unção dos Enfermos, e já ali Jean sentiu algo diferente: “Após receber a unção, senti uma paz, uma alegria, uma serenidade extraordinária. Como se tudo o que havia de mal na minha vida me tivesse sido tirado: meu esgotamento, minha ansiedade… Eu estava exultante, desligado do mundo (…) Posso dizer que recebi a cura do coração antes que a do corpo. Essa paz, essa serenidade não me deixaram mais. E todos os dias tenho a impressão de reviver esse momento. À tarde, conduziram-me de maca à cerimônia de encerramento da peregrinação. Lá, fui dominado por uma vontade irrefreável de me levantar e de caminhar. Mas, vendo em torno de mim todos os outros doentes de maca, tive medo de chocá-los. Desde aquele momento, decidi agir discretamente”(3)

E Jean continua seu relato: “Naquela noite fui acordado delicadamente. Senti que alguém me tocava. Julguei que era a enfermeira da noite que queria colocar-me o cobertor. Então acordei e não vi ninguém. Ouvi o sino da Basílica tocar três vezes. Mais tarde, interroguei a enfermeira sobre o fato, mas ela disse não se lembrar de me ter coberto durante a noite… Comecei então a relembrar todos os acontecimentos da peregrinação quando me veio uma idéia inesperada, e que se apresentou ao meu espírito como uma ordem, um convite: ‘Levanta-te e caminha!’ Eu julgava estar ouvindo coisas (…) O apelo voltava, mais insistente, mais premente que a primeira vez. Tudo isso me deixava mal à vontade… Virava-me e revirava-se no leito… O apelo tornou-se firme. O que eu ouvia não eram palavras, mas era como se alguém me falasse sem dizer palavras. É difícil explicar…”(4).

“Vendo que me movia no leito, a enfermeira da noite perguntou-me o que eu tinha. Disse-lhe que desejava ir ao banheiro. E caminhei pela primeira vez. Ela simplesmente me segurava pelo braço. Dei os meus primeiros passos na noite, como um bebê aprende a caminhar”(5).

O médico que acompanhava o caso de Jean-Pierre, Dr. Patrick Fontanaud, passou mal quando o viu sentado na sala de espera. O médico é agnóstico, mas confessa que a cura é inexplicável. Na paróquia, as pessoas choravam quando o viram voltar com suas próprias forças. Até o carteiro, o sr. Raymond, declarou à imprensa local: “Agora eu serei obrigado a acreditar no Bom Deus!”

O inquérito para estudar o caso de Jean-Pierre durou onze anos e consistiu numa longa série de exames médicos e psiquiátricos. Cada ano ele comparecia diante de 60 ou 80 médicos do Comitê Médico Internacional e respondia a um pinga-fogo de perguntas. Em 14 de novembro de 1998, o Comitê Médico concluiu tratar-se de “cura inesperada” e “fato inabitual e inexplicável em função dos dados da ciência”(6). Em 9 de fevereiro de 1999, D. Claude Dagens, bispo de Angoulême, reconheceu publicamente em nome da Igreja o caráter autêntico do milagre(7).

Assim procede a Igreja Católica Apostólica Romana diante das curas e milagres.

Bendigamos ao Senhor.

Demos graças a Deus.

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(1) Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 4.

(2) Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 25.

(3) Jornal Le Monde, Paris, 22 de dezembro de 2002.

(4) Loudes Magazine, nº 76, novembro de 1998.

(5) Jornal Le Monde, Paris, 22 de dezembro de 2002.

(6) www.lourdes-france.org/fr/frsa0021.htm

(7) www.lourdes-france.org/fr/frsa0085.htm

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por Carlos J. M. Neto

Artigos Devoções

Jesus quer que, ao lado da Devoção ao Seu Sagrado Coração, seja posta a Devoção ao Imaculado Coração de Maria

Em vários pontos da Mensagem de Fátima a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é promovida juntamente com a devoção ao Imaculado Coração de Maria.

A Mensagem do Anjo de Fátima

Primeiro, há as palavras do Anjo da Paz, na Primavera de 1916, aos três pastorinhos de Fátima:

“Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.”

E o Anjo voltou a falar-lhes no Verão de 1916:

“Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.”

Depois, no Outono de 1916, o mesmo Anjo ensina-lhes uma oração que termina dizendo:

“E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração [de Jesus] e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.”

Este tema dos Sagrados Corações de Jesus e Maria que se encontra na Mensagem de Fátima, vemo-lo de novo nas aparições de Jesus e de Maria à Irmã Lúcia em Pontevedra e em Tuy, a que já nos referimos.

É o mesmo tema que se revela tanto nas orações que Jesus nos ensinou, para rezarmos em honra da Pura e Imaculada Conceição de Nossa Senhora, como na oração ao Doce Coração de Maria dada em Rianjo.

Jesus aborda este assunto de forma explícita:

Mas a mensagem mais impressionante sobre a importância de reunir a devoção ao Sagrado Coração de Jesus à do Imaculado Coração de Maria é a que ressalta do diálogo de Jesus com a Irmã Lúcia, em 1936. Citamo-lo directamente da carta de 18 de Maio de 1936, dirigida pela Irmã Lúcia ao seu director espiritual que fizera várias perguntas. E ela responde:

“(…) Quanto à outra pergunta: Se será conveniente insisir para obter a consagração da Rússia?, respondo quase o mesmo que das outras vezes tenho dito. Sinto que não se tenha já feito; mas o mesmo Deus que a pediu, é que assim o permitiu. Vou a dizer algo do que sinto a este respeito, ainda que é matéria bastante delicada para se enviar por uma carta, com perigo de se perder e ser lida; mas ao mesmo Deus a confio, porque tenho receio de não tratar o assunto com toda a claridade.

“Se é conveniente insistir? Não sei. Parece-me que, se o Santo Padre agora a fizesse, Nosso Senhor a aceitava e cumpria a Sua promessa; e, sem dúvida, seria um gosto que dava a Nosso Senhor e ao Imaculado Coração de Maria. (a sua carta continua:)

(Lúcia)

 “Intimamente, tenho falado a Nosso Senhor do assunto; e há pouco perguntava-Lhe porque não convertia a Rússia sem que Sua Santidade fizesse essa consagração.

(Jesus)

 ‘Porque quero que toda a Minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o Seu culto e pôr, ao lado da devoção do Meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração.’

“Mas, meu Deus, o Santo Padre não me há-de crer, se Vós mesmo o não moveis com uma inspiração especial.”

‘O Santo Padre! Ora muito pelo Santo Padre. Ele há-de fazê-la, mas será tarde! No entanto, o Imaculado Coração de Maria há-de salvar a Rússia. Está-Lhe confiada.’

Artigos Devoções

Fundamentos da Devoção ao Imaculado Coração de Maria

Através dos séculos, Papas, Santos, e muitos bons e santos Teólogos ensinaram a importância da devoção e das orações dirigidas à Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria. Ora é necessário rezar à Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria do modo que os Santos nos ensinaram.

Também a Santa Igreja Católica, pilar e alicerce da Verdade, inspirada e orientada pelo Espírito Santo, ensinou de modo consistente através dos séculos esta doutrina e esta prática. A Santíssima Virgem Maria é “Vida, Doçura, e Esperança Nossa”, como tão bem expressa a Salve Regina – a oração milenar da Salve Rainha. Estes títulos e realidades são defendidos contra os ataques dos Protestantes e dos Modernistas por Santo Afonso Maria de Ligório, no seu livro As Glórias de Maria.

O Papa Leão XIII diz-nos que todas as graças nos vêm de Deus, através da Santa Humanidade de Jesus Cristo, e que é pelas Mãos da Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria que chegam até nós. É evidente vermos, a partir desta ordem estabelecida por Deus para a nossa Salvação, que Deus vem em primeiro lugar e acima de todas as coisas – depois, a Sua Santa Humanidade em Jesus Cristo – e depois, Santa Maria Mãe de Jesus. E só depois de Maria é que vem a importância da Santa Igreja Católica. É que Maria é a Mãe da Igreja, e o membro da Igreja mais elevado a seguir a Jesus Cristo, que é a Cabeça.

O papel da Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria, como Aquela que encaminha as almas para o Céu, ficou a ser mais ampla e mais profundamente compreendido pela Fé Católica (nos últimos 150 anos) a partir da Definição da Sua Imaculada Conceição, em 1854, e do Dogma da Assunção, definido em 1950. Qual a razão para este crescendo do importante papel da Virgem Santíssima, é o que explica S. Luís Grignion de Montfort, num pequeno ensaio que a seguir transcrevemos.

É certo que o demónio, Seu inimigo de sempre, Lhe armou um contra-ataque: contra Nossa Senhora e contra a devoção a Nossa Senhora. Nós mesmos presenciámos o desenrolar deste combate, especialmente durante os últimos 40 anos, desde o fim do Concílio Vaticano II.

Recresce a batalha pela perdição das almas neste tempo de Apostasia, e o alvo é cada um de nós – nós, os filhos da Nossa Mãe Santíssima, nós que acreditamos em Seu Divino Filho, Jesus Cristo, a Quem prestamos obediência.

Para além do ensinamento dos Santos (como Santo Afonso Maria de Ligório, S. Luís G. de Montfort, S. Bernardo, Santo António Maria Claret, S. Maximiliano Kolbe e tantos outros) e dos Papas (em especial entre 1750 e 1960) sobre a importância, as vantagens e a necessidade da Devoção a Nossa Senhora – a Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, tem vindo a receber uma série imensa de intervenções divinas por meio de aparições de Nossa Senhora. Ela apareceu na Rue du Bac em 1830; em La Salette, em 1846; em Lourdes, em 1858; em Knock, em 1878; e, acima de todas, em Fátima, em 1917.

Aprovadas e certificadas como merecedoras de crença pela Igreja Católica, as aparições de Fátima foram-no também pelo próprio Deus, através do apocalíptico Milagre do Sol, ocorrido a 13 de Outubro de 1917, perante 70 mil testemunhas.

É com a Mensagem de Fátima e por meio da Irmã Lúcia que surge o grande ímpeto do florescimento da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Deste assunto se voltará a falar mais adiante.

Função Providencial de Maria

Santíssima nos últimos tempos

Por São Luís Grignion de Montfort († 1715 AD)

Foi por Maria que começou a salvação do mundo, e é igualmente por Maria que ela será consumada.

Maria aparece muito discretamente na primeira vinda de Jesus Cristo, para que os Homens, ainda pouco instruídos e iluminados sobre a Pessoa de Seu Filho, não se desviassem da Verdade, agarrando-se a Ela com força demais e elevação de menos.

Aparentemente, era o que teria acontecido se a Senhora tivesse sido conhecida, devido aos admiráveis encantos com que o Altíssimo A tinha adornado, inclusivamente quanto à Sua aparência externa. Isto é tão verdade que S. Dinis Areopagita nos deixou nos seus escritos que, quando viu a Bem-Aventurada Senhora Nossa, teria pensado tratar-se de uma divindade, tais eram os Seus encantos velados e a Sua incomparável beleza – não fosse a inabalável Fé em que ele se firmava ensinar-lhe o contrário. (S.A., 842. Epistola ad Pauleum).

Na segunda vinda de Jesus Cristo, porém, Maria tem de ser dada a conhecer pelo Espírito Santo, para que, através d’Ela, Jesus Cristo possa ser conhecido, amado e servido. As razões que levaram o Espírito Santo a esconder a Sua Esposa enquanto foi viva, revelando-A apenas um pouco desde a pregação do Evangelho, não mais subsiste.

Existência desta função e sua razão de ser:

Portanto, Deus quer revelar e fazer conhecer Maria, a obra-prima das Suas mãos, nestes que são os últimos tempos:

1. Porque, pela Sua profunda humildade, Ela se escondeu a si mesma no mundo e Se colocou mais baixo do que o pó, tendo obtido de Deus e dos Seus Apóstolos e Evangelistas que não se manifestasse.

2. Porque, sendo Nossa Senhora a obra-prima das mãos de Deus, tanto na terra pela graça como no Céu pela glória, Ele quer ser glorificado e louvado n’Ela por aqueles que vivem sobre a terra.

3. Tal como Nossa Senhora é a aurora que precede e revela o Sol da Justiça, que é Jesus Cristo, Ela deve ser vista e reconhecida para que Jesus Cristo também o possa ser.

4. Sendo Ela o Caminho pelo qual Jesus chegou até nós da primeira vez, será Ela igualmente o Caminho pelo qual Ele virá pela segunda vez, embora não do mesmo modo.

5. Sendo Ela a Via Segura, Recta e Imaculada para chegar até Jesus Cristo e O encontrar com toda a perfeição, é por Ela que as almas mais resplandecentes em santidade têm de encontrar a Nosso Senhor. Quem encontrar Maria encontra a Vida (Prov. 8:35) ou seja, Jesus Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida (S. João 14:6). Mas ninguém pode encontrar Maria se não a procurar; e ninguém A pode procurar se não A conhecer, pois não podemos buscar ou desejar algo desconhecido. Portanto, é necessário, para o maior conhecimento e glória da Santíssima Trindade, que Maria seja conhecida – agora mais do que nunca.

6. Maria deve, agora mais do que nunca, iluminar tudo diante d’Ela, em misericórdia, em poder e em graça, nestes últimos tempos. Em misericórdia, para fazer arrepiar caminho e receber amorosamente os pobres pecadores extraviados, a fim de que se convertam e voltem ao seio da Igreja Católica; em poder, contra os inimigos de Deus – idólatras, cismáticos, maometanos, judeus e almas endurecidas na impiedade, que se erguem numa terrível revolta contra Deus – a fim de seduzir todos os que se lhes opõem, e de os vencer através de promessas e ameaças; e, finalmente, Maria deverá iluminar tudo em graça, por forma a animar, sustentando-os, os valentes soldados e fiéis servos de Jesus Cristo, que devem combater pelos Seus interesses.

7. Por último, Maria deve ser implacável para com o demónio e seus sequazes, tal como um exército ordenado para a batalha, principalmente nestes últimos tempos; porque o demónio, sabendo que lhe resta pouco tempo (e agora ainda menos) para perder as almas, a cada dia irá redobrar os seus esforços e combates. É a sua hora de erguer cruéis perseguições e de armar terríveis ciladas aos fiéis servos e verdadeiros filhos de Maria, cuja conquista lhe dá mais dificuldade do que a conquista de quaisquer outros.

Exercício desta função na luta contra Satanás:

É sobretudo a respeito destas últimas e cruéis perseguições do demónio, que se irão desenrolando num crescendo diário até ao reinado do Anti-Cristo, que nós devemos compreender a primeira e bem conhecida predição e maldição de Deus, por Ele pronunciada contra a serpente, ainda no Paraíso terreal. É nosso propósito explicar isto aqui, para glória da Santíssima Virgem, para a salvação dos Seus filhos e para a confusão do demónio:

“Eu porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência d’Ela; Ela esmagar-te-á a cabeça e tu acometerás o Seu calcanhar.” (Gén. 3:15).

(Fim da citação de S. Luís Grignion de Montfort)

Fonte: Associação de Fátima

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A alegria de Maria

Todos sentimos verdadeira decepção quando somos injustiçados em nossos direitos. Mas no ganho da causa em relação a isso, nossa alegria é evidenciada. Fez-se justiça! Nos dizeres bíblicos vemos a grande realidade da ação de Deus que nos dá a garantia de sua ação: “Assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as nações” (Isaías 61, 11). Baseado nessa ação do Senhor, o povo judeu teve a sustentação de sua euforia (Cf. Isaías 61, 10), repetida por Maria no Magnificat: “Meu espírito se alegra em Deus” (Lucas 1,47).

A alegria de Maria é a nossa também! Ela foi escolhida para nos dar o Salvador. Estávamos perdidos para sempre. De repente a invenção de um projeto divino mudou nossa história. Não somos mais condenados à tristeza, conseqüência do desatino de nos colocarmos no lugar de Deus, deixando-O de lado no nosso encaminhamento de vida. Sem Ele não somos capazes de cuidar com verdadeiro amor do planeta e de quem vive nele. O senhorio de Deus nos enriquece de satisfação em tudo, contando com seu amor e suas coordenadas. Viver em Deus e deixá-lo viver em nós é causa de nossa realização humana. O próprio Jesus nos assegura: “Sem mim, nada podeis fazer”!

Já perto da celebração da presença humana de Deus em nossa história, somos convidados a rever nossa caminhada para percebermos até que ponto O deixamos agir em nós para termos a grande graça e a certeza de que com Ele vencemos nossos limites. Assim, somos capazes de promover a vida de realização plena para todos, mesmo dos mais decepcionados ou desesperançosos. Não são os sofrimentos, os limites humanos, os desafios da caminhada, os empecilhos que vão nos tirar a certeza da vitória e da superação de nossos limites. Com o amor trazido pelo filho de Maria somos capazes de recomeçar uma vida mais saudável e cheia de esperança, motivo de nossa alegria brotada da fé no Emanuel.

Nem as incompreensões e injustiças acontecidas com Jesus anularam a confiança de sua mãe. Ela acreditava nele. Acompanhou-o por toda a vida, até mesmo ao túmulo. Mas viu-o também ressuscitado! Pode verificar seu poder divino, espalhando a toda a humanidade o resultado de seu sacrifício redentor! Mais: ela viu a Igreja nascente a espalhar até para povos distantes o Evangelho da promoção da vida. Torna-se verdadeira mãe de todos, pois, cooperou com a salvação da humanidade, dando-lhe o Salvador!

Como é bom vermos o resultado de nosso sacrifício para realizar um projeto de grande extensão na vida! Quando realizamos o projeto do Criador, temos a certeza do resultado positivo. Nossa alegria então se verifica, não só num momento, mas sempre. É a alegria duradoura, garantida pelo próprio Deus, que age em nós! Nosso compromisso com a implantação do Reino de Deus nos torna aptos a contribuir com a implantação da justiça. Esta nos leva a trabalhar pela construção da verdadeira cidadania para todos. Como Maria, nossa alegria se torna indizível!

Dom José Alberto Moura,CSS

Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Montes Claros (MG)

 

Fonte: Comunidade  Shalom

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Rosário – Configurar-se a Cristo com Maria

15. A espiritualidade cristã tem como seu caráter qualificador o empenho do discípulo em configurar-se sempre mais com o seu Mestre (cf. Rom 8, 29; Fil 3, 10.21). A efusão do Espírito no Batismo introduz o crente como ramo na videira que é Cristo (cf. Jo 15, 5), constitui-o membro do seu Corpo místico (cf. 1 Cor 12, 12; Rom 12, 5). Mas a esta unidade inicial, deve corresponder um caminho de assimilação progressiva a Ele que oriente sempre mais o comportamento do discípulo conforme à “lógica” de Cristo: « Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus » (Fil 2, 5). É necessário, segundo as palavras do Apóstolo, « revestir-se de Cristo » (Rom13, 14; Gal 3, 27).

No itinerário espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação – em companhia de Maria – do rosto de Cristo, este ideal exigente de configuração com Ele alcança-se através do trato, podemos dizer, “amistoso”. Este introduz-nos de modo natural na vida de Cristo e como que faz-nos “respirar” os seus sentimentos. A este respeito diz o Beato Bártolo Longo: « Tal como dois amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão, podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e aprender destes supremos modelos a vida humilde, pobre, escondida, paciente e perfeita ».(18)

Neste processo de configuração a Cristo no Rosário, confiamo-nos, de modo particular, à ação maternal da Virgem Santa. Aquela que é Mãe de Cristo, pertence Ela mesma à Igreja como seu « membro eminente e inteiramente singular »(19)sendo, ao mesmo tempo, a “Mãe da Igreja”. Como tal, “gera” continuamente filhos para o Corpo místico do Filho. Fá-lo mediante a intercessão, implorando para eles a efusão inesgotável do Espírito. Ela é o perfeito ícone da maternidade da Igreja.

O Rosário transporta-nos misticamente para junto de Maria dedicada a acompanhar o crescimento humano de Cristo na casa de Nazaré. Isto lhe permite educar-nos e plasmar-nos, com a mesma solicitude, até que Cristo esteja formado em nós plenamente (cf. Gal 4, 19). Esta ação de Maria,totalmente fundada sobre a de Cristo e a esta radicalmente subordinada, « não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, antes a facilita ».(20)É o princípio luminoso expresso pelo Concílio Vaticano II, que provei com tanta força na minha vida, colocando-o na base do meu lema episcopal: Totus tuus.(21)Um lema, como é sabido, inspirado na doutrina de S.Luís Maria Grignion de Montfort, que assim explica o papel de Maria no processo de configuração a Cristo de cada um de nós: “Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo Maria entre todas as criaturas a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo”.(22)Nunca como no Rosário o caminho de Cristo e o de Maria aparecem unidos tão profundamente. Maria só vive em Cristo e em função de Cristo!

Por Papa João Paulo II – Carta o Rosário – Paragrafo 15

Fonte: Shalom